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Super 8

por Antero, em 01.08.11

 

Super 8 (2011)

Realização: J. J. Abrams

Argumento: J. J. Abrams

Elenco: Joel Courtney, Elle Fanning, Kyle Chandler, Ron Eldard, Riley Griffiths, Zach Mills, Gabriel Basso, Ryan Lee
 

Qualidade da banha:

 

De vez em quando, dá-me para jogar velhos jogos de vídeo da Mega Drive através de um emulador instalado no computador. Há qualquer coisa de nostálgica e inocente naqueles gráficos ultrapassados, naquela jogabilidade mais simples, no limitado número de recursos e opções ao nosso dispor. O problema é que nada substitui a experiência de jogar com uma consola, em televisores cuja última inovação era o Stereo Nicam, a sensação de arrebentar os dedos naqueles "ergonómicos" comandos e rezar para que o cartucho não falhe e o jogo não encrave. De certa forma, é isto que J. J. Abrams tenta fazer em Super 8: emular o cinema de Hollywood dos anos 80 (principalmente de Steven Spielberg, um dos produtores) e levar-nos num exercício de nostalgia cinematográfica na qual histórias fantasiosas misturavam-se com as descobertas e agruras da (pré-)adolescência – e a empreitada é relativamente bem sucedida. Isto é, até o próprio filme admitir que os tempos são outros e que a sofisticação deve imperar sobre a "inocência" e Super 8 descamba ladeira abaixo.

 

Escrito e realizado por Abrams com claras influências da filmografia em questão, Super 8 situa-se num cidadezinha no interior dos Estados Unidos da América, na efervescência do final da década de 70, onde um grupo de adolescentes fascinado por cinema resolve ir filmar para perto de uma linha de comboios usando uma câmara Super 8. Enquanto filmam, testemunham o terrível descarrilamento e consequente explosão de um comboio. Mas, quando revêem o acontecimento em filme, o que de início parecia um mero acidente afinal é algo mais sinistro do que eles poderiam supor. E, quando vários desaparecimentos começam a suceder-se na cidade, eles compreendem que algo os associa ao acontecimento daquela noite. Decididos a desvendar o mistério, os adolescentes juntam-se e, em segredo, começam a investigar por conta própria.

 

Para perceberem como Super 8 vai beber a temas tão caros a Spielberg, resta dizer que o protagonista, o jovem Joe Lamb (Courtney), perdeu a mãe num trágico acidente de trabalho e o pai, o policial Jack Lamb (Chandler), mantém com ele uma relação distante e fria. Ao mesmo tempo, Joe é apaixonado por Alice (Fanning), cujo pai foi indirectamente responsável pela mãe de Joe e que também mantém um relacionamento pouco amistoso com a filha. A relação pais-filhos, sempre tão presente na maioria dos filmes do realizador de ET - O Extraterrestre, é aqui mais uma vez usada para aprofundar as personagens e, mais do que traçar-lhes o perfil psicológico, serve também para conduzir as suas acções. Assim, é natural que Jack se sinta desconfortável com o papel que foi obrigado a abraçar após a morte da esposa e Joe se ressinta da ausência de uma figura superior que o guie (função reservada à falecida mãe), enquanto Alice surja mais revoltada e activa que os restantes companheiros devido à presença de um pai rígido e alcoólico.

 

Cheio de referências à época em questão e com um agradável clima de aventuras juvenis, Super 8 falha naquele que deveria ser o grande atractivo do terceiro acto: a criatura que assola a região e que faz com que as forças governamentais invadam a região. Enquanto a maior parte do filme evoca primorosamente os filmes nos quais se inspira (Os Goonies, Encontros Imediatos de Terceiro Grau, Gremlins,...), quando o monstro dá as caras e conhecemos a sua origem, não há como evitar a desilusão tal é a forma tão precária como tudo é apresentado. Para dar um exemplo, Joe e os amigos ficam a saber do passado da criatura através de um velho filme e de uma gravação – e não deixa de ser ridículo que ambos sejam passados com a mesma sincronia, como se os rapazes soubessem o momento ideal para carregar no botão play. A própria estrutura narrativa, aliás, é afectada com isto: quando alguém é informado sobre o "toque" do monstro, este dado chega cedo demais e mata qualquer tentativa de suspense criada posteriormente.

 

Além disso, Super 8 deixa algumas perguntas em aberto e se posso ser acusado de racionalizar demasiado uma obra que pede desconto da nossa parte por causa da sua aura de "inocência", lamento discordar, mas J. J. Abrams não devia ter plantado e investido em questões para deixá-las ao acaso. Afinal, para que serviram os desaparecimentos dos habitantes da cidade? Como o Professor Woodward consegue sobreviver ao embate e à explosão do seu veículo? E como este conseguiu preservar tantos registos sobre a criatura ao longo dos anos sem que o Governo lhe pusesse a vista em cima (até por que foi a sua conduta problemática que o levou ao despedimento)? Em vez de limar as arestas da narrativa, Abrams rendeu-se a um festim de efeitos especiais que não distinguem o seu filme de tantas outras obras do género.

 

Em contrapartida, é impossível não elogiar o olhar de Abrams para os detalhes, como a projecção de uma cena importante numa t-shirt ou o momento simbólico e poético quando um determinado colar é levitado, e a exemplar direcção de actores em ocasiões mais emocionais (o elenco é perfeito), em que o minimalismo das acções contrasta com as emoções que as personagens estão a sentir. Pena é que todo este trabalho vá desaguar num final desinteressante e que não faz justiça a tudo o que assistíramos anteriormente – um fraco desfecho como tantos outros que caracterizam a carreira de Spielberg.

 

Se calhar, a homenagem era mais extrema do que eu estaria à espera.

 

publicado às 20:06


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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