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The Muppets (2011)
Realização: James Bobin
Argumento: Jason Segel, Nicholas Stoller
Elenco: Jason Segel, Amy Adams, Chris Cooper, Rashida Jones, Jack Black
Vozes: Steve Whitmire, Eric Jacobson, Dave Goelz, Bill Barretta, Matt Vogel, Peter Linz
Qualidade da banha:
É provável que as gerações mais novas não se lembrem dos Marretas, criação de Jim Henson e sucesso nos anos 70 e 80. Mesmo eu, do alto dos meus 26 anos, tenho vagas recordações do programa de televisão e das esporádicas longas-metragens que chegavam por cá (uma curiosidade que acabou por ser saciada graças às maravilhas da Internet). Longe dos ecrãs desde 1999, os Marretas voltam em grande estilo numa comédia capaz de cativar não só adultos que embarcarão nesta aventura por pura nostalgia, mas também os mais novos que têm aqui a oportunidade de (re)descobrir tudo aquilo que os fez (e faz) famosos.
Escrito pelo ator Jason Segel ao lado do argumentista/realizador Nicholas Stoller, Os Marretas segue Walter (voz de Peter Linz), um fantoche que vive com Gary (Segel), o seu irmão humano, na pequena cidade de Smalltown. Desde que se conhecem que são grandes admiradores dos Marretas, que ambos sentem ser uma espécie de alter-egos de si próprios. Os dois, juntamente com Mary (Adams), namorada de Gary, viajam para Los Angeles a fim de visitar o estúdio que albergava a produção do programa televisivo, onde acabam por saber dos planos do vilão milionário Richman (Cooper), que pretende destruir o local para explorar petróleo. Alertado pelo trio, o sapo Cocas decide reunir os velhos amigos para um último espetáculo com o objetivo de arrecadar os dez milhões de dólares necessários para salvar o estúdio.
Apostando num humor leve e inocente, Os Marretas conquista o espectador com as suas tiradas depreciativas e metalinguísticas: para acelerar a narrativa, as personagens sugerem que se inclua uma montagem ou que se faça uma “viagem de mapa”, onde o trajeto é delineado por vários países até ao destino final (e a chegada do grupo a França é genial). É este humor desconcertante que faz jus à irreverência dos bonecos em piadas e trocadilhos vistos em momentos como aquele em que alguém questiona o orçamento da produção ou aquele em que uma executiva diz que vai ser “direta” e alguém, não gostando do que ouviu, responde que ela podia ser “mais curva”.
Recheado de participações especiais de gente conhecida (tal como na série televisiva) e referências à cultura pop, Os Marretas usa-as não só como mera curiosidade, mas também organicamente à história: o facto da secretária de Miss Piggy ser Emily Blunt, que fazia o mesmo trabalho para Meryl Streep em O Diabo Veste Prada, projeta imediatamente o carácter vaidoso e altivo da porquinha em relação aos demais. Por outro lado, o argumento traz uma reminiscência do bromance tão caro às películas de Judd Apatow (com quem Segel já trabalhou) na relação “fraternal” entre Gary e Walter e revela uma moral anticorporativista a favor da individualidade que só a mentalidade retrógrada da execrável FOX News podia condenar.
Ambientado num universo que mistura aspetos contemporâneos com outros saídos dos anos 50 (como a cidadezinha de Smalltown), Os Marretas ainda se dá ao luxo de ir na contramão de tudo o que é feito em Hollywood recentemente. Não há cá CGI e tentativas de modernizar os bonecos: planos fechados que descortinam apenas a parte de cima das marionetas, cujos movimentos soam adequadamente “falsos”, numa tentativa bem-sucedida de manter a técnica o mais artesanal possível e, por isso mesmo, charmosa e nostálgica. Além disso, os números musicais mantêm um equilíbrio notável entre o comovente e o ridículo, com o destaque a ir para Man or Muppet (nomeada ao Oscar), onde um ator de comédia conhecidíssimo (que não vou revelar) faz a contraparte de Walter na absoluta perfeição.
Beneficiado por um elenco notável (Chris Cooper surpreende por se entregar à comédia e Amy Adams é sempre uma graça) e por uma energia aparentemente inesgotável, Os Marretas insufla vida nova a uma franquia poeirenta e prova que Cocas, Piggy, Fozzie, Gonzo, Animal e companhia ainda têm lugar no panorama atual dos filmes para miúdos e, especialmente, graúdos. Afinal, ainda há muita música para tocar e muitas luzes para ligar.