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Vamos ser francos: o que esperar de um filme como G.I. Joe: O Ataque dos Cobra? Baseado numa linha de bonecos de um esquadrão militar norte-americano (que, para efeitos da globalização ou porque a imagem dos EUA anda pelas ruas da amargura, é transformado num depósito de várias nacionalidades), não devemos esperar uma narrativa das mais profundas ou personagens tridimensionais, mas sim algo que divirta o nosso parco tempo enquanto gastamos fortunas em pipocas, bebidas e outros consumíveis característicos dos multiplexes. Preconceito da minha parte? Chamem-lhe o que quiserem, mas um filme com estas condicionantes não pode inspirar boa coisa. O que se espera são boas cenas de acção, muitos e bons efeitos especiais, actores convincentes (acreditem que não é pedir muito) e – porque não? – actrizes atraentes que saibam como rechear os uniformes e mostrar as suas curvas. É com base nestes pressupostos que se avalia um filme como O Ataque dos Cobra.
Que é uma merda. Excepto no último ponto, claro. Tal como o primo afastadoTransformers – Retaliação, G.I. Joe – O Ataque dos Cobra é um atiçador sexual pré-adolescente: estão lá as actrizes a desfilar e a fazer pose, muitas máquinas e armamento, virilidade a rodos e pouco conteúdo. Situado num ‘futuro não tão distante’ – o que, invariavelmente, significa que a Ciência e a Lógica sofrerão múltiplos atentados – o filme conta a história dos G.I. Joes, uma elite de soldados que ‘onde todos os outros falharam, eles não falharão!’ (a película é recheada de frases clichés como esta), onde assistimos ao recrutamento de Duke (Channing Tatum) e Ripcord (Marlon Wayans). O objectivo é recuperar uma tecnologia de nanorobôs que devoram todo o metal que encontram de uma organização terrorista que a roubou e pretende usá-la para fins terríveis. E pronto, temos a desculpa perfeita para aquelas brincadeiras de crianças nas quais dois exércitos combatem entre si. Porque O Ataque dos Cobra é isto: uma brincadeira. Uma cara, insípida e estúpida brincadeira.
Stephen Sommers, o homem por trás de A Múmia, O Regresso da Múmia e Van Helsing (que currículo, minha nossa senhora!) encara o filme como se de um grande jogo de vídeo se tratasse, mantendo uma consistência fiel à sua medíocre filmografia. Logo temos forma sobre o conteúdo, que é como quem diz, milhentos efeitos especiais para tão pouca história. Mas nada do “método Michael Bay”: Sommers não recorre a mil e um cortes entre as cenas e faz com que o público perceba nitidamente a geografia, bem como os participantes das cenas e até que vislumbremos os efeitos criados por computador. O que acaba por jogar contra ele, uma vez que os efeitos são de qualidade duvidosa e as cenas de acção insossas, algo fatal numa longa-metragem de acção.
Porém, isto é o menos em O Ataque dos Cobra. Sabendo estar a lidar com um argumento óbvio e rasteiro, Sommers adopta uma estrutura narrativa errática, que consiste em inserir inúmeros flashbacks ao longo do filme para tentar demonstrar a “profundidade” e os “conflitos” entre as personagens. Isto atinge o cúmulo do ridículo com a inserção de um flashback de míseros 5 segundos (se tanto…) em plena luta entre duas personagens, para demonstrar que a) ambos são irmãos (o que é desnecessário, porque, mesmo antes, um deles diz para o outro ‘Olá, irmão!’), b) ambos têm um passado conflituoso e já lutavam juntos quando crianças. Isto era mesmo necessário? De certa forma sim, segundo a ideia de Sommers e companhia de que nós, espectadores, somos burros como uma porta. Só isto para explicar que Baronesa (Sienna Miller, linda, estilosa e… e… e…) surja loira quatro anos antes como se isso fosse necessário para estabelecer a mudança de carácter da personagem. E o que dizer do vilão? Uma mistura de Darth Vader e dos piores vilões da série 007, onde não falta a recapitulação do seu plano megalómano para que o público mais distraído (ou que tenha adormecido) não se perca na incoerente narrativa, onde até os soldados que não deveriam sentir dor berram quando são atingidos.
Sem contar com um elenco que ofereça o mínimo carisma aos redutores papéis que lhe foi entregue, G.I. Joe: O Ataque dos Cobra acaba por afundar de vez na longa sequência do ataque em Paris que, com a inócua destruição em massa promovida pelos G.I. Joes relembrou-me da comédia Team America - Polícia Mundial, quando estes atacam os terroristas árabes também na capital Francesa, acabando por causar mais destruição do que aquela que pretendiam evitar. E não deixa de ser irónico que Team America seja uma sátira perfeita deste G.I. Joe: O Ataque dos Cobra, sendo que o primeiro foi produzido há mais de 4 anos. Isto é, quando a Baronesa era loira e boa moça.
Qualidade da banha: 3/20