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The Kids Are All Right (2010)
Realização: Lisa Cholodenko
Argumento: Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg
Elenco: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson
Qualidade da banha:
Há coisas que não se entendem: certos filmes chegam até nós com completamente sovados pela crítica e não se percebe o porquê de tanto vexame; outros aparecem embalados por elogios e aplausos sem que vislumbremos motivos para tal. Os Míudos Estão Bem pertence a esta última categoria.
Nic e Jules são um casal lésbico com dois filhos adolescentes, Joni (de Joni Mitchell) e Laser (do raio). À medida que Joni se prepara para partir para a Universidade, Laser, com 15 anos, pressiona-a para que lhe faça um grande favor: que o ajude a encontrar o pai biológico de ambos – foram concebidos através de inseminação artificial, embora ele seja filho de Jules e ela de Nic. Embora algo contrariada, Joni honra o pedido do irmão e consegue entrar em contacto com Paul, um bem-disposto empresário da restauração. Este reencontro despoletará uma verdadeira crise no outrora saudável ambiente familiar.
Destaque no Festival de Sundance em 2010, Os Miúdos Estão Bem é cinema independente dos pés à cabeça: apesar de abordar uma temática que não traz nada de novo (o conceito de família e a dinâmica dos seus integrantes), a realizadora Lisa Cholodenko pontua as suas personagens com características peculiares. No entanto, estes detalhes têm como único propósito tornar o filme mais sofisticado na sua proposta, já que falham em tornar aqueles seres mais interessantes – e o facto de percebermos esta obviedade do argumento revela não só falta de sensibilidade na condução da narrativa, mas também um certo preconceito. Paul, por exemplo, é convenientemente dono de uma plantação de alimentos orgânicos e namora com uma afro-americana.
Sem ter a algo a que se agarrar, Cholodenko encena um conflito dramático de maneira artificial com o envolvimento gratuito entre Jules e Paul, já que o aparecimento do pai biológico não parece afectar a relação que Joni e Laser têm com as mães. Desta forma, cabe ao excelente elenco carregar o filme às costas e é por eles que Os Miúdos Estão Bem não se torna um desastre total: Annette Bening consegue salvar a caracterização falha de Nic como mulher ansiosa sem razão aparente, recorrendo a uma postura de "lésbica masculinizada" sem resvalar para a caricatura, assim como Julianne Moore mostra-se insegura e carente (também sem motivo aparente) como a típica figura feminina obrigada a abandonar a carreira em prol dos filhos, enquanto Mark Rufallo confere simpatia e segurança a Paul. Que estas personagens soem autênticas de algum modo é por que têm um talentoso elenco a dar-lhes corpo e alma.
Longe de também poder ser classificado como comédia, Os Miúdos Estão Bem ainda perde um tempo considerável com os amigos de Joni e Laser sem que estes exerçam função alguma na história. Para quê mostrar Laser a consumir drogas com o seu amigo problemático se isto não será abordado adiante? Para mostrar como ele é "atípico"? É a forma como estes assuntos são atirados e depois largados na narrativa que enerva no filme, como se quisesse chamar a atenção à força toda – e, a bem da verdade, há apenas um momento genuinamente sensível e hilariante na mesma medida em toda a projecção: quando Nic e Jules explicam a Laser o porquê de preferirem filmes pornográficos com homossexuais do sexo masculino.
Surpreendente vencedor do Globo de Ouro de Melhor Comédia ou Musical (o que diz muito do prémio e não do filme), Os Miúdos Estão Bem ainda falha ao concluir de maneira pouco satisfatória os "conflitos" criados anteriormente. Numa obra que tenta a todo o custo mostrar-se pouco convencional e inteligente, nada pior do que acabar com um lugar-comum covarde e deselegante.