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Sombras da Escuridão

por Antero, em 13.05.12


Dark Shadows (2012)

Realização: Tim Burton

Argumento: Seth Grahame-Smith

Elenco: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Jonny Lee Miller, Helena Bonham Carter, Jackie Earle Haley, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz
 

Qualidade da banha:

 

CARTA A TIM BURTON

 

Caro Tim,

 

Daqui é um fã que te escreve. Um fã que se deprime ao perceber que muitos intitulados fãs não conhecem ou não apreciam a tua melhor obra (Ed Wood) e rasgam-se em elogios ao meramente divertido Marte Ataca!. É certo que os teus Batman não são grande espingarda, mas nada como um Joel Schumacher para dar outro brilho aos filmes alheios. Já me emocionaste com Eduardo Mãos de Tesoura e O Grande Peixe, divertiste-me a valer com Beetlejuice – Os Fantasmas Divertem-se e Charlie e a Fábrica de Chocolate, patrocinaste duas fabulosas animações como A Noiva Cadáver e O Estranho Mundo de Jack e deslumbraste-me com A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Até hoje sou olhado de lado por dizer que adorei a tua incompreendida versão de O Planeta dos Macacos, só para veres como sou teu fã!

 

Dito isto, é com pena que admito que estou um pouco farto dos teus filmes. Tenho notado que se tornaram festins visuais sem qualquer substância: Sweeney Todd já não me havia encantado ("I feeeel youuuu, Johaaaaana") eAlice no País das Maravilhasé uma porcaria sem pés nem cabeça onde a direção artística absorve tudo e se torna um fim em si mesmo. Infelizmente, Sombras da Escuridão vai pelo mesmo caminho. Os cenários e os efeitos são tudo o que se espera de ti (fantásticos), mas que é feito do teu humor negro cortante? Aquele que define a ambientação e desenvolve as personagens? Ou aquelas histórias envolventes polvilhadas com indivíduos fascinantes?

 

Dá para perceber o que te atraiu em Sombras da Escuridão: originalmente uma telenovela norte-americana de contornos góticos dos anos 60 e 70, ela tornou-se um objeto de culto graças à figura do vampiro Barnabas Collins que era despertado após 200 anos e decide restaurar a antiga glória do seu clã. Chamaste o teu colaborador habitual para o papel principal, um excêntrico numa carreira já sobrelotada deles, e bem podes dizer ao Johnny que as suas composições já soam a preguiça. Enfiaste a Helena no papel de uma psiquiatra incompetente que se mantém com os Collins há três anos sem razão aparente que não seja a da atriz ser a tua companheira e teres de inclui-la no filme a bem da diplomacia conjugal. Raios! Até da talentosa Chloë Grace-Moretz conseguiste extrair uma prestação desastrosa na adolescente enfadada que só me fez lamentar que a década de 60 não contasse com métodos contracetivos mais eficazes.


Antes que me atires à cara, posso adiantar que percebi a tua proposta: pegar numa soap opera e convertê-la para uma comédia, realçando os seus absurdos, as personagens estereotipadas e as narrativas mais do que gastas. O problema, caro Tim, é a tua notória indecisão sobre o que diabo é Sombras da Escuridão. Uma paródia? Um conto gótico? Um melodrama? A tua ideia era, creio eu, juntar isto tudo, e no prólogo fazes um trabalho eficaz ao estabelecer o sofrido Barnabas e a lânguida e vingativa Angelique (a linda Eva Green e das poucas que se salvam), mas, como realizador experiente que és, não reparaste que o filme vai ladeira abaixo quando salta para 1972? Que as piadas são disparadas sem chama alguma e limitam-se ao batido contraste entre épocas? Que a história anda aos trambolhões com a roda-viva de personagens que entram e saem sem dizerem a que vieram? Ou que a governanta é contratada para cuidar do jovem David e, em pouco tempo, já o acha "especial" sem que a tenhamos visto interagir com o rapaz?


Sim, o filme é belíssimo para os olhos, mas entediante para a mente. Se fosse dada tanta atenção ao argumento como foi dada aos aspetos técnicos, talvez Sombras da Escuridão não tivesse tão gritante falta de energia. Toma como exemplo a cena de sexo entre Barnabas e Angelique: dois seres poderosos que destroem tudo por onde passam e desafiam a gravidade extravasando os dois séculos de separação. Esta minha descrição é mais empolgante do que a sequência em si: ela é tão cansativa, tão pouco original e tão prolongada que eu não via a hora de acabar. "Cansativa" e "pouco original" – aqui estão duas expressões que eu nunca pensei vir a usar sobre uma obra tua; porém, elas resumem na perfeição a bagunça que é este filme.


Venha de lá Frankenweenie e que te traga de volta para bom porto. Alguém tão talentoso como tu não se pode acomodar com estes recentes tiros ao lado – e não me parece que venha por aí um Joel Schumacher capaz de redimir-te.

 

publicado às 20:06


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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