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Muita parra e pouca uva

por Antero, em 10.10.08

 

Olhos de Lince é um daqueles filmes formatadinhos que não deixa nada ao acaso: a fórmula está mais que gasta, mas ainda agrada ao público; tem muita correria, mas não tem grande conteúdo; tem bons actores, mas personagens rasas; tem uma história que se quer trepidante e pertinente, mas acaba por descambar na estupidez. Nota-se perfeitamente a mão dos produtores e menos a marca do realizador (geralmente, o argumentista não é para aqui chamado). E como um dos produtores executivos dá pelo nome de Steven Spielberg, que antes era sinónimo de entretenimento de primeira água e agora é só desconfianças, já podemos esperar muita coisa, como a inclusão do seu protegido Shia LaBeouf e uma história mastigadinha e cheia de acção, numa tentativa clara (e infrutífera) de esconder um argumento falho e repleto de buracos.

 

Situado em Janeiro de 2009 para evitar qualquer relação com a administração Bush apenas porque sim, Olhos de Lince traz Jerry Shaw, um jovem que certo dia recebe a notícia que o seu irmão gémeo, com o qual já mal tinha contacto, morreu e, após ir ao funeral, chega a casa e é preso sob acusações de terrorismo. A partir daí, ele é auxiliado na sua fuga por uma voz no telefone que o coloca no mesmo veículo que Rachel (Michelle Monaghan), que também foi envolvida no assunto sem perceber o que se passa para salvar a vida do seu filho. Ambos são perseguidos pelas autoridades e ajudados pela Voz que parece ter uma missão para ambos. Assim como as personagens, o espectador é deixado completamente às cegas sobre o que está a acontecer na maior parte do tempo, o que é uma decisão acertada conseguindo até camuflar algumas soluções mais absurdas da história até então (como a fuga de Jerry, a primeira perseguição de carros e a cena dos cabos eléctricos).

 

Por outro lado, sempre que o argumento tenta desenvolver o clima de conspiração, começam a pipocar os buracos do mesmo e, a partir do momento em que a tal Voz se revela e quais as suas intenções, o filme oscila entre o estúpido e o insultuoso para a inteligência do espectador. O terceiro acto da história é quase um desastre absoluto: até aí, a Voz era algo omnipresente e com poderes ilimitados (ou seja, misteriosa e temível); depois só podemos concluir que a mesma é extremamente burra, o que acaba por atestar o filme como algo sem a mínima lógica. Basta o espectador parar para pensar um pouco e os defeitos ficam logo escancarados à sua frente, já para não falar nos elementos copiados homenageados de outros filmes superiores (2001 - Odisséia no Espaço; Os Homens do Presidente; Eu, Robot; O Homem que Sabia Demais - esta então é escandalosa!).

 

Porém, em abono da verdade, há que dar mérito a D. J. Caruso que mantém a narrativa sempre em movimento e com um constante clima de urgência de modo a que o espectador não pare um segundo (e daí repense tudo o que viu e está o caldo entornado). Os actores estão também bastante carismáticos e se o espectador atura alguns exageros e palhaçadas da trama, é porque os mesmos se mostram bastante sérios em cena. Resumindo e concluindo: Olhos de Lince é um thriller com reminiscências de Hitchcock (o tema do indivíduo perseguido e falsamente acusado) feito para as plateias mais jovens com um olho nos bolsos e carteiras destes. Duas horas bem passadas e um divertimento esquecível mal termina.

 

Qualidade da banha: 9/20

 

publicado às 16:50


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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