Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Os deuses devem estar loucos

por Antero, em 16.04.10


Não há coisa pior do que escrever sobre estes filmes: Confronto de Titãs está longe de ser um bom filme, mas também não é nenhum lixo. Certamente que há mais defeitos a apontar (como irei fazer de seguida) do que qualidades a enaltecer, porém, como obra de entretenimento puramente escapista, tem o mérito de divertir o espectador por uma hora e meia com as suas sequências de acção e grandiosos efeitos visuais, embora o resultado seja indiferente ao final da projecção. Se há palavra para definir este tipo de filmes, ela é indiferença.

 

Refilmagem do filme de culto de 1981 Choque de Titãs (que não vi), Confronto de Titãs conta a história do mito de Perseus (Sam Worthington), um semideus filho de Zeus (Liam Neeson), o rei dos deuses do Olimpo, e da mortal Danae. Ele é criado por dois mortais quando o encontram ainda bebé à deriva com a mãe. Anos mais tarde, os humanos revoltam-se contra os deuses e estes, com o propósito de puni-los, encarregam o maléfico Hades (Ralph Fiennes), deus do submundo e irmão de Zeus, de soltar o terrível monstro marinho Kraken caso os humanos não voltem a respeitá-los. Perseus junta-se a um grupo de soldados com o intuito de derrotar Hades e Kraken, ao mesmo tempo que a sua jornada revelará mais sobre o seu passado.

 

Como qualquer épico que se preze, Confronto de Titãs conta com um rol de indivíduos feitos à medida da produção. Assim, os homens são corajosos e sempre dispostos a discursar eloquentemente, o que até calha bem num filme que mais parece uma metralhadora pronta a disparar frases de efeito a cada cinco minutos - e não deixa de ser cómico que, minutos depois de se gabar da morte de vários soldados pela guerra contra os Deuses, o Rei Cefeu se oponha ao sacrifício da própria filha para acabar com o conflito (pragmatismo não é com ele). E claro que podemos contar com a boa vontade de Hollywood: todos os seres do sexo masculino (deuses incluídos) têm fartas cabeleiras e barba abundante excepto o nosso herói, que conta com feições mais definidas, cabelo rapado e deve usar uma Gillette de última geração, provando que Hollywood já ditava modas na Antiga Grécia.

 

Eu tenho uma teoria que é neste tipo de filmes que se vê os grandes actores. Salários milionários são pagos a actores de renome para darem vida a personagens secundárias que, na maioria das vezes, não requerem muito dos seus intérpretes. Marlon Brando inaugurou o filião em Super-Homem - O Filme e, de lá para cá, muitos têm seguido os seus passos. Uma actuação no piloto automático e cheque gordo no bolso. Todos saem a ganhar excepto o filme que leva com personagens unidimensionais por natureza: Liam Neeson interpreta Zeus como um ser poderoso, sábio, o mentor com que todos podem contar e Ralph Fiennes é o deus mauzão, rancoroso e com ódio para dar e vender. Basta vê-los em cena para percebermos todas as suas motivações, uma vez que eles não interpretam personagens, mas sim arquétipos. Eles são grandes actores, o filme é que não o melhor atestado dos seus talentos.

 

Quanto a Sam Worthington (que,mais uma vez, faz o papel de alguém que não é inteiramente humano), o actor carrega bem o filme nas costas, embora o seu Perseus não lhe dê a oportunidade de explorar a dualidade de um semideus criado por humanos. Worthington é carismático e isso é o suficiente para não arruinar o filme, embora, por vezes, pareça canastrão mas aí prefiro culpar os diálogos do argumento. Além disso, ele surge como um herói de acção convincente nas diversas sequências de acção que pontuam a narrativa e, por falar nelas, resta dizer que elas são meramente divertidas e só. Sem qualquer sentido de espectacularidade, o realizador Louis Leterrier encena-as de forma eficaz para que o público não pare um segundo para pensar (e, convenhamos, se Zeus faz tanta questão de ter os humanos a adorá-lo, porquê seguir com a chacina avante? E porquê dar a Perseus meios para que ele seja bem sucedido na sua missão?).

 

Esquemático ao extremo (há a cena da promessa de vingança, a cena do treino do herói, a cena em que o herói prova o seu valor em campo, a cena em que alguém às portas morte fala como se estivesse numa palestra,...), Confronto de Titãs não oferece motivos suficientes para classificá-lo como satisfatório, apesar de não ser um filme terrível de assistir. Com a ressureição do género épico nos últimos anos (com Gladiador, para ser mais preciso), um filme tão sensaborão e inchado de efeitos especiais sem qualquer critério acaba por empalidecer frente a obras anteriores que, surpresa ou não, não tinham à disposição tantos recursos. Actualiza-se a forma e seca-se o miolo, a bem dizer.

 

Qualidade da banha: 9/20

 

PS: consta que a versão 3D de Confronto de Titãs é deplorável: com o sucesso deAvatar, veio uma nova vaga de filmes 3D e este foi convertido em plena pós-produção. Como se sabe, a exibição em 3D é mais cara e obviamente que as produtoras foram atrás da moda. Eu não posso confirmar a informação sobre as cópias 3D, uma vez que assisti à versão 2D. Depois deAlice no País das Maravilhas(que também passou pelo mesmo processo de conversão), decidi que só verei a versão 3D de filmes que foram desenvolvidos para o efeito (como o referido Avatar) ou caso não haja mesmo outra hipótese. Até porque, a continuar assim, ver uma cópia em 2D será quase como encontrar uma sala que exiba filmes animados com versão original legendada.

 

publicado às 20:53

Admirável mundo novo

por Antero, em 18.12.09

 

James Cameron é um visionário, um cineasta que parece estar sempre um passo à frente do seu tempo. A sua filmografia é relativamente curta (apenas 6 filmes anteriores - descontando Piranha 2, que o próprio não reconhece), mas todos os seus filmes são espectáculos visuais recheados de adrenalina, um dos expoentes máximos do cada vez mais raro "entretenimento com cérebro". Guardado na gaveta à espera dos avanços na área dos efeitos especiais, o argumento de Avatar voltou a chamar a atenção de Cameron nos últimos anos e após longos meses de produção, elogios que o consideravam 'revolucionário' e como o 'futuro do cinema', e grande antecipação depois de ter afundado o Titanic e estourado as bilheteiras, chega agora as salas o filme que traz o planeta Pandora como cenário principal. A experiência é realmente revolucionária: o detalhe na criação, o foto-realismo e a quase imersão que o espectador experiencia é algo do outro mundo. Pandora existe aos nossos olhos e isso é o que basta para contornar qualquer defeito.

 

Ou quase. Escrito por Cameron, o argumento vai buscar elementos de filmes como Pocahontas (a certa altura pensei que ia ouvir o Quantas Cores o Vento Tem...), Danças Com Lobos, O Último dos Moicanos ou A Missão para contar a história de Jake Sully, um paraplégico chamado para substituir o falecido irmão gémeo numa missão em Pandora, no ano 2156. Ele terá de controlar um corpo artificial (um avatar) desenvolvido para simular o povo Na'vi que habita o planeta e, uma vez enviado para aquela atmosfera tóxica para os humanos, terá de ganhar confiança com o povo nativo e convencê-los a deixar as suas terras serem exploradas pelos terráquos, que tem interesse num metal valioso. Chegado àquele mundo fascinante, Sully é acolhido pelos Na'vi e passa a conhecer a sua cultura através de Neytiri (por quem se apaixona), o que o fará pôr em causa os seus objectivos. Se a nível técnico Avatar é um passo gigantesco para o Cinema, a nível narrativo não podia tresandar mais a mofo.

 

Não que isso seja um grande problema: a trajectória de Sully é terrivelmente previsível e as personagens não fogem muito a estereótipos, mas isso não é um empecilho desde que estes sejam bem usados. Não seria num filme arriscadíssimo como este que se pediria para não se jogar pelo seguro. Porém, como realizador, Cameron continua em grande forma e o planeta Pandora, totalmente saído da sua imaginação, é a maior prova disso: retratando nos mínimos detalhes aquele ecossistema cheio de cores vibrantes e cujos habitantes vivem em comunhão com a Natureza, o realizador reserva os dois primeiros actos de Avatar para apresentar ao público um mundo imaginativo e hipnotizante. Poucos são aqueles que sabem utilizar efeitos especiais em benefício da narrativa, mas Cameron nunca vai contra os seus princípios e, apesar dos fartos efeitos gerados por computador, estes surgem sempre integrados na história e, o melhor de tudo, altamente realistas e quase simulando na perfeição a percepção do olho humano.

 

No entanto, é nos Na'vi que está o grande trunfo de Avatar: ao contrário de obras como Final Fantasy, Polar Express ou Beowulf, as personagens digitais - emoludas a partir das interpretações do elenco no processo conhecido como performance capture - movem-se com total fluidez e são incrivelmente expressivos (os olhos estão repletos de vida, por oposição ao olhar "morto" das personagens dos filmes acima enunciados). Os avatares de Jake Sully e Grace contêm todas as expressões faciais do seus intérpretes humanos, respectivamente, Sam Worthington e Sigourney Weaver. Isto facilita imenso a identificação do espectador com aqueles seres estranhos, uma vez que o trabalho de composição do actor acaba por ser fulcral em todo e processo e, neste particular, Zoë Saldana oferece uma estupenda actuação como a decidida, mas terna, Neytiri (algo diferente não se podia esperar de James Cameron, basta ver as mulheres duras, audazes e que rejeitam o rótulo de sexo fraco da sua filmografia: a Tenente Ripley de Aliens, a Sarah Connor de T2 ou a Helen Tasker de A Verdade da Mentira, entre outras).

 

Porém, como eu já referi, o argumento deixa a desejar em alguns momentos: apesar da louvável mensagem ecológica e a alegoria com vários momentos da História norte-americana (a colonização dos índios; o metal valioso remete à procura pelo ouro e, mais recentemente, ao petróleo) e não só (a época dos Descobrimentos), Cameron comete alguns deslizes em certos diálogos pavorosos e situações mal resolvidas, como o ponto de viragem numa importante batalha perto do final do filme. Por outro lado, o filme merece aplausos pela mensagem anti-Guerra e por não ter medo de retratar as forças militares norte-americanas como bestas sem escrúpulos, capazes do pior em prol de benefícios económicos.

 

Obrigatória a visualização a versão 3D para ter a sensação de imersão mais apurada (algo que perder-se-á com o lançamento para o mercado de vídeo e exibições televisivas), Avatar tem uma meia hora final recheada de acção trepidante, a grande especialidade do realizador afinal de contas. E apesar da tão publicitada experiência transcendental estar mais relacionada com a forma e menos com o conteúdo, Avatar é um filme que merece ser visto no cinema e, se Cameron avançar com a sequela, eu quero estar na fila da frente para voltar a Pandora.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

publicado às 04:32

Mais robótico, menos humano

por Antero, em 05.06.09

 

Sabendo a postura dos executivos de Hollywood, parece impossível de acreditar que a magnífica saga Terminator esteve parada longos 12 anos. E devia ter ficado por aí: apesar de ser um filme de acção razoável, se bem que descartável no cômputo da narrativa, T3: A Ascensão das Máquinas metia os pés pelas mãos sempre que o assunto era viagens no tempo. Mas, uma vez reaberto o filião, nada como continuar a fazer render o peixe e assim chegamos ao recente Exterminador Implacável: A Salvação, realizado por McG (dos "estupendos" Anjos de Charlie) que tenta dar um novo fôlego à saga, situando-a no futuro após os acontecimentos conhecidos como o Dia do Julgamento. Porém, não se deixem enganar pelo título, uma vez que o filme, de salvação, tem muito pouco. Está mais para Exterminador Implacável: A Escorregadela.

 

Em 2003, Marcus Wright (Sam Worthington) encontra-se prestes a ser executado por ter estado envolvido na morte do seu irmão e de alguns policias. Abordado pela doente Dra. Kogan (Helena Bonham Carter), Wright aceita doar o seu corpo para a Cyberdine Systems para complexas experiências, e acaba por acordar já em 2018, anos depois do sistema Skynet ter adquirido consciência e matando quase todos os seres humanos (que, segundo o filme anterior, ocorreu em 2003, adiando a data inicialmente estabelecida em 1997). Confuso, ele encontra o jovem Kyle Reese, que é perseguido por estar destinado a se tornar o pai de John Connor (Christian Bale), o líder da resistência humana.

 

Líder... apelidar John Connor de líder acaba por ser uma piada de mau gosto. Com discursos patéticos, sem carisma, com cara de duro e constantemente aos berros, este John Connor é muito mal desenvolvido, descartando um dos pontos onde até T3 se evidenciou: o legado que Connor carrega e a missão que deve cumprir. Aqui temos um soldado que se rebela com os seus superiores (não falta nem a batida cena do "estás dispensado"), mas o porquê de ele granjear tantos seguidores é uma incógnita. Tudo isto poderia ser minimizado com a actuação de Bale, mas até esta acaba por contribuir para o desastre. O que ainda equilibra a balança é Worthington, mas falar da sua interpretação acaba por ser spoiler (se bem que qualquer um com dois dedos de testa descobre logo tudo). E como A Salvação acaba por lhe dar grande destaque, o filme ganha pontos aí.

 

Que logo os perde ao focar-se demasiado na acção, revelando a ausência de um argumento que sustente tudo de forma coesa. Aqui o que interessa é saltar de uma cena de acção para outra, mesmo que esta surja desnecessária e/ou sem o dinamismo que James Cameron imprimiu nos dois primeiros filmes (porém, a bem da verdade, há que referir uma cena em que McG se supera e estou a falar do longo plano sequência do helicóptero no início do filme. Mas a fonte de boas ideias esgota-se por aí.). "Emprestando" elementos de produções como Transformers, Guerra dos Mundos, O Dia da Independência, Mad Max e, claro, dos filmes anteriores, A Salvação acaba por se tornar uma obra sem identidade, sem algo de realmente inovador. A não ser que considerem variedades de robots (aquáticos, aéreos, híbridos,...) uma inovação, mas eu acho que é mais para vender bonecos.

 

Sem conseguir instaurar um clima de tensão que nos leve a desesperar pelos heróis, A Salvação ainda comete o pecado de amenizar (com vista a classificação etária) o "comportamento" dos Terminators, que nunca chegam a ser aquelas máquinas letais que matam sem dó nem piedade, chegando ao cúmulo de lutarem "mano-a-mano" com os humanos (como se tal fosse possível). Além disso, o filme é recheado de bons efeitos especiais, muita barulheira e várias explosões que, além de não conseguirem esconder um argumento robótico e previsível, ainda soam como um massacre aos sentidos que Michael Bay não desdenharia em apadrinhar.

 

Com tudo isto, o filme ainda dá uns valentes tiros no pé, como por exemplo o facto de Reese conduzir bem um veículo depois de afirmar que nunca conduzira na vida. Ou o facto da Skynet não matar Reese quando o tem preso. Ou o helicóptero que escapa à vontade de uma enorme explosão que, supostamente, deveria ser nuclear. Desta forma, apesar de não ferir a lógica dos filmes anteriores (algo que T3 não conseguiu), Exterminador Implacável: A Salvação acaba por não acrescentar nada ao que já conhecíamos. E se esta constatação vem embrulhada num pacote onde nada faz muito sentido, podemos ver que, no nosso mundo, as máquinas já se revoltaram há que tempos. Ou seja, o dinheiro vence sempre.

 

Qualidade da banha: 7/20

 

publicado às 16:16


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

Pesquisar

  Pesquisar no Blog


Armazém

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D