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Sabendo a postura dos executivos de Hollywood, parece impossível de acreditar que a magnífica saga Terminator esteve parada longos 12 anos. E devia ter ficado por aí: apesar de ser um filme de acção razoável, se bem que descartável no cômputo da narrativa, T3: A Ascensão das Máquinas metia os pés pelas mãos sempre que o assunto era viagens no tempo. Mas, uma vez reaberto o filião, nada como continuar a fazer render o peixe e assim chegamos ao recente Exterminador Implacável: A Salvação, realizado por McG (dos "estupendos" Anjos de Charlie) que tenta dar um novo fôlego à saga, situando-a no futuro após os acontecimentos conhecidos como o Dia do Julgamento. Porém, não se deixem enganar pelo título, uma vez que o filme, de salvação, tem muito pouco. Está mais para Exterminador Implacável: A Escorregadela.
Em 2003, Marcus Wright (Sam Worthington) encontra-se prestes a ser executado por ter estado envolvido na morte do seu irmão e de alguns policias. Abordado pela doente Dra. Kogan (Helena Bonham Carter), Wright aceita doar o seu corpo para a Cyberdine Systems para complexas experiências, e acaba por acordar já em 2018, anos depois do sistema Skynet ter adquirido consciência e matando quase todos os seres humanos (que, segundo o filme anterior, ocorreu em 2003, adiando a data inicialmente estabelecida em 1997). Confuso, ele encontra o jovem Kyle Reese, que é perseguido por estar destinado a se tornar o pai de John Connor (Christian Bale), o líder da resistência humana.
Líder... apelidar John Connor de líder acaba por ser uma piada de mau gosto. Com discursos patéticos, sem carisma, com cara de duro e constantemente aos berros, este John Connor é muito mal desenvolvido, descartando um dos pontos onde até T3 se evidenciou: o legado que Connor carrega e a missão que deve cumprir. Aqui temos um soldado que se rebela com os seus superiores (não falta nem a batida cena do "estás dispensado"), mas o porquê de ele granjear tantos seguidores é uma incógnita. Tudo isto poderia ser minimizado com a actuação de Bale, mas até esta acaba por contribuir para o desastre. O que ainda equilibra a balança é Worthington, mas falar da sua interpretação acaba por ser spoiler (se bem que qualquer um com dois dedos de testa descobre logo tudo). E como A Salvação acaba por lhe dar grande destaque, o filme ganha pontos aí.
Que logo os perde ao focar-se demasiado na acção, revelando a ausência de um argumento que sustente tudo de forma coesa. Aqui o que interessa é saltar de uma cena de acção para outra, mesmo que esta surja desnecessária e/ou sem o dinamismo que James Cameron imprimiu nos dois primeiros filmes (porém, a bem da verdade, há que referir uma cena em que McG se supera e estou a falar do longo plano sequência do helicóptero no início do filme. Mas a fonte de boas ideias esgota-se por aí.). "Emprestando" elementos de produções como Transformers, Guerra dos Mundos, O Dia da Independência, Mad Max e, claro, dos filmes anteriores, A Salvação acaba por se tornar uma obra sem identidade, sem algo de realmente inovador. A não ser que considerem variedades de robots (aquáticos, aéreos, híbridos,...) uma inovação, mas eu acho que é mais para vender bonecos.
Sem conseguir instaurar um clima de tensão que nos leve a desesperar pelos heróis, A Salvação ainda comete o pecado de amenizar (com vista a classificação etária) o "comportamento" dos Terminators, que nunca chegam a ser aquelas máquinas letais que matam sem dó nem piedade, chegando ao cúmulo de lutarem "mano-a-mano" com os humanos (como se tal fosse possível). Além disso, o filme é recheado de bons efeitos especiais, muita barulheira e várias explosões que, além de não conseguirem esconder um argumento robótico e previsível, ainda soam como um massacre aos sentidos que Michael Bay não desdenharia em apadrinhar.
Com tudo isto, o filme ainda dá uns valentes tiros no pé, como por exemplo o facto de Reese conduzir bem um veículo depois de afirmar que nunca conduzira na vida. Ou o facto da Skynet não matar Reese quando o tem preso. Ou o helicóptero que escapa à vontade de uma enorme explosão que, supostamente, deveria ser nuclear. Desta forma, apesar de não ferir a lógica dos filmes anteriores (algo que T3 não conseguiu), Exterminador Implacável: A Salvação acaba por não acrescentar nada ao que já conhecíamos. E se esta constatação vem embrulhada num pacote onde nada faz muito sentido, podemos ver que, no nosso mundo, as máquinas já se revoltaram há que tempos. Ou seja, o dinheiro vence sempre.
Qualidade da banha: 7/20