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Looper - Reflexo Assassino

por Antero, em 14.10.12


Looper (2012)

Realização: Rian Johnson

Argumento: Rian Johnson

Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Pierce Gagnon, Noah Segan, Piper Perabo, Paul Dano, Jeff Daniels
 

Qualidade da banha:

 

Looper é uma ficção científica de ideias. Sim, o filme tem a sua quota de embates físicos, perseguições e tiroteios (todos bem orquestrados), mas são os dramas das personagens e a exploração a fundo da sua premissa que tornam esta obra tão marcante. Como bónus, não se trata de uma adaptação, refilmagem ou sequela, o que só atesta a inventividade do realizador/argumentista Rian Johnson – e este facto nem seria digno de nota caso Hollywood não estivesse tão falida de originalidade.

 

Ambientado num futuro que surge como uma variação plausível (e mais decadente) do presente, Looper traz Joe (Gordon-Levitt), um assassino contratado para trabalhos obscuros: ele deve eliminar alvos que a máfia envia do futuro, mais precisamente 30 anos. A viagem no tempo ainda não foi inventada, mas será automaticamente proibida aquando a sua invenção e as organizações criminosas usam-na secretamente para desfazerem-se de cadáveres que, no futuro, dificilmente poderiam não ser identificados. Tudo corria bem até ao dia em que Joe surpreende-se ao perceber que a sua próxima vítima é ele próprio 30 anos mais velho (Willis), regressado no tempo com um propósito específico.

 

Aproveitando a primeira meia hora para estabelecer o seu universo e as suas regras, Looper agarra o espectador a partir do momento em que os dois Joes se encontram e, a partir daí, Rian Johnson dispara vários e imaginativos conceitos decorrentes da viagem no tempo: assim, qualquer marca infligida no corpo de alguém terá repercussões no seu equivalente do futuro e, ainda mais interessante, as memórias do Joe velho encontram-se nubladas, como se estivessem suspensas, e podem ser confirmadas ou apagadas consoante as memórias geradas pelo Joe novo. O próprio termo "looper" tem uma justificação lógica e com implicações bem mais profundas do que pensaríamos a início.

 

Como se isto não fosse suficiente, Johnson surpreende mesmo é na segunda metade da projeção, quando o ritmo acalma e Looper parece transformar-se noutro filme no qual a ficção científica passa para segundo plano, o que pode irritar parte do público quando, na verdade, está apenas a mostrar a sua verdadeira proposta. Neste ponto, a história dedica-se a desenvolver as suas personagens e atirá-las para dilemas morais de impossível resolução – e quando o Joe velho comete um ato de extrema crueldade, percebemos o quanto as suas motivações o obrigam a sacrificar. Esta ambiguidade, aliás, permeia toda a narrativa, algo que pode ser constatado pela curta participação de Jeff Daniels como o chefe dos loopers: apesar de ser um sujeito capaz de atos bárbaros e de comandar um bando de criminosos, ele tenta ser o mais pragmático possível de forma a evitar problemas.

 

Auxiliado por efeitos de maquilhagem que o tornam num jovem Bruce Willis convincente (embora a reação inicial seja de estranheza), Joseph Gordon-Levitt mostra que está a ter um ano em grande ao ser capaz de carregar um filme nas costas e absorver os maneirismos e colocações de voz fartamente conhecidas de Willis, o que afinal de contas é o fator essencial ao sucesso do filme já que, sem ele, este simplesmente afundaria. No entanto, é mesmo Willis que, com o carisma de sempre, mostra o bom ator que já não víamos desde as colaborações com M. Night Shyamalan – a sua prestação sensível no papel de um indivíduo cansado da vida que levou e decidido a aproveitar a oportunidade de corrigir o rumo da sua vida é um dos grandes prazeres de acompanhar Looper. A fechar o elenco, Emily Blunt compõe uma mãe determinada a defender o seu filho e que ao mesmo tempo parece estar prestes a ter um colapso emocional e o jovem Pierce Gagnon safa-se bem num papel que não lhe exige mais do que ser O Génio do Mal.

 

Enriquecido por um desfecho que encerra convenientemente todas as pontas soltas, Looper é um exercício ambicioso, engenhoso e fascinante povoado por personagens complexas e que conta com um detalhe cada vez mais raro nas obras contemporâneas do género: um cérebro.

 

publicado às 17:56


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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