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Mais um final de ano, mais uma vez a já tradicional lista de melhores e os piores filmes estreados em Portugal em 2014, segundo a minha opinião.
1
Boyhood - Momentos de Uma Vida
Boyhood
Filmado ao longo de quase 12 anos, Boyhood é o mais ambicioso filme de toda a carreira do multifacetado Richard Linklater. Ao acompanharmos o crescimento de Mason (a revelação Ellar Coltrane), Linklater inevitavelmente leva a que reflitamos sobre a nossa própria e efémera experiência neste mundo e, assim, Boyhood alcança um efeito paradoxal: embora não tenha nada de extraordinário para contar, o filme foca-se na vida – o que, por si só, já é algo extraordinário.
2
Her - Uma História de Amor
Her
Um dos argumentos mais insólitos que eu me lembro, mas isso não é de espantar já que a mente por detrás do mesmo é Spike Jonze, um dos mais originais e virtuosos talentos revelados em Hollywood nas últimas décadas. Situado numa Los Angeles futurista mas perfeitamente plausível, Her é uma reflexão da necessidade humana de amar e sentir-se amado, o crescente isolamento da humanidade totalmente viciada na tecnologia e a forma como esta dita não só os nossos hábitos, mas também os nossos estados de espírito.
3
12 Anos Escravo
12 Years a Slave
Cineasta com um olhar atento para os limites e a brutalidade da natureza humana, o britânico Steve McQueen desvia a sua lente da individualidade (a greve de fome em Fome e o vício sexual de Vergonha) e foca-a num dos episódios mais degradantes da história da Humanidade: a escravidão.Violento, implacável e absolutamente essencial.
4
O Senhor Babadook
The Babadook
O Senhor Babadook não é um mero filme que assusta com altos acordes na banda sonora e sangue por todo o lado. Não; este filme inspira genuíno medo graças a uma ambientação digna de um pesadelo, uma realização precisa e uma visceral interpretação de Essie Davis (que, num mundo justo, estaria na corrida dos próximos Oscars). Perturbador e comovente, é desde já uma obra-prima do terror moderno.
5
O Filme Lego
The Lego Movie
É reconfortante perceber que até nas mais elaboradas peças de marketing – e, deixemo-nos de hipocrisias, uma longa-metragem sobre as peças Lego não tem outra razão de existir que não a de vender produtos da marca – há lugar para o mais puro entretenimento. O Filme Lego eleva-se acima da concorrência apostada em eternizar franquias desgastadas (sim, até mesmo a outrora infalível Pixar) porque capta o imaginário infantil como poucas animações conseguem numa (hilariante) história que celebra a individualidade, a inocência e a criatividade no meio do conformismo e do cinzentismo do mundo adulto.
6
Snowpiercer - Expresso do Amanhã
Snowpiercer
Ambicioso como alegoria social, fascinante como ficção científica pós-apocalíptica e espetacular como entretenimento, Snowpiercer une as sensibilidades do cinema oriental aos recursos do Ocidente e não se cansa de sacar coelhos da cartola até ao seu perfeito e subvalorizado desfecho.
7
Em Parte Incerta
Gone Girl
Quase sádico na forma como manipula as reações do público e realizado com competência e elegância por David Fincher, Em Parte Incerta beneficia-se pelas fabulosas de atuações de Ben Affleck e Rosamund Pike (dois atores que nunca tive em grande conta), pelo arrepiante humor negro e pelo ataque direto ao histerismo mediático construído por meios de comunicação que não hesitam em assumir a figura de acusador, juiz e carrasco em nome das audiências e do dinheiro.
8
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido
X-Men: Days of Future Past
Aproveitando o que de melhor têm os X-Men no cinema (e, sim, há muita coisa boa por aqui), o regresso de Bryan Singer à franquia origina um sensacional blockbuster que conta com um argumento envolvente, personagens carismáticas, um elenco que é de sonho e cenas tão inventivas (como o tiroteio na cozinha) que é impossível não ficar rendido.
9
O Lobo de Wall Street
The Wolf of Wall Street
Martin Scorsese tão enérgico que mais parece que está em início de carreira volta a provar por A mais B a razão pela qual ainda é o melhor realizador norte-americano em atividade. O Lobo de Wall Street é juvenil, parvo, histérico, sexista e muito mais de negativo que se possa apontar aos seus protagonistas, mas a diferença (e este é o grande trunfo do filme) é que a objetiva de Scorsese faz questão de apontá-los como seres degradantes com poucas hipóteses de redenção e em momento algum defende as atrocidades que eles cometem.
10
O Homem Mais Procurado
A Most Wanted Man
Que enorme ator era Phillip Seymour Hoffman! E que grande filme é O Homem Mais Procurado para servir de montra para o imenso talento do ator falecido em fevereiro deste ano. Aqui está um thriller de espionagem feito por e para adultos. Cínico, melancólico e que substitui as sequências de ação do tipo James Bond por outras que se concentram no meticuloso trabalho executado por espiões que dependem mais de jogos psicológicos, estratégias e habilidade do que de armas para realizarem as suas tarefas.
Outros destaques de 2014, por ordem alfabética:
Agentes Universitários
O Clube de Dallas
O Duplo
Grand Budapest Hotel
Guardiões da Galáxia
Locke
Má Vizinhança
Os Maias – Cenas da Vida Romântica (versão integral)
Ninfomaníaca (Volumes I e II)
Planeta dos Macacos: A Revolta
Quando Tudo Está Perdido
Só os Amantes Sobrevivem
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-10
Ao Encontro de Mr. Banks
Saving Mr. Banks
Os bastidores da adaptação de ‘Mary Poppins’ para o grande ecrã dariam material para um filme, mas certamente poderiam originar algo mais refinado do que este burocrático e desonesto Ao Encontro de Mr. Banks. Com uma estrutura errática e um mar de obviedade e pieguice, o filme não tem receio em apostar em estereótipos como o norte-americano caloroso e homem de família (Walt Disney) versus a britânica fria e neurótica (P.L. Travers).
-9
Eu, Frankenstein
I, Frankenstein
Aaron Eckhart "desfigurou-se" em O Cavaleiro das Trevas e deu-se muito bem. Quis repetir a gracinha nesta barulhenta, histérica e incoerente porcaria e deu-se muito mal.
-8
O Filho de Deus
Son of God
Se A Bíblia, série do History Channel, já não era um portento em televisão, a sua versão fragmentada para o cinema não passa de uma mera colagem de episódios sem grande fluidez ou reflexão e até sem nenhuma outra perspetiva dos autores – o que desde logo reduz o seu alcance como longa-metragem. Ampliado no grande ecrã, O Filho de Deus mostra todos os defeitos da versão televisiva: parcos valores de produção, uma lógica visual inerte e uma escala bem mais comedida para algo que deveria ser épico. Quanto ao “nosso” Diogo Morgado, que aproveite a oportunidade e as supostas portas que o papel lhe terá aberto, mas tanto ele como o que o rodeia roçam o insípido e o desnecessário, mal conseguindo disfarçar a condição de produto oportunista.
-7
Tartarugas Ninja: Heróis Mutantes
Teenage Mutant Ninja Turtles
Ao longo dos anos ganhei um medo de morte ao sul-africano Jonathan Liebesman. O realizador estreou-se com Terror na Escuridão, um péssimo filme de terror; voltou ao género no dispensável Massacre no Texas – O Início; e cuja obra mais conhecida é Invasão Mundial: Batalha Los Angeles, uma ficção-científica de ação que é um terror. A verdade é que Liebesman não deixa o seu prestígio em mãos alheias: é um tarefeiro que tenta emular as “qualidades” do seu mentor, nada mais nada menos que Michael Bay. Tartarugas Ninja: Heróis Mutantes é esteticamente feio, narrativamente pobre e com atuações para lá de esquecíveis, com a bela Megan Fox mais uma vez a mostrar que o seu talento é inversamente proporcional aos seus atributos físicos.
-6
Sex Tape - O Nosso Vídeo Proibido
Sex Tape
Promete muito a início, mas logo mostra o seu objetivo: ser um enorme e agressivo anúncio aos produtos da Apple. Além disso, é uma comédia inofensiva. Dá até pena de Jason Segel.
-5
Transcendence – A Nova Inteligência
Transcendence
Uma confusão. Se se limitasse a ser um filme de série B, Transcendence até poderia ser razoável com o seu elenco em modo "isto é sério demais para mim" e buracos narrativos que se vêm da Lua. Mas como é produzido por Christopher Nolan, isto é para levar a sério e o filme quer discutir (e mal) tanta coisa ao mesmo tempo que se perde ainda no primeiro ato (o que é uma proeza).
-4
Sei Lá
Sei Lá
Lisboa, 1998. Vem aí a Expo e "Portugal já não estará na cauda da Europa!". Quatro mulheres caricaturas: a sonhadora, a voraz, a pragmática e a coitadinha. Os homens são para usar e deitar fora, mas dá jeito ter o conforto de um. Um terrorista basco (?). Onde andas, Joaquim Leitão? Surpreendentemente, o livro é melhor.
-3
Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas
A Million Ways to Die in the West
O sucesso inesperado leva, muitas vezes, ao desastre criativo. Um falhanço a quase todos os níveis (a fotografia e a banda sonora escapam à hecatombe), Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas comete uma série de erros que, todos elencados, não dariam para uma enciclopédia: é demasiado longo; está recheado de “piadas” que andam à volta de palavrões, gases, urina, animais… por vezes todas juntas na mesma cena; Seth MacFarlane não tem ponta de carisma para ser protagonista e, ao rodear-se de um elenco tão bom e tão desperdiçado, só mostra que está muitos degraus abaixo em matéria de talento; as “piadas” ora são mal construídas, ora são repetidas ad infinitum, ora são atiradas ao acaso para, regra geral, atingirem o público com um estouro tão notável que a pergunta que fica é “como alguém achou que isto teria piada?”.
-2
Transformers: Era da Extinção
Transformers: Age of Extinction
Ah, Michael Bay e a sua infinita capacidade em explodir coisas. Já não bastasse a sua “trilogia da sucata”, o realizador volta à carga com mais um capítulo do equivalente cinematográfico a levar com uma frigideira na cabeça durante tortuosos 165 minutos. Horrível, exagerado e estupidificante do primeiro ao último minuto, cria o desejo que o subtítulo se torne realidade.
-1
Eclipse em Portugal
Eclipse em Portugal
Nem num festival de vídeos amadores vocês encontrarão um filme tão horroroso e imbecil como Eclipse em Portugal, regresso do meu "estimado" Alexandre Valente às longas-metragens após esse portento de nome (até dói só de lembrar) Second Life. Valente referiu que fez um filme “de tostões”, sem apoios comunitários, mas nada justifica o festival de erros que passa no ecrã. Diálogos pobres, atuações caricaturais, edição deficiente (nota-se as diferenças de luz entre os planos) e o tratamento de som é de fugir (há diálogos que variam do impercetível ao quase berro – e isto na mesma frase!). Baseado num crime real, a história (história?) ridiculariza o criminoso, a sua família, os seus amigos, a sua comunidade e até os pobres coitados que aceitaram enfiar-se neste buraco. E como não há nada que não possa piorar, o filme recorre à solução que atesta a falência artística de qualquer comédia: erros de gravações. Ah, Valente!
Outros destaques (pela negativa) de 2014, por ordem alfabética:
300 – O Início de um Império
Os Gatos Não Têm Vertigens
Godzilla
Grace de Mónaco
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
Os Mercenários 3
Need For Speed: O Filme
Não Há Duas Sem Três
Ressaca de Saltos Altos
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Bom ano e bons filmes!