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Transformers 3

por Antero, em 30.06.11

 

Transformers: Dark of the Moon (2011)

Realização: Michael Bay

Argumento: Ehren Kruger

Elenco: Shia LaBeouf, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey, John Malkovich, Frances McDormand
 

Qualidade da banha:

 

Nem à terceira foi de vez. Depois do medonhoTransformers: Retaliação, Michael Bay volta à carga com mais um atentado ao bom gosto e à paciência do espectador num filme com tortuosos 155 minutos e que serve como mera desculpa para distrair o público enquanto os produtores contam os dólares ganhos com a exposição de marcas como a Mercedes, a Chevrolet, a Hummer ou a Ferrari. Os únicos pontos positivos referem-se aos aspectos técnicos (efeitos visuais e sonoros), mas, convenhamos, isso é o mínimo exigível a uma obra orçada em 200 milhões de dólares e, mesmo assim, com algumas ressalvas: a direcção de Bay é tão caótica (o costume...) que mal percebemos o que acontece no ecrã – o que, ironicamente, acaba por reflectir o filme em si, que poderia ser adjectivado numa única palavra: caos.

 

Escrito pelo irregular Ehren Kruger (O Suspeito da Rua Arlington e The Ring - O Aviso do lado bom; Jogo de Traições e o já citado segundo Transformers no extremo oposto), Transformers 3 recua até à década de 60 para nos mostrar a queda de uma nave de Cybertron (a Ark) em território lunar, facto este que despoletou a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética. Na actualidade, os Autobots continuam a aliança militar com os norte-americanos que tão bons resultados não deram anteriormente e tomam conhecimento da existência do que resta da Ark, uma vez que os russos e os ianques foram colectando vários componentes ao longo dos anos, e lançam-se numa missão para travar os cruéis Decepticons que pretendem usar o mecanismo para subjugar a raça humana. Enquanto isso, o nosso herói Sam Witwicky desespera por não encontrar trabalho apesar de ter ajudado a salvar o Mundo por duas vezes e ter sido condecorado pelo Governo (algo que ele não se cansa de repetir!) e embarca num novo emprego até ser arrastado (de maneira bem absurda) para o seio da guerra entre os poderosos robots.

 

Concebido única e exclusivamente com os efeitos visuais em mente, Transformers 3 até tem uma história menos elaborada e mais directa que o monte de bosta que o antecedeu, embora isso não signifique que ela seja necessariamente melhor: não há aqui piadas infames com os testículos de um robot e os pais de Sam têm menos tempo de antena (mas quando aparecem dá vontade que algum Decepticon os esmague), mas as tentativas de humor surgem sempre deslocadas e infantis, principalmente aquelas que estão a cargo da irritante dupla Brains e Wheelie. Da mesma forma, Bay tenta carregar pesadamente no drama e de forma desajeitada: em vez de explorar as baixas civis da destruição que toma conta do filme (que devem ascender aos milhares), ele prefere novamente fazer de Bumblebee o protagonista de cenas mais emocionantes e só me apraz dizer que se o esquema não funcionou nos dois filmes anteriores, talvez não seja conveniente recorrer ao mesmo outra vez.

 

Sempre disposto a mostrar o seu talento em explodir coisas, Bay encena tudo com uma grandiosidade que acaba por cansar o espectador, já que falha em criar um sentimento de urgência que nos leve a temer pelo destino das personagens que, como já é usual na filmografia do realizador, são unidimensionais e estupidamente desenvolvidas. De que adianta contar com as vozes poderosas de Peter Cullen, Hugo Weaving e Leonard Nimoy se tudo que lhes sai da boca são frases de efeito regadas a muita lamechice? Alías, os diálogos escritos por Kruger variam entre ordens ("disparem!", "segurem-se!", "sai daqui!", "fica aqui!", "vem comigo!") e pérolas como "não vou permitir armas de destruição maciça na nossa atmosfera!" dita pela Secretária da Defesa interpretada por uma Frances McDormand que só podia estar bêbada quando aceitou participar nisto.

 

Quem realmente faz má figura, porém, é Rosie Huntington-Whiteley, uma modelo promovida a actriz por um executivo que raciocina com o pénis, que serve como óptima substituta da péssima Megan Fox: pãozinho sem sal e com zero de presença em cena, a manequim empresta todos os atributos da desaparecida Micaela, desde a maquilhagem que não borra no meio do campo de batalha ao vestido curto (claro!) que não se suja, passando pela boca entreaberta e uma pose supostamente sedutora quando tudo à volta está em ruínas, sem contar que, como indivídua, a nova namorada de Sam (por que ele tem de ter uma namorada, ora essa!) tem um carácter materialista e coactivo para com as opções do amado. Obviamente que ela é linda e nós sabemos isso logo na sua primeira aparição, já que Bay foca primeiramente as pernas e o traseiro da moça, num rasgo machista tão característico dele. No entanto, o que pode fazer a pobre Whiteley quando o filme não tem qualquer problema em arrancar prestações embaraçosas de gente do calibre de John Turturro, Patrick Dempsey, Shia LaBeouf e John Malkovich?

 

Contando com todos os vícios conhecidos do realizador (os travellings circulares, os filtros amarelos, as câmaras lentas, os planos inclinados a demonstrar o heroísmo dos envolvidos, a exaltação das forças armadas), Transformers 3 avança aos trambolhões de sequência em sequência mesmo que tudo não faça muito sentido (porquê esperar tanto tempo para pôr o plano da Ark em acção?) e, pior do que isso, já não bastassem os exasperantes mil cortes por minuto (os únicos planos que duram mais que dois segundos são aqueles em slow motion), ainda temos de levar com rápidos fade ins e fade outs que tornam tudo ainda mais confuso. Mais confuso ainda é tentar perceber seja o que for dos duelos entre os robots: quem atinge quem ou a posição de uns em relação aos outros exige um esforço considerável – e, lamentavelmente, isto é o mais próximo de complexidade que o filme atinge. Por outro lado, sempre temos a oportunidade de assistir a uma perseguição pelos céus de Chicago entre máquinas voadoras e militares que planam (!) ou assistir aos laivos de patriotismo de Bay, com as bandeiras norte-americanas sempre presentes e a destruição do Lincoln Memorial por Megatron, o que, para o realizador, deve representar o ápice de humilhação e tragédia nos EUA.

 

Há que dizer, portanto, que eu descobri finalmente por que Michael Bay insiste num ritmo tão acelerado e praticamente incompreensível da sua narrativa: que outra forma haveria das personagens sobreviverem à longa e entediante destruição que assola Chicago? Elas estão num prédio que desaba e sobrevivem; Sam vai agarrado a um robot que se despenha violentamente e não sofre um arranhão; o sujeito também é pendurando e arrastado ferozmente por um Decepticon e sai ileso; há explosões das quais as personagens são protegidos por um pilar! Não dá para entender como tal acontece por que tal não é mostrado.

 

Um paradigma que aplicado a Michael Bay resume bem a sua carreira como realizador.

 

publicado às 03:05

A fera amansada

por Antero, em 23.09.10

 

O que aconteceu com Oliver Stone? Onde está aquele realizador politizado, agressivo e pessimista de outrora? O responsável por filmes polémicos como Platoon – Os Bravos do Pelotão, JFK ou Assassinos Natos? Aparentemente, deu lugar a um sujeito mais optimista, mais pacato e menos conflituoso, como comprovam obras como Um Domingo Qualquer, Alexandre, O Grande (um grande fiasco, isso sim) e World Trade Center. Mesmo obras de cariz político comoW.revelam uma postura mais leve e simpática que em nada lembram o realizador de ideologias liberais e em constante ruptura com o sistema.

 

Em Wall Street, Stone produziu uma obra que servia como denúncia dos excessos da década de 80 do século passado e que funcionava maravilhosamente naquele contexto: eram os tempos dos “yuppies”, do crédito fácil, da ostentação, do status quo mediante o poder económico. O filme era um conto sobre a moralidade e a ambição, antecipava a escalada de eventos que levaria a variados colapsos económicos e das consequências da falta de regulamentação dos mercados e apresentava Gordon Gekko, um antagonista memorável na pele de Michael Douglas. Wall Street tinha uma narrativa fechada e não necessitava de uma continuação – e, no entanto, esta sequela, com o subtítulo de O Dinheiro Nunca Dorme (retirado de uma das falas do original), funciona exactamente pela mesma razão que datou o primeiro: o contexto social e económico. E também, obviamente, pela figura de Gekko, que permanece fascinante.

 

Começando a história em 2000 com a libertação de Gordon Gekko da prisão, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme logo salta oito anos no futuro, quando os primeiros indícios da recessão económica eram já difíceis de ignorar. O Mundo é agora um lugar diferente: é a era dos smartphones, a Internet é uma realidade comum a todos, as Torres Gémeas já não surgem imponentes no céu de Nova Iorque (há um plano do Ground Zero que remete para o colapso – literal – da economia), mas em Wall Street ainda é o dinheiro que domina. É neste ambiente que Gekko pretende relançar-se no mercado. Para isso, alia-se a Jake Moore na tentativa de abalar a carreira de Bretton James, cujas acções poderão ter levado o mentor de Moore ao suicídio. Em troca, Gekko deseja que o novato o ajude a restabelecer a relação com a sua filha, não por acaso, a namorada de Moore, que culpa o pai e as suas actividades por terem destruído o núcleo familiar.

 

Família, vale dizer, é algo que move toda a narrativa. Se, no original, Bud Fox (que aparece por breves minutos) encontrava na figura paterna a bússola moral que mantinha a sua integridade, aqui é Winnie Gekko que serve de orientação para Jake e, consequentemente, para Gordon. No meio da ambição desmedida e da vingança, ambos desejam a estabilidade familiar – só que estas facetas dificilmente se complementam: Jake é um jovem que acredita no investimento na indústria das energias renováveis, mas será isto devido ao seu idealismo ou à sua sede de poder de uma economia em expansão? E Gekko quer realmente aproximar-se da filha ou está a usá-la (e ao namorado) como meros peões no seu fortalecimento?

 

É este tipo de questões que permeia Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme e, se Shia LaBeouf faz um trabalho discreto como Jake, é Michael Douglas quem leva tudo à frente no papel que lhe valeu um Oscar. Perverso e cínico, ele é como uma raposa que se movimenta facilmente na floresta e conhece todos os meandros do incerto jogo da alta finança. Antes, ele tinha atingido um estatuto que não deixava margem para dúvidas do seu brilhantismo, mas agora ele começa na mó de baixo e terá de usar toda a sua astúcia a seu favor. Capaz de convencer o pupilo a fazer algo arriscado sem que ele perceba que foi manipulado, Gekko só não é mais perigoso que Bretton James por que já não dispõe do mesmo poderio económico deste último, uma vez que a sua retórica sobre os males daqueles que detêm o dinheiro não só é real (e assustadora) como, nas entrelinhas, Douglas tem a inteligência de mostrar que aquele é um posto que um falido e ganancioso Gekko inveja.

 

Se no elenco pouco há a apontar (todos estão correctos, desde o trágico bancário vivido pelo excelente Frank Langella à avarenta mãe de Jake interpretada por Susan Sarandon), é na câmara de Oliver Stone que começam os grandes problemas. Mais relaxado que nunca, Stone perdeu uma oportunidade única que fazer um ataque cerrado aos verdadeiros culpados da crise económica de 2008 e muitas das suas opções técnicas revelam-se desastrosas, como os grandes planos que revelam brincos, pulseiras e outros adereços de luxo numa tentativa fácil e desnecessária de mostrar a superficialidade daquele meio ou os flashbacks e “aparições” que apenas martelam o que já estava entendido. Porém, nada se compara ao telefonema que Jake recebe e cujo interlocutor aparece uma espécie de “balão de pensamento” que substitui a face da sua acompanhante, algo tão deselegante que nem numa comédia adolescente seria aceitável.

 

Para piorar, o que mais decepciona é a falta de garra e o sentimentalismo barato com que Stone encerra o filme. Ainda que seja perspicaz ao ponto de deixar sempre Gekko como componente periférica (a história é sobre Jake Moore, tal como o original era sobre Bud Fox), o realizador encena uma redenção que não se condigna com o carácter de determinado indivíduo (além de alongar a duração mais do que deveria). Parece algo escrito às três pancadas depois de uma exibição-teste negativa, o que, implicitamente, retrata que a mensagem inicial é certeira: a ganância pelo dinheiro comanda tudo.

 

Qualidade da banha: 11/20

 

publicado às 23:34

Muita parra e pouca uva

por Antero, em 10.10.08

 

Olhos de Lince é um daqueles filmes formatadinhos que não deixa nada ao acaso: a fórmula está mais que gasta, mas ainda agrada ao público; tem muita correria, mas não tem grande conteúdo; tem bons actores, mas personagens rasas; tem uma história que se quer trepidante e pertinente, mas acaba por descambar na estupidez. Nota-se perfeitamente a mão dos produtores e menos a marca do realizador (geralmente, o argumentista não é para aqui chamado). E como um dos produtores executivos dá pelo nome de Steven Spielberg, que antes era sinónimo de entretenimento de primeira água e agora é só desconfianças, já podemos esperar muita coisa, como a inclusão do seu protegido Shia LaBeouf e uma história mastigadinha e cheia de acção, numa tentativa clara (e infrutífera) de esconder um argumento falho e repleto de buracos.

 

Situado em Janeiro de 2009 para evitar qualquer relação com a administração Bush apenas porque sim, Olhos de Lince traz Jerry Shaw, um jovem que certo dia recebe a notícia que o seu irmão gémeo, com o qual já mal tinha contacto, morreu e, após ir ao funeral, chega a casa e é preso sob acusações de terrorismo. A partir daí, ele é auxiliado na sua fuga por uma voz no telefone que o coloca no mesmo veículo que Rachel (Michelle Monaghan), que também foi envolvida no assunto sem perceber o que se passa para salvar a vida do seu filho. Ambos são perseguidos pelas autoridades e ajudados pela Voz que parece ter uma missão para ambos. Assim como as personagens, o espectador é deixado completamente às cegas sobre o que está a acontecer na maior parte do tempo, o que é uma decisão acertada conseguindo até camuflar algumas soluções mais absurdas da história até então (como a fuga de Jerry, a primeira perseguição de carros e a cena dos cabos eléctricos).

 

Por outro lado, sempre que o argumento tenta desenvolver o clima de conspiração, começam a pipocar os buracos do mesmo e, a partir do momento em que a tal Voz se revela e quais as suas intenções, o filme oscila entre o estúpido e o insultuoso para a inteligência do espectador. O terceiro acto da história é quase um desastre absoluto: até aí, a Voz era algo omnipresente e com poderes ilimitados (ou seja, misteriosa e temível); depois só podemos concluir que a mesma é extremamente burra, o que acaba por atestar o filme como algo sem a mínima lógica. Basta o espectador parar para pensar um pouco e os defeitos ficam logo escancarados à sua frente, já para não falar nos elementos copiados homenageados de outros filmes superiores (2001 - Odisséia no Espaço; Os Homens do Presidente; Eu, Robot; O Homem que Sabia Demais - esta então é escandalosa!).

 

Porém, em abono da verdade, há que dar mérito a D. J. Caruso que mantém a narrativa sempre em movimento e com um constante clima de urgência de modo a que o espectador não pare um segundo (e daí repense tudo o que viu e está o caldo entornado). Os actores estão também bastante carismáticos e se o espectador atura alguns exageros e palhaçadas da trama, é porque os mesmos se mostram bastante sérios em cena. Resumindo e concluindo: Olhos de Lince é um thriller com reminiscências de Hitchcock (o tema do indivíduo perseguido e falsamente acusado) feito para as plateias mais jovens com um olho nos bolsos e carteiras destes. Duas horas bem passadas e um divertimento esquecível mal termina.

 

Qualidade da banha: 9/20

 

publicado às 16:50


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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