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Imbecil do início ao fim

por Antero, em 16.11.09

 

Por acaso não é algo que eu faça, mas, se eu tivesse de listar os nomes do elenco de um determinado filme antes de passar à crítica do mesmo, no caso de 2012 eu diria que o filme conta com as interpretações de Uncharted Territory, Digital Domain, Double Negative, Scanline, Sony Pictures Imageworks, entre outros e com participações especiais de John Cusack, Amanda Peet, Danny Glover, Woody Harrelson, Oliver Platt, Thandie Newton e Chiwetel Ejiofor. Para quem não sabe, as primeiras foram as empresas encarregues dos efeitos visuais de 2012, por isso nada mais justo do que lhes dar o devido crédito, uma vez que neste género o que conta são as cenas de destruição. O argumento, essa coisa tão menosprezada, é algo acessório.

 

Claro que "acessório" não necessariamente significa "imbecil", como comprovam algumas obras anteriores do realizador Roland Emmerich (O Dia da Independência, O Dia Depois de Amanhã), que até se revelaram entretenimentos de nível aceitável, mas nada disso acontece em 2012. Baseando-se nas previsões da civilização Maia de que o ano supracitado trará o fim do mundo, o filme conta com uma teoria maluca de que as tempestades solares ficarão de tal maneira intensas que desestabilizarão o núcleo da Terra, o que acarretará consequências devastadoras para o planeta. É neste clima de "caos antecipado" que os governos do G8 engendram um plano para salvar parte da civilização e acompanhamos as tentativas de salvamento de uma família em crise, nada mais nada menos do que o Capítulo 1 do Manual do Argumentista Preguiçoso.

 

O esquema é sempre o mesmo: contratam-se actores estabelecidos para dar um mínimo de credibilidade às personagens sem muito esforço (haverá alguém mais bom moço que John Cusack? E alguém mais lunático que Woody Harrelson?), demora-se meia hora a preparar a premissa e as situações para logo a seguir desatar a destruir tudo numa sucessão de clímaxes, onde algumas personagens se redimem ou pagam o preço pelos seus pecados e conflitos são superados. E como a destruição é o que realmente interessa, resta dizer que, neste aspecto, 2012 não decepciona: as sequências de acção são intensas, os efeitos especiais são primorosos e, o melhor de tudo, Emmerich faz questão de que acompanhemos tudo, ao contrário de abéculas como Michael Bay que pensam que quantos mais cortes por segundo, melhor.

 

Já que falo em destruição, convém referir que enquanto o planeta desaba também leva a credibilidade do filme atrás, que se torna cada vez mais idiota com o passar do tempo. Se já é difícil de acreditar que um terreno de milhares de hectares entre em erupção praticamente do nada, que as placas tectónicas se movam a uma velocidade recorde, na inundação dos Himalaias pelo oceano Índico, ou nos salvamentos no último segundo (embora isto faça parte do divertimento, certo?), mais complicado é aceitar o festival de imbecilidades que o filme oferece. Não é incrível como todas as personagens principais têm tempo para discursos profundos ou pedidos de perdão, mesmo com a morte ali ao lado? Gosto especialmente daquele que ao ver uma onda gigantesca à sua frente, telefona para um amigo a dizer que ninguém os foi salvar (e só agora se lembrou de o alertar?!) enquanto todos os outros fogem para salvar as suas vidas. 2012 tenta-nos convencer de que aquilo era o que qualquer pessoa normal faria nas mesmas circunstâncias.

 

Porém, estes artifícios para aumentar o "drama" de determinada cena não são nada comparados com o rol de coincidências absurdas apresentadas, uma vez que todas as personagens, de uma maneira ou outra, estão relacionadas ou acabam por se encontrar (como revela a cena constrangedora em que a amante de um russo - patrão da personagem de Cusack, claro - reconhece, no meio de uma multidão, o "rival" familiar deste como o cirurgião que... lhe fez os implantes mamários!). Aparentemente, em 2012, a Terra tem o tamanho da Ilha de LOST, o que talvez explique como os Himalaias trocam de lugar com a costa leste da China em poucas horas (ou assim o filme parece dar a entender), embora, mais tarde, mostre a previsão de satélite de um maremoto no Índico e a geografia do planeta seja a mesma de sempre (talvez esta parte do filme se passe no início de O Dia da Independência, quando os nossos satélites foram sabotados pelos extraterrestes. Ou então foi mesmo burrice de Emmerich...).

 

Contando com cenas que beiram o involuntariamente cómico como a fuga de um terramoto numa limounise (eu garanto que, com aquele condutor e aquele veículo, a Ferrari não teria um ano tão decepcionante na Fórmula 1), a queda do Cristo Redentor, ou o compartimento que se inunda mais rapidamente que os demais, embora esteja situado no meio (resposta: estava lá uma secundária sem relevância, enquanto que os outros tinham os protagonistas), 2012 recusa-se a acabar antes de atingir inchadíssimas duas horas e meia. O que começa como um divertimento desmiolado (e aposto que essa não era a intenção), acaba por se arrastar e tornar-se monótono e altamente pretencioso. E a última tirada do filme acaba por dar a machadada final de estupidez no espectador - o que, por si só, já vale o preço do bilhete. Nada como assistir a um mega terramoto, a um super vulcão e a um ultra maremoto para curar os males de incontinência.

 

Qualidade da banha: 5/20

 

publicado às 18:27


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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