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A infame Lei da Cópia Privada

por Antero, em 27.01.12

Imaginemos os seguintes cenários:

  • um amigo meu tem milhares de fotos de eventos da sua vida que pretende organizar, bem como digitalizar fotos antigas sobre os seus antepassados. Tem a ideia de comprar um disco externo só para as fotografias e armazenar lá todos os seus álbuns.
  • uma empresa especializada em trabalhos de animação 3D pretende implementar um arquivo profissional com todos os seus projetos acabados. Este arquivo passar por adquirir um disco de 2 TB para cada mês, totalizando 12 discos ao final de um ano.
  • o meu primo faz o download da discografia dos Queen, dos U2 e dos Rolling Stones via iTunes e decide passar para um leitor de MP3 para ouvir sempre que quiser.

Bem, de acordo com o Projeto de Lei 118, a reformulação que querem fazer à Lei da Cópia Privada vigente, os suportes de armazenamento digitais terão uma taxa extra por cada GB. A desculpa? Direitos de autor. É a forma arranjada para compensar os titulares dos direitos por eventuais casos de pirataria – que, como sabemos, tornou-se prática corrente. É mesmo assim: parte-se do princípio que somos todos culpados e vamos fazer asneiras, o que não só é uma ação de má-fé como também me cheira que seja inconstitucional.

Mas voltemos aos exemplos de cima:

  • o meu amigo vai adquirir um disco para guardar fotografias que são da sua autoria ou, a bem dizer, das quais é dono. Não há cá autores para serem ressarciados.
  • a empresa quer organizar os próprios trabalhos. Será que têm desconto nos discos?
  • o meu primo vai pagar a mais para usufruir de algo que já pagou, visto que ao recorrer ao iTunes ele já paga o montante considerado adequado pelas músicas e que isto inclui os famigerados direitos de autor.

É neste ponto que a porca torce o rabo. Quem é a entidade responsável pelo ressarcimento dos autores? É a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Vejam bem: Portuguesa. Vão compensar os autores estrangeiros? E quem não está registado (sim, é preciso registo) nas suas fileiras? Não é considerado autor? Se alguém copiar este texto na íntegra sem a minha autorização e fizer um audiobook contra este Projeto de Lei, posso recorrer a vocês? E como será feito o processo de compensação? Vão dividir por todos em parcelas iguais? Ou o Tony Carreira leva mais que os Deolinda?

É que se me pedem para pagar por algo que poderei vir a fazer, gostaria de ver mais transparência do outro lado.

Para acalmar o incêndio ateado na blogosfera e nas redes sociais nos últimos dias, a SPA lançou umdocumentoque explica porcamente os pressupostos da Projeto de Lei, chegando ao cúmulo de cometer argoladas como estabelecer um padrão de consumo sem mostrar um único estudo fiável que sustente as suas afirmações (o gráfico no final do ficheiro só pode ser piada); de afirmar que a taxa será cobrada ao fabricante sem que o consumidor saia lesado (como se vivêssemos no País das Maravilhas) ou declarar que equipamentos com maior capacidade venham ser inventados futuramente, provando que desconhecem em absoluto o material que pretendem taxar. Já para não falar que, se isto for avante, o risco das compras online em países com tarifas mais suaves aumenta em flecha. Até me admira as Associações Empresariais, a DECO, uma Fnac ou uma Worten ainda não terem mostrado as garras.

Compreendo a necessidade de preservar os direitos de autor e a justa compensação por eles. A pirataria está aí em força e as indústrias de entretenimento (com a fonográfica à cabeça) levam tareia de todos os quadrantes. E percebo a posição de certos autores em"subscrever"um abaixo-assinado, embora eu creia que muitos deles nem estão verdadeiramente inteirados sobre isto e estejam a ser mal aconselhados.

Não é a aprovar esta Lei abusiva, leviana e imbecil que se resolve a questão da pirataria. Sim, da pirataria, que isto relaciona-se com tudo menos com direitos de autor. Esta não é a melhor forma de lidar com ela, ainda mais com o lobby nojento da SPA e as suas desculpas esfarrapadas.

No entanto, o mais deprimente é que, na mesmanotícia, lemos que todos (TODOS!) os partidos representados na Assembleia da República deram feedback positivo ao Projeto de Lei. Para nos complicar ainda mais a vida, já sabem remar todos para o mesmo lado.

Ide mas é...

publicado às 02:03

Como todos saberão, não nutro especial simpatia pela nossa classe política (a começar por Aquele que Habita em Belém e a acabar no Presidente da Câmara de Espinho – coincidentemente ambos do PSD), tanto que votei em branco nasúltimaseleições. Na altura, dividiram-se as trincheiras políticas em pró-Sócrates e pró-Coelho como se o futuro imediato do país estivesse em jogo.

 

Pois bem, esse "futuro" foi-nos atirado à cara em 19 minutos num discurso imponente onde Passos Coelho traçou um cenário medonho da situação actual, embora sem citar razões para tal (não que precisássemos de ser lembrados da incompetência deles), que o buraco é muito mais fundo do que eles pensavam (embora tivessem "estudos" que comprovassem tudo o que prometeram em campanha - logo, estavam errados!) e escudam-se na pesada herança que receberam do anterior Executivo, o típico comportamento do homo politicus para o qual já tinha alertado na altura em que Coelho se tornou o paradigma do "futuro" (ainda que pouco risonho).

 

Se isto faz de Sócrates melhor? Isto não faz nem do Cavaco melhor, pá! E olhem que o velho já deixou a Assembleia há 15 anos. Sem o lençol de medidas que escondia a cabeça e destapava os pés que valia ao nosso Licenciado Domingueiro, Coelho pegou na enxada que tão bem ficava àquela senhora e foi tudo a eito. Vão-se os subsídios, os feriados, as pontes, as deduções, os medicamentos, as ajudas e menos meia hora para a vida social; não há cá investimento que o dinheiro é emprestado e já tem dono; as reformas estruturais na função pública ficam na gaveta e tudo aquilo que ele prometeu na campanha é atirado pela janela por que, lá está, estamos muito mal (e porquê?), não devemos olhar para trás (o quê?!) e para a frente é que é o caminho (mesmo que a Luz seja um estádio e não um símbolo de salvação).

 

E, no meio disto tudo, eu até compreendo certas medidas (apesar de não justificar o assalto de mão armada que vai ser daqui em diante): é melhor cortar nos salários que despedir. Perde-se poder de compra, mas mantêm-se os empregos. No privado, que vai levar por tabela forte e feio, não há cá cortes: despede-se e adeus. Admiro que Coelho pinte o cenário tão negro como ele realmente é, embora apele para justificações tão vagas como "a situação é desesperadora" e num esforço de criar um inimigo comum que faria Bush Jr. roer-se de inveja. O que não me conformo são gestores de topo em empresas públicas receberem balúrdios seja em serviço ou em reformas (que acumulam!) e, muitas vezes, fazem gestão danosa e seguem incólumes e de bolsos cheios. Que as classes médias sejam chupadas até à exaustão; que as pequenas e médias empresas (a espinha dorsal da economia) estejam afundadas de encargos que mal dão para investirem nelas próprias, o que, obviamente, leva a meios ilícitos de facturação.

 

Andámos anos a chular a Europa para darmos o salto e nem o trampolim comprámos. Conclusão: sujeitamo-nos a tudo o que eles exigem para estancar uma ferida que não pára de sangrar. Passos Coelho corta a torto e a direito na esperança que ela estanque (ainda que momentaneamente) e, o mais deprimente, é que ele não parece ter noção do que o que está a fazer tem maior probabilidade de correr mal do que resolver tantos problemas em tão pouco tempo.

 

E Portugal já passou da hora de andar a dar tiros no escuro.

 

publicado às 00:46

 

Dez anos.

 

Dez anos é muito tempo, mas não chega para esquecer aquele dia, aquelas terríveis imagens e aquela sensação estranha e arrepiante, um misto de incredulidade e tormento. Há dez anos, a História escreveu-se de forma cruel, todos nós voltámos à nossa frágil condição e mergulhámos num clima de suspeição e incerteza cujas sequelas ainda se sentem hoje em dia. Naquela Terça-feira, o Mundo realmente mudou. Para melhor ou pior, ainda estamos a tentar perceber.

 

Eu, na pacatez dos meus quase 16 anos, estava a fazer uma sesta após o almoço para, durante a tarde, voltar à praia. Na altura, tinha a mania de assistir à Euronews a partir da RTP 2 (não perguntem) e qual não foi o meu espanto quando acordo e vejo o topo da torre norte em chamas. As informações preliminares eram contraditórias: falava-se que algo teria colidido com a torre, não se sabia se era um avião comercial, militar ou privado, especulava-se sobre uma explosão interna e levantou-se a hipótese de um atentado terrorista. Poucos minutos depois, esta última teoria ganhou forma com uma visão aterradora que nunca esquecerei: o segundo avião colidia com a torre sul e eu gelei. Fui chamar o meu irmão e acompanhamos o resto da emissão. A praia teria de ficar para outro dia.

 

Entre o ataque ao Pentágono, o sequestro e despenhamento do United 93 e informações sobre aviões que desapareciam dos radares para voltarem a aparecer pouco depois, a evacuação e fecho de sedes governamentais e a decisão de encerrar todo o tráfego aéreo norte-americano, os acontecimentos no World Trade Center monopolizavam as atenções. Anónimos horrorizados, pessoas em estado de choque e imagens aterradoras de indivíduos que preferiram saltar de dezenas de andares a morrerem queimados e o planeta inteiro a acompanhar pela Televisão. Senti, então, uma urgente necessidade de falar com os meus pais, embora não tivesse nada de relevante para lhes dizer. Liguei para a pastelaria e atendeu a minha mãe. Claro que estavam também a assistir. Eu nem sabia o que dizer. Ela reconfortou-me e disse-me para ir para a praia, que o dia estava bom e que devia espairecer. Desliguei e, pouco depois, a torre sul desmoronou-se numa imagem que, no cinema, seria espectacular e digna de aplausos, mas que, naquela tarde, foi um terrível despertar para a realidade.

 

O pânico dos nova-iorquinos enquanto fugiam dos escombros que se amontoavam numa imensa nuvem de pó e detritos, a consequente queda da torre norte, o caos térreo que contrastava com um belíssimo céu azul, o silêncio ensurdecedor dos ensanguentados e empoeirados quase em estado catatónico – era demasiada coisa para assimilar.

 

Tragédias como o tsunami no Índico, a crise humanitária na Somália ou o conflito no Darfur mexem connosco, revoltam-nos, mas o impacto do 11 de Setembro foi mais alargado e profundo. Tudo por que seguimos a par e passo pela Televisão, acompanhamos o horror da situação, desejámos que as operações de socorro fossem bem sucedidas e sentimos a dor como se tivéssemos uma janela que nos transportasse directamente para Nova Iorque.

 

Vimos o pior e o melhor da raça humana em simultâneo. Ali, diante dos nossos olhos e perante a nossa impotência.

 

Percebemos como o Mundo pode ser um lugar injusto e atroz e unimo-nos numa corrente de solidariedade que o canalha Bush e restante corja decidiram arruinar a favor de uma guerra estúpida movida por interesses obscuros.

 

Tudo isto numa Terça-feira enquanto se digeria o almoço.

 

publicado às 17:18

Virar à Direita

por Antero, em 05.06.11

O Partido Socialista, com José Sócrates à cabeça, acabou de levar uma tareia nas Legislativas 2011 e não ficou por aí: mesmo o Bloco de Esquerda e a CDU levaram um forte abalo e uma nova coligação PSD-CDS é iminente. Isto numas eleições carregadas pelo peso das medidas que o FMI irá implantar nos próximos anos e numa campanha mergulhada em acusações de todos os lados sobre culpabilidade e omissão. Sabendo como é o povo português, não era de todo improvável uma nova reeleição de José Sócrates, seja pela inexperiência e/ou ineficácia da oposição ou pela postura do próprio Sócrates, cuja eloquência e retórica desarmavam os opositores e a sua habilidade em trazer a si os louros de "pequenas" conquistas e alhear-se dos prejuízos.

 

Nada disto serviu (nem as sondagens que pintavam um cenário renhido) e eu, simpatizante socialista e plenamente consciente do mau serviço prestado pelos representantes do PS, estou surpreso e - diria até - moderadamente satisfeito. Porque o povo não foi nas lérias do Zé, na sua constante vitimização à qual os adversários ainda davam mais lenha e não caiu na mesma asneira uma segunda vez (segunda por que a primeira eleição foi contra Santana Lopes, então não conta). Por outro lado, dá para perceber que Sócrates não só minou o Partido Socialista, mas também teve efeitos colaterais em toda a Esquerda: o BE, que vinha em crescendo no mapa político nacional, viu-se relegado à quinta posição.

 

Eu votei em branco e andei toda a semana a ouvir mil e uma aberrações sobre essa decisão. Ia ajudar o Sócrates, para isso mais valia nem ir, que votasse num dos partidos sem expressão, enfim. Pois bem, eu votei em branco por que me preocupo: se estivesse nas tintas para isto, nem punha lá os pés. Li (por alto) as principais medidas propostas por TODOS os partidos e, quanto aos chamados pequenos, era cada um pior que o outro. Se eu não vejo capacidade e não deposito confiança naquela gente, simplesmente não voto em ninguém. Se isso favorece X ou Y, problema deles. Sejam mais eficientes da próxima vez. Eu não vou por "males menores".

 

Outra coisa que me deixou agastado: o facto de eu não apoiar Passos Coelho não faz de mim automaticamente pró-Sócrates, tal como o inverso não se aplica. Não gosto de Passos Coelho, de quem o rodeia, acho que perdeu tempo a falar de imbecilidades e acusações, de fazer joguinhos com o Governo na altura do PEC, acho que ele é inexperiente e não poderá fazer muito com a herança que terá em mãos (cuja culpa também tem de ser repartida com o PSD e - vejam só! - com aquele sujeito que reside no Palácio de Belém). Daí a adorar o Sócrates vai uma distância e tanto e não convém diabolizar nem um nem outro. Por isso é que eu entendo a postura dos meus pais em votar PS por que realmente houve coisas bem feitas e acham que há margem de manobra para pôr isto nos eixos, assim como percebo o meu irmão que engoliu o orgulho esquerdista e votou na Direita por que crê que necessitamos de uma mudança.

 

E isto escreve-vos um tipo de Esquerda, avesso à Direita, liberal, que acha que o Estado deve ter um papel minimamente regulador, que as preocupações máximas de um Governo deveriam ser educação e saúde, que concorda com as privatizações da TAP, Correios e CP; que as parcerias público-privadas devem ser revistas, defensor dos direitos dos homossexuais, que acha que o Ministério da Cultura é essencial ao país (mas que será o primeiro a levar cortes), que a RTP deve ser pública, que a Assembleia é maioritariamente composta por inúteis, que é a favor da despenalização do aborto, ateu, alérgico ao conservadorismo, que acredita que o grande mal deste país é a falta de fiscalização. Em tudo! Que admira a pluralidade da Esquerda por oposição a uma certa rigidez da Direita, mas com uma ponta de inveja do carácter reaccionário e singular para o qual tende a Direita que contrasta com uma certa passividade da Esquerda (alguém vê o CDS atacar o PSD como o BE e a CDU atacam o PS?).

 

Que Passos Coelho e restante executivo façam um bom trabalho e me surpreendam. De bom grado morderei a língua, se for caso disso.

 

publicado às 20:51

Iliteracia

por Antero, em 04.05.10

Apetecia-me enviar uma caixa para a Assembleia da República e outra para o Palácio de Belém, cada uma com um dicionário que teria um marcador de livros numa determinada página e, nessa página, realçar com marcador fluorescente a palavra "laico". Pelos vistos temos um Governo iletrado.

 

publicado às 23:27

Actualidades #6

por Antero, em 05.11.08

Barack Obama é eleito presidente dos EUA

Como se previa há largos meses e de acordo com a vontade mundial, Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos da América. De nada serviu a agressividade dos republicanos: Bush deixou uma marca negativa tão forte que é altura de ruptura e Obama liderou a campanha de forma irrepreensível. Ele tem aquele carisma dos grandes líderes, capaz de movimentar as massas, principalmente das "minorias" que foram às urnas em grande número. Que tenha toda a sorte do Mundo e seja o mais sensato possível, uma vez que deve haver muito norte-americano conservador capaz de lhe mandar um balázio certeiro. Com o historial dos EUA nestas situações, estes temores são mais que fundados. Mas a altura é de festa e esperança que melhores tempos virão.

 

Liga dos Campeões

O Sporting assegurou ontem a passagem aos oitavos-de-final da competição apesar de não jogar uma beata. Ao contrário dos azares de outras épocas, convém admitir que este grupo é muito fraco e as declarações do corpo técnico do Sporting são ridículas: vir o presidente dizer que foi "uma chapada de luva branca a muita gente" depois de semanas a suplicar apoio dos adeptos denota uma falta de sensatez gritante. Como se esta vitória fosse apagar os casos de balneário, a visão técnica limitada de Paulo Bento (se bem que lhe dou o mérito de vitórias com plantéis de bradar aos céus) e do fosso entre os adeptos e a equipa. De qualquer das formas, parabéns ao Sporting Lisbon (hehehehe). Hoje, o FC Porto entra em acção e a conjectura não podia ser pior, embora os portistas tenham o hábito de superar-se quando estão sob pressão. O plantel está muitos furos abaixo dos anos anteriores e agora começam a emergir os defeitos de Jesualdo Ferreira como treinador. Claro que com uma SAD que ganha balúrdios em comissões de compra (!) de jogadores e que chupa o dinheiro todo em prémios de vitórias, cujas percentagens são escandalosas. Mas aí cabe aos sócios do clube reclamarem. No futebol jogado, Rodriguez ainda não fez nada para merecer o vencimento, Lisandro anda sem pontaria, Lucho e Raul Meireles estão cansados (será das noitadas?), Bruno Alves continua a ter carta branca para dar porrada a tudo e todos e Hulk joga como se estivesse no PES, naquele modo em que o jogador tem de mostrar os seus atributos. No fim, uma boa notícia: parece que Pelé já descobriu o caminho da Ribeira para o Dragão e assim escusa de andar desaparecido na noite portuense.

 

Magalhães

É vergonhoso que o Governo se vanglorie de um computador para as escolas e estas ainda continuam à espera dos mesmos. Parece que o Governo quer que as Câmaras financiem a distribuição e estas, completamente falidas, não estão muito para aí viradas. Pior ainda é ver Sócrates a enterrar-se em grande ao afirmar que o Magalhães é tão bom que todos os seus ministros o utilizam, o que atestou aquilo que muitos desconfiavam: aquela gente tem idade mental de 10 anos.

 

publicado às 16:42

Prazo de validade

por Antero, em 28.10.08

 

Individuo tem uma relação conturbada com o próprio pai (que prefere um dos filhos mais novos), mas que, na ânsia de lhe provar o seu valor, acaba por seguir-lhe as pisadas até ser bem sucedido e chegar a um cargo altamente influente. Histórias como esta já foram vistas e revistas incontáveis vezes pelo Cinema. W. de Oliver Stone destaca-se pelo oportunismo: o tal individuo é George W. Bush e o cargo é nada menos que Presidente dos Estados Unidos da América. Crónica da ascensão de Bush Júnior, pelo qual ninguém dava nada, até chegar a Presidente da nação mais poderosa do mundo (com especial ênfase na guerra contra o terrorismo), o filme mistura ficção e factos reais e, tal como no fabuloso A Rainha, a sua principal preocupação não é da provocar mas sim soar verosímil e humanizar o seu objecto de estudo.

 

Temos assim dois núcleos distintos: o anterior à presidência dos EUA (que, obviamente, engloba mais anos da cronologia) e o da controversa Guerra no Iraque que, mais actual, retrata os bastidores das decisões estratégicas da administração Bush. Ambos os núcleos são abordados de forma não-linear, uma vez que o filme recorre a flashbacks e a flash-forwards para contar a sua história, conseguindo fluidez e coesão entre os vários espaços de tempos. No entanto, relativamente ao conteúdo de cada núcleo, convém dizer que o que se refere à "biografia" de Bush é decepcionante: mais parecendo um encadeamento dos pontos mais importantes, o filme resume tudo a um conflito pai-filho, deixando muitos aspectos de fora que seriam interessantes desenvolver. Como, por exemplo, Laura Bush. Porque ela se envolveu com ele? Pelo estatuto social da família? Pelo seu espírito rebelde? Segundo o filme, seria uma paixão de adolescência, o que é frustrante, pois quando ambos são apresentados, nota-se que eles têm concepções políticas divergentes.

 

Outro ponto que mal é abordado é a dinâmica da família Bush. Na visão do filme, George seria renegado por todos e faria todo o sentido mostrar a relação entre ele e o irmão que o pai prefere. Porém, o irmão praticamente não aparece. Mas o que é realmente uma pena é Oliver Stone não debruçar-se (seria medo?) sobre as polémicas (para dizer o mínimo) eleições de 2000, nas quais Bush derrotou Al Gore. O máximo que o filme faz é uma frase num diálogo de Bush pai e só. Para esta decepção contribui também a realização de Oliver Stone que está longe da força de um JFK ou Wall Street (que seria mais apropriada), mas que não transforma W. num pastelão como World Trade Center. Aí sim, o filme estaria arruinado. Por outro lado, sempre que o foco se desvia para os bastidores da Casa Branca, Stone mostra, aqui e ali, a irreverência que o tornou famoso. Retratando Bush como um homem que toma decisões baseadas em sonhos espirituais com Deus e que não tem plena consciência da complexidade de uma boa política externa, Stone aponta o dedo ao presidente declarando que este é facilmente manipulado pelos seus conselheiros. Assim, o núcleo do filme que porventura seria o menos interessante, uma vez que já tanto se discutiu sobre ele, torna-se na verdadeira atracção do mesmo.

 

Josh Brolin como George Bush consegue uma verdadeira proeza ao contrariar a realização errática de Oliver Stone. Enquanto a câmara deste puxa as personagens para a caricatura (o modo como Bush fala e come alarvemente), Brolin consegue evitar todas as armadilhas e transforma a personagem principal num ser humano complexo, cheio de conflitos internos. Por comparação, podem ver a caracterização de Thandie Newton como Condoleezza Rice: aquilo é pura caricatura sem qualquer propósito narrativo. Outro que se destaca é Richard Dreyfuss como o vice-presindente Dick Cheney: autêntica ratazana da cena política norte-americana, Cheney sabe como manipular Bush e restante administração e Dreyfuss retrata-o com imensa competência. Basta ver o diálogo durante um almoço em que Cheney mostra uma proposta de lei para aumentar a dureza dos interrogatórios a supeitos de terrorismo e em que Bush declara: "Mas isso não será tortura? Na América, não torturamos ninguém". Ao que Cheney remata: "Não, não. Não na América." e Dreyfuss diz isto com uma confiança inabalável digna de um político que sabe o que quer e como o fazer.

 

De qualquer das formas, W. ainda consegue atingir a comunicação social norte-americana que, antes e durante a Guerra do Iraque, não questionava os verdadeiros motivos da mesma (que são explicados no filme numa longa cena em que Dreyfuss brilha mais uma vez), servindo como porta-voz das decisões da Casa Branca. Outro que não fica nada bem na fotografia é Colin Powell, secretário de Estado, que tenta argumentar contra a designação do chamado "Eixo do Mal" e as ofensivas dos EUA sem provas concretas, mas que logo se deixa levar pela ideia dos proveitos económicos que a ocupação norte-americana no Médio Oriente traria para aquela administração. A ideia de misturar imagens de arquivo com os actores durante o famoso discurso no Senado em que Bush declara que "quem não está connosco, está com o terrorismo" é bem sacada, uma vez que ao mostrar políticos como John McCain e Hillary Clinton a mensagem é clara: aqueles que hoje lhe viram as costas, já o apoiaram sem reservas.

 

No entanto, o grande defeito de W. é algo externo ao filme: a sua falta de relevância actual. Hoje em dia, com os índices de popularidade de Bush tão em baixo, é muito fácil olhar para trás e apontar o que esteve mal, onde tudo falhou. Se tivesse sido lançado há quatro anos atrás, por alturas da reeleição de Bush, não tenho dúvidas que o filme faria uma grande parelha com Fahrenheit 9/11. É pena que o filme aponte o dedo a certos sectores sem se aperceber que padece do mesmo mal. É como se o seu prazo de validade tivesse expirado mesmo antes de chegar às salas de cinema.

 

Qualidade da banha: 13/20

 

publicado às 19:01

Sarah Palin

por Antero, em 21.10.08

Ia fazer um novo post doPragas do Mundo Modernocom Sarah Palin, governadora do Alasca e candidata à vice-presidência dos Estados Unidos da América, mas mudei de ideias depois de ver o seguinte vídeo. Trata-se de um segmento do Saturday Night Life em que a mesma é brilhantemente parodiada por Tina Fey, até que Palin surge em pessoa e, com um fair-play colossal, dá início ao programa.

 

 

Ela continua a ser uma política desprezível? Sim. Apareceu por pura propaganda? Talvez. Mas divertiu-me horrores e atenuou, ainda que levemente, a minha opinião negativa. É óptimo ver como nos EUA os artistas e figuras públicas põem de lado as suas divergências políticas em nome do bom humor (mesmo que a finalidade seja gerar publicidade). E Tina Fey é grande!

 

publicado às 00:07

Yo no creo en buejas pero...

por Antero, em 24.09.08

No outro dia, estava a navegar pela Wikipédia e a ver a lista dos Presidentes dos Estados Unidos da América ao longo dos anos. Decidi abrir cada uma das páginas correspondentes e começaram todas a falhar, excepto duas: a de George Bush Pai e a de George Bush Filho. Medo!

 

publicado às 15:41

Pragas do mundo moderno #3

por Antero, em 14.07.08

Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira.

 

publicado às 01:02


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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