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00:30 A Hora Negra
Zero Dark Thirty (2012)
Realização: Kathryn Bigelow
Argumento: Mark Boal
Elenco: Jessica Chastain, Jason Clarke, Jennifer Ehle, Kyle Chandler, Édgar Ramírez, Harold Perrineau, Mark Strong, Joel Edgerton, James Gandolfini
Qualidade da banha:
O novo projeto de Kathryn Bigelow ao lado do argumentista Mark Boal (ambos galardoados com o Oscar por Estado de Guerra) estabelece-os de vez como uma dupla a ter em conta no panorama de Hollywood. Documentando os anos que uma unidade da CIA passou na caça de Osama bin Laden, 00:30 A Hora Negra poderia ser uma obra ufanista sobre a capacidade militar dos norte-americanos e a hipócrita postura de “cowboy do Mundo” que marcou a presidência de George W. Bush.
Poderia ser assim, mas não é: o que interessa a Bigelow não é tanto o objetivo em si (toda a gente sabe como o filme acaba) e sim o todo processo e as consequências em todos os envolvidos, principalmente na protagonista Maya (excelente Jessica Chastain) que com o tempo desenvolve uma obsessão em levar a missão até ao fim. Desta forma, 00:30 A Hora Negra desenvolve-se mais como um thriller de investigação e menos como um filme de ação frenética. Mas uma investigação minimamente plausível e nada cinematográfica: Maya e os seus colegas erram, duvidam, esperam por decisões, encontram becos sem saída e o caso sofre avanços e recuos. E, claro, sofrem baixas – tanto físicas como psicológicas.
O filme tem sido rodeado de polémica graças às suas cenas de tortura levadas a cabo por agentes da CIA – e mesmo que ele deixe bem claro que a mesma não levou a resultados eficazes, ainda há quem as veja como a exaltação de um método para obter informações valiosas esquecendo-se que a forma seca e direta com que Bigelow as encena não só respeita a dura realidade bem como permite que o espectador projete nelas a sua opinião pessoal. Sem mais delongas, está aqui o primeiro grande filme do ano.
Django Libertado
Django Unchained (2012)
Realização: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Walton Googins, James Remar, Don Johnson
Qualidade da banha:
Tarantino ama Cinema. Mais: ele ama o seu conhecimento sobre Cinema – e não hesita em demonstrá-lo a cada obra sua. Mas não estamos a falar daquele Cinema mais comercial, acessível e unânime: Tarantino é uma enciclopédia de géneros obscuros, esquecidos e malfadados e em Django Libertado ele reúne o western spaghetti com o blaxploitation típico dos anos 70 numa história de vingança (um tema caro ao realizador) situada em 1858 no sul dos Estados Unidos onde um escravo livre (Jamie Foxx) une-se a um caçador de recompensas alemão (Christoph Waltz, a provar que brilha mais nas mãos de Tarantino) no resgate da esposa do primeiro do cruel e carismático dono de uma plantação Calvin J. Candie (Leonardo DiCaprio, enérgico no papel do vilão ensandecido).
Repleto de elementos familiares da carreira do realizador, Django Libertado abusa de recursos narrativos clássicos dos seus filmes, como a quebra de linearidade, travellings que acompanham conversas ao redor de uma mesa, explosões súbitas de violência, intervenções narrativas abruptas e fartos diálogos que alongam as conversas. E não esquecer o humor negro característico comprovado pela cena em que um grupo de racistas (precedendo o Klu Klux Klan) planeia um ataque e o choque cultural proporcionado pelo alemão de Waltz e praticamente todos os brancos sulistas visto na projeção.
Sem ser tão envolvente como um Pulp Fiction ou um Kill Bill e arrastando-se mais do que deveria nas suas quase três horas de duração, Django Libertado é meramente estilo dos pés à cabeça – mas, bolas, que estilo!
Argo
Argo (2012)
Realização: Ben Affleck
Argumento: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman, Tate Donovan, Clea DuVall, Christopher Denham, Scoot McNairy, Kerry Bishé, Rory Cochrane, Victor Garber, Kyle Chandler
Qualidade da banha:
Na linha da frente como vencedor do Melhor Filme nos Oscars deste ano, Argo confirma Ben Affleck como uma promessa cumprida atrás das câmaras. Abandonando a sua Boston natal (palco de Vista Pela Última Vez e de A Cidade), Affleck conta a história da produção fictícia de Hollywood que serviu de fachada para resgatar seis funcionários da CIA presos no Irão em 1979 – uma premissa tão absurda que até custa a acreditar que poderia acontecer. Mas aconteceu.
Esforçando-se para evitar uma postura pró-americanismo, o filme contextualiza o papel dos EUA no mapa político de Médio Oriente de então e acompanha com fluidez os esforços para alavancar a produção em Hollywood e o drama dos reféns em Teerão. É claro que a leveza e o humor presentes nas cenas em Los Angeles atenuam o peso dramático da situação asfixiante a milhares de quilómetros de distância, mas a segurança com que Affleck conduz a narrativa denota uma solidez e uma economia admiráveis, visto que o grande número de personagens é minimamente desenvolvido sem criar confusão no espectador.
No entanto, é quando a história salta exclusivamente para o Irão que Argo intensifica o drama e empilha cena tensa atrás de cena tensa – e, apesar da artificialidade de alguns obstáculos imprevistos no caminho da missão, a película já ofereceu tantos bons momentos que facilmente se perdoam os equívocos do seu cada vez mais promissor realizador. E que, espantosamente, não foi nomeado na sua categoria pela Academia e que poderia ocupar sem problemas a vaga do cada vez pior Steven Spielberg.
Lincoln
Lincoln (2012)
Realização: Steven Spielberg
Argumento: Tony Kushner
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Hal Holbrook, Gulliver McGrath
Qualidade da banha:
Depois do fracassadoCavalo de Guerra, Steven Spielberg volta à carga com mais um filme feito à medida da temporada de prémios – e, inexplicavelmente, ‘Lincoln’ tem recebido uma calorosa receção por onde tem passado. Usando como ponto de partida a votação da 13ª. Emenda à Constituição norte-americana, que aboliria a escravatura, Spielberg retrata o famoso presidente dos EUA com tamanha reverência que se torna difícil para o espectador perceber quem era o homem por detrás do cargo ou, pior do que isso, ter uma noção distorcida dos factos que levaram à abolição.
O filme descreve o processo como um amontoado de subornos e pressões (o que é bom e confere um mínimo de complexidade à narrativa), mas ignora o papel de incontáveis outros indivíduos (entre eles muitos negros) que ajudaram a causa. Em vez disso, Lincoln é posto no centro da ação como agente praticamente isolado que tenta agregar aliados para os seus objetivos – e quando a personagem apela ao divino para justificar a sua missão, percebemos como Spielberg é maniqueísta ao ponto de pintar o presidente como digno de admiração irrestrita. Ou seja, uma quase santo.
Isto é uma pena porque Daniel Day-Lewis constrói mais uma espetacular interpretação que só é sabotada pelo próprio argumento que não resiste a recorrer ao assassinato do presidente só para arrancar mais umas lágrimas da plateia. Já Sally Field comete o pecado de uma atriz em busca de prémios e reconhecimento ao... mostrar que está em busca de prémios e reconhecimento ao abordar cada uma das suas cenas como se fosse o momento digno do selo "For Your Consideration", ao passo que Tommy Lee Jones defende bem o seu ferveroso e admirável Thaddeus Stevens que é tão mal tratado pela narrativa ao torna-lo num lacaio de Lincoln. Além disso, a narrativa não tem agilidade ao lidar com um enorme número de personagens e torna-se entediante do meio para a frente.
Tenho saudades do antigo Spielberg; o atual é o terror dos diabéticos.
War Horse (2011)
Realização: Steven Spielberg
Argumento: Richard Curtis, Lee Hall
Elenco: Jeremy Irvine, Emily Watson, Peter Mullan, David Thewlis, Tom Hiddleston, Benedict Cumberbatch
Qualidade da banha:
"Separados pela guerra. Testados em batalha. Unidos pela amizade." – esta é a frase promocional de Cavalo de Guerra, o novo drama de Steven Spielberg, que teria sido mais honesto se incluísse a expressão "Vamos fazer de tudo para chorares!". Esqueçam que este é um filme sobre um cavalo e o seu dono: é Spielberg a amarrar o espectador na poltrona do cinema e a usar todos os meios disponíveis para emocionar. A única emoção que experienciei foi a tristeza em ver que um talentoso realizador insiste em permanecer no poço de mediocridade no qual caiu há uns anos atrás.
Inspirado num livro e escrito pelos experientes Lee Hall e Richard Curtis (este mais à vontade na comédia), Cavalo de Guerra passa-se na Inglaterra rural do início do século passado, onde o jovem Albert Narracott (Irvine) estabelece uma amizade com o seu cavalo puro-sangue Joey. Essa relação é ameaçada com a eclodir da Primeira Guerra Mundial, quando Joey é enviado para a frente de batalha (o Reino Unido havia declarado guerra à Alemanha) e Albert tenta manter a promessa de o encontrar.
O problema é que Cavalo de Guerra desenvolve-se da pior maneira possível: como Joey salta de dono em dono, há toda uma galeria de personagens que aterra na história e, como têm pouco tempo de antena, cumprem uma de duas funções narrativas: ou servem de obstáculos a serem ultrapassados ou ajudam os heróis de alguma maneira. Não há uma única participação marcante no elenco secundário e a culpa não é do ótimo elenco, já que a narrativa episódica e o desleixo na sua construção fazem com que estes se agarrem a clichés para manter o andamento (o avô protetor, o tratador de animais carinhoso, o militar bondoso, o senhorio ganancioso, e por aí fora).
Se o elenco secundário não causa impacto algum, o estreante Jeremy Irvine é um desastre a carregar o filme às costas: inexpressivo como Robert Pattinson nos seus melhores dias, Irvine perde até para os impecáveis animais que dão forma e alma a Joey (sem esquecer os excelentes e discretos efeitos digitais). Pior que as personagens, porém, é a fixação de Spielberg em estabelecer situações ora ilógicas, como o facto do pai de Albert adquirir um cavalo sem ter dinheiro para tal nem precisar dele e tudo apenas para irritar o senhorio; ora completamente forçadas, como o leilão enfiado a martelo para reservar mais desafios para os protagonistas; ou totalmente idiotas, como quando toda uma aldeia decide parar o que está a fazer para acompanhar o lavrar de um terreno.
Com uma fotografia evocativa do sempre confiável Janusz Kamiński (colaborador habitual de Spielberg), Cavalo de Guerra conta com paisagens de tirar o fôlego e sequências de batalha que, mesmo sem estarem ao nível de um O Resgate do Soldado Ryan, conseguem transmitir o pesadelo de um campo de batalha – e a cavalgada de Joey pelas trincheiras é o único momento memorável em toda a película por ser simultaneamente bela (o vigor e a vontade do animal) e aterradora (o contexto de destruição promovida pela guerra). Por outro lado, Spielberg mal se controla na sua demanda em atingir o coração do público na cena em que dois soldados rivais ajudam Joey, alongando-a mais do que o necessário e pontuando-a com escusadas piadinhas e comentários.
Finalizando com uma sequência "photoshupada" de E Tudo o Vento Levou, o que denota uma gritante falta de ideias ou uma colossal estupidez em achar que passaria como mera "homenagem", Cavalo de Guerra é o Spielberg maniqueísta em modo turbo, com o seu arsenal de músicas compostas por John Williams (outro que anda pelas ruas da amargura), diálogos rasteiros e situações presunçosas prontos a atacar o espectador e a obrigá-lo a lacrimejar pela sua dolorosa mensagem: guerra é mau, amor e família é bom.
A sério?!
Terra Nova
Benvindos a Terra Nova, a solução para um planeta sobrepovoado, demasiado poluído e tantos outros clichés futuristas. Uma colónia na pré-história para onde uns quantos (in)felizes são enviados numa viagem no tempo, cujas circunstâncias são explicadas num único diálogo pela inteligente filha do meio dos Shannons, a aborrecida família que acompanhamos desde o início. Basicamente, eles não podiam ir para o próprio passado e arriscarem a alterar o futuro deles: eles são enviados por um portal emprestado de Stargate para outra linha temporal e esquecem-se que o tal Efeito Borboleta que eles tanto queriam evitar não se limita à sua realidade, e nada impede que o novo futuro já não esteja estragado. Isso, porém, só saberemos se Terra Nova for renovada para muitas temporadas, algo que eu desejo fortemente que não aconteça.
Produzida por Steven Spielberg (que já havia emprestado o seu "selo de qualidade" à intragável Falling Skies que, de tão má, mal passei do piloto), Terra Nova é um logro do início ao fim: o lugar é comandado pelo ator que fez de vilão em Avatar e aqui surge como o vilão de Avatar, apenas mais bonzinho; os cenários são providenciados por paupérrimos chroma keys e os dinossauros, além de tecnicamente vergonhosos, mal aparecem e devem passar fome, visto que nunca comem ninguém. Os construtores da colónia devem ter lido os argumentos e acharam que poderiam facilitar na segurança do local, já que a bicharada nunca dá as caras mesmo, e fizeram uma cerca tão baixa e com troncos de madeira cilíndricos que qualquer T-Rex destruiria num sopro. Eu não consigo culpar os animais: talvez eles tenham medo de encontrar os Shannons e extingam de tédio. Mais vale aguardar pelo asteroide e rezar para que não seja tão doloroso.
Ah, os Shannons... que família feliz! O pai é um ex-polícia, a mão é médica, o filho mais velho é um adolescente revoltado, a filha do meio é uma geek de primeira e a mais nova é apropriadamente adorável. Tão amorosos que eles são que parecem saídos de um anúncio de detergente, no qual o pai transpira no trabalho, o filho sua-se todo a jogar futebol, a filha verte sumo na camisola, a mais nova suja-se no parque e lá vem a mãe resolver a situação o último grito do pó para a roupa, para todos acabarem sorridentes e asseados. Depois temos os Outr... digo, os Sextos, grupo que se rebelou de Terra Nova e vive no meio da selva sem qualquer problema mesmo com o perigo jurássico ali à porta (daí eu achar que os dinossauros são anoréticos). Há muita intriga pelo meio, situações mal resolvidas, muitos efeitos especiais embaraçosos, mil personagens desinteressantes e o sono é uma constante. Terra Nova é, acima de tudo, um drama familiar. E dos piores!
A série foi-me aconselhada por um amigo que me disse que era "tipo LOST!" e os últimos anos têm-nos ensinado que qualquer comparação com a maravilhosa série da Ilha deserta mais povoada de sempre é meio caminho andado para o descalabro. Visto cinco episódios, rendo-me ao sofrimento e abandono Terra Nova sem olhar para trás. Não há guilty pleasure que salve isto, nem para acompanhar só uma temporada. Já tive a minha dose de Heroes, FlashForward e The Event. Sofri muito nesses tempos e até eu tenho os meus limites. Chega!
Terra Nova começou a ser exibida aos domingos à tarde na TVI. Não deixem de perder!
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.
The Adventures of Tintin (2011)
Realização: Steven Spielberg
Argumento: Steven Mofatt, Edgar Wright, Joe Cornish
Elenco: Jamie Bell, Andy Serkis, Simon Pegg, Nick Frost, Daniel Craig
Qualidade da banha:
Aquando a estreia de Os Salteadores da Arca Perdida, em 1981, houve quem comparasse Indiana Jones a Tintin e com razão, já que as aventuras do arqueólogo emulavam na perfeição o espírito da banda desenhada de Hergé com os seus artefactos místicos, voltas ao Mundo, personagens carismáticas e um sentido de diversão contagiante. Assim, nada mais justo que seja o próprio Spielberg a comandar a produção que leva o jornalista loiro e de poupa inconfundível de volta ao grande ecrã, ainda mais com produção de Peter Jackson (que dispensa apresentações) e argumento de Steven Mofatt (das séries britânicas Sherlock e Doctor Who), Edgar Wright (dos óptimos Shaun of the Dead e Hot Fuzz) e Joe Cornish (do pouco visto, mas elogiadíssimo, Attack the Block). Além disso, demonstrando imenso respeito pela obra original, Spielberg optou por manter a estética de Hergé ao recorrer à técnica do performance capture, já usada em filmes como a trilogia O Senhor dos Anéis, Polar Express, Beowulf eAvatar. Tanto talento junto e o resultado é frustrante. Comparações com Indiana Jones só se for com o lamentávelReino da Caveira de Cristal.
Combinando elementos dos álbuns O Caranguejo das Tenazes de Ouro, O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackam, o Terrível, As Aventuras de Tintin traz o personagem-título (Bell), sempre acompanhado do fiel Milu, no encalço de um segredo que está relacionado com uma réplica de uma embarcação que ele recentemente adquiriu: o Licorne. O modelo é cobiçado pelo misterioso Sakharine (Craig) que o deseja para descobrir o tesouro de um pirata do século XVII, o que levará Tintin a conhecer o rabugento e ébrio Capitão Haddock (Serkis) e a ter a ajuda dos inseparáveis detectives Dupond e Dupont (Pegg e Frost).
Visualmente falando, o filme acerta ao respeitar o traço de Hergé e a situar a acção numa época que remete às décadas de 30 e 40, algo que traz uma aura de nostalgia, visto que esses anos foram férteis em histórias de acção e aventura tanto na Europa como nos Estados Unidos que fervilhavam as mentes de um povo a braços com uma nova guerra mundial. Dos cenários que oscilam entre o realismo e o cartoon às caracterizações das personagens, passando pelas texturas, luzes e sombras, e acabando na manipulação de elementos problemáticos como o fogo e a água, Tintin é tecnicamente irrepreensível - ou quase (e isto é o grande problema do filme), uma vez que a técnica do performance capture revela-se um defeito capaz de sabotar a narrativa. Nota-se um imenso avanço desde Polar Express e Beowulf, mas a técnica ainda tem muito caminho a percorrer no que ao fotorealismo diz respeito: as personagens continuam a demonstrar uma inexpressividade alarmante, com o olhar "morto" como se estivessem cegas e movem-se de forma mecânica e pouco fluida.
Isto, obviamente, compromete o envolvimento emocional do público: há algo naquelas acções e naqueles olhares que não bate certo e dificilmente alguém se preocupa com o perigo que um ser digital corre ao envolver-se numa luta ou numa perseguição. Tomem, como exemplo, a cena em que um cartaz anuncia o espectáculo da cantora de ópera Bianca Castafiore: vemo-la de perfil, em pose, igual aos desenhos de Hergé e, logo de seguida, somos apresentados à personagem real que mais se assemelha a um boneco de cera ambulante no qual os movimentos da boca parecem não responder adequadamente aos músculos da cara. Apesar de contar com tecnologia digital de ponta, O Segredo do Licorne falha redondamente onde não podia falhar; tirando alguns momentos do Capitão Haddock e do encantador Milu, o filme não consegue injectar vitalidade naquela gente – e até o pobre Tintin é deixado a debitar pensamentos em voz alta, um recurso que faz sentido na banda desenhada, mas que no cinema só acentua o carácter expositivo de uma arte distinta.
Esta falta de vida contagia tudo o resto: Spielberg vê-se obrigado a mexer a câmara de um lado para o outro, talvez para mostrar as potencialidades do novo brinquedo que tem em mãos e a investir em objectos apontados e atirados para a objectiva, sem que isto tenha alguma função narrativa e surja mais como justificação rasteira para o irritante 3D. No entanto, a sequência inicial do carteirista comprova a inventividade do realizador em trabalhar com animação e alguns raccords (passagens de cena) visuais são imaginativos. Noutros casos, Spielberg atira qualquer noção de ritmo e espaço pela janela, como na perseguição pelas ruas de uma cidade marroquina que, composta por um longo plano sem cortes, transforma-o automaticamente no anti-Michael Bay na forma, mas não no conteúdo, já que o caos visual toma conta do ecrã e não se percebe nada do que acontece.
Costurando com relativo sucesso partes de três livros diferentes, O Segredo do Licorne é uma obra emocionalmente oca e há alturas em que lembra um videojogo tal é o virtuosismo que os produtores querem imprimir à força toda, algo que só torna a condução da narrativa cada vez mais robótica e amorfa, sendo ainda pontuada por uma das piores partituras que o grande John Williams já compôs. Não há emoção, nem a sensação de que algo ou alguém está em risco, muito menos o arrebatamento de um entretenimento à altura dos escritos de Hergé. Apenas a tecnologia digital ao (des)serviço do cinema e criaturas que são a cara chapada da banda desenhada, sim senhor, mas que não têm um décimo do charme e da alma que os desenhos proporcionam.
E isto é algo que os computadores simplesmente não conseguem capturar.
Super 8 (2011)
Realização: J. J. Abrams
Argumento: J. J. Abrams
Elenco: Joel Courtney, Elle Fanning, Kyle Chandler, Ron Eldard, Riley Griffiths, Zach Mills, Gabriel Basso, Ryan Lee
Qualidade da banha:
De vez em quando, dá-me para jogar velhos jogos de vídeo da Mega Drive através de um emulador instalado no computador. Há qualquer coisa de nostálgica e inocente naqueles gráficos ultrapassados, naquela jogabilidade mais simples, no limitado número de recursos e opções ao nosso dispor. O problema é que nada substitui a experiência de jogar com uma consola, em televisores cuja última inovação era o Stereo Nicam, a sensação de arrebentar os dedos naqueles "ergonómicos" comandos e rezar para que o cartucho não falhe e o jogo não encrave. De certa forma, é isto que J. J. Abrams tenta fazer em Super 8: emular o cinema de Hollywood dos anos 80 (principalmente de Steven Spielberg, um dos produtores) e levar-nos num exercício de nostalgia cinematográfica na qual histórias fantasiosas misturavam-se com as descobertas e agruras da (pré-)adolescência – e a empreitada é relativamente bem sucedida. Isto é, até o próprio filme admitir que os tempos são outros e que a sofisticação deve imperar sobre a "inocência" e Super 8 descamba ladeira abaixo.
Escrito e realizado por Abrams com claras influências da filmografia em questão, Super 8 situa-se num cidadezinha no interior dos Estados Unidos da América, na efervescência do final da década de 70, onde um grupo de adolescentes fascinado por cinema resolve ir filmar para perto de uma linha de comboios usando uma câmara Super 8. Enquanto filmam, testemunham o terrível descarrilamento e consequente explosão de um comboio. Mas, quando revêem o acontecimento em filme, o que de início parecia um mero acidente afinal é algo mais sinistro do que eles poderiam supor. E, quando vários desaparecimentos começam a suceder-se na cidade, eles compreendem que algo os associa ao acontecimento daquela noite. Decididos a desvendar o mistério, os adolescentes juntam-se e, em segredo, começam a investigar por conta própria.
Para perceberem como Super 8 vai beber a temas tão caros a Spielberg, resta dizer que o protagonista, o jovem Joe Lamb (Courtney), perdeu a mãe num trágico acidente de trabalho e o pai, o policial Jack Lamb (Chandler), mantém com ele uma relação distante e fria. Ao mesmo tempo, Joe é apaixonado por Alice (Fanning), cujo pai foi indirectamente responsável pela mãe de Joe e que também mantém um relacionamento pouco amistoso com a filha. A relação pais-filhos, sempre tão presente na maioria dos filmes do realizador de ET - O Extraterrestre, é aqui mais uma vez usada para aprofundar as personagens e, mais do que traçar-lhes o perfil psicológico, serve também para conduzir as suas acções. Assim, é natural que Jack se sinta desconfortável com o papel que foi obrigado a abraçar após a morte da esposa e Joe se ressinta da ausência de uma figura superior que o guie (função reservada à falecida mãe), enquanto Alice surja mais revoltada e activa que os restantes companheiros devido à presença de um pai rígido e alcoólico.
Cheio de referências à época em questão e com um agradável clima de aventuras juvenis, Super 8 falha naquele que deveria ser o grande atractivo do terceiro acto: a criatura que assola a região e que faz com que as forças governamentais invadam a região. Enquanto a maior parte do filme evoca primorosamente os filmes nos quais se inspira (Os Goonies, Encontros Imediatos de Terceiro Grau, Gremlins,...), quando o monstro dá as caras e conhecemos a sua origem, não há como evitar a desilusão tal é a forma tão precária como tudo é apresentado. Para dar um exemplo, Joe e os amigos ficam a saber do passado da criatura através de um velho filme e de uma gravação – e não deixa de ser ridículo que ambos sejam passados com a mesma sincronia, como se os rapazes soubessem o momento ideal para carregar no botão play. A própria estrutura narrativa, aliás, é afectada com isto: quando alguém é informado sobre o "toque" do monstro, este dado chega cedo demais e mata qualquer tentativa de suspense criada posteriormente.
Além disso, Super 8 deixa algumas perguntas em aberto e se posso ser acusado de racionalizar demasiado uma obra que pede desconto da nossa parte por causa da sua aura de "inocência", lamento discordar, mas J. J. Abrams não devia ter plantado e investido em questões para deixá-las ao acaso. Afinal, para que serviram os desaparecimentos dos habitantes da cidade? Como o Professor Woodward consegue sobreviver ao embate e à explosão do seu veículo? E como este conseguiu preservar tantos registos sobre a criatura ao longo dos anos sem que o Governo lhe pusesse a vista em cima (até por que foi a sua conduta problemática que o levou ao despedimento)? Em vez de limar as arestas da narrativa, Abrams rendeu-se a um festim de efeitos especiais que não distinguem o seu filme de tantas outras obras do género.
Em contrapartida, é impossível não elogiar o olhar de Abrams para os detalhes, como a projecção de uma cena importante numa t-shirt ou o momento simbólico e poético quando um determinado colar é levitado, e a exemplar direcção de actores em ocasiões mais emocionais (o elenco é perfeito), em que o minimalismo das acções contrasta com as emoções que as personagens estão a sentir. Pena é que todo este trabalho vá desaguar num final desinteressante e que não faz justiça a tudo o que assistíramos anteriormente – um fraco desfecho como tantos outros que caracterizam a carreira de Spielberg.
Se calhar, a homenagem era mais extrema do que eu estaria à espera.
Olhos de Lince é um daqueles filmes formatadinhos que não deixa nada ao acaso: a fórmula está mais que gasta, mas ainda agrada ao público; tem muita correria, mas não tem grande conteúdo; tem bons actores, mas personagens rasas; tem uma história que se quer trepidante e pertinente, mas acaba por descambar na estupidez. Nota-se perfeitamente a mão dos produtores e menos a marca do realizador (geralmente, o argumentista não é para aqui chamado). E como um dos produtores executivos dá pelo nome de Steven Spielberg, que antes era sinónimo de entretenimento de primeira água e agora é só desconfianças, já podemos esperar muita coisa, como a inclusão do seu protegido Shia LaBeouf e uma história mastigadinha e cheia de acção, numa tentativa clara (e infrutífera) de esconder um argumento falho e repleto de buracos.
Situado em Janeiro de 2009 para evitar qualquer relação com a administração Bush apenas porque sim, Olhos de Lince traz Jerry Shaw, um jovem que certo dia recebe a notícia que o seu irmão gémeo, com o qual já mal tinha contacto, morreu e, após ir ao funeral, chega a casa e é preso sob acusações de terrorismo. A partir daí, ele é auxiliado na sua fuga por uma voz no telefone que o coloca no mesmo veículo que Rachel (Michelle Monaghan), que também foi envolvida no assunto sem perceber o que se passa para salvar a vida do seu filho. Ambos são perseguidos pelas autoridades e ajudados pela Voz que parece ter uma missão para ambos. Assim como as personagens, o espectador é deixado completamente às cegas sobre o que está a acontecer na maior parte do tempo, o que é uma decisão acertada conseguindo até camuflar algumas soluções mais absurdas da história até então (como a fuga de Jerry, a primeira perseguição de carros e a cena dos cabos eléctricos).
Por outro lado, sempre que o argumento tenta desenvolver o clima de conspiração, começam a pipocar os buracos do mesmo e, a partir do momento em que a tal Voz se revela e quais as suas intenções, o filme oscila entre o estúpido e o insultuoso para a inteligência do espectador. O terceiro acto da história é quase um desastre absoluto: até aí, a Voz era algo omnipresente e com poderes ilimitados (ou seja, misteriosa e temível); depois só podemos concluir que a mesma é extremamente burra, o que acaba por atestar o filme como algo sem a mínima lógica. Basta o espectador parar para pensar um pouco e os defeitos ficam logo escancarados à sua frente, já para não falar nos elementos copiados homenageados de outros filmes superiores (2001 - Odisséia no Espaço; Os Homens do Presidente; Eu, Robot; O Homem que Sabia Demais - esta então é escandalosa!).
Porém, em abono da verdade, há que dar mérito a D. J. Caruso que mantém a narrativa sempre em movimento e com um constante clima de urgência de modo a que o espectador não pare um segundo (e daí repense tudo o que viu e está o caldo entornado). Os actores estão também bastante carismáticos e se o espectador atura alguns exageros e palhaçadas da trama, é porque os mesmos se mostram bastante sérios em cena. Resumindo e concluindo: Olhos de Lince é um thriller com reminiscências de Hitchcock (o tema do indivíduo perseguido e falsamente acusado) feito para as plateias mais jovens com um olho nos bolsos e carteiras destes. Duas horas bem passadas e um divertimento esquecível mal termina.
Qualidade da banha: 9/20
Aqui há uns tempos ao ser entrevistado, George Lucas, criador e produtor das sagas A Guerra das Estrelas e Indiana Jones, referiu-se do seguinte modo ao novo filme da saga do arqueólogo Henry Jones Jr., que, na altura, estava em fase de filmagens: "Basicamente, vamos fazer A Ameaça Fantasma outra vez!". Ele não estava a menosprezar o filme dizendo que ia ser mais fraco que os restantes, como aconteceu com o chato episódio I da saga intergalática. O que ele queria dizer era que as expectativas eram tão grandes que, dificilmente, o filme conseguiria estar à altura delas. Tendo isto em mente, o que leva a ele, a Steven Spielberg e a Harrison Ford a levar avante uma nova empreitada, que chega hoje aos cinemas com o nome Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, sabendo que tal poderá não resultar como eles desejam?
Dinheiro e estatuto. Esta é a mais pura verdade: Lucas tem de lançar um filme ultra-lucrativo a cada 3 anos, Spielberg tem de cair nas graças do público novamente e voltar a fazer êxitos planetários e Harrison Ford tem de se manter no activo (e com sucessos já agora, que os últimos filmes dele...) sob pena de não poder voltar às luzes da ribalta. Certamente, será isto que lhes passa pela cabeça porque eu não vislumbro outra justificação para lançar mais um capítulo da saga, que é, com certeza, uma daquelas desilusões cinematográficas que um gajo apanha quando o rei faz anos.
Comecemos pelo argumento: os três sempre disseram que só voltariam com um novo filme caso a história fosse realmente boa e tivesse algo a acrescentar à ex-trilogia. Pois bem, a história não tem ponta por onde se lhe pegue, está cheia de furos e quando o filme realmente acerta no ponto (pouquíssimas vezes) deve-se mais à mitologia estabelecida pelos 3 primeiros filmes do que propriamente por ideias novas. E se o "algo a acrescentar à saga" vem na personagem de Mutt Williams, eu vou ali e já venho.
As cenas de acção são burocráticas ao máximo, exceptuando-se talvez a perseguição de moto, e nada empolgantes. Aliás, em todo o filme não se nota a mão de Spielberg para este tipo de filmes, cuja acção tem de ser envolvente e dinâmica, algo que é ressaltado pelo absurdo de cenas como a do frigorífico (quem viu, percebe), das três cataratas e a do "Tarzan improvisado" (mais uma vez, quem viu percebe; quem não viu, abençoado seja). Disse Lucas e Spielberg que só iam recorrer a efeitos especiais de computador quando fosse estritamente necessário e tal é falso: da metade do filme para a frente dá-se uma overdose de CGI e nem por isso são dos melhores efeitos especiais que andam por aí.
As interpretações são boas: Harrison Ford continua excelente no papel, embore não se esforce por aí além; Shia LaBeouf demonstra mais uma vez o carisma de Transformers e Paranóia; Cate Blanchett também se safa no papel da estereótipada vilã comunista dos anos 50; e como é bom ver Karen Allen de volta! A única interpretação que destoa é a de John Hurt no papel de Oxley, mas a culpa nem é dele mas sim do argumento que lhe dá falas como "Eles foram para o espaço entre os espaços". Mais tosco, impossível!
O filme nem as poucas boas ideias que tem consegue aproveitar: o clima da perseguição ao comunismo que se vivia nos EUA nos anos 50 (o filme passa-se em 1957, exactos 19 anos depois do terceiro filme) podia ser melhor desenvolvido, sendo que o único conflito que ocorre é logo no início quando o Governo põe em causa todo o trabalho de Indiana por pensar que ele ajuda os russos; o anacronismo de um herói clássico de aventuras estar ainda em acção no início da era atómica como metáfora para o lugar da saga no cinema actual (isto foi muito melhor desenvolvido no último Rocky); a ideia da fotografia que dá a impressão que o filme foi filmado nos anos 80 perde o sentido quando o CGI toma conta da história; o templo onde deve ser depositada a tal Caveira de Cristal é um achado, mas já vem tarde, quando todo o esforço de encontrar algo de original já está perdido; e a oportunidade de fazer uma alegoria com símbolos cristãos que esteve presente nos filmes anteriores é completamente rasteira e só deverá ser notada porque... tal esteve presente nos filmes anteriores!
Já se sabe que as expectativas eram elevadíssimas e que é sempre dificil lidar com isso. Mas é complicado encontrar pontos positivos numa obra que dá a impressão que todos os envolvidos estão a fazer um frete e que não se empenharam a fundo, em que a história anda aos solavancos, que as cenas de acção não trazem nada de novo, alinhando na moda dos últimos anos de fazer tudo parecer um videojogo, retirando-lhes autenticidade. Este parece-me ser o grande erro do filme: trazer o herói para o cinema do século XXI em vez de levar o espectador por uma viagem pela magia dos filmes da década de 80. Só por este prisma é que se pode dizer que Indiana Jones tem lugar no cinema actual.
Qualidade da banha: 7/20
Marion: "Não és o homem que conheci há 10 anos atrás."
Indiana: "Não são os anos, querida, é a quilometragem."
Diálogo d' Os Salteadores da Arca Perdida
Nunca tive o prazer de assistir nenhum dos filmes da saga Indiana Jones no cinema, algo que será retificado na próxima Quinta-feira, quando estrear o novo tomo: Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. O que é muito estranho, pois todo o universo criado por George Lucas e Steven Spielberg não é mais que uma grande homenagem ao cinema, àquele cinema de aventuras e acção inocente dos anos 30 e 40, que preenchiam o imaginário dos jovens de então. Obviamente que não tinha ainda nascido quando os dois primeiros filmes foram lançados, sendo que no terceiro ia a caminho dos 4 anos, quando as preocupações passavam, obrigatoriamente, por brincar, comer e dormir.
Sendo assim, creio que vi todos os três filmes na televisão, o que não retira em nada o charme e o impacto das aventuras do arqueólogo Doutor Jones e companhia. Indiana Jones e o Templo Perdido (1984) foi aquele que vi mais vezes, acho que até foi o primeiro que assisti, ou seja, acabei por respeitar a cronologia do universo da personagem. Toda a cena inicial no Club Obi-Wan (perceberam?) em busca do diamante, aquele jantar nojento e a fastástica perseguição na mina faziam as minhas delícias. Por outro lado, tinha um medo terrrível da cena do ritual satânico, em que o mauzão arranca o coração ainda a bater do peito de um tipo qualquer.
Depois vi Os Salteadores da Arca Perdida (1981), provavelmente o melhor filme da série, em que a personagem foi apresentada ao mundo. Como só anos depois vim a saber que este tinha sido o primeiro filme a ser lançado, é que reparei como o filme é realmente bom: toda a apresentação da personagem e da mitologia que o rodeia é perfeita, Harrison Ford incorporou de tal maneira o papel que é impossível imaginar outro actor a interpretá-lo, diálogos majestosos a fazer lembras as comédias das décadas de 30 e 40, e uma magia que só os grandes filmes proporcionam. O final fecha o filme de forma perfeita e cínica, quando Spielberg sabia como encerrar os seus filmes da melhor maneira, algo que foi perdendo com o tempo.
Tempos mais tarde, acabei por assistir à grande aventura que é Indiana Jones e a Grande Cruzada (1989), com um ritmo mais leve contrapondo ao negrume de ...Templo Perdido. A história tem bastantes semelhanças com o primeiro filme da personagem, mas os acertos são tantos que tornam o filme mais de que um mero entretenimento: a acção é melhor e desenfreada, é o mais bem humorado dos 3 filmes (a piada de Hitler é clássica), toda a sequência inicial com o jovem Indiana, e, claro, Sean Connery como pai de Indiana, Henry Jones, caiu como uma luva no papel e a sua química com Harrison Ford é imaculada. Como James Bond foi uma das inspirações para a personagem e Spielberg andava desgostoso pois queria realizar um filme do espião, mas não lhe deixavam, só o eterno 007 para ser o pai de Indiana Jones. Um grande entertenimento como só Spielberg sabe fazer (mas parece que foi perdendo o jeito...).
Com o revivalismo dos anos 80 que se tem assistido no cinema (e não só) nos últimos anos, o lançamento de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal acaba por ser um dos pontos altos deste movimento. É uma pena que Sean Connery não tenha alinhado em participar neste filme, mas trouxeram a personagem de Marion, a primeira Indy-girl e o grande amor de Indiana Jones, o que me parece bastante acertado. Espero mais do que um filme de Verão: espero sentir-me como os espectadores se sentiram nos anos 80; que o filme faça jus aos anteriores; que a aventura e o entretenimento sejam de primeira água; que a música do grande John Williams me arrepie todo e me embale durante o filme todo; acima de tudo, quero a magia de volta!
Nunca tive o prazer de ver nenhum dos filmes da saga Indiana Jones no cinema. Quase que diria que este último vai ser lançado só para que eu tenha esse prazer...