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Rodado por tuta e meia em poucos dias e tendo rendido mais de 100 milhões de dólares só nos Estados Unidos (graças a uma bem montada estratégia de marketing), Actividade Paranormal chega aos cinemas com uma recepção entusiástica e com críticas que o definem como o novo clássico do terror moderno. Emprestando a estética de obras como O Projecto Blair Witch, My Little Eye, Cloverfield e [REC], o inexperiente realizador Oren Peli recorre a todas as soluções possíveis para esconder os seus parcos recursos e contar a história do casal amedontrado por um demónio na sua nova casa. Tudo o que fez a fama dos filmes anteriores está presente aqui: o registo documental, elenco desconhecido, ameaça sobrenatural, investigações que não levam a lado nenhum, montagem e publicidade do material como se algo real se tratasse. No entanto, como exercício de tensão e medo, o filme é um fracasso, onde o choque é substituído pela frustração.
Actividade Paranormal começa com Micah a adquirir um equipamento de filmagem de alta definição para que ele e a esposa, Katie, possam estudar os estranhos fenómenos que têm acontecido na sua casa. Com a visita de um especialista em acontecimentos sobrenaturais, logo ficamos a saber que Katie já sentia os mesmos, em maior ou menor grau, desde os 8 anos de idade e que poderá estar a ser perseguida por uma entidade demoníaca. É desta forma económica e eficaz que Peli encontra de situar o espectador na história, embora o papel do especialista venha a ter pouca ou nenhuma relevância no decorrer da narrativa. E este é um dos males do filme: apesar de construir tensão de maneira brilhante em duas ou três cenas, elas pouco ou nada contribuem no desenrolar da acção. O resultado é óbvio: uma história repetitiva e, ocasionalmente, episódica, onde cada cena nocturna (as mais tensas) é analisada pelo casal no dia seguinte. Quando voltam para o quarto, reinicia-se a rotina. No dia seguinte, analisam e as coisas pioram. Noite outra vez. Barulhos e cenas estranhas. Ver filmagens pela manhã. Basicamente, é isto.
Não ajuda também as personagens não serem nada simpáticas e pouco dadas a que o espectador se identifique com elas: Micah, por exemplo, passa todos os limites do cepticismo ao aguentar a situação por demasiado tempo e sempre com comentários engraçadinhos, o que o torna irritante. Por outro lado, Katie revela-se um pouco mais sensata e responsável, embora acate praticamente todas as decisões do companheiro, mesmo que estas sejam as mais equivocadas possíveis. O certo é que Katie e Micah são personagens imbecis: por muito que tentem, eles merecem passar por aquele inferno. Depois de assistirem a eventos altamente improváveis – e de terem tudo filmado – eles fazem o que qualquer pessoa sã faria: mantêm-se em casa e mal pedem ajuda a terceiros (o único disposto a ajudar, o médium, revela-se um inútil naquela que é a cena mais patética do filme, onde Micah quase implora pelo seu auxílio quando, segundos antes, gozava com a sua presença).
Ainda assim, o filme assusta quando acerta em cheio, o que me faz lamentar o potencial perdido de uma obra assim. Situando as cenas mais tensas no quarto do casal quando estes dormem (logo, quando estão mais desprotegidos), Peli faz com que o espectador fique tenso por ter a grande ideia de, basicamente, dividir estes planos em duas metades distintas, onde a direita inclui o casal a dormir e a da esquerda tem a porta do quarto aberta e o corredor ao fundo envolto em sombras. Esta divisão faz com o que espectador fique alerta de onde e como o perigo irá aparecer e a estar atento a todo e qualquer movimento. Claro que o impacto destas sequências é diluído pela sua curta duração e com a consequente discussão no dia seguinte, sem resultados práticos. De qualquer forma, há duas ou três cenas aterradoras, com destaque para a sequência do sótão e quando uma das personagens é arrastada pela entidade.
Porém, o que prejudica gravemente o resultado de Actividade Paranormal é o seu desenlace: sem criar uma tensão crescente que leve o espectador a colar na cadeira, ele é anti-climático ao extremo e, pior de tudo, rendido aos piores clichés de Hollywood, como comprovam os últimos segundos. Ao contrário dos minutos finais de O Projecto Balir Witch, Cloverfield ou [REC] que rebentavam com os nervos do público, o filme atira o espectador para fora de sala com uma sensação de desapontamento e tempo perdido. Já aqui manifestei por diversas vezes que ter muitos milhões não significa ter um bom filme, como se pode ver pelas bostas que todos os anos invadem as salas de cinema. Pois bem, o inverso também se aplica: não basta ter uma boa ideia para se fazer um filme de sucesso.
Basta um bom departamento de marketing.
Qualidade da banha: 8/20