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Thor: O Mundo das Trevas

por Antero, em 05.11.13

 

Thor: The Dark World (2013)

Realização: Alan Taylor

Argumento: Christopher Yost, Christopher Markus, Stephen McFeely

Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård, Idris Elba, Christopher Eccleston, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Kat Dennings, Ray Stevenson, Zachary Levi, Tadanobu Asano, Jaimie Alexander, Rene Russo

 

Qualidade da banha:

 

Facto: quem não gostou de Homem de Ferro 3 provavelmente também não irá gostar de Thor: O Mundo das Trevas. Ambos sofrem do mesmo mal: excesso de piadinhas, história superficial e genérica, festival de efeitos especiais como se isso sustentasse qualquer narrativa. No entanto, eu que até gostei moderadamente da terceira aventura de Tony Stark vejo-me na posição de ter de cascar forte e feio no segundo capítulo do Deus do Trovão. Aqui não há Robert Downey Jr. a salvar a honra do convento ou boas ideias espalhadas aqui e ali (como a revelação sobre a natureza de Mandarim), embora o resultado seja praticamente o mesmo: uma oportunidade falhada.

 

Realizado por Alan Taylor (que comandou alguns episódios da chatíssima série Game of Thrones), O Mundo das Trevas traz Thor (Hemsworth) a corrigir os problemas que se levantaram nos Nove Reinos depois dos eventos de Os Vingadores. De volta a Asgard onde deverá ocupar o lugar de Odin (Hopkins) no trono, Thor não consegue esquecer Jane Foster (Portman) que ainda o espera passado tanto tempo. Com o aproximar de um raro alinhamento dos Nove Reinos, vários portais são abertos que levarão a que Jane tome contacto com uma força destrutiva chamada Aether e que desperta o moribundo Malekith (Eccleston), cuja missão é apoderar-se desse elemento e destruir o universo.

 

Escrito por três pessoas (sendo que mais duas ajudaram a elaborar a história), Thor: O Mundo das Trevas serve mais como epílogo de Os Vingadores visto que perde imenso tempo em explicações sobre o que aconteceu ao protagonista após os eventos desse filme e a fazer várias referências ao universo da Marvel. O problema é que estas menções são convenientemente esquecidas para explicar certas situações: ora, porque é que os outros heróis não auxiliam Thor já que o universo que está em causa? Porque a SHIELD não intervém para deter a destruição de Londres? E como a ponte Bifrost foi reconstruída após o final do filme anterior? Em vez disso, o filme prefere pôr Loki (Hiddleston) a incorporar o Capitão América apenas para arrancar mais gargalhadas.

 

Prejudicada pelo tremendo sucesso de Os Vingadores, a Marvel vê-se numa encruzilhada artística: há que dar ameaças maiores às aventuras a solo dos seus heróis, mas sem que haja o perigo de alterar o rumo dos acontecimentos gerais para que todos permaneçam essencialmente os mesmos quando atenderem ao toque de recolher de Nick Fury. Desta forma, os filmes da Marvel arriscam-se a tornarem-se peças sem identidade, meros objetos de uma linha de produção que trabalha para manter o interesse do público aceso. Não há o mínimo de tensão ou sensação de perigo em O Mundo das Trevas - mesmo quando uma ação violenta é cometida sobre Thor, percebe-se na hora que o filme arranjará maneira de reverter as suas consequências.

 

Incrivelmente insípido para uma obra de fantasia, O Mundo das Trevas não consegue aproveitar que o seu universo já foi estabelecido no divertido e equilibrado filme anterior e, apesar de contar aventuras que se passam em mundos fantasiosos, soa terrivelmente derivativo. De Star Wars, O Senhor dos Anéis, Alien/Prometheus e até o primeiro Tron (!), a película suga vários elementos para que a identificação seja rápida e fácil mesmo que estas não contribuam para mais nada que não a constatação da ausência de vitalidade da narrativa. Até uma ideia inventiva como a convergência dos Reinos e os saltos entre vários mundos durante uma batalha é sabotada porque os cenários visitados limitam-se a Londres, Asgard, o tal Mundo das Trevas e as montanhas de gelo vistas no primeiro filme.

 

De resto, é uma benção que Loki traga alguma vida à narrativa (embora não traga nada de novo) porque o vilão com as suas motivações rasas passa completamente ao lado. Tom Hiddleston, aliás, é o único do numeroso elenco que consegue tirar proveito do relativo pouco tempo de antena a que tem direito, já que os nomes sonantes vistos na relação de atores no início deste texto não fazem mais do que figuração de luxo. Entretanto, a química entre Natalie Portman e Chris Hemsworth é praticamente nula e é uma incógnita como a insossa Jane Foster arranca tantos suspiros do Deus do Trovão. Era preferível, portanto, acompanhá-lo ao lado da guerreira Sif (Alexander) e, como esta ainda viverá uns bons milénios em comparação com a humana Jane, é esperar que a terráquea morra de velhice para a deusa se fazer ao piso.

 

Com bons efeitos especiais e um design de produção majestoso (menos mal), Thor: O Mundo das Trevas serve como paliativo para a expectativa para a segunda reunião dos Vingadores, mas é perfeitamente dispensável.

 

PS: há uma cena durante os créditos finais que está relacionada com o próximo filme da Marvel, Guardiões da Galáxia, e ainda outra no final que encerra parte da história.

 

publicado às 18:42

Capitão América: O Primeiro Vingador

por Antero, em 04.08.11

 

Captain America: The First Avenger (2011)

Realização: Joe Johnston

Argumento: Christopher Markus, Stephen McFeely

Elenco: Chris Evans, Tommy Lee Jones, Hayley Atwell, Hugo Weaving, Toby Jones, Dominic Cooper, Stanley Tucci
 

Qualidade da banha:

 

Com o sentimento actual anti-EUA, não admira que a Marvel Studios tenha acrescentado o subtítulo de O Primeiro Vingador, como se descaradamente quisesse dizer que o filme dedicado ao Capitão América prepara o terreno para o mega-evento do próximo ano, Os Vingadores (embora, a rigor, o primeiro deles seja Tony Stark, o Homem de Ferro). Esta constatação ganha mais força lá para o final da projecção, uma vez que, no restante do tempo, o filme dedica-se a uma convencional história de origem sobre o super-herói – e se isto é algo positivo a apontar, também não deixa de ser verdade que Capitão América não se beneficia muito como narrativa "isolada" e empalidece em relação aos filmes dos seus colegas (Homem de Ferro,O Incrível Hulk,Thor).

 

Iniciando-se na actualidade com a descoberta do corpo congelado do Capitão América, o argumento logo salta para a década de 40 e para uns Estados Unidos mergulhados na Segunda Guerra Mundial. Steve Rogers (Evans) é um indivíduo franzino e cheio de problemas de saúde que deseja alistar-se para combater, sendo rejeitado a cada recrutamento. É então que o cientista Abraham Erskine (Tucci) decide dar-lhe uma oportunidade numa experiência que o transformará num “supersoldado” através de um soro que, no passado, gerou o Caveira Vermelha (Weaving). A partir daí, Rogers, já como Capitão América, torna-se um símbolo nacional e passa a ser o principal obstáculo do Caveira e os seus planos devastadores para a humanidade.

 

Um dos problemas de Capitão América reside naquilo que deveria ser um dos destaques: as sequências de acção. Curtas e sem o mínimo de tensão, elas são encenadas por Joe Johnston com uma apatia tremenda, sendo ainda prejudicadas por efeitos especiais irregulares e que abusam do chroma key (em contrapartida, aqueles usados para "emagrecer" Evans são irrepreensíveis). Para piorar, o Caveira Vermelha surge como um vilão lastimável, pesem os esforços de Hugo Weaving em dar-lhe algum carisma – e os seus planos, que incluem a destruição de várias metrópoles, soam ridículos por serem executados durante uma guerra mundial, quando seria mais acertado esperar que os Aliados e os Nazis combatessem entre si até ao limite e só depois atacar em força. No entanto, o que lhe falta em astúcia sobra-lhe em discursos de treta sobre "criar um mundo sem bandeiras" e a sua demarcação com os métodos de Hitler (apesar da ideologia ser praticamente a mesma).

 

Com uma banda sonora irritante e espalhafatosa do antes confiável Alan Silvestri, Capitão América tem uma estrutura previsível à superfície, mas isso não impede que o filme guarde algumas surpresas: quando Rogers transforma-se no "supersoldado", ele não ganha confiança na hora e nem os seus superiores passam a vê-lo como uma mais-valia nos seus objectivos. Em vez disso, o Governo usa-o como propaganda de alistamento, o que dá a justificação perfeita para o uniforme patriótico que a personagem enverga. Idealista e humilde ao extremo, Rogers não sofre uma mudança abrupta com o soro e tem sempre noção de que tem de provar o seu valor – e Chris Evans, tão contestado aquando a sua escolha como protagonista, retrata todas estas facetas de maneira competente e digna.

 

Enquanto isso, a lindíssima Hayley Atwell faz um pequeno milagre com a oficial Peggy Carter, surgindo forte e decidida à sua maneira numa personagem criada apenas para ser o interesse romântico do herói e claramente fora daquele contexto, ao passo que Tommy Lee Jones e Stanley Tucci destacam-se mesmo com pouco tempo de ecrã ao incutir autenticidade aos seus papéis – e é uma pena que o filme não se dedique mais a estas personagens (e ao companheiro do Capitão, Bucky) que certamente teriam mais a acrescentar à trajectória de Rogers do que Howard Stark, que apenas está lá para fazer a ponte entre este filme e Os Vingadores (apesar de, claro, servir como curiosidade para inserir o Capitão naquele universo). E por falar nos Vingadores, usar o Hipercubo (ou Cubo Cósmico) visto em Thor como artefacto místico a recuperar por ambas as facções revela-se como um enorme logro, uma vez que o objecto tem tanto poder que nem sabemos o que ele faz ao certo ou o que acontece no final do filme ao Caveira Vermelha. Até as circunstâncias da hibernação do Capitão são deixadas ao acaso, o que é um erro grave pois foi assim que a narrativa se iniciou.

 

(adenda: eu sei as respostas para estas questões por que sou ávido leitor de comics, mas o filme, como obra autónoma e direccionada para as massas, deveria sustentar-se sozinho.)

 

Mesmo com estes percalços todos, Capitão América revela-se um entretenimento razoável graças ao seu protagonista e à ambientação retro que percorre toda a película. Joe Johnston pode ter realizado algumas porcarias ao longo da sua carreira, mas não esqueçamos que foi o responsável pelo óptimo As Aventuras de Rocketeer, com o qual Capitão América divide algumas semelhanças – e mesmo com o desfecho podre e insípido, resta-nos esperar por Os Vingadores e que este faça jus a toda esta ansiedade construída por cinco longas-metragens.

 

PS: passa o teaser trailer de Os Vingadores no final dos créditos.

 

publicado às 20:02

Thor

por Antero, em 29.04.11

 

Thor (2011)

Realização: Kenneth Branagh

Argumento: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Don Payne, J. Michael Straczynski, Mark Protosevich

Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Colm Feore, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Idris Elba
 

Qualidade da banha:

 

Desde que a editora de comics norte-americana Marvel se decidiu lançar no mercado das longas-metragens (através da sua divisão Marvel Studios), personagens secundárias da casa ganharam a devida atenção do público em geral graças a um tratamento respeitoso para com as mesmas em obras eficientes, de grande escala e com o bónus de estarem subtilmente interligadas. Homem de Ferro1e2ouO Incrível Hulkpodem até não atingir o patamar dos segundos capítulos das trilogias Homem-Aranha e X-Men, porém são filmes inegavelmente divertidos, com as suas próprias virtudes e um sentido de espectáculo que não é tragado pelo espalhafato dos efeitos especiais. Serve isto para dizer que todas estas qualidades se mantêm na adaptação de Thor, herói de origens mitológicas, e que certamente se revelou um desafio para os produtores, uma vez que os anteriores filmes da Marvel estavam calcados no mundo real e esforçavam-se para que tudo soasse o menos absurdo possível. Desafio esse passado com distinção.

 

No mundo de Asgard, Reino dos Deuses, Odin (Hopkins) é um líder respeitado e que tenta manter a todo custo uma trégua diplomática com Jotunheim, lar dos inescrupulosos Gigantes do Gelo, ao mesmo tempo que passa os seus conhecimentos aos filhos, Thor (Hemsworth) e Loki (Hiddleston). É o primeiro que deverá herdar o trono, mas uma acção imprudente deste faz com que a guerra se torne iminente, o que leva Odin a bani-lo para Midgard (o nosso planeta, pois claro), onde deverá aprender a ser humilde e a ser merecedor do perdão do pai. Chegado à Terra, Thor conhece a bela cientista Jane Foster (Portman), vê a sua presença investigada pela agência de espionagem SHIELD (familiar para quem viu Homem de Ferro 2) e terá de reaver o poderoso martelo Mjölnir se quiser deixar de um imortal.

 

Voltando a permitir que a cadeira de realizador seja ocupada por uma escolha inusitada, a Marvel Studios chamou o reputado Kenneth Branagh para o cargo e, mais uma vez, a opção revelou-se acertada. Pouco habituado a filmes de grande escala e com orçamentos inchados, o britânico soube vislumbrar o carácter épico da trajectória de Thor, bem como uma reminiscência shakespeariana do núcleo familiar da personagem. Desta forma, a rivalidade entre o Deus do Trovão e Loki e a inveja que ressente do irmão não surgem como elementos para traçá-los facilmente como "herói" e "vilão": há características e acções que pontuam as personalidades de ambos como a cumplicidade e o respeito que nutrem por Odin. Enquanto Thor é retratado como um líder valoroso (ainda que arrogante) e Loki com uma vilania mais do que apropriada, nota-se sempre uma preocupação mútua, seja por anos de convivência fraternal ou receio do que o rival seja capaz de fazer para travar os intentos do outro – o que, obviamente, ajuda a aprofundar o relacionamento entre ambos.

 

Não que isto torne Thor numa produção excessivamente sombria: Branagh conduz a narrativa com leveza, recheando-a de situações de bom humor, nomeadamente nas cenas passadas no Novo México quando o herói perde os seus poderes. Irreverente na forma como explora ao máximo o conceito de um ex-deus exilado no meio de mortais (o contraste entre a sua postura de divindade e o que o rodeia é hilariante), o filme oferece-lhe um interesse romântico que, como é da praxe, o ajudará a enfrentar os seus medos e a perceber a sua condição – e se há coisa na qual o filme falha terrivelmente é no desenvolvimento desta relação que, além de rápido demais, provém de momentos clichés como conversas à volta da fogueira e (não estou a brincar) troca de sedutores olhares enquanto preparam o pequeno-almoço. Por muita química que Natalie Portman tenha com Hemsworth (e tem, além de estar lindíssima), não há talento que resista a tamanha lamechice. No resto do elenco, a produção acerta em cheio: Hopkins injecta imensa nobreza e imponência a Odin, enquanto Hemsworth revela-se uma grata surpresa ao encarnar as múltiplas facetas de Thor (a altivez, a irresponsabilidade, a inadequação e, consequentemente, a sobriedade de alguém que foi rebaixado), assim como Tom Hiddleston investe na malícia e astúcia de Loki para compor um vilão a ter em conta.

 

Auxiliado por um design de produção majestoso e óptimos efeitos especiais (as visões da Ponte do Arco-Íris e dos aposentos em Asgard são de tirar o fôlego), Thor contrapõe a magnificência de Asgard aos cenários mais secos e sem vida dos desertos do Novo México, numa demonstração eficaz da dicotomia entre o mundo dos mortais e dos deuses – e eu quase que aposto que, dos cinco autores da história, as sequências do exílio devem ter tido mão de J. Michael Straczynski, uma vez que são claramente inspiradas pelas edições escritas por este para a revista da personagem (e, não por acaso, uma das melhores fases da mesma). No que toca à acção, o filme não desaponta: as batalhas e as cenas de destruição são grandiosas e espectaculares, fazendo uso das várias capacidades dos intervenientes (eu simplesmente pirei com o rodopio do martelo, um movimento de combate típico do herói na banda desenhada).

 

Conseguindo ainda incorporar elementos da vindoura produção dos Vingadores de maneira mais orgânica do que aquela feita em Homem de Ferro 2 (atenção a um certo arqueiro que aparece a determinada altura), Thor é bem sucedido ao apresentar o Deus do Trovão a uma nova geração de espectadores, numa película que equilibra competentemente as suas partes mais místicas com uma ideologia mais "realista" que vem a ser seguida pelas obras da Marvel Studios. Num filme que tinha tudo para soar ridículo ou como uma cópia mal feita d' O Senhor dos Anéis, é agradável perceber que Thor soube seguir o seu caminho e estabelecer a sua própria identidade, respeitando as suas personagens e o seu universo. E, por arrasto, o público também.

 

PS: há uma cena importante após os créditos.

 

publicado às 02:01

Tony! Tony! Tony!

por Antero, em 01.05.10


Há dois anos, a Marvel Studios firmou-se como produtora independente com o lançamento deHomem de Ferro, um sucesso de público e crítica que permitiu que a Marvel Comics começasse a apostar nos nomes da casa para desenvolver obras com total controlo sobre elas (as franquias Homem-Aranha e X-Men são produzidas pela Sony e pela Twentieth Century Fox, respectivamente). Recrutando um realizador sem créditos firmados e um talentoso protagonista ainda a retomar o bom caminho da fama, a Marvel fez uma aposta de risco elevado que se revelou uma tremenda vitória e lança agora a sequela. As notícias são reconfortantes: apesar de não estar ao nível do primeiro filme, Homem de Ferro 2 é um entretenimento competente e uma digna continuação da história iniciada anteriormente.

 

Ao final de Homem de Ferro, Tony Stark revelava ao mundo que era o indivíduo por trás da armadura e, numa continuação directa dos eventos anteriores, o Governo norte-americano pretende apropriar-se da sua tecnologia por questões de segurança nacional, algo que Stark se opõe veemente, encontrando concorrência do industrial Justin Hammer. É neste contexto que surge Ivan Vanko, um inventor russo que desenvolveu uma arma que consiste num reactor central com extensões (chicotes) de energia eléctrica com base nos protótipos produzidos pelo seu pai e por Howard Stark. Ao mesmo tempo, Tony Stark tem de lidar com o aumento do nível de toxidade no seu sangue devido ao constante recurso ao reactor que o mantém vivo, enquanto tenta administrar a sua empresa ao lado de Pepper Potts e gerir a sua vida de figura pública numa mega-feira em honra do seu pai. Isto quando não discute com o seu amigo James Rhodey ou entra em cena a sua nova assistente, Natalie Rushman, e...

 

...já deu perceber que Homem de Ferro 2 conta com várias narrativas paralelas que se vão encontrando ao longo da projecção. No entanto, ao contrário do que acontecia em Homem-Aranha 3 (um filme que gosto cada vez menos com o passar do tempo), o facto de haver mais personagens e numerosas histórias para abordar não significa que a fluidez fique comprometida, embora, aqui e ali, o filme avance aos repelões (como na inconsistência da passagem do tempo - eventos que levariam meses parecem ocorrer em questão de dias - ou na solução de um enigma que recorre a uma mensagem pré-gravada, no melhor estilo O Código Da Vinci). Comprometida fica, isso sim, o desenvolvimento das personagens, principalmente as novas adições. Scarlett Johansson pouco pode fazer com o pouco tempo de antena que tem além de desfilar o seu corpo escultural, ao passo que Sam Rockwell compõe Hammer como um vilão caricato movido pelos interesses económicos e Mickey Rourke impõe todo o seu físico, as inúmeras tatuagens e um sotaque carregado em Ivan Vanko, sem conseguir distingui-los de outros tantos vilões sem expressão.

 

Enquanto isso, as personagens que já conhecemos são mais exploradas mediante as relações que vimos estabelecidas no filme anterior: Stark e Rhodey (agora interpretado pelo óptimo Don Cheadle), apesar de estarem em campos opostos, ampliam a sua camaradagem e respeito mútuo que, ainda assim, poderão não sobreviver à intransigência do primeiro em ceder a sua tecnologia, ao mesmo tempo que Pepper Potts surge mais confiante como posto de comando das empresas de Stark (e da sua vida pessoal) e sem se render ao feitio do milionário. Stark, por outro lado, mantém toda a aura de anti-herói: arrogante, boémio e deslumbrado com o seu génio e o seu império, ele tinha tudo para ser detestável, algo que não acontece devido ao talento e inteligência de Robert Downey Jr. que agarra (novamente) a personagem com unhas e dentes, destilando carisma e confiança e que, debaixo daquela capa de egoísmo, mora um ser bondoso. Neste aspecto, Homem de Ferro 2 repete a mesma receita que fez do anterior um sucesso, sem deixar de lado os excelentes efeitos especiais que, mais uma vez, não surgem gratuitamente na narrativa.

 

Por outro lado, há que afirmar que as sequências de acção não têm a frescura anterior: poucos intensas e relativamente curtas, a única que escapa é a batalha final na Stark Expo, apesar do combate com Whiplash no Mónaco e no desfecho do filme serem decepcionantes (o primeiro nem parece ser levado a sério; o segundo é curtíssimo e frustrante). Recheado do bom humor que já pontuava o original, Homem de Ferro 2 ainda conta com imensas referências a outros heróis da Marvel e prepara terreno para o vindouro filme dos Vingadores (há uma cena após os créditos que remete a um certo deus nórdico) e, ainda que não esteja à altura da surpresa que foi o anterior, tem motivos mais do que suficientes para uma desejada terceira parte. Desde que Tony Stark mantenha a boa disposição, não vejo como esta saga possa falhar.

 

Qualidade da banha: 13/20

publicado às 00:20


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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