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Eu, o rapaz que nunca foi dado a jogos de consola pós-Mega Drive e jogos de PC nem vê-los, confesso que me encontro viciado no Pro Evolution Soccer 2009. Anos a gozar com a malta que perdia horas nisto e agora passei para o outro lado. Já enrabo Inters, Portos e Barças (e outros jogadores, olé!), e sem jogadas estudadas nem grandes tácticas: chegando à área contrária, o céu é o limite para o Quadrado. Claro que isto no nível médio e sempre com o Manchester, o que aumenta as probabilidades de sucesso do meu futebol digno de um Quique Flores ou de um Paulo Bento em dia sim. Já berro com os jogadores, grito golo, lamento um falhanço e vibro com uma boa jogada. O Olympiakos que vá esperando pela desforra!
E sim, admito: agora é-me impossível ver um jogo do Benfica sem pensar "x! x! XXXXX pá!!!"
Se há género cinematográfico que ainda deve uma obra decente à Humanidade, esse é o das adaptações de jogos de vídeo. Se bem que eu acho que nem umO Cavaleiro das Trevasconseguiria apagar um repertório com lixos como Super Mário Bros., Street Fighter - O Filme, Lara Croft: Tomb Raider, a trilogia Resident Evil ou as empreitadas de Uwe Boll (e estes são os que me lembro por agora). Vai daí, as minhas expectativas para adaptação do jogo Max Payne não era as melhores. E sabem que mais? Eu estava totalmente certo! Contando uma história sem pés nem cabeça, Max Payne (o filme) é mais uma nódoa no tecido tremendamente manchado das adaptações cinematográficas dos jogos de vídeo.
A história é bastante fiel ao jogo (que nunca joguei, nem faço questão): Max Payne é um detective do departamento de casos arquivados da polícia de Nova Iorque que há 3 anos procura o verdadeiro assassino da sua esposa. Numa das suas buscas, ele encontra Natasha que é brutalmente assassinada e Max é indiciado como principal suspeito. Então ele une-se a Mona Sax, irmã de Natasha, e tenta resolver o estranho homicídio que parece ter relação com a morte da sua esposa. Ambos vão enfrentar a polícia, a máfia e uma corporação que poderá ser a base de tudo. Para início de conversa, como pode Max Payne andar completamente em liberdade se é o principal suspeito da morte de Natasha e fica bem claro que ninguém morre de amores por ele na polícia? Mas também o que podíamos esperar de uma força policial que conta nas suas fileiras com um detective que diz a Max que "tudo, mesmo tudo!" foi investigado por si sobre o assassínio da sua esposa e só 3 anos depois é que repara numa tatuagem significativa que a mesma tinha no pulso e que se assemelha à da vitíma mais recente (e o porquê da senhora Payne ter tal tatuagem é deixado ao acaso a meio do filme).
Mas isto é o menos: o filme começa a meter os pés pelas mãos quando desenvolve toda a conspiração, cujo cerne é uma droga inovadora que - vou tentar não rir ao escrever isto - confere maior confiança aos soldados, por estes se acharem protegidos por anjos nórdicos. Só mais tarde é que descobri que esta droga também já fazia parte do jogo, mas o modo como ela é apresentada no filme (através de um vídeo de arquivo) é tão estapafúrdia e involuntariamente cómica por Amaury Nolasco (o Sucre de Prison Break) que, confesso, cheguei a pensar que ele iria interromper a gravação e dizer: "Estava a brincar, podemos repetir?". Já para não falar que a tal droga confere habilidades sobre-humanas a quem a toma, só que isto não é referido em lado nenhum, uma vez que o filme apenas se refere à mesma como oferecendo "mais moral" (hahahaha!). As reviravoltas do argumento também são previsíveis, o que torna tudo muito aborrecido. E se acham que, pelo menos, as cenas de acção compensam, pensem novamente: todas somadas mal devem passar dos 10 minutos.
A completar o ramalhete temos a realização inepta de John Moore, cujas soluções visuais e enquadramentos são de fugir, a começar pelo pavoroso "Uma semana antes" que surge na fachada de um edifício logo no início (vá lá que não repetiu mais a gracinha). Mergulhando Nova Iorque num Inverno rigoroso do qual poucos parecem se importar com isso e recorrendo a batidos e nada estilosos planos em slow-motion, John Moore usa e abusa das sombras para dar um tom noir tal como no jogo original, sendo que os flashbacks da esposa de Payne são imensamente iluminados e em tons mais quentes, num contraste óbvio entre o amor da família e o negrume actual. Porém, o atestado de incompetência do realizador é uma cena em que um atirador surpreende Max Payne por trás e desata a disparar. A composição dos planos é tão mal feita que o atirador falha o alvo (embora pareça que vai atingi-lo) e acerta num monte de frascos que parecem estar a muitos metros de distância de Max que, desta forma, escusava fazer aquela ridícula pirueta para matar o inimigo. Bastava virar-se normalmente e atirar na cabeça do infeliz dotado de péssima pontaria.
Poupadinho na nudez e na violência para conseguir uma classificação etária mais baixa e daí ter maior viabilidade comercial, Max Payne ainda tenta desesperadamente fazer uma crítica à indústria farmacêutica e aos militares norte-americanos mas, como o triste do parágrafo acima, atira muito ao lado. Pelo menos numa coisa o filme acerta em cheio: na carreira de Mark Wahlberg que, pelasegunda vezno mesmo ano, leva com um tiro certeiro. E este, meus amigos, não foi de pólvora seca.
Qualidade da banha: 4/20