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Captain America: The First Avenger (2011)
Realização: Joe Johnston
Argumento: Christopher Markus, Stephen McFeely
Elenco: Chris Evans, Tommy Lee Jones, Hayley Atwell, Hugo Weaving, Toby Jones, Dominic Cooper, Stanley Tucci
Qualidade da banha:
Com o sentimento actual anti-EUA, não admira que a Marvel Studios tenha acrescentado o subtítulo de O Primeiro Vingador, como se descaradamente quisesse dizer que o filme dedicado ao Capitão América prepara o terreno para o mega-evento do próximo ano, Os Vingadores (embora, a rigor, o primeiro deles seja Tony Stark, o Homem de Ferro). Esta constatação ganha mais força lá para o final da projecção, uma vez que, no restante do tempo, o filme dedica-se a uma convencional história de origem sobre o super-herói – e se isto é algo positivo a apontar, também não deixa de ser verdade que Capitão América não se beneficia muito como narrativa "isolada" e empalidece em relação aos filmes dos seus colegas (Homem de Ferro,O Incrível Hulk,Thor).
Iniciando-se na actualidade com a descoberta do corpo congelado do Capitão América, o argumento logo salta para a década de 40 e para uns Estados Unidos mergulhados na Segunda Guerra Mundial. Steve Rogers (Evans) é um indivíduo franzino e cheio de problemas de saúde que deseja alistar-se para combater, sendo rejeitado a cada recrutamento. É então que o cientista Abraham Erskine (Tucci) decide dar-lhe uma oportunidade numa experiência que o transformará num “supersoldado” através de um soro que, no passado, gerou o Caveira Vermelha (Weaving). A partir daí, Rogers, já como Capitão América, torna-se um símbolo nacional e passa a ser o principal obstáculo do Caveira e os seus planos devastadores para a humanidade.
Um dos problemas de Capitão América reside naquilo que deveria ser um dos destaques: as sequências de acção. Curtas e sem o mínimo de tensão, elas são encenadas por Joe Johnston com uma apatia tremenda, sendo ainda prejudicadas por efeitos especiais irregulares e que abusam do chroma key (em contrapartida, aqueles usados para "emagrecer" Evans são irrepreensíveis). Para piorar, o Caveira Vermelha surge como um vilão lastimável, pesem os esforços de Hugo Weaving em dar-lhe algum carisma – e os seus planos, que incluem a destruição de várias metrópoles, soam ridículos por serem executados durante uma guerra mundial, quando seria mais acertado esperar que os Aliados e os Nazis combatessem entre si até ao limite e só depois atacar em força. No entanto, o que lhe falta em astúcia sobra-lhe em discursos de treta sobre "criar um mundo sem bandeiras" e a sua demarcação com os métodos de Hitler (apesar da ideologia ser praticamente a mesma).
Com uma banda sonora irritante e espalhafatosa do antes confiável Alan Silvestri, Capitão América tem uma estrutura previsível à superfície, mas isso não impede que o filme guarde algumas surpresas: quando Rogers transforma-se no "supersoldado", ele não ganha confiança na hora e nem os seus superiores passam a vê-lo como uma mais-valia nos seus objectivos. Em vez disso, o Governo usa-o como propaganda de alistamento, o que dá a justificação perfeita para o uniforme patriótico que a personagem enverga. Idealista e humilde ao extremo, Rogers não sofre uma mudança abrupta com o soro e tem sempre noção de que tem de provar o seu valor – e Chris Evans, tão contestado aquando a sua escolha como protagonista, retrata todas estas facetas de maneira competente e digna.
Enquanto isso, a lindíssima Hayley Atwell faz um pequeno milagre com a oficial Peggy Carter, surgindo forte e decidida à sua maneira numa personagem criada apenas para ser o interesse romântico do herói e claramente fora daquele contexto, ao passo que Tommy Lee Jones e Stanley Tucci destacam-se mesmo com pouco tempo de ecrã ao incutir autenticidade aos seus papéis – e é uma pena que o filme não se dedique mais a estas personagens (e ao companheiro do Capitão, Bucky) que certamente teriam mais a acrescentar à trajectória de Rogers do que Howard Stark, que apenas está lá para fazer a ponte entre este filme e Os Vingadores (apesar de, claro, servir como curiosidade para inserir o Capitão naquele universo). E por falar nos Vingadores, usar o Hipercubo (ou Cubo Cósmico) visto em Thor como artefacto místico a recuperar por ambas as facções revela-se como um enorme logro, uma vez que o objecto tem tanto poder que nem sabemos o que ele faz ao certo ou o que acontece no final do filme ao Caveira Vermelha. Até as circunstâncias da hibernação do Capitão são deixadas ao acaso, o que é um erro grave pois foi assim que a narrativa se iniciou.
(adenda: eu sei as respostas para estas questões por que sou ávido leitor de comics, mas o filme, como obra autónoma e direccionada para as massas, deveria sustentar-se sozinho.)
Mesmo com estes percalços todos, Capitão América revela-se um entretenimento razoável graças ao seu protagonista e à ambientação retro que percorre toda a película. Joe Johnston pode ter realizado algumas porcarias ao longo da sua carreira, mas não esqueçamos que foi o responsável pelo óptimo As Aventuras de Rocketeer, com o qual Capitão América divide algumas semelhanças – e mesmo com o desfecho podre e insípido, resta-nos esperar por Os Vingadores e que este faça jus a toda esta ansiedade construída por cinco longas-metragens.
PS: passa o teaser trailer de Os Vingadores no final dos créditos.
Thor (2011)
Realização: Kenneth Branagh
Argumento: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Don Payne, J. Michael Straczynski, Mark Protosevich
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Colm Feore, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Idris Elba
Qualidade da banha:
Desde que a editora de comics norte-americana Marvel se decidiu lançar no mercado das longas-metragens (através da sua divisão Marvel Studios), personagens secundárias da casa ganharam a devida atenção do público em geral graças a um tratamento respeitoso para com as mesmas em obras eficientes, de grande escala e com o bónus de estarem subtilmente interligadas. Homem de Ferro1e2ouO Incrível Hulkpodem até não atingir o patamar dos segundos capítulos das trilogias Homem-Aranha e X-Men, porém são filmes inegavelmente divertidos, com as suas próprias virtudes e um sentido de espectáculo que não é tragado pelo espalhafato dos efeitos especiais. Serve isto para dizer que todas estas qualidades se mantêm na adaptação de Thor, herói de origens mitológicas, e que certamente se revelou um desafio para os produtores, uma vez que os anteriores filmes da Marvel estavam calcados no mundo real e esforçavam-se para que tudo soasse o menos absurdo possível. Desafio esse passado com distinção.
No mundo de Asgard, Reino dos Deuses, Odin (Hopkins) é um líder respeitado e que tenta manter a todo custo uma trégua diplomática com Jotunheim, lar dos inescrupulosos Gigantes do Gelo, ao mesmo tempo que passa os seus conhecimentos aos filhos, Thor (Hemsworth) e Loki (Hiddleston). É o primeiro que deverá herdar o trono, mas uma acção imprudente deste faz com que a guerra se torne iminente, o que leva Odin a bani-lo para Midgard (o nosso planeta, pois claro), onde deverá aprender a ser humilde e a ser merecedor do perdão do pai. Chegado à Terra, Thor conhece a bela cientista Jane Foster (Portman), vê a sua presença investigada pela agência de espionagem SHIELD (familiar para quem viu Homem de Ferro 2) e terá de reaver o poderoso martelo Mjölnir se quiser deixar de um imortal.
Voltando a permitir que a cadeira de realizador seja ocupada por uma escolha inusitada, a Marvel Studios chamou o reputado Kenneth Branagh para o cargo e, mais uma vez, a opção revelou-se acertada. Pouco habituado a filmes de grande escala e com orçamentos inchados, o britânico soube vislumbrar o carácter épico da trajectória de Thor, bem como uma reminiscência shakespeariana do núcleo familiar da personagem. Desta forma, a rivalidade entre o Deus do Trovão e Loki e a inveja que ressente do irmão não surgem como elementos para traçá-los facilmente como "herói" e "vilão": há características e acções que pontuam as personalidades de ambos como a cumplicidade e o respeito que nutrem por Odin. Enquanto Thor é retratado como um líder valoroso (ainda que arrogante) e Loki com uma vilania mais do que apropriada, nota-se sempre uma preocupação mútua, seja por anos de convivência fraternal ou receio do que o rival seja capaz de fazer para travar os intentos do outro – o que, obviamente, ajuda a aprofundar o relacionamento entre ambos.
Não que isto torne Thor numa produção excessivamente sombria: Branagh conduz a narrativa com leveza, recheando-a de situações de bom humor, nomeadamente nas cenas passadas no Novo México quando o herói perde os seus poderes. Irreverente na forma como explora ao máximo o conceito de um ex-deus exilado no meio de mortais (o contraste entre a sua postura de divindade e o que o rodeia é hilariante), o filme oferece-lhe um interesse romântico que, como é da praxe, o ajudará a enfrentar os seus medos e a perceber a sua condição – e se há coisa na qual o filme falha terrivelmente é no desenvolvimento desta relação que, além de rápido demais, provém de momentos clichés como conversas à volta da fogueira e (não estou a brincar) troca de sedutores olhares enquanto preparam o pequeno-almoço. Por muita química que Natalie Portman tenha com Hemsworth (e tem, além de estar lindíssima), não há talento que resista a tamanha lamechice. No resto do elenco, a produção acerta em cheio: Hopkins injecta imensa nobreza e imponência a Odin, enquanto Hemsworth revela-se uma grata surpresa ao encarnar as múltiplas facetas de Thor (a altivez, a irresponsabilidade, a inadequação e, consequentemente, a sobriedade de alguém que foi rebaixado), assim como Tom Hiddleston investe na malícia e astúcia de Loki para compor um vilão a ter em conta.
Auxiliado por um design de produção majestoso e óptimos efeitos especiais (as visões da Ponte do Arco-Íris e dos aposentos em Asgard são de tirar o fôlego), Thor contrapõe a magnificência de Asgard aos cenários mais secos e sem vida dos desertos do Novo México, numa demonstração eficaz da dicotomia entre o mundo dos mortais e dos deuses – e eu quase que aposto que, dos cinco autores da história, as sequências do exílio devem ter tido mão de J. Michael Straczynski, uma vez que são claramente inspiradas pelas edições escritas por este para a revista da personagem (e, não por acaso, uma das melhores fases da mesma). No que toca à acção, o filme não desaponta: as batalhas e as cenas de destruição são grandiosas e espectaculares, fazendo uso das várias capacidades dos intervenientes (eu simplesmente pirei com o rodopio do martelo, um movimento de combate típico do herói na banda desenhada).
Conseguindo ainda incorporar elementos da vindoura produção dos Vingadores de maneira mais orgânica do que aquela feita em Homem de Ferro 2 (atenção a um certo arqueiro que aparece a determinada altura), Thor é bem sucedido ao apresentar o Deus do Trovão a uma nova geração de espectadores, numa película que equilibra competentemente as suas partes mais místicas com uma ideologia mais "realista" que vem a ser seguida pelas obras da Marvel Studios. Num filme que tinha tudo para soar ridículo ou como uma cópia mal feita d' O Senhor dos Anéis, é agradável perceber que Thor soube seguir o seu caminho e estabelecer a sua própria identidade, respeitando as suas personagens e o seu universo. E, por arrasto, o público também.
PS: há uma cena importante após os créditos.
Há dois anos, a Marvel Studios firmou-se como produtora independente com o lançamento deHomem de Ferro, um sucesso de público e crítica que permitiu que a Marvel Comics começasse a apostar nos nomes da casa para desenvolver obras com total controlo sobre elas (as franquias Homem-Aranha e X-Men são produzidas pela Sony e pela Twentieth Century Fox, respectivamente). Recrutando um realizador sem créditos firmados e um talentoso protagonista ainda a retomar o bom caminho da fama, a Marvel fez uma aposta de risco elevado que se revelou uma tremenda vitória e lança agora a sequela. As notícias são reconfortantes: apesar de não estar ao nível do primeiro filme, Homem de Ferro 2 é um entretenimento competente e uma digna continuação da história iniciada anteriormente.
Ao final de Homem de Ferro, Tony Stark revelava ao mundo que era o indivíduo por trás da armadura e, numa continuação directa dos eventos anteriores, o Governo norte-americano pretende apropriar-se da sua tecnologia por questões de segurança nacional, algo que Stark se opõe veemente, encontrando concorrência do industrial Justin Hammer. É neste contexto que surge Ivan Vanko, um inventor russo que desenvolveu uma arma que consiste num reactor central com extensões (chicotes) de energia eléctrica com base nos protótipos produzidos pelo seu pai e por Howard Stark. Ao mesmo tempo, Tony Stark tem de lidar com o aumento do nível de toxidade no seu sangue devido ao constante recurso ao reactor que o mantém vivo, enquanto tenta administrar a sua empresa ao lado de Pepper Potts e gerir a sua vida de figura pública numa mega-feira em honra do seu pai. Isto quando não discute com o seu amigo James Rhodey ou entra em cena a sua nova assistente, Natalie Rushman, e...
...já deu perceber que Homem de Ferro 2 conta com várias narrativas paralelas que se vão encontrando ao longo da projecção. No entanto, ao contrário do que acontecia em Homem-Aranha 3 (um filme que gosto cada vez menos com o passar do tempo), o facto de haver mais personagens e numerosas histórias para abordar não significa que a fluidez fique comprometida, embora, aqui e ali, o filme avance aos repelões (como na inconsistência da passagem do tempo - eventos que levariam meses parecem ocorrer em questão de dias - ou na solução de um enigma que recorre a uma mensagem pré-gravada, no melhor estilo O Código Da Vinci). Comprometida fica, isso sim, o desenvolvimento das personagens, principalmente as novas adições. Scarlett Johansson pouco pode fazer com o pouco tempo de antena que tem além de desfilar o seu corpo escultural, ao passo que Sam Rockwell compõe Hammer como um vilão caricato movido pelos interesses económicos e Mickey Rourke impõe todo o seu físico, as inúmeras tatuagens e um sotaque carregado em Ivan Vanko, sem conseguir distingui-los de outros tantos vilões sem expressão.
Enquanto isso, as personagens que já conhecemos são mais exploradas mediante as relações que vimos estabelecidas no filme anterior: Stark e Rhodey (agora interpretado pelo óptimo Don Cheadle), apesar de estarem em campos opostos, ampliam a sua camaradagem e respeito mútuo que, ainda assim, poderão não sobreviver à intransigência do primeiro em ceder a sua tecnologia, ao mesmo tempo que Pepper Potts surge mais confiante como posto de comando das empresas de Stark (e da sua vida pessoal) e sem se render ao feitio do milionário. Stark, por outro lado, mantém toda a aura de anti-herói: arrogante, boémio e deslumbrado com o seu génio e o seu império, ele tinha tudo para ser detestável, algo que não acontece devido ao talento e inteligência de Robert Downey Jr. que agarra (novamente) a personagem com unhas e dentes, destilando carisma e confiança e que, debaixo daquela capa de egoísmo, mora um ser bondoso. Neste aspecto, Homem de Ferro 2 repete a mesma receita que fez do anterior um sucesso, sem deixar de lado os excelentes efeitos especiais que, mais uma vez, não surgem gratuitamente na narrativa.
Por outro lado, há que afirmar que as sequências de acção não têm a frescura anterior: poucos intensas e relativamente curtas, a única que escapa é a batalha final na Stark Expo, apesar do combate com Whiplash no Mónaco e no desfecho do filme serem decepcionantes (o primeiro nem parece ser levado a sério; o segundo é curtíssimo e frustrante). Recheado do bom humor que já pontuava o original, Homem de Ferro 2 ainda conta com imensas referências a outros heróis da Marvel e prepara terreno para o vindouro filme dos Vingadores (há uma cena após os créditos que remete a um certo deus nórdico) e, ainda que não esteja à altura da surpresa que foi o anterior, tem motivos mais do que suficientes para uma desejada terceira parte. Desde que Tony Stark mantenha a boa disposição, não vejo como esta saga possa falhar.
Qualidade da banha: 13/20
Quando entrei na sala de cinema para assistir ao Homem de Ferro, as expectativas não eram muito elevadas. Já tinha lido algumas críticas que diziam muito bem do filme, mas acima de tudo, tinha receio de apanhar uma desilusão semelhante como no ano passado, quando fui ver, com a maior ansiedade, Homem-Aranha 3. Os meus receios seriam justificados?
Não. Homem de Ferro é um bom filme de acção e um dos melhores a ser baseado numa banda-desenhada (apesar de, nos últimos anos, a qualidade destas adaptações ter subido bastante, Hollywood ainda tem de pagar muita bosta feita). Começando logo com uma cena tensa, com a captura do engenheiro milionário Tony Stark no Afeganistão, a narrativa recua uns dias a fim de contar como se chegou àquela situação. Assim, o filme consegue prender o espectador logo no início e, de forma bastante económica, dá-nos a conhecer o perfil do herói (a forma como ele interage com os soldados que o escoltam), para logo a seguir contextualizar a personagem e o seu universo (numa gala de homenagem). Capturado e obrigado a montar uma arma de destruição maciça para milícias terroristas, Tony Stark constrói uma armadura para fugir de cativeiro.
O filme merece créditos por apresentar toda a evolução da armadura do herói e os problemas que este vai encontrando, de modo a aperfeiçoá-la e a habituar-se a usá-la, num recurso semelhante à primeira metade de Homem-Aranha, quando Peter Parker vai descobrindo aos poucos os seus novos poderes. Muito feliz também foi a escolha do elenco: contendo paralelos com a “vida” de Tony Stark, Robert Downey Jr. foi a melhor escolha possível, sendo brincalhão, arrogante, boémio e cínico ao máximo. Acredito que Homem de Ferro pode significar para o actor o que Piratas das Caraíbas foi para Johnny Deep, fazendo dele uma estrela de primeira linha capaz de arrastar multidões às salas de cinema (ok, uma nomeação ao Óscar seria um exagero, confesso). Quem também surge após uns anos de retiro é Gwineth Paltrow, no papel de assistente de Tony Stark, Pepper Potts, e ela vai muito bem: recatada, competente e sensata, surge como contraponto à irresponsabilidade de Tony e, claro, servindo como interesse amoroso. Jeff Bridges também tem uma boa interpretação, como o sócio de Stark, Obadiah Stane, um sujeito ambíguo e com interesses obscuros. Por outro lado, Terence Howard passa ao lado do projecto como o melhor amigo do milionário, James Rhodes, surgindo bastante apagado, o que não é normal em tão talentoso actor. Porém, creio que a sua importância nos futuros filmes da franquia (que os vai haver, pois claro!) poderá aumentar muito.
O realizador Jon Fraveau, que vinha de películas de aventuras menores, dirige o filme com bastante competência, não deixando tempos mortos espalhados, permeando a narrativa com muito humor, principalmente na transição entre cenas. As sequências de acção também são muito boas, excepto a última, que, opondo dois seres de poder semelhante, é decepcionante e onde se nota mais o recurso a CGI. Além do mais, o argumento deixa algumas pontas soltas para desenvolver em sequelas futuras.
Mesmo não tendo a excelência de obras anteriores da Marvel Comics, como Homem-Aranha 2 ou X-Men 2, Homem de Ferro é um bom entretenimento, cheio de acção, divertido, emocionante e um óptimo cartão de visita para o Verão cinematográfico. E, por favor, fiquem até ao final dos créditos que há uma cena extra, mas acho que só os fãs irão perceber a relevância da mesma.
Qualidade da banha: 15/20
E agora, outros filmes:
The Mist – Nevoeiro Misterioso
The Mist
As obras de Stephen King já renderam bons filmes (Misery – O Capítulo Final; Shining; Conta Comigo; Os Condenados de Shawshank), filmes medianos (Eclipse Total; Corações na Atlântida; 1408) e filmes medíocres (O Caçador de Sonhos; À Espera de um Milagre). Felizmente, The Mist faz parte do primeiro lote. Tenso, claustrofóbico, mostra-nos que o ser humano pode ser mais aterrador que uma ameaça sobrenatural, o que o torna ainda mais aterrador. Marcia Gay Harden merece palmas pela personagem Mrs. Carmody, fanática religiosa que encara a situação como o apocalipse final e trata de arranjar a salvação final a quem a quiser ouvir, mas todo o elenco vai bem (sim, até o Thomas Jane tem uma interpretação decente). Com um final atípico, cruel e seco, The Mist é uma excelente surpresa no meio do panorama sofrível dos filmes de terror.
Qualidade da banha: 16/20
O Mal-Casado
The Heartbreak Kid
Os Farrelly já fizeram bem melhor do que isto. Apesar de não ser uma má comédia, vem apenas provar que os realizadores estão em fase descendente nas suas carreiras. Ben Stiller é um quarentão que não arranja mulher para juntar os trapinhos, até que ao conhecer uma, apaixona-se na hora e casam-se pouco tempo depois. Já na lua-de-mel, vem-se a arrepender do sucedido. Ben Stiller, que é um bom actor, já chateia no papel de sujeito inadaptado à sociedade, meio neurótico e melancólico e, apesar de algumas tiradas inspiradas, o filme não tem momentos por aí além.
Qualidade da banha: 9/20
Persépolis
Persepolis
Animação francesa que conta a vida de uma iraniana, desde a sua infância até à idade adulta, e tudo que ela e a sua família tiveram de sofrer: vários regimes autoritários, a imigração para a Europa, a exclusão social, a degradação da sua pátria, entre outras coisas. Surpreendentemente, o filme retrata estas questões e mais algumas com muito bom-humor, mas sem deixar a seriedade de lado. A animação tradicional e os contrastes a preto e branco são excelentes, mas a grande força do filme é mesmo o argumento, que passa por vários anos e etapas sem se tornar cansativo, com personagens cativantes e diálogos excelentes.
Qualidade da banha: 17/20
Hannibal: A Origem do Mal
Hannibal Rising
Medíocre! Vulgar! Triste! Como é possível fazer isto com uma personagem como Hannibal Lecter? Não podiam ter parado no Hannibal (livro) e no Dragão Vermelho (filme mais recente)? Claro que não, afinal a ganância de ganhar mais uns tostões com uma personagem famosa é tanta que dá para estes desastres! Um filme para esquecer.
Qualidade da banha: 4/20
I Know Who Killed Me
A má fama deste filme (foi o grande vencedor dos Razzies deste ano) é plenamente justificada. A história é péssima, a realização errática e a interpretação de Lindsay Lohan é de dar vergonha a qualquer um. Já para não falar na resolução da história que é das coisas mais absurdas e ridículas que vi nos últimos meses.
Qualidade da banha: 3/20
Ponto de Mira
Vantage Point
Filme de acção em que um segurança da guarda presidencial (Dennis Quaid) tenta desvendar um atentado ao presidente dos Estados Unidos pelo ponto de vista de várias pessoas. O filme é fraco: a história é vazia (algumas personagens e respectivas percepções dos factos não servem para rigorosamente nada) e é um tremendo desperdício de actores talentosos, como Sigourney Weaver, Eduardo Noriega e Forest Whitaker. No entanto, a perseguição de carro que ocorre na meia-hora final do filme é boa, mas isso não chega.
Qualidade da banha: 8/10
[Rec]
Filme de terror espanhol filmado na primeira pessoa com câmara ao ombro. Uma repórter acompanha uma brigada de bombeiros numa missão de socorro a um prédio em Barcelona, até que tudo começa a correr mal (duh!). Tenso, assustador e com cenas de levantar um morto da campa, o filme começa lento, mas depois transforma-se numa montanha-russa que parece não acabar nunca. Destaque para a cena do sótão, completamente aterradora, já para não falar nas referências a Portugal, mas não se entusiasmem muito… Provavelmente, o melhor filme de terror desde A Descida (o The Mist é de outro campeonato).
Qualidade da banha: 16/20
O Lado Selvagem
Into the Wild
Crónica da viagem de auto-descoberta e isolamento da sociedade que Christopher McCandless levou a cabo nos anos 90, renunciando à sua família, aos estudos, aos bens materiais e até à sua identidade, partindo numa jornada rumo ao Alasca. Escrito e realizado por Sean Penn, o filme retrata o acto de rebeldia do protagonista (Emile Hirsch, óptimo no papel) com incrível sobriedade, realçando as consequências positivas da sua jornada, como os conhecimentos e as pessoas com quem se vai cruzando, mas também as negativas, como o desespero da família e as dificuldades que a Natureza lhe vai impondo. Contando com excelentes paisagens e uma excelente banda sonora, o filme caminha entre o trágico e o deslumbrante até chegar ao incómodo, mas estranhamente belo final.
Qualidade da banha: 17/20
La Vie en Rose
Biopic de Édith Piaf, desde a sua infância miserável, passando pelos primeiros sucessos em bares até atingir a fama europeia e mundial, os amores fracassados e os vício de uma vida de sucesso, acabando na sua morte prematura, devido ao abuso de morfina. A interpretação de Marion Cotillard vale todos os prémios, mas a direcção errática e a montagem confusa fazem o filme perder o rumo logo desde o início e o argumento transforma-se numa manta de retalhos, tentando ligar desajeitadamente os factos da vida da cantora.
Qualidade da banha: 9/20