Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Looper (2012)
Realização: Rian Johnson
Argumento: Rian Johnson
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Pierce Gagnon, Noah Segan, Piper Perabo, Paul Dano, Jeff Daniels
Qualidade da banha:
Looper é uma ficção científica de ideias. Sim, o filme tem a sua quota de embates físicos, perseguições e tiroteios (todos bem orquestrados), mas são os dramas das personagens e a exploração a fundo da sua premissa que tornam esta obra tão marcante. Como bónus, não se trata de uma adaptação, refilmagem ou sequela, o que só atesta a inventividade do realizador/argumentista Rian Johnson – e este facto nem seria digno de nota caso Hollywood não estivesse tão falida de originalidade.
Ambientado num futuro que surge como uma variação plausível (e mais decadente) do presente, Looper traz Joe (Gordon-Levitt), um assassino contratado para trabalhos obscuros: ele deve eliminar alvos que a máfia envia do futuro, mais precisamente 30 anos. A viagem no tempo ainda não foi inventada, mas será automaticamente proibida aquando a sua invenção e as organizações criminosas usam-na secretamente para desfazerem-se de cadáveres que, no futuro, dificilmente poderiam não ser identificados. Tudo corria bem até ao dia em que Joe surpreende-se ao perceber que a sua próxima vítima é ele próprio 30 anos mais velho (Willis), regressado no tempo com um propósito específico.
Aproveitando a primeira meia hora para estabelecer o seu universo e as suas regras, Looper agarra o espectador a partir do momento em que os dois Joes se encontram e, a partir daí, Rian Johnson dispara vários e imaginativos conceitos decorrentes da viagem no tempo: assim, qualquer marca infligida no corpo de alguém terá repercussões no seu equivalente do futuro e, ainda mais interessante, as memórias do Joe velho encontram-se nubladas, como se estivessem suspensas, e podem ser confirmadas ou apagadas consoante as memórias geradas pelo Joe novo. O próprio termo "looper" tem uma justificação lógica e com implicações bem mais profundas do que pensaríamos a início.
Como se isto não fosse suficiente, Johnson surpreende mesmo é na segunda metade da projeção, quando o ritmo acalma e Looper parece transformar-se noutro filme no qual a ficção científica passa para segundo plano, o que pode irritar parte do público quando, na verdade, está apenas a mostrar a sua verdadeira proposta. Neste ponto, a história dedica-se a desenvolver as suas personagens e atirá-las para dilemas morais de impossível resolução – e quando o Joe velho comete um ato de extrema crueldade, percebemos o quanto as suas motivações o obrigam a sacrificar. Esta ambiguidade, aliás, permeia toda a narrativa, algo que pode ser constatado pela curta participação de Jeff Daniels como o chefe dos loopers: apesar de ser um sujeito capaz de atos bárbaros e de comandar um bando de criminosos, ele tenta ser o mais pragmático possível de forma a evitar problemas.
Auxiliado por efeitos de maquilhagem que o tornam num jovem Bruce Willis convincente (embora a reação inicial seja de estranheza), Joseph Gordon-Levitt mostra que está a ter um ano em grande ao ser capaz de carregar um filme nas costas e absorver os maneirismos e colocações de voz fartamente conhecidas de Willis, o que afinal de contas é o fator essencial ao sucesso do filme já que, sem ele, este simplesmente afundaria. No entanto, é mesmo Willis que, com o carisma de sempre, mostra o bom ator que já não víamos desde as colaborações com M. Night Shyamalan – a sua prestação sensível no papel de um indivíduo cansado da vida que levou e decidido a aproveitar a oportunidade de corrigir o rumo da sua vida é um dos grandes prazeres de acompanhar Looper. A fechar o elenco, Emily Blunt compõe uma mãe determinada a defender o seu filho e que ao mesmo tempo parece estar prestes a ter um colapso emocional e o jovem Pierce Gagnon safa-se bem num papel que não lhe exige mais do que ser O Génio do Mal.
Enriquecido por um desfecho que encerra convenientemente todas as pontas soltas, Looper é um exercício ambicioso, engenhoso e fascinante povoado por personagens complexas e que conta com um detalhe cada vez mais raro nas obras contemporâneas do género: um cérebro.
Cowboys & Aliens (2011)
Realização: Jon Favreau
Argumento: Damon Lindelof, Alex Kurtzman, Roberto Orci, Mark Fergus, Hawk Ostby
Elenco: Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Sam Rockwell, Paul Dano, Clancy Brown, Keith Carradine
Qualidade da banha:
Cowboys & Aliens é tudo aquilo que o título promete: uma subversão do western típico... com alienígenas! Isto, porém, não o torna mais interessante e se há aspecto que irrita na produção é como a mesma foi capaz de juntar tanta gente talentosa e tornar-se numa obra tão pouco imaginativa. Ora vejamos: Jon Favreau realizou o óptimo Homem de Ferro e é um bom director; Damon Lindelof comandou a maior parte de LOST; Kurtzman e Orci são responsáveis pela fantástica Fringe (embora tenham cometido Transformers); junta-se o James Bond, o Indiana Jones e a Thirteen de House no velho oeste e só poderíamos esperar boa coisa. Bem, nem tanto.
Passado em 1873, no Arizona, Cowboys & Aliens começa com Jake Lonergan (Craig) a acordar no meio de nenhures, sem lembranças de seu passado e com uma entranha pulseira agarrada ao seu pulso. Ele acaba por ir parar à desértica e pequena cidade Absolution, onde o medo impera e as pessoas não são acolhedoras. Tudo se complica para quando criaturas vindas do céu passam a atacar a cidade, desafiando tudo o que a população já conheceu. Jake, rejeitado pelos habitantes, é a única esperança de sobrevivência e um grupo é formado para combater a ameaça extraterrestre.
Esse grupo, convenhamos, não passa de um bando de clichés ambulantes: há o amnésico que se recorda de tudo aos poucos; o valentão mal-humorado que domina a cidade (Ford); o medricas que parte em busca da esposa e abomina a violência (Rockwell); a mulher misteriosa que nem parece fazer parte daquele contexto (Wilde), o indígena que, empregado do valentão, é ostracizado por este; o médico/pregador que tenta ajudar toda a gente; o xerife bem intencionado; e o miúdo que deve ser protegido das ameaças que enfrentam. Depois há os índios mal encarados e pouco dispostos a colaborar com o "homem branco" e gangues de saqueadores que vêm nos aliens uma nova forma de lucrar. Não que haja algum problema em trabalhar com estereótipos; é preciso que estes sejam bem trabalhados, o que prejudica não só as personagens (cuja profundidade é nula), mas também a própria história que, em pouco tempo, torna-se um exercício de paciência tamanha a sua previsibilidade.
No entanto, isto seria até expectável num filme com cowboys... e aliens! O grande trunfo do argumento (baseado numa banda desenhada pouco conhecida) é mesmo a variação sobre o tema "cowboys versus índios" ou "cowboys versus gangues", embora estes apareçam lá para o meio sem nada que os distinga de outras obras do género. O que interessa realmente aqui são os extraterrestres e é neles que o filme aposta todas as fichas – apenas para perder a jogada. Com um design confuso e sem personalidade, os alienígenas decepcionam a nível visual e narrativo, já que nunca chegam a ser aquele perigo todo que as primeiras aparições sugeriam e Cowboys & Aliens funciona melhor antes de os mostrar em todo o seu (pouco) esplendor. Além disso, as suas motivações desapontam por serem mal exploradas, apesar de estarem devidamente enquadradas com a época e o estilo cinematográfico em questão.
Por outro lado, é sempre um prazer ver Harrison Ford em cena (ainda que no piloto automático) a brincar com o seu cinismo crónico e constatar a segurança que Daniel Craig imprime a Jake, além de admirar a beleza estonteante de Olivia Wilde, não obstante o anacronismo da sua "donzela". O que já não é nada mau num filme em que a dinâmica daqueles indivíduos é desenvolvida de maneira formulaica e cujas sequências de acção são pura fanfarra visual e auditiva. Tendo em conta os envolvidos, esperava-se mais do que um simples e derivativo passatempo ligeiro.