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Bridesmaids (2011)
Realização: Paul Feig
Argumento: Annie Mumolo, Kristen Wiig
Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covey, Ellie Kemper, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Jon Hamm
Qualidade da banha:
Quem depositava as suas esperanças emA Ressaca - Parte IIpara ser a comédia deste Verão, infelizmente apostou no cavalo errado. Depois de realizar, escrever e produzir uma série de comédias que deram novo alento ao género bromance, Judd Apatow patrocina uma variação do tema, agora com um enfoque feminino, mas sempre com o mesmo clima de camaradagem, humor de casa de banho, situações constrangedoras e diálogos afiados. Tudo o que funciona em comédias como Knocked Up - Um Azar do Caraças e Virgem aos 40 Anos, obras que muitos apelidam de machistas por relegarem as personagens femininas a meros enfeites castradores da rotina masculina, funciona perfeitamente em A Melhor Despedida de Solteira, um filme com os ditos cujos no sítio e uma sensibilidade enorme. Filme de gaja ou não, o certo é que diverte e muito.
Annie (Wiig) é uma trintona com vários problemas: a sua pastelaria faliu devido à recessão, a vida amorosa está em frangalhos e ela partilha a casa com dois peculiares irmãos britânicos. O seu escape é a melhor amiga, Lilian (Rudolph), que anuncia que irá casar com um rico banqueiro e deseja que Annie seja a sua dama de honor. Falida e angustiada, Annie tem de organizar os preparativos para um típico casamento norte-americano (leia-se cinematográfico: cheio de pompa e circunstância) e encontra na rica e sofisticada Helen (Byrne), esposa do patrão do noivo, uma possível ameaça não só para a sua missão, mas também para a sua longa amizade com Lilian.
Pela sinopse, qualquer um poderia pensar que estamos na presença de um "A Ressacapara elas" e até o infeliz título em Português engana nesse sentido – e o nome original, damas de honor em Inglês, acerta por desviar as atenções para o núcleo de mulheres que acompanhamos ao longo da película, que além das três principais, inclui ainda Becca (Kemper), uma recém-casada ingénua em relação à vida a dois; Rita (McLendon-Covey), uma cínica dona de casa farta da rotina do lar e dos três filhos ("a minha casa está cheia de sémen!", reclama ela a certo ponto); e a destravada Megan (McCarthy) que, à primeira vista, serve como contraparte feminina do Alan de Zach Galifianakis, mas cuja confiança e ímpeto sexual levam-na a criar uma identidade própria que recusa comparações. Além disso, o filme é eficaz ao estabelecer uma relação duradoura entre Annie e Lilian que soa genuína e plena de cumplicidade – e bastava o argumento falhar neste ponto para arruinar tudo, já que dificilmente aceitaríamos o envolvimento de Annie em tamanhas confusões e mal-entendidos bem como o seu temor com a intromissão de Helen entre as duas amigas.
Escrito por Annie Mumolo com a colaboração de Wiig, A Melhor Despedida de Solteira também ganha pontos por inverter as nossas expectativas em relação à história: quando o grupo se junta para celebrar a despedida em Las Vegas, seria de esperar que elas se envolvessem em situações embaraçosas nessa localidade tão fértil para obras deste tipo – e não demora muito para elas serem recambiadas para casa por razões que não pretendo desvendar. Ao mesmo tempo, Mumolo e Wiig sabem as regras do jogo e percebem que uma comédia destas funciona melhor se os problemas forem aumentando de dimensões gradualmente, começando com pequenos incidentes (um discurso que parece não ter fim), passando por um violento jogo de ténis, uma inacreditável e indigesta prova de vestidos, e culminando numa grandiosa cerimónia com imensos presentes. Isto, claro, faz com que a narrativa esteja sempre em crescendo e cada uma das situações seja ainda mais hilariante e espectacularmente vergonhosa que a anterior.
Com um elenco composto por vários integrantes do Saturday Night Live, o casting também acerta no alvo ao dar a oportunidade a actores reconhecidos como Rose Byrne e Jon Hamm de brincar com as imagens normalmente associadas a eles: se Byrne abandona a figura inocente e manipulável da série Damages por uma sujeita desprezível que chega a dar pena, Hamm praticamente ofusca quem o acompanha em cena com o seu egocêntrico e patético Ted, longe do melancólico e recatado Don Draper de Mad Men. No entanto, quem ilumina o filme é Kristen Wiig: bonita sem ser estonteante (o que lhe dá um charme natural), Wiig faz de Annie uma heroína relutante, quase sem forças para lutar contra as adversidades, e que contém uma doce vulnerabilidade de quem carrega o Mundo às costas, algo com que facilmente nos identificamos. Além disso, o seu interesse romântico, personalizado pelo adorável Chris O'Dowd, é construído com sensibilidade e ternura e os diálogos entre os dois resultam não só por ressaltarem a química entre eles, mas também por servirem como janela para os desgostos da insegura protagonista.
Ainda assim, no meio dos abundantes risos, é possível encontrar um coração em A Melhor Despedida de Solteira, uma vez que o filme não tem medo de discutir nas entrelinhas tópicos como a solidão da mulher moderna, o fracasso profissional, a mudança de hábitos que um casamento acarreta, a constante busca por um parceiro ideal (mesmo que momentaneamente) e a força dos laços de amizade. São pequenos detalhes nas interacções entre aquelas mulheres que fazem deste filme mais do que um entretenimento passável – e mesmo que todos os problemas de Annie não estejam resolvidos no final da projecção, foi um prazer segui-la na sua demanda em, pela primeira vez em muito tempo, tentar fazer algo acertado.
X-Men: First Class (2011)
Realização: Matthew Vaughn
Argumento: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, January Jones, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult
Qualidade da banha:
Quando Bryan Singer assinou o primeiro X-Men, em 2000, as adaptações de comics (salvo raras excepções) vinham sendo tratadas como meros depósitos de infantis batalhas entre o Bem e o Mal onde nada era levado muito a sério. Com esse filme, o género deu o salto qualitativo que precisava: com uma abordagem adulta e inteligente (que foi seguida, em maior ou menor grau, nos dois capítulos seguintes) e sucesso de público, Singer cimentou o paradigma a ser acompanhado por outras obras e os comics nunca estiveram tão em voga no cinema como nos últimos dez anos.
Criados na turbulência de uma América mergulhada nas questões raciais, os X-Men servem como metáfora para qualquer minoria da sociedade: geneticamente diferentes do Homo sapiens, os mutantes possuem habilidades extraordinárias e são excluídos e odiados por muitos daqueles que juraram proteger, os humanos. Assim, Charles Xavier (Professor X) e Erik Lehnsherr (Magneto) surgem como forças antagónicas neste tabuleiro. Enquanto o primeiro age como um diplomata crente na convivência pacífica entre humanos e mutantes, o segundo, sobrevivente do Holocausto, já experienciou o pior da natureza humana e prega o domínio da sua espécie através do uso da força. A dinâmica de respeito/ódio entre os dois indivíduos e as suas ideologias era um dos pontos altos da trilogia original e é resgatada com brilhantismo nesta semi-prequela/semi-reformulação (há detalhes cronológicos que não batem certo, mas isso não é importante) da saga que se dedica aos primeiros tempos da equipa e como Xavier e Erik se conheceram. E, claro, como se desentenderam.
Iniciando-se na década de 40 ao trazer o jovem Erik (Fassbender) num campo de concentração polaco, X-Men: O Início investe boa parte da sua introdução a apresentar a juventude sofrida de Magneto às mãos do inescrupuloso Sebastian Shaw (Bacon) em função dos seus poderes – uma adolescência que é o oposto da do adolescente Charles (McAvoy), cuja família abastada lhe proporcionou estudos e diversão, o que obviamente reflecte-se na postura vivaz de Xavier por contraste ao carácter amargurado de Lehnsherr. Este passa os anos do pós-guerra fixado na ideia de encontrar o seu antigo carrasco e matá-lo, o que o levará a conhecer Xavier e a encetarem, com o apoio da CIA, uma busca por outros mutantes que possam ajudá-los a perseguir Shaw, cujos objectivos passam por inflamar as relações entre os EUA e a União Soviética.
Ao ambientar a narrativa nos anos 60, Vaughn encontra a desculpa perfeita para abraçar a estética comum aos comics, com as suas cores berrantes, salas com designs devidamente retro e uniformes absurdos e pouco práticos. Além disso, o realizador emprega acertadamente um clima que deve muito às primeiras aventuras de James Bond, seja pelo vilão de excelência representado por Bacon e os seus recursos (que submarino de luxo é aquele?) ou pelos diversos países que Erik atravessa na sua vingança pessoal (e Fassbender daria um óptimo 007). Hábil ao lidar com imensas personagens que têm o devido tempo de antena, Vaughn até pode sacrificar a acção a certo instante, mas o que perdemos em adrenalina ganhamos em complexidade das relações das personagens, o que se tornará vital para quando as espectaculares cenas de acção aparecerem, uma vez que o nosso envolvimento emocional nunca é comprometido.
Encarnando um Xavier jovial que certamente não estaríamos à espera, McAvoy transforma-o repleto de ternura, bon vivant e astuto, ainda que inexperiente, como se o seu carácter mais pacato que conhecemos (e esperaríamos ver) fosse moldado com eventos futuros. Por outro lado, Fassbender injecta rancor e ódio em Magneto, mas não o torna num vilão: impulsivo e pragmático, ele é unicamente direccionado pela sua raiva e é o seu receio em ver a História repetir-se que dita os seus actos cada vez mais violentos e impensados. Ele sabe como a humanidade pode ser cruel com aqueles que julga diferentes, ao passo que Xavier acredita na capacidade de aceitação dos humanos – e é do choque entre estas faces da mesma moeda (um simbolismo fartamente usado no filme) que vêm os melhores momentos de X-Men: O Início.
Mas não é só: recentemente nomeada ao Oscar por Despojos de Inverno, a jovem Jennifer Lawrence compõe Raven (ou Mística) como uma rapariga insegura e dividida entre viver com a sua verdadeira aparência ou resguardar-se perante a sociedade. Uma trajectória que encontra paralelo na do precoce Hank McCoy, cuja deformidade leva-o a ressentir-se de comentários alheios e a procurar desesperadamente uma cura que o encaixe naqueles que o rodeiam. Desta forma, X-Men: O Início analisa as suas personagens com sensibilidade e cuidado para que nada saia gratuito: quando Xavier se arrisca por Erik, é por que ele sabe o potencial do amigo na sua luta e, mais tarde, quando o futuro líder dos X-Men suplica ao colega para que não ceda aos seus instintos assassinos, percebemos como aquele discurso soa trágico por todo o abalo que aquela amizade sofrerá.
Divertido e recheado de personagens fascinantes, X-Men: O Início usa a crise dos mísseis de Cuba como estratégia para ancorar aquele universo na realidade e conta com um terceiro ato intenso, da qual se destacam duas cenas: a visão de dezenas de mísseis em direcção ao mesmo alvo, o que expõe a índole destruidora da Humanidade, e o belíssimo plano que acompanha o movimento de uma moeda que retrata tristemente a cisão de valores entre os envolvidos. Envolvente do início ao fim, o filme é um bom exemplo de como as malfadas prequelas não têm necessariamente de ser previsíveis (basicamente já sabemos como tudo se desenrolará) e que podem, de certo modo, providenciar novos olhares sobre acontecimentos posteriores.
Uma lição que não pode nem deve ser ignorada.
Há pouco tempo acabei de ver a quarta temporada de Weeds. Estou atónito: como é possível que a série tenha decaído tanto de qualidade? A temporada é muito fraca, pouca coisa parece funcionar bem e muitas situações parecem deslocadas, vindas de outra série qualquer e acabam por cair ali de pára-quedas. O tão aplaudido (até por mim) final da temporada passada tornou-se um erro de proporções drásticas, uma vez que a reviravolta operada na série (que não pretendo revelar, não se preocupem) só a piorou. Nota-se que Weeds ainda não estava no ponto para mudar de ares, ainda havia tanto para explorar. Agora temos episódios aborrecidos, personagens ridículas (onde antes havia o absurdo), as novas adições não tem a força e o carisma das que saíram, story-lines que pura e simplesmente não se encaixam umas nas outras (o que acontece a Celia no último episódio é risível demais para ser verdade) e temos Nancy, que antes parecia um íman de problemas, mas que agora parece que tem gosto em meter-se em sarilhos. Não que eu queira fazer já o funeral a Weeds (que terá mais duas temporadas), mas o rumo dos acontecimentos e a avaliar pelo gancho deixado no último episódio, não vejo outra solução a não ser esperar o pior. Uma pena.
Por outro lado, ando deliciado com esta série:
Já tinha visto uns fogachos de Damages (Sem Escrúpulos cá no burgo) que serviram para atestar as prestações fabulosas de Glenn Close e da revelação Rose Byrne, mas agora é mesmo sério. Autêntico jogo de gato e rato, o espectador é levado para os bastidores de um caso de tribunal mediático onde tudo serve para ganhar cada batalha de ambos os lados, onde nada é o que parece e todos tentam manipular os que os rodeiam. Depois, há aquelas pequenas sequências passadas no futuro que cortam a narrativa do presente e fazem com que o espectador não perca um detalhe do que lhe é mostrado, uma vez que o círculo se vai fechando a cada episódio. Pela vossa saúdinha, não a percam!