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- Hey Antero, queres vir amanhã ver o tal espectáculo na Feira? Compro bilhete para ti?
- Mas do que se trata?
- Ahhh, não sei bem. É teatro urbano, acho... mete gajas nuas, sexo,...
- Conta comigo!
Confesso a minha completa ignorância quanto à companhia de teatro catalã La Fura dels Baus, mas o tipo de actividades promovidas peloImaginariusem Santa Maria da Feira não são muito a minha praia. Tanto mais que foi a primeira vez que lá fui, o que me faz pensar que, em oferta cultural, qualquer Estarreja ou Feira mete Espinho no chinelo. E isso é deprimente. Mas, enfim... isso são contas de outro rosário.
Voltando aos La Fura, inesperadamente gostei muito do espectáculo. Não sabia minimamente para o que ia, o calor era muito, havia gajas nuas, mas nada de sexo. Bem, pelo menos não houve actos sexuais (e quem acha que o sexo se resume apenas ao acto em si tem uma visão muito quadrada do mundo). Os La Fura promovem um conceito de teatro diferente do vulgar: para tornar a experiência mais palpável e menos rígida e objectiva, o público torna-se parte integrante da actuação. Moldando cada encenação às condições existentes em cada espaço, a companhia torna a peça mais dinâmica ao obrigar o público a mover-se (leram bem) para acompanhar toda a acção, uma vez que a mesma se desenrola em vários pontos. Depois, há alturas em que os actores interagem directamente com os espectadores e, aí sim, está a grande piada de tudo. Mas já lá vamos.
O espectáculo concebido para a ocasião chama-seImperiume é relativamente fácil de acompanhar: trata da subjugação do Homem para com o seu semelhante, num retrato das sociedades imperialistas que dependem da manutenção de uma casta superior que abusa do poder que detém. Enquanto várias plataformas e os actores percorrem todo o espaço durante o desenrolar da acção, sempre ao som de uma música em tons bélicos, o espectador torna-se quase um cumplice das atrocidades cometidas ao deixar que a curiosidade (mórbida) ordene as suas acções. Mas onde o público entra mesmo de cabeça na narrativa é quando as "inferiores" se revoltam, caçam e torturam os "superiores" e degladiam-se entre si para obter o controlo dos restantes. É ver tinta e água a voar, jactos de farinha a serem disparados, arroz arremessado e muitos são aqueles que se sujam, mas é divertimento garantido (eu saí ileso, excepto por um bocado de arroz no ombro). É preciso é ir com o espírito aberto. Eu fui e gostei muito. Se arranjar fotos decentes prometo que exponho aqui na banca.