Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



 

Dez anos.

 

Dez anos é muito tempo, mas não chega para esquecer aquele dia, aquelas terríveis imagens e aquela sensação estranha e arrepiante, um misto de incredulidade e tormento. Há dez anos, a História escreveu-se de forma cruel, todos nós voltámos à nossa frágil condição e mergulhámos num clima de suspeição e incerteza cujas sequelas ainda se sentem hoje em dia. Naquela Terça-feira, o Mundo realmente mudou. Para melhor ou pior, ainda estamos a tentar perceber.

 

Eu, na pacatez dos meus quase 16 anos, estava a fazer uma sesta após o almoço para, durante a tarde, voltar à praia. Na altura, tinha a mania de assistir à Euronews a partir da RTP 2 (não perguntem) e qual não foi o meu espanto quando acordo e vejo o topo da torre norte em chamas. As informações preliminares eram contraditórias: falava-se que algo teria colidido com a torre, não se sabia se era um avião comercial, militar ou privado, especulava-se sobre uma explosão interna e levantou-se a hipótese de um atentado terrorista. Poucos minutos depois, esta última teoria ganhou forma com uma visão aterradora que nunca esquecerei: o segundo avião colidia com a torre sul e eu gelei. Fui chamar o meu irmão e acompanhamos o resto da emissão. A praia teria de ficar para outro dia.

 

Entre o ataque ao Pentágono, o sequestro e despenhamento do United 93 e informações sobre aviões que desapareciam dos radares para voltarem a aparecer pouco depois, a evacuação e fecho de sedes governamentais e a decisão de encerrar todo o tráfego aéreo norte-americano, os acontecimentos no World Trade Center monopolizavam as atenções. Anónimos horrorizados, pessoas em estado de choque e imagens aterradoras de indivíduos que preferiram saltar de dezenas de andares a morrerem queimados e o planeta inteiro a acompanhar pela Televisão. Senti, então, uma urgente necessidade de falar com os meus pais, embora não tivesse nada de relevante para lhes dizer. Liguei para a pastelaria e atendeu a minha mãe. Claro que estavam também a assistir. Eu nem sabia o que dizer. Ela reconfortou-me e disse-me para ir para a praia, que o dia estava bom e que devia espairecer. Desliguei e, pouco depois, a torre sul desmoronou-se numa imagem que, no cinema, seria espectacular e digna de aplausos, mas que, naquela tarde, foi um terrível despertar para a realidade.

 

O pânico dos nova-iorquinos enquanto fugiam dos escombros que se amontoavam numa imensa nuvem de pó e detritos, a consequente queda da torre norte, o caos térreo que contrastava com um belíssimo céu azul, o silêncio ensurdecedor dos ensanguentados e empoeirados quase em estado catatónico – era demasiada coisa para assimilar.

 

Tragédias como o tsunami no Índico, a crise humanitária na Somália ou o conflito no Darfur mexem connosco, revoltam-nos, mas o impacto do 11 de Setembro foi mais alargado e profundo. Tudo por que seguimos a par e passo pela Televisão, acompanhamos o horror da situação, desejámos que as operações de socorro fossem bem sucedidas e sentimos a dor como se tivéssemos uma janela que nos transportasse directamente para Nova Iorque.

 

Vimos o pior e o melhor da raça humana em simultâneo. Ali, diante dos nossos olhos e perante a nossa impotência.

 

Percebemos como o Mundo pode ser um lugar injusto e atroz e unimo-nos numa corrente de solidariedade que o canalha Bush e restante corja decidiram arruinar a favor de uma guerra estúpida movida por interesses obscuros.

 

Tudo isto numa Terça-feira enquanto se digeria o almoço.

 

publicado às 17:18

Actualidades #7

por Antero, em 13.01.09

Cristiano Ronaldo ganha prémio da FIFA

Aleluia! Não faço esta exclamação porque finalmente reconheceram o mérito do rapaz, mas sim porque a partir de agora poderá acabar o lobby intenso do próprio, da família do mesmo e da histérica comunicação social que queria à força toda reconhecer o seu minino, que ao serviço da Selecção Nacional não fez nada por aí além, sendo até constrangedor em alguns momentos. Como se esperava, depois das 20h de ontem, os canais foram inundados de declarações da saloia família (se a vida de Ronaldo fosse uma série, seria Entourage de certeza, mas em que ele só estaria rodeado de Turtles), de imagens de arquivo (acho que vi os golos ao Moreirense pelo Sporting umas 10 vezes em meia-hora; ele não fez mais nada de relevante por cá) e as congratulações da praxe. Claro que isto não acabou por ontem: nos próximos dias, devemos ter mil e uma reportagens a passar na televisão, jornais e revistas vão fazer capa e contar a história do moçoilo e o povo vai consumir isso tudo avidamente. E agora já posso ver futebol em paz?

 

Vaga de frio

Portugal Continental tem sido afectado por uma frente polar que mantido as temperaturas (muito) baixas e que até fez nevar em locais impensáveis. Obviamente que Espinho, numa completa inversão do que é normal, não viu neve. Só chuva. Gelada. Mas neve não. No Porto nevou, em Oliveira do Douro, Sandim e Gaia também, mas em Espinho nada. Em São João da Madeira também se viu neve, mas em Espinho só pela televisão. Tal como acontece imensas vezes no Verão, quando Espinho está rodeada de terras onde faz sol e o calor é uma constante e aqui está nevoeiro e o frio do costume, a minha cidade é a negação de todas as previsões meteorológicas. O aquecimento global só pode ter começado aqui. Porém, não pensem que aqui está calorzinho; está muito, muito frio. Mas lá que deve ser das mais quentinhas da zona Norte, lá isso deve.

 

Conflito Israel - Palestina

Ano após ano, esta história vai, invariavelmente, parar no mesmo. A postura das Nações Unidas de "deixa andar" faz com que este conflito se arraste há décadas e não se vislumbra resolução. Tudo porque ninguém se deve meter e o caso de Jerusálem e da Faixa de Gaza devem ser resolvidos entre ambos os povos. Ou seja, as comadres que se entendam. É compreensível: tomar uma posição de força para além do óbvio "condenamento das acções militares e terroristas" seria o admitir de um erro da ONU que tem décadas, ou seja, o mau planeamento e a péssima gestão da questão de Israel e das tensões no Médio-Oriente ao longo destes anos todos, principalmente quando o Governo israelita se recusou a cumprir todas as resoluções aprovadas pela ONU de retirada e da manutenção dos refugiados. É que nenhum dos lados irá ceder, porque um quarto do Mundo apoia Israel, outro quarto apoia a Palestina e a outra metade já tem problemas que chegue para se preocupar.

 

Arbitragens

Acho inacreditável o que se tem passado depois do jogo de Domingo entre o Benfica e o Sp. Braga. Até parece que o Benfica nem tinha sido prejudicado em bastantes jogos anteriores do campeonato. Mas sobre isso ninguém comenta: as vozes, que dantes condenavam que o imenso falatório sobre as arbitragens (como, por exemplo, a desse vendido que dá pelo nome de Jesualdo Ferreira) foram as primeiras a levantarem-se contra a actuação de Paulo Baptista. E é nojenta a atitude do responsáveis do Sp. Braga, qual lacaios de ocasião, como é a atitude do Sporting em só se fazer ouvir quando o Benfica é beneficiado. Onde andou esta gente nos últimos anos? Porquê tanta submissão ao FC Porto? É pelo Postiga? Jorge Jesus é outro que entrou na minha lista negra: sempre foi um cromo de primeira, mas, na época passada, o seu Belenenses foi empatar 1-1 ao Dragão com Postiga (olha ele outra vez) a marcar o golo do FC Porto em nítido fora-de-jogo junto ao árbitro assistente. Comentário de Jesus: "resultado justo". E depois vêm os portistas e o lagartos (embora isto não lhes diga respeito), com toda a moral lata do Mundo, reclamar que o Benfica é sempre beneficiado. Eu ainda acho que a arbitragem do jogo de Domingo foi para enganar. Daqui para a frente o Benfica, jogando bem ou mal, deverá ser ainda mais prejudicado. Mas isto sou eu a prever. Dito isto, convém referir que o Benfica fez um péssimo jogo contra o Sp. Braga e que estes mereciam, no mínimo, o empate. Mas em vez de ser uma vitória sofrida - o que nunca me deixa entusiasmado - tornou-se uma vitória sem mérito devido à actuação lastimável do árbitro. E eu odeio ganhar assim. O meu Benfica não precisa disto. Ao contrário de outros.

 

Golden Globes

Slumdog Millionaire e Vicky Cristina Barcelona foram eleitos como os melhores filmes de 2008 para a Imprensa Estrangeira em Hollywood. Não vi nenhum dos dois, embora alguns dos nomeados já estejam em fila de espera para os assistir. Mas o melhor foi ver a consagração absoluta de Kate Winslet (a minha actriz favorita no momento), de Mickey Rourke, Colin Farrell (a representar esse grande filme que éEm Bruges) e, como não podia deixar de ser, Heath Ledger que anda a papar tudo que é prémio com o seu Joker d'O Cavaleiro das Trevas. Uma pena queWALL•Etenha sido remetido ao estigma de "filme de animação", porque este filme merece todos os prémios e mais alguns. Quanto às séries, o previsível: 30 Rock a engolir tudo desde série (Entourage merecia mais), actor e actriz eMad Mena levar de vencida mais uma vez na categoria drama. Não havia LOST para torcer, mas Dexter já merece o prémio há muito, principalmente Michael C. Hall, a alma da série. Ainda assim, fiquei com saliva na boca para começar a ver In Treatment com o premiado Gabriel Byrne. Ah! Vamos agradecer aos Céus o facto de Clint Eastwood não ter ganho com a sua ridícula canção de Gran Torino, mas só a nomeação é uma facada bem funda na credibilidade do Golden Globe.

 

Bush passa testemunho a Obama

Este sim, um verdadeiro ALELUIA! de "vai e não voltes mais".

 

publicado às 22:46

Prazo de validade

por Antero, em 28.10.08

 

Individuo tem uma relação conturbada com o próprio pai (que prefere um dos filhos mais novos), mas que, na ânsia de lhe provar o seu valor, acaba por seguir-lhe as pisadas até ser bem sucedido e chegar a um cargo altamente influente. Histórias como esta já foram vistas e revistas incontáveis vezes pelo Cinema. W. de Oliver Stone destaca-se pelo oportunismo: o tal individuo é George W. Bush e o cargo é nada menos que Presidente dos Estados Unidos da América. Crónica da ascensão de Bush Júnior, pelo qual ninguém dava nada, até chegar a Presidente da nação mais poderosa do mundo (com especial ênfase na guerra contra o terrorismo), o filme mistura ficção e factos reais e, tal como no fabuloso A Rainha, a sua principal preocupação não é da provocar mas sim soar verosímil e humanizar o seu objecto de estudo.

 

Temos assim dois núcleos distintos: o anterior à presidência dos EUA (que, obviamente, engloba mais anos da cronologia) e o da controversa Guerra no Iraque que, mais actual, retrata os bastidores das decisões estratégicas da administração Bush. Ambos os núcleos são abordados de forma não-linear, uma vez que o filme recorre a flashbacks e a flash-forwards para contar a sua história, conseguindo fluidez e coesão entre os vários espaços de tempos. No entanto, relativamente ao conteúdo de cada núcleo, convém dizer que o que se refere à "biografia" de Bush é decepcionante: mais parecendo um encadeamento dos pontos mais importantes, o filme resume tudo a um conflito pai-filho, deixando muitos aspectos de fora que seriam interessantes desenvolver. Como, por exemplo, Laura Bush. Porque ela se envolveu com ele? Pelo estatuto social da família? Pelo seu espírito rebelde? Segundo o filme, seria uma paixão de adolescência, o que é frustrante, pois quando ambos são apresentados, nota-se que eles têm concepções políticas divergentes.

 

Outro ponto que mal é abordado é a dinâmica da família Bush. Na visão do filme, George seria renegado por todos e faria todo o sentido mostrar a relação entre ele e o irmão que o pai prefere. Porém, o irmão praticamente não aparece. Mas o que é realmente uma pena é Oliver Stone não debruçar-se (seria medo?) sobre as polémicas (para dizer o mínimo) eleições de 2000, nas quais Bush derrotou Al Gore. O máximo que o filme faz é uma frase num diálogo de Bush pai e só. Para esta decepção contribui também a realização de Oliver Stone que está longe da força de um JFK ou Wall Street (que seria mais apropriada), mas que não transforma W. num pastelão como World Trade Center. Aí sim, o filme estaria arruinado. Por outro lado, sempre que o foco se desvia para os bastidores da Casa Branca, Stone mostra, aqui e ali, a irreverência que o tornou famoso. Retratando Bush como um homem que toma decisões baseadas em sonhos espirituais com Deus e que não tem plena consciência da complexidade de uma boa política externa, Stone aponta o dedo ao presidente declarando que este é facilmente manipulado pelos seus conselheiros. Assim, o núcleo do filme que porventura seria o menos interessante, uma vez que já tanto se discutiu sobre ele, torna-se na verdadeira atracção do mesmo.

 

Josh Brolin como George Bush consegue uma verdadeira proeza ao contrariar a realização errática de Oliver Stone. Enquanto a câmara deste puxa as personagens para a caricatura (o modo como Bush fala e come alarvemente), Brolin consegue evitar todas as armadilhas e transforma a personagem principal num ser humano complexo, cheio de conflitos internos. Por comparação, podem ver a caracterização de Thandie Newton como Condoleezza Rice: aquilo é pura caricatura sem qualquer propósito narrativo. Outro que se destaca é Richard Dreyfuss como o vice-presindente Dick Cheney: autêntica ratazana da cena política norte-americana, Cheney sabe como manipular Bush e restante administração e Dreyfuss retrata-o com imensa competência. Basta ver o diálogo durante um almoço em que Cheney mostra uma proposta de lei para aumentar a dureza dos interrogatórios a supeitos de terrorismo e em que Bush declara: "Mas isso não será tortura? Na América, não torturamos ninguém". Ao que Cheney remata: "Não, não. Não na América." e Dreyfuss diz isto com uma confiança inabalável digna de um político que sabe o que quer e como o fazer.

 

De qualquer das formas, W. ainda consegue atingir a comunicação social norte-americana que, antes e durante a Guerra do Iraque, não questionava os verdadeiros motivos da mesma (que são explicados no filme numa longa cena em que Dreyfuss brilha mais uma vez), servindo como porta-voz das decisões da Casa Branca. Outro que não fica nada bem na fotografia é Colin Powell, secretário de Estado, que tenta argumentar contra a designação do chamado "Eixo do Mal" e as ofensivas dos EUA sem provas concretas, mas que logo se deixa levar pela ideia dos proveitos económicos que a ocupação norte-americana no Médio Oriente traria para aquela administração. A ideia de misturar imagens de arquivo com os actores durante o famoso discurso no Senado em que Bush declara que "quem não está connosco, está com o terrorismo" é bem sacada, uma vez que ao mostrar políticos como John McCain e Hillary Clinton a mensagem é clara: aqueles que hoje lhe viram as costas, já o apoiaram sem reservas.

 

No entanto, o grande defeito de W. é algo externo ao filme: a sua falta de relevância actual. Hoje em dia, com os índices de popularidade de Bush tão em baixo, é muito fácil olhar para trás e apontar o que esteve mal, onde tudo falhou. Se tivesse sido lançado há quatro anos atrás, por alturas da reeleição de Bush, não tenho dúvidas que o filme faria uma grande parelha com Fahrenheit 9/11. É pena que o filme aponte o dedo a certos sectores sem se aperceber que padece do mesmo mal. É como se o seu prazo de validade tivesse expirado mesmo antes de chegar às salas de cinema.

 

Qualidade da banha: 13/20

 

publicado às 19:01


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

Pesquisar

  Pesquisar no Blog


Armazém

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D