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Tony! Tony! Tony!

por Antero, em 01.05.10


Há dois anos, a Marvel Studios firmou-se como produtora independente com o lançamento deHomem de Ferro, um sucesso de público e crítica que permitiu que a Marvel Comics começasse a apostar nos nomes da casa para desenvolver obras com total controlo sobre elas (as franquias Homem-Aranha e X-Men são produzidas pela Sony e pela Twentieth Century Fox, respectivamente). Recrutando um realizador sem créditos firmados e um talentoso protagonista ainda a retomar o bom caminho da fama, a Marvel fez uma aposta de risco elevado que se revelou uma tremenda vitória e lança agora a sequela. As notícias são reconfortantes: apesar de não estar ao nível do primeiro filme, Homem de Ferro 2 é um entretenimento competente e uma digna continuação da história iniciada anteriormente.

 

Ao final de Homem de Ferro, Tony Stark revelava ao mundo que era o indivíduo por trás da armadura e, numa continuação directa dos eventos anteriores, o Governo norte-americano pretende apropriar-se da sua tecnologia por questões de segurança nacional, algo que Stark se opõe veemente, encontrando concorrência do industrial Justin Hammer. É neste contexto que surge Ivan Vanko, um inventor russo que desenvolveu uma arma que consiste num reactor central com extensões (chicotes) de energia eléctrica com base nos protótipos produzidos pelo seu pai e por Howard Stark. Ao mesmo tempo, Tony Stark tem de lidar com o aumento do nível de toxidade no seu sangue devido ao constante recurso ao reactor que o mantém vivo, enquanto tenta administrar a sua empresa ao lado de Pepper Potts e gerir a sua vida de figura pública numa mega-feira em honra do seu pai. Isto quando não discute com o seu amigo James Rhodey ou entra em cena a sua nova assistente, Natalie Rushman, e...

 

...já deu perceber que Homem de Ferro 2 conta com várias narrativas paralelas que se vão encontrando ao longo da projecção. No entanto, ao contrário do que acontecia em Homem-Aranha 3 (um filme que gosto cada vez menos com o passar do tempo), o facto de haver mais personagens e numerosas histórias para abordar não significa que a fluidez fique comprometida, embora, aqui e ali, o filme avance aos repelões (como na inconsistência da passagem do tempo - eventos que levariam meses parecem ocorrer em questão de dias - ou na solução de um enigma que recorre a uma mensagem pré-gravada, no melhor estilo O Código Da Vinci). Comprometida fica, isso sim, o desenvolvimento das personagens, principalmente as novas adições. Scarlett Johansson pouco pode fazer com o pouco tempo de antena que tem além de desfilar o seu corpo escultural, ao passo que Sam Rockwell compõe Hammer como um vilão caricato movido pelos interesses económicos e Mickey Rourke impõe todo o seu físico, as inúmeras tatuagens e um sotaque carregado em Ivan Vanko, sem conseguir distingui-los de outros tantos vilões sem expressão.

 

Enquanto isso, as personagens que já conhecemos são mais exploradas mediante as relações que vimos estabelecidas no filme anterior: Stark e Rhodey (agora interpretado pelo óptimo Don Cheadle), apesar de estarem em campos opostos, ampliam a sua camaradagem e respeito mútuo que, ainda assim, poderão não sobreviver à intransigência do primeiro em ceder a sua tecnologia, ao mesmo tempo que Pepper Potts surge mais confiante como posto de comando das empresas de Stark (e da sua vida pessoal) e sem se render ao feitio do milionário. Stark, por outro lado, mantém toda a aura de anti-herói: arrogante, boémio e deslumbrado com o seu génio e o seu império, ele tinha tudo para ser detestável, algo que não acontece devido ao talento e inteligência de Robert Downey Jr. que agarra (novamente) a personagem com unhas e dentes, destilando carisma e confiança e que, debaixo daquela capa de egoísmo, mora um ser bondoso. Neste aspecto, Homem de Ferro 2 repete a mesma receita que fez do anterior um sucesso, sem deixar de lado os excelentes efeitos especiais que, mais uma vez, não surgem gratuitamente na narrativa.

 

Por outro lado, há que afirmar que as sequências de acção não têm a frescura anterior: poucos intensas e relativamente curtas, a única que escapa é a batalha final na Stark Expo, apesar do combate com Whiplash no Mónaco e no desfecho do filme serem decepcionantes (o primeiro nem parece ser levado a sério; o segundo é curtíssimo e frustrante). Recheado do bom humor que já pontuava o original, Homem de Ferro 2 ainda conta com imensas referências a outros heróis da Marvel e prepara terreno para o vindouro filme dos Vingadores (há uma cena após os créditos que remete a um certo deus nórdico) e, ainda que não esteja à altura da surpresa que foi o anterior, tem motivos mais do que suficientes para uma desejada terceira parte. Desde que Tony Stark mantenha a boa disposição, não vejo como esta saga possa falhar.

 

Qualidade da banha: 13/20

publicado às 00:20

O combate de uma vida

por Antero, em 01.03.09

 

Mickey Rourke é um actor que atingiu a fama nos anos 80, com filmes como O Ano do Dragão, 9 Semanas e Meia e Nas Portas do Inferno (que é imperdível, quanto mais não seja pela fabulosa reviravolta que encerra o filme). Elogiado pelo seu talento e presença em cena, ele decidiu mandar isso tudo às urtigas e enveredou por uma carreira de boxeur nos anos 90. Quando decidiu voltar a actuar, Hollywood foi implacável pelo seu comportamento e fama de arruaceiro e Rourke afundou-se em filmes sem expressão, daqueles que ficam na prateleira dos videoclubes a acumular pó. Isto até voltar a ser contratado como secundário de luxo por gente como Tony Scott e Robert Rodriguez, que viam nele a tal figura de duro ideal para personagens do género (como pode ser observado na personagem de Marv em Sin City – A Cidade do Pecado).

 

Agora reparem: Randy “The Ram” Robinson era um wrestler famoso pelos seus espectáculos nos anos 80, mas que actualmente se encontra na miséria, dedicando-se a fazer espectáculos quase amadores para plateias que mal se lembram dele. As suas finanças estão arruinadas, ele não tem família, a sua fama mais não é que a frustração de um passado glorioso e longínquo, e mesmo assim ele dedica-se à vida de wrestler porque aquilo é a sua vida e a única coisa que ele sabe e tem gosto em fazer. Isto até ter um enfarte após um combate mais intenso, o que o impede de continuar a praticar esse desporto e o faz reavaliar toda a sua trajectória. O que é que The Ram e Rourke têm em comum? Para além do percurso de ambos em que qualquer semelhança não é pura coincidência, o segundo interpreta o primeiro, o que torna O Wrestler num quase exercício de metalinguagem sobre a carreira do actor e da personagem de ficção. Só isto bastaria para chamar a atenção do público para este filme.

 

Mas não é só. O filme de Darren Aronofsky tem tantos pontos positivos que é difícil saber por onde começar. Ou melhor, nem tanto. Basta começar pela mais que elogiada interpretação de Mickey Rourke, que torna The Ram num indivíduo amargurado pelas escolhas que fez no passado, mas que encara o que faz com tamanho profissionalismo e dedicação, que é impossível para o público não se identificar imediatamente com ele. Ele não é uma pessoa irascível à procura de redenção (numa solução que Hollywood nunca dispensa): ele trata os seus companheiros com simpatia e respeito, como se estes fossem a sua verdadeira família; ele tenta reaproximar-se da filha adolescente com quem perdeu contacto (e a confissão e admissão de culpa que ele lhe faz à beira-mar é extremamente comovente); e quando Randy se vê atrás de um balcão para ganhar algum sustento, ele tenta tirar o máximo prazer da situação, embora se sinta diminuído e saudoso da emoção dos ringues. Acima de tudo, Randy tem um carácter autodestrutivo que o levou até àquela situação, carácter esse que vislumbramos quando ele trata realmente mal a stripper Cassidy, a sua única amiga (maravilhosa Marisa Tomei). Rourke, tal como Randy nos ringues, entrega-se de tal maneira ao papel, que até chegou a cortar-se de propósito numa das cenas mais chocantes do filme, depositando todo o peso do seu trajecto cinematográfico no papel.

 

Darren Aronofsky filma tudo com a câmara na mão e a opção revela-se acertada: em vez de alienar o público da história, ele torna-o mais próximo das personagens e encontra belas rimas visuais, como no momento em que Randy se prepara para iniciar o trabalho no talho e a câmara acompanha-o por trás com o som de uma plateia num pavilhão antes do espectáculo. Aliás, Aronofsky consegue a verdadeira proeza (pelo menos, para mim) de manter o interesse nos combates encenados do wrestling, não nos poupando dos horrores a que os lutadores se sujeitam em prol do espectáculo (a parte dos agrafos é terrível) e a sua câmara trata a modalidade com imensa admiração, como se aquela fosse a percepção de Randy sobre o seu triste quotidiano.

 

O cuidadoso argumento de Robert Siegel trata ainda a stripper Cassidy como uma mulher real, autêntica. Tal como Randy, ela tem o seu palco, mas devido ao peso dos anos, começa a ficar para trás na preferência dos clientes. Tal como o amigo, talvez seja chegada a hora de deixar a "ribalta" e Tomei retrata-a com extrema sensibilidade. Não admira que uma das melhores cenas do filme seja aquela em que Randy se solta no café e convida-a a cantar e dançar em público, como se ambos partilhassem as mesmas tristezas e merecessem extravasá-las (e, de certa forma, até que partilham). Do mesmo modo que Randy decide abandonar um palco, logo encontra outro mais particular para dar um sentido à sua vida: reatar a relação com a sua filha Stephanie que, para ele, se torna a verdadeira tábua de salvação da sua rotina sem os combates.

 

Duro e intenso, O Wrestler é um filme que conta com interpretações fabulosas e um protagonista caído em desgraça que tenta recuperar a sua dignidade moral, que até pode vir das pequenas coisas, como os agradecimentos de clientes anónimos que se cruzam com ele. O filme ainda conta com mais um ponto a seu favor que é saber acabar no momento certo, com aquele salto de Randy para a posteridade. A sua dignidade acabou por ser o seu verdadeiro - e mais intenso - combate. Palmas para ele.

 

Qualidade da banha: 18/20

 

publicado às 21:33


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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