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Homem de Ferro 3

por Antero, em 13.05.13


Iron Man 3 (2013)

Realização: Shane Black

Argumento: Drew Pearce, Shane Black

Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Guy Pearce, Rebecca Hall, Jon Favreau, Ben Kingsley
 

Qualidade da banha:

 

O sucesso de Homem de Ferro nos cinemas está inegavelmente associado a Robert Downey Jr.. Ator extremamente talentoso, Downey Jr. ensombrou os elogios do início da sua carreira ao mergulhar na dependência nas drogas, com a agravante que, apenas há 10 anos, era considerado veneno de bilheteira. Até que veio a aposta arriscada em Homem de Ferro e que se revelou um imenso sucesso, explodindo o Universo Marvel nos cinemas. Convém ter isto presente já que, chegado ao terceiro capítulo (mais a participação emOs Vingadores), Tony Stark sobrevive graças ao talento do seu intérprete que, mesmo no piloto automático (culpa do argumento, mas já lá vamos), revela-se sempre acima do que o rodeia. E, em Homem de Ferro 3, é o que basta.

 

Escrito pelo estreante Drew Pearce e o realizador Shane Black (que retoma a colaboração com Downey Jr. depois do excelente e pouco visto Kiss Kiss Bang Bang), este novo filme traz Tony Stark abalado com os acontecimentos de Os Vingadores: sofrendo de crises e insónia, Stark afunda-se no trabalho como forma de escape do seu quotidiano, o que desgasta a sua relação com Pepper Potts (Paltrow). É neste contexto que surge a ameaça do Mandarim (Kingsley), um terrorista determinado a atacar os EUA pelas suas ações no Médio Oriente, enquanto Stark também tem de lidar com a aparição do vírus EXTREMIS - cujo desenvolvimento tem ligação com o seu passado.

 

Como em tantas terceiras partes de filmes com super-heróis, Homem de Ferro 3 traz mais vilões, mais perigos, mais recursos e obstáculos pessoais que carregam no drama das personagens - aspetos aos quais não me oponho desde que sejam bem trabalhados. No entanto, a leveza com que tudo é retratado suga qualquer tensão existente na narrativa: se antes tínhamos tópicos minimamente complexos e interessantes (para um blockbuster, entenda-se) como o facto de Stark ser atacado pelas armas que financiara ou as investidas do governo, sob a bandeira da segurança nacional, querer apropriar-se da tecnologia alheia, aqui temos uma cena onde James Rhodes (um apagado Don Cheadle) invade uma caserna no Paquistão e que é desenvolvida com efeitos cómicos. Outro exemplo são os inverosímeis ataques de ansiedade que acometem Stark que são tratados como alvo de risadas e que surgem apenas quando convenientes, sendo descartados logo de seguida.

 

Com um argumento com mais furos que uma peneira (Como funciona realmente o vírus EXTREMIS? Porque raio os seres infetados explodem sem deixar marcas? E porque motivo Stark só recorre às armaduras de reserva no clímax quando estas teriam dado um jeitaço ao longo da narrativa?), Homem de Ferro 3 até toma a opção corajosa de deixar Tony Stark sem grandes recursos por bastante tempo, o que nos levaria a admirar o seu intelecto para contornar as adversidades – isto, claro, até percebermos que a sua perspicácia dá pelo nome de deus ex machina. E o que dizer da preguiça do filme ao encenar a traição de um governante máximo dos EUA ao mostrar rapidamente um familiar seu sem um dos membros inferiores e que poderia ser um dos beneficiados com o EXTREMIS... caso vivêssemos num mundo onde próteses anatómicas nunca tivessem sido inventadas? E não esquecer o pirralho que auxilia Stark num vilarejo do interior que, mesmo divertido, é tão crânio em mecânica que me faz pensar que Stark não só é dos homens mais ricos do planeta como também um dos mais sortudos.

 

Espetacular nos seus aspetos técnicos (o mínimo para uma superprodução), Homem de Ferro 3 conta com sequências de ação dirigidas com segurança por Black, com destaque para o ataque à mansão Stark que encontra novas e inventivas soluções para a armadura de Stark, bem como o resgate de uma dúzia de pessoas em queda livre. Já a batalha final é sabotada pela sua boa ideia de trazer várias armaduras contra os vilões, visto que a sequência torna-se caótica por ter de acompanhar tantos intervenientes – e a montagem confusa não nos permite nem mesmo discernir a geografia do local e a posição de uns em relação aos outros (já a troca constante de armaduras por Stark é uma boa tirada, uma vez que seria ridículo que ele se limitasse apenas a uma com tantas ao seu dispor).

 

No entanto, mesmo com tantos problemas, Robert Downey Jr. carrega o filme nas costas com o seu carisma e humor depreciativo e há cenas no filme que dá para notar que foram escritas unicamente para que Downey Jr. pudesse brilhar - e praticamente todos saem a beneficiar com isto: Gwyneth Paltrow mostra-se mais à vontade como Pepper, Guy Pearce estabelece-se como um vilão à altura (as suas motivações e ações são outro problema do argumento) e diverte-se a valer como Aldrich Killian e até Paul Bettany, apenas com a voz, faz uma boa parelha com o protagonista. Apenas Rebecca Hall sai desperdiçada como um velho interesse romântico de Tony, mas é mesmo Ben Kingsley que merece ser comentado por fazer do Mandarim o mais surpreendente e improvável dos supervilões – e notem que o filme planta com cuidado as pistas da sua verdadeira natureza.

 

Beneficiado por não ser um preparativo para o próximo tomo da Marvel, o que lhe permite concentrar-se na sua própria estrutura (embora esta não esteja isenta de falhas), Homem de Ferro 3 demonstra a qualidade decrescente das aventuras do divertido Tony Stark e é bom que os produtores tenham isto em mente e alheiem-se dos fabulosos resultados de bilheteira (oh, utopia!). O carisma de Robert Downey Jr. não faz milagres.

 

PS: há uma cena após os créditos que dá sentido à narração que abre e fecha o filme.

 

publicado às 23:48

Os Vingadores

por Antero, em 25.04.12


The Avengers (2012)

Realização: Joss Whedon

Argumento: Joss Whedon

Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Cobie Smulders, Clark Gregg, Stellan Skarsgård, Gwyneth Paltrow
 

Qualidade da banha:

 

Homem de Ferro1e2.O Incrível Hulk.Thor.Capitão América: O Primeiro Vingador. Cinco longas-metragens a pavimentar o caminho para este Os Vingadores e agora temos uma perceção clara da confiança depositada pela Marvel Studios nos heróis da casa e na criação de um universo unificado com histórias relacionadas entre si. Claro que isto significa que os não-iniciados poderão ter algumas dificuldades em acompanhar a narrativa (e convém ver os filmes supracitados), embora o filme reestabeleça as personalidades dos seus heróis de maneira económica – afinal, estamos a falar de uma obra feita por fãs e para fãs. E dificilmente haveria fã mais indicado para comandar a empreitada que Joss Whedon.

 

Dono de uma carreira que abarca a televisão, os comics, a Internet e o cinema, Whedon meteu as mãos no roteiro inicialmente escrito por Zak Penn (e baseado nas personagens criadas por Stan Lee e Jack Kirby há 50 anos) e desenvolve uma história de origem onde os super-heróis reunem-se para combater uma ameaça genérica: Loki (Hiddleston), o pérfido irmão de Thor (Hemsworth), deita as mãos no Tesseract, um artefacto poderoso visto em Capitão América: O Primeiro Vingador que, uma vez dominado, dará ao seu portador o poder de abrir um portal entre dois Mundos. É então que a SHIELD, a organização de contraespionagem a manutenção da paz mundial comandada por Nick Fury (Jackson), decide avançar com a Iniciativa Vingadores e recruta Tony Stark/Homem de Ferro (Downey Jr.), Steve Rogers/Capitão América (Evans), Thor, Bruce Banner/Hulk (Ruffalo), Natasha Romanoff/Viúva Negra (Johansson) e Clint Barton/Gavião Arqueiro (Renner) para neutralizar os planos de Loki.


Consciente de estar a lidar com uma história que facilmente resvalaria para o camp, Whedon abraça aquele universo com uma mistura saudável de seriedade e irreverência que diverte o público sem cair na comédia involuntária. Para isto contribuem os diálogos afiados e situações inteligentes que refletem as personalidades de cada um dos super-heróis – e como estas já foram, de certa forma, apresentadas anteriormente, Whedon sente-se à vontade para brincar com elas, como no momento em que Steve Rogers paga uma aposta feita com Fury ou a alegria incontida do Agente Coulson (Gregg) na presença do seu ídolo de infância. Ao mesmo tempo, Whedon é bem-sucedido ao manter um clima de desconfiança e tensão sempre que os super-heróis se juntam, o que é mais do que adequado quando reunimos um arrogante bilionário com uma poderosa armadura, uma relíquia da 2ª Guerra Mundial, um semideus, dois espiões de elite e uma verdadeira bomba-relógio prestes a explodir caso não seja contida.


É do choque de personalidades e génios fortes que provém os melhores momentos de Os Vingadores e Whedon mostra que tem a lição estudada ao equilibrar o tempo de antena de cada um para possa brilhar sem ofuscar os colegas – e praticamente todos eles combatem entre si num dado momento da projeção, o que deverá dar pequenos orgasmos nos fãs, e mostram as suas valências quando a ocasião surge. Enquanto isso, o realizador orquestra as sequências de ação de maneira empolgante e com uma escala crescente de espetacularidade, com destaque para o ataque à base da SHIELD e a batalha final em Nova Iorque que deixam os disparates feitos por Michael Bay no bolso com a sua edição clara sem deixar de ser trepidante e uma bem-vinda coerência numa guerra travada em várias frentes.


Mostrando os poderosos seres como figuras quase míticas, tudo em Os Vingadores é feito com a palavra "grandioso" em mente, seja na escala da ação, nos cenários imponentes, na banda sonora pujante, nos faustosos efeitos visuais e até no ego dos seus protagonistas, com o excêntrico e sempre cativante Tony Stark à cabeça, sem esquecer a malevolência de Loki e – a surpresa do filme – o Bruce Banner de Mark Ruffalo. Encarnado pelo terceiro ator em menos de uma década, a complicada personagem é assumida por Ruffalo como um ser mentalizado da sua condição trágica e que tenta manter o controlo a qualquer custo e que, paradoxalmente, usa a figura de Hulk para sua própria defesa ao avisar que soltará o monstro caso seja necessário. Mesmo a Viúva Negra tem a oportunidade de fazer mais do que passear o seu corpo atlético, o que vem no seguimento de Whedon ser adepto de figuras femininas autónomas e fortes (o que é ótimo numa película dominada por seres do sexo masculino).

 

Sem ter a densidade deO Cavaleiro das Trevas, a sensibilidade de Homem-Aranha 2 ou a complexidade temática deX-Men: O Início(o que o torna emocionalmente vazio), Os Vingadores diverte e impressiona à sua maneira e isto é mais do que o suficiente. Os outros que fiquem com os dilemas e os questionamentos; aqui o que interessa é o sentido de espetáculo – e nisso o filme é irrepreensível.

 

PS: há uma cena adicional durante os créditos finais.

 

publicado às 19:17

Sherlock Holmes: Jogo de Sombras

por Antero, em 09.01.12

 

Sherlock Holmes: A Game of Shadows (2011)

Realização: Guy Ritchie

Argumento: Kieran Mulroney, Michele Molroney

Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Noomi Rapace, Jared Harris, Stephen Fry, Kelly Reilly, Rachel McAdams
 

Qualidade da banha:

 

Em 2009, Guy Ritchie apresentou uma variação sobre a figura icónica do detetive Sherlock Holmes: direcionado para as gerações recentes, Holmes é agora o típico herói de ação, mas sempre acompanhado do inseparável Watson e ainda é o inferno da sua senhoria. Altamente perspicaz e inteligente, a personagem respeitava a essência das obras de Sir Arhur Conan Doyle apesar de todos os exageros impostos pelo faro comercial. Assim, não deixa de ser dececionante que Ritchie, após ser bem-sucedido na tarefa introduzir um renovado Holmes, repita a mesma fórmula do original, ampliando o que aquele filme tinha de pior.

Escrito pelo casal Molroney, Sherlock Holmes: Jogo de Sombras passa-se algum tempo depois dos eventos do primeiro filme: uma série de atentados terroristas, mortes de figuras célebres e aquisições em larga escala levam a que Sherlock (Downey Jr.) relacione-as com o temível Professor Moriarty (Harris). Com o fiel Watson (Law) prestes a casar com Mary (Reilly), Holmes decide levar a investigação avante apesar da recusa do amigo em acompanhá-lo – algo que os fará ir no encalço de Simza, uma cigana que inadvertidamente foi envolvida nos planos de Moriarty.
 
Situado na mesma Londres vitoriana suja e sombria e depois passando para faustosos cenários europeus como Paris e os alpes suíços, Sherlock Holmes: Jogo de Sombras tem no design de produção e na fotografia os seus pontos fortes: da Ópera de Paris aos bosques alemães, passando pelas ruelas londrinas e na utilização de inovações da época como o automóvel e a massificação dos comboios, tudo surge com um misto de elegância e negrume sem que estas facetas distintas se anulem uma à outra e – com o auxílio de abundantes efeitos especiais – se complementem numa atmosfera de intrigas e mistérios.
 
É triste, portanto, que o argumento não tenha ponta por onde se lhe pegue e insista, mais uma vez, numa história desnecessariamente confusa e absurda, desperdiçando até o potencial de contar com o arqui-inimigo de Sherlock, cujos planos mirabolantes têm a megalomania de um vilão de James Bond e não da sofisticação digna do detetive. Sofisticação que aparece somente no último confronto entre os dois com uma partida mental de xadrez mas, a esse ponto, já os viramos em confrontos físicos e em ocasiões em que Moriarty tenta eliminar o rival com... armamento pesado!
 
Talvez cansado de personificar figuras excêntricas (e de carregar filmes nas costas), Robert Downey Jr. está no piloto automático como um Holmes cuja genialidade é substituída pela corrida desenfreada e lutas constantes, enquanto Jude Law parece tão cansado como o seu Watson por ser obrigado a aturar e a ajudar o amigo vezes sem conta – e a dinâmica entre ambos, tão salutar, fluida e divertida no primeiro filme, surge aqui como uma quase dependência por parte de Holmes (o médico quer estar com a amada, porém é arrastado para um novo caso... outra vez!) e um frete da parte de Watson. Por outro lado, Jared Harris dá tudo o que pode como Moriarty e se o vilão não é mais assustador a culpa não é sua, mas sim do argumento, ao passo que Noomi Rapace torna-se, em pouco tempo, nasegundaintegrante do cinema nórdico a não causar impressão alguma numa superprodução de Hollywood (e nem vou abordar as pequenas participações de Kelly Reilly e Rachel McAdams que, com pouco tempo de antena, limitam-se ao mesmo... que já não era memorável.).
 
Com uma história aborrecida e um elenco subaproveitado, não admira que Sherlock Holmes: Jogo de Sombras seja tão entediante apesar dos esforços de Guy Ritchie em que o espectador não perceba a mísera história que tem em mãos. Mesmo o seu reconhecido virtuosismo acaba por resvalar para o excessivo com as gratuitas câmaras lentas que aparecem em toda a projeção (e esse exagero culmina na sequência em que as personagens fogem por uma floresta debaixo de fogo intenso). Tudo isto seria perdoável se Ritchie aproveitasse a oportunidade para expandir aquele universo (cenários diferentes não contam) e mergulhar a fundo nas motivações das personagens. Assim, temos o indivíduo peculiar com faro para conspirações, o fiel companheiro que se junta a ele por razões desconhecidas e o mauzão que almeja conquistar o mundo.

E explosões, muitas explosões.

publicado às 22:40

Tony! Tony! Tony!

por Antero, em 01.05.10


Há dois anos, a Marvel Studios firmou-se como produtora independente com o lançamento deHomem de Ferro, um sucesso de público e crítica que permitiu que a Marvel Comics começasse a apostar nos nomes da casa para desenvolver obras com total controlo sobre elas (as franquias Homem-Aranha e X-Men são produzidas pela Sony e pela Twentieth Century Fox, respectivamente). Recrutando um realizador sem créditos firmados e um talentoso protagonista ainda a retomar o bom caminho da fama, a Marvel fez uma aposta de risco elevado que se revelou uma tremenda vitória e lança agora a sequela. As notícias são reconfortantes: apesar de não estar ao nível do primeiro filme, Homem de Ferro 2 é um entretenimento competente e uma digna continuação da história iniciada anteriormente.

 

Ao final de Homem de Ferro, Tony Stark revelava ao mundo que era o indivíduo por trás da armadura e, numa continuação directa dos eventos anteriores, o Governo norte-americano pretende apropriar-se da sua tecnologia por questões de segurança nacional, algo que Stark se opõe veemente, encontrando concorrência do industrial Justin Hammer. É neste contexto que surge Ivan Vanko, um inventor russo que desenvolveu uma arma que consiste num reactor central com extensões (chicotes) de energia eléctrica com base nos protótipos produzidos pelo seu pai e por Howard Stark. Ao mesmo tempo, Tony Stark tem de lidar com o aumento do nível de toxidade no seu sangue devido ao constante recurso ao reactor que o mantém vivo, enquanto tenta administrar a sua empresa ao lado de Pepper Potts e gerir a sua vida de figura pública numa mega-feira em honra do seu pai. Isto quando não discute com o seu amigo James Rhodey ou entra em cena a sua nova assistente, Natalie Rushman, e...

 

...já deu perceber que Homem de Ferro 2 conta com várias narrativas paralelas que se vão encontrando ao longo da projecção. No entanto, ao contrário do que acontecia em Homem-Aranha 3 (um filme que gosto cada vez menos com o passar do tempo), o facto de haver mais personagens e numerosas histórias para abordar não significa que a fluidez fique comprometida, embora, aqui e ali, o filme avance aos repelões (como na inconsistência da passagem do tempo - eventos que levariam meses parecem ocorrer em questão de dias - ou na solução de um enigma que recorre a uma mensagem pré-gravada, no melhor estilo O Código Da Vinci). Comprometida fica, isso sim, o desenvolvimento das personagens, principalmente as novas adições. Scarlett Johansson pouco pode fazer com o pouco tempo de antena que tem além de desfilar o seu corpo escultural, ao passo que Sam Rockwell compõe Hammer como um vilão caricato movido pelos interesses económicos e Mickey Rourke impõe todo o seu físico, as inúmeras tatuagens e um sotaque carregado em Ivan Vanko, sem conseguir distingui-los de outros tantos vilões sem expressão.

 

Enquanto isso, as personagens que já conhecemos são mais exploradas mediante as relações que vimos estabelecidas no filme anterior: Stark e Rhodey (agora interpretado pelo óptimo Don Cheadle), apesar de estarem em campos opostos, ampliam a sua camaradagem e respeito mútuo que, ainda assim, poderão não sobreviver à intransigência do primeiro em ceder a sua tecnologia, ao mesmo tempo que Pepper Potts surge mais confiante como posto de comando das empresas de Stark (e da sua vida pessoal) e sem se render ao feitio do milionário. Stark, por outro lado, mantém toda a aura de anti-herói: arrogante, boémio e deslumbrado com o seu génio e o seu império, ele tinha tudo para ser detestável, algo que não acontece devido ao talento e inteligência de Robert Downey Jr. que agarra (novamente) a personagem com unhas e dentes, destilando carisma e confiança e que, debaixo daquela capa de egoísmo, mora um ser bondoso. Neste aspecto, Homem de Ferro 2 repete a mesma receita que fez do anterior um sucesso, sem deixar de lado os excelentes efeitos especiais que, mais uma vez, não surgem gratuitamente na narrativa.

 

Por outro lado, há que afirmar que as sequências de acção não têm a frescura anterior: poucos intensas e relativamente curtas, a única que escapa é a batalha final na Stark Expo, apesar do combate com Whiplash no Mónaco e no desfecho do filme serem decepcionantes (o primeiro nem parece ser levado a sério; o segundo é curtíssimo e frustrante). Recheado do bom humor que já pontuava o original, Homem de Ferro 2 ainda conta com imensas referências a outros heróis da Marvel e prepara terreno para o vindouro filme dos Vingadores (há uma cena após os créditos que remete a um certo deus nórdico) e, ainda que não esteja à altura da surpresa que foi o anterior, tem motivos mais do que suficientes para uma desejada terceira parte. Desde que Tony Stark mantenha a boa disposição, não vejo como esta saga possa falhar.

 

Qualidade da banha: 13/20

publicado às 00:20

Festival de riso

por Antero, em 19.09.08

 

Tal como na excelente série Entourage, Tempestade Tropical é uma sátira ao universo de Hollywood, infestado de indivíduos egocêntricos e no qual os lucros ordenam. Enquanto que na televisão, a finalidade é tornar a acção mais realista, mas não menos cómica, no filme é o absurdo que toma conta da tela, o que não o menospreza de maneira nenhuma. No fundo, Tempestade Tropical é como uma metralhadora desgovernada a disparar para todos os lados, não deixando ninguém incólume. Lidando com estereótipos conhecidos de Hollywood, o filme é uma grata surpresa no panorama desolador da comédia cinematográfica actual.

 

Escrito a seis mãos por Ben Stiller (que também assina a realização), Justin Theroux e Etan Coen, o filme começa com dois anúncios publicitários e três trailers falsos, cuja finalidade é apresentar as personagens principais: a estrela de acção Tugg Speedman, um sub Vin Diesel; o comediante Jeff Portnoy, cujo filme mais conhecido é uma clara sátira às comédias de Eddie Murphy; e Kirk Lazarus, vencedor de cinco Óscars da Academia. Os três encontram-se a filmar um blockbuster de guerra baseado no livro Tempestade Tropical e, em poucos dias de filmagens, já o orçamento estourou e o realizador Damien Cockburn (Steve Coogan, engraçado como sempre) anda às voltas com as manias dos protagonistas que lhe dificultam a vida. Quando o principal produtor ameaça fechar a torneira, Cockburn decide transferir a acção para uma selva imensa e deixar indicações aos actores com o objectivo de filmar o melhor e mais realista filme de guerra de sempre, sem no entanto lhes informar que estão numa verdadeira zona de guerra algures no Vietname.

 

Ao contrário de lixos tóxicos como Epic Movie e Meet The Spartans, Tempestade Tropical não se limita a reproduzir cenas de filmes conhecidos, na esperança que o espectador ache piada àqueles exageros todos (aliás, acredito que as referências a Benson e a The Jeffersons passe ao lado de muita gente). Aqui, no meio da história que quer contar, há tiradas hilariantes ao mundo das vedetas de Hollywood e não fica pedra sobre pedra: filmes de guerra (Platoon e Apocalypse Now são referências óbvias); produtores sedentos de dinheiro (numa participação curiosa de Tom Cruise); campanhas humanitárias e ambientais em que as estrelas se envolvem; filhos adoptivos para auto-promoção; agentes preocupados com clausulas de contrato mesquinhas; actores de ego inchado (“Eu não leio guiões, os guiões lêem-me a mim.”), rappers, prémios da Academia e muito mais.

 

No meio disto tudo, Robert Downey Jr. consegue a proeza de, pela segunda vez no mesmo ano, ser a melhor coisa que dois bons filmes têm para oferecer. O seu Kirk Lazarus, actor adepto do Método e que se sujeita a uma cirurgia para ficar com aspecto afro-americano, é genial. Não deixando de representar um negro nem mesmo quando não está em cena, ele pensa saber tudo sobre os meandros de Hollywood e do culto das vedetas. É dele um dos melhores diálogos dos filme quando ele discute a diferença entre representar um deficiente mental, mas não um atrasado de todo e que apenas os primeiros são premiados. Outro ponto positivo é o filme saber o espaço que cada personagem do seu elenco absurdamente estrelado deve ter, o que não deixa de ser uma bela ironia tendo em conta o teor do filme.

 

Conseguindo captar mesmo quem não esteja muito por dentro do star-system de Hollywood, Tempestade Tropical é uma comédia irreverente que não deixa cair o pique nem por um momento, graças ao seu argumento repleto de surpresas e acidez. Entre as comédias em cartaz, prefiram este filme a abortos como Zohan. A Humanidade agradece.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

publicado às 16:25


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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