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The Great Gatsby (2013)
Realização: Baz Luhrmann
Argumento: Baz Luhrmann, Craig Pearce
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Elizabeth Debicki, Isla Fisher, Jason Clarke
Qualidade da banha:
Publicado em 1925 no auge da "Era do Jazz", O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald só ganhou reconhecimento público décadas depois pela sua acutilante desconstrução do propalado "Sonho Americano" e por criticar os excessos da alta sociedade dos Loucos Anos Vinte (e cujas alfinetadas podem ser aplicadas a qualquer outra época). Assim, não deixa de ser espantoso como uma obra tão famosa seja tão pouco relevante no Cinema: tirando um telefilme, foram somente três adaptações sem relevância para o grande ecrã - sendo a mais conhecida a sonolenta longa-metragem de 1974 com Robert Redford e Mia Farrow nos principais papéis. Este novo filme de Baz Luhrmann eleva a contagem para quatro e é uma pena que a qualidade das mesmas também não sofra uma melhoria.
Seguindo de perto a história de Fitzgerald, O Grande Gatsby começa logo mal ao iniciar-se num sanatório onde o depressivo e alcoólico Nick Carraway (Maguire) relata como conheceu um homem inspirador chamado Gatsby – um prólogo inexistente no livro e que só foi acrescentado para fazer uma óbvia rima com o desfecho. A narrativa recua, então, para o verão de 1922 quando Nick chega a Long Island e arrenda uma pequena casa ao lado da luxuosa mansão do enigmático Jay Gatsby (DiCaprio). Ao mesmo tempo, Nick reaproxima-se da sua prima Daisy (Mulligan) e do seu marido, Tom (Edgerton) e, com o decorrer do verão, trava também conhecimento com Gatsby ao ser convidado para uma das suas festas - sem saber que este e a sua prima tiveram uma relação amorosa uns anos antes.
Com todos os excessos que fizeram de Moulin Rouge uma experiência tão arrebatadora e que falharam miseravelmente em Austrália, O Grande Gatsby traz o virtuosismo, a panóplia visual e o majestoso trabalho de design de produção que já se tornaram a assinatura de Luhrmann, mas o que realmente impressiona é a gritante falta de energia da narrativa. Amante do espetáculo no seu sentido mais literal, Lurhmann incha a projeção com efeitos especiais, movimentos de câmara improváveis (obviamente feitos por computador) e uma montagem frenética que sugam qualquer peso dramático que as trajetórias de Gatsby, Daisy e Nick pudessem evidenciar - e para comprovar isto basta reparar como o passado de Gatsby e a sua ascensão económica são revelados quase por acaso e sem grande profundidade e, só mais tarde, o facto é encarado pelos demais com absoluta seriedade. Já o desencanto de Nick com o luxo e a hipocrisia que o rodeia soa súbito demais, visto que em nenhum momento anterior ele se mostrara desagradado com a opulência à sua volta – e mesmo o seu tão admirado Gatsby não se furtava de ostentar a sua riqueza.
É claro que com personagens tão parcamente desenvolvidas nenhum elenco faz milagres: DiCaprio só funciona enquanto o seu Gatsby ainda é um enigma e depois mostra-se desconfortável com o avançar da história; Maguire atua como observador e tem um papel tão passivo na narrativa que praticamente poderia ser excluído sem grandes danos; e a talentosa Carey Mulligan é um autêntico peso morto em cena, sem nenhuma química com DiCaprio ou qualquer um que a acompanhe (o que me levou a questionar a sanidade de Gatsby por estar perdidamente apaixonado por uma pessoa assim). Já o restante do ótimo elenco é desperdiçado em papéis que não deixam impressão alguma.
Contudo, é mesmo Baz Lurhmann que se espalha ao comprido. Todo o apuro técnico em desfavor da narrativa acaba por transparecer a triste conclusão que ele glorifica aquilo que Fitzgerald condenava: os excessos patrocinados pela prosperidade económica. Além disso, a sua opção de incluir músicas contemporâneas (de autores como Jay-Z ou Lana Del Rey) não tem qualquer justificação e atiram imediatamente o espectador para fora do filme. Outra opção sem nexo é a forma como ele "potencializa" o efeito tridimensional através de palavras que surgem na tela enquanto são narradas, o que, além de ridículo (eu vi o filme em 2D), não tem qualquer propósito narrativo. E para uma história sem nenhum teor fantasioso, não é estranho ver como aquele "Vale das Cinzas" - que realmente existiu - parece saído de um filme de... Baz Luhrmann?
Visualmente exuberante, mas dramaticamente vazio, O Grande Gatsby é, em última instância, um falhanço. Com certeza que se trata de um regalo para os olhos, mas não deixa de ser um falhanço.