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John Carter

por Antero, em 19.03.12

 

John Carter (2012)

Realização: Andrew Stanton

Argumento: Andrew Stanton, Mark Andrews, Michael Chabon

Elenco: Taylor Kitsch, Lynn Collins, Willem Dafoe, Samantha Morton, Mark Strong, Dominic West
 

Qualidade da banha:

 

Uma tarefa ingrata esta de escrever sobre John Carter: inspirado pelas revistas de ficção científica de Edgar Rice Burroughs (que viria a criar Tarzan) escritas há 100 anos, a personagem principal surgia como um herói inovador para aventuras que misturavam a bagagem científica de então com o mais puro western – uma abordagem refrescante que acabou por influenciar inúmeras peças da cultura popular como Star Wars ou Flash Gordon. Deste modo, não há como evitar a sensação de que tudo em John Carter já foi refeito dezenas de vezes e o filme pareça datado à partida. No entanto, o facto de não atualizar o universo imaginado por Burroughs acaba por servir como a desculpa perfeita para que a película passe como uma série B com alguns méritos, já que o contrário seria uma traição à essência da personagem.


John Carter (Kitsch) é um soldado de cavalaria, numa América do séc. XIX, que se vê inexplicavelmente transportado para Marte (conhecido como Barsoom pelos nativos) onde encontra um mundo à beira da ruína. Feito prisioneiro pelos Tharks, uma espécie com quatro braços, Carter vai conhecer a bela princesa Dejah Thoris (Collins), uma princesa envolvida na guerra civil entre os territórios de Helium e Zodanga. Liberto da gravidade terrestre, Carter logo chama atenção das fações em conflito, uma vez que revela ser quase indestrutível, com muito mais força e agilidade do que qualquer outro habitante daquele planeta e, ao mesmo tempo, tenta encontrar uma forma de regressar a casa.

Cruzamento entreAvatar, O Ataque dos Clones ePríncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, John Carter logo revela a sua falta de originalidade com dois recursos irritantes: a pomposa narração introdutória e o facto de a história arrancar com alguém a ler o diário do herói (uma brincadeira metalinguística bem sacada que insere o próprio Burroughs no filme). Outro problema é a falta de lógica de alguns pormenores: sendo os Tharks a tribo mais primitiva e os únicos a manusear armas de fogo, é ridículo que as outras espécies marcianas tenham acesso a armamento pesado, mas lutem entre si com... espadas. Além disso, para quem tem tamanho poder de fogo e tecnologia à disposição, a capacidade de John Carter saltar grandes distâncias não deveria causar tanto espanto.

Incongruências à parte, John Carter cumpre a sua função e satisfaz, embora se torne entediante em certos momentos. Mais aventura do que propriamente ficção científica, a narrativa desenvolve um universo habitado por figuras que fascinam pela sua conceção de cores, formas, texturas e figurinos peculiares e com movimentos naturais (o trabalho de efeitos visuais é quase impecável: nota negativa para o óbvio recurso ao chroma key) – e é uma pena que eu apenas possa elogiar os aspetos técnicos, visto que as personagens têm a profundidade de uma folha de papel. As humanas, então, são prejudicadas por um elenco despreocupado e inexpressivo no qual Dominic West e Mark Strong investem naquilo que tem caracterizado ambas as carreiras (vilões) e a bela Lynn Collins destaca-se por ser... bela. Já Taylor Kitsch até surpreende como protagonista, mostrando que tem o carisma necessário para estas andanças apesar de comprometer as cenas que requerem um pouco mais de emoção.

E uma vez que falamos em emoção, há que referir que as sequências de ação (supostamente um dos chamarizes desta superprodução) são pouco empolgantes já que se resumem a lutas de espadas, tiros e saltos e comprovam que Andrew Stanton ainda não tem o traquejo fora da animação que Brad Bird, o seu companheiro na Pixar, demonstrou no últimoMissão Impossível, chegando a abandonar o conceito mais inventivo do argumento (a cópia daqueles que são transportados para Marte) sem grandes preocupações, além de que não adianta incluir uma arma mortífera se esta mal se tornará uma ameaça ou de contar com vilões cujas intenções nunca ficam claras. Contudo, Stanton deve ser felicitado por perder tempo com as cenas na Terra que fecham as pontas soltas mesmo que à custa de alguma lentidão.

 

Tentando firmar-se como uma nova franquia lucrativa para a Disney, John Carter dá o pontapé de saída de maneira agradável, mas terá de melhorar imenso numa potencial sequela.

 

publicado às 19:35

Lanterna Verde

por Antero, em 19.08.11

 

Green Lantern (2011)

Realização: Martin Campbell

Argumento: Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim, Michael Goldenberg

Elenco: Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong, Angela Bassett, Tim Robbins
 

Qualidade da banha:

 

Hal Jordan (Reynolds) é um piloto de testes da aviação militar norte-americana e, como sempre em Hollywood, é o melhor naquilo que faz. Ele é arrogante, imaturo e imprudente, mas isso até eu, pois se me pusessem a conduzir veículos com um chroma-key tão foleiro ao fundo também arriscaria manobras perigosas. Contudo, o rapaz até tem bom coração e bons motivos para a sua irresponsabilidade – motivos esses que surgem sob a forma de súbitos ataques de memória em situações extremas, como, por exemplo, quando Hal deve ejectar o seu assento antes que o seu jacto se despenhe, embora isso não tenha acontecido minutos antes quando ele decidiu pilotar até à estratosfera. Selectivos e momentâneos que são, estes ataques poderiam levar à descoberta de uma nova patologia, mas creio que esta foi a melhor maneira que os quatro argumentistas arranjaram para mostrar os conflitos internos do protagonista.

 

Adiante. Uma nave alienígena cai na Terra e o seu ocupante moribundo ordena que o seu anel procure um sucessor. Hal é o escolhido e torna-se no Lanterna Verde, integrante do Corpo dos Lanternas Verdes, protectores e vigilantes de todo o universo que, para evitar burocracias, está dividido em 3600 sectores (o nosso é o 2814). Cada um deles tem um anel que é carregado por uma lanterna que, por sua vez, é alimentada pela Bateria Central do planeta Oa com a energia verde, o poder da vontade (se a EDP descobre isto, é um ver se te avias). O nosso herói parte para Oa onde será submetido ao típico treino hollywoodiano, no qual duas ou três lições chegam para a duração do filme, já que o herói não deverá usar as restantes técnicas que, deduzo eu, compõem o treino dos Lanternas. Obviamente que Jordan é mal visto pelos colegas e terá de provar o seu valor - e quando digo o seu valor, o sentido é literal, visto que após pedir auxílio na protecção da Terra aos Guardiões que gerem o Corpo, estes viram-lhe as costas e logo num problema que eles indirectamente causaram. Com tantos sectores para administrar, é o cada um por si e fé no anel!

 

Depois temos a bela Carol Ferris (Lively), uma daquelas criações cinematográficas que fazem de mulheres estonteantes não só uma pilota de testes, mas também uma competente executiva. Apesar de repudiar os modos de Hal, ela derrete-se toda com a sua vivacidade, o seu sorriso e o seu corpaço (das poucas coisas no filme que não devem ter sido geradas por CGI e, mesmo assim, tenho dúvidas), embora isto não seja devidamente aproveitado pelo ranhoso efeito 3D. Carol só existe para ser salva pelo herói e para lhe dar discursos motivacionais e, neste aspecto, ela cumpre a sua função como quase toda a gente que aparece no filme, uma vez que Hal torna-se num autêntico poço de depressões sempre pronto a ouvir uma palavra amiga e uma lição de vida. E não podemos esquecer o compincha engraçadinho do nosso herói que manda umas piadas e nunca mais é visto, até por que o duração é curta e entre Hal e a sua missão, mais o interesse amoroso, o Corpo que desconfia dele, o treino e ameaça de dois vilões, não dá para enfiar tudo no tempo regulamentar.

 

E por falar nos vilões, um deles, Parallax, é uma nuvem destruidora de mundos amarela (a cor do medo) que me fez lembrar o Galactus de Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado; e se eu já pensava que Lanterna Verde não tinha por onde piorar, perceber que este filme estaria ao nível daquela "maravilha" do grupo de heróis da Marvel foi o fim da picada (e, vamos lá ser sérios, poucas coisas são tão tensas como ver uma nuvem amarela a perseguir um homem de fato verde pelo espaço fora, né?). O ridículo é que o filme tinha um vilão bem melhor que o Parallax para ser usado: Hector Hammond. Ok, a sua apresentação não é famosa: o pai sempre lhe facilitou a vida, ele é um geek por excelência e basta vermos que ele guarda uma foto de Carol para sabermos que ele será um rival de Jordan pelo coração da moça. Porém, a prestação intensa de Peter Sarsgaard salva-o do desastre e é uma pena que mais tempo não lhe seja dedicado. O mesmo vale para Sinestro (Strong), um Lanterna Verde capaz, nobre e poderoso que tem ressalvas para com Jordan, mas não deixa que isso lhe tolde a razão.

 

Há muito a aprender com Lanterna Verde e uma das lições é como não usar efeitos especiais. Eles praticamente são uma personagem dentro da história tal é a atenção que reclamam para si - no mau sentido – e, de tão pouco especiais, ainda se dão ao luxo de contrariarem a própria definição. Outra lição é a de que o que funciona nos comics não tem necessariamente de funcionar no ecrã e eu, fã de comics e consciente que estes são absurdos por natureza, vi-me incomodado como conceitos como "o anel responde à vontade do dono" eram atirados para o espectador sem o mínimo de esforço. Quando Hal cria uma metralhadora, eu só pensava como ele saberia todos os pormenores da arma para ela funcionar correctamente. E como o Corpo pode deixar que Hal abandone o treino a meio e deixam-no ir com uma arma poderosa e sem experiência alguma? Até o próprio compositor James Newton Howard parece confuso com a incoerência do filme e mistura partituras leves em momentos dramáticos e outras mais pesadas em situações cómicas.

 

O certo é que a Warner e a DC tentam repetir aqui o sucesso de Homem de Ferro da concorrente Marvel, só que Ryan Reynolds, que tem carisma para dar e vender, não é nenhum Robert Downey Jr. e o ritmo do filme não ajuda: as piadas não funcionam, as personagens passam em branco e Lanterna Verde não tem peso dramático algum – isto é, tirando os faustosos efeitos especiais. O beijo da morte chega na cena que passa durante os créditos finais com a sugestão de uma sequela metida a martelo, quando nada do que aconteceu antes valide o que ali é mostrado. Tivesse eu um anel daqueles e a minha vontade era sair da sala de cinema.

 

publicado às 16:49


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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