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George Lucas é um tipo teimoso. Criador da saga Star Wars, ele, pura e simplesmente, não quer deixar o seu bebé "morrer", ou seja, deixar de lhe render uns bons trocados. Umas vezes, sai-se bem; outras nem tanto. Nos últimos anos, ele dedicou-se a produzir uma série animada para o canal Cartoon Network que daria continuação ao primeiro volume da série Clone Wars e que relata o que se passou entre o Episódio II - O Ataque dos Clones e o Episódio III - A Vingança dos Sith. Porém, com o seu olhar iluminado para o marketing, ele decidiu que o filme televisivo, que prepararia para o novo volume da série, deveria ser lançado nos cinemas. Uma péssima decisão.
Contando com uma história de caca, Star Wars: A Guerra dos Clones põe Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker numa missão de resgatar o filho de Jabba, The Hutt, que havia sido raptado pelas forças separatistas da República, sendo que esta tem interesse em manter relações com os Hutts, devido à sua influência nos Territórios Externos e que poderá dar um novo rumo à guerra. Ao estar situado entre duas obras já conhecidas do público, o filme pouco poderá acrescentar às personagens principais, eliminando qualquer surpresa na cronologia. Desta forma, o filme inclui novas adições ao universo Star Wars, o que possibilitará que o foco do filme se desvie das personagens que já conhecemos e invista nas relações entre eles e as novas aquisições (e a forma como isso poderá levar ao desfecho que todos conhecemos).
Ledo engano. A personagem de Ahsoka, que surge como aprendiz de Anakin, é retratada seguindo todos os clichés possíveis e imaginários: ela é uma criança que luta para ser tratada como adulta, é rebelde e imatura e as discussões entre ela e o seu mestre são vazias e irritantes. Por outro lado, A Guerra dos Clones investe num esquema narrativo de mergulhar o espectador numa cena de acção a cada 5 minutos e estas são fraquíssimas, muito devido à animação pouco fluída e sem grande detalhe. No pequeno ecrã, talvez passasse despercebido mas, na tela do cinema, esses defeitos são ressaltados. Pior de tudo, é ver as tentativas de fazer piadas com os droídes e com o filho de Jabba (retratado como um bebé fofinho e pronto a ser abraçado, por isso não se admirem se o virem numa montra da Toys 'R' Us). Para terem uma ideia, há uma altura em que um droíde, antes de ser esmagado, exclama "Oh, Meu Deus!" o que, naquela situação, levou-me a repetir mentalmente essa frase.
O certo é que tratando o espectador como se fosse uma criança que se contenta com explosões e cores, não se consegue disfarçar o facto de que A Guerra dos Clones é um filme aborrecido a vários níveis: seja na animação; no design das personagens (nota-se claramente que todo o processo foi apressado), na história que não avança; na música, que parece uma versão pirateada da partitura de John Williams; e, até mesmo, na narração no início do filme, em que o painel que sobe em direcção ao infinito é substituído por um discurso que mais faz lembrar aqueles folhetins radiofónicos da 2ª Guerra Mundial.
No entanto, o mais decepcionante é perceber que A Guerra dos Clones não tem um décimo do charme do primeiro volume de Clone Wars (o qual tive oportunidade de assistir numa maratona promovida pelo Cinanima, há uns anos atrás). E se levarmos em conta que este último foi feito em animação tradicional e com menos meios, mas cujo design respeitava a animação japonesa e as cenas de acção eram eficazes, já podem ter uma noção da gritante falta de qualidade d' A Guerra dos Clones. Sabem qual é a resposta para a pergunta que dá título a este post? Na conta bancária do senhor Lucas.
Qualidade da banha: 5/20
Aqui há uns tempos ao ser entrevistado, George Lucas, criador e produtor das sagas A Guerra das Estrelas e Indiana Jones, referiu-se do seguinte modo ao novo filme da saga do arqueólogo Henry Jones Jr., que, na altura, estava em fase de filmagens: "Basicamente, vamos fazer A Ameaça Fantasma outra vez!". Ele não estava a menosprezar o filme dizendo que ia ser mais fraco que os restantes, como aconteceu com o chato episódio I da saga intergalática. O que ele queria dizer era que as expectativas eram tão grandes que, dificilmente, o filme conseguiria estar à altura delas. Tendo isto em mente, o que leva a ele, a Steven Spielberg e a Harrison Ford a levar avante uma nova empreitada, que chega hoje aos cinemas com o nome Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, sabendo que tal poderá não resultar como eles desejam?
Dinheiro e estatuto. Esta é a mais pura verdade: Lucas tem de lançar um filme ultra-lucrativo a cada 3 anos, Spielberg tem de cair nas graças do público novamente e voltar a fazer êxitos planetários e Harrison Ford tem de se manter no activo (e com sucessos já agora, que os últimos filmes dele...) sob pena de não poder voltar às luzes da ribalta. Certamente, será isto que lhes passa pela cabeça porque eu não vislumbro outra justificação para lançar mais um capítulo da saga, que é, com certeza, uma daquelas desilusões cinematográficas que um gajo apanha quando o rei faz anos.
Comecemos pelo argumento: os três sempre disseram que só voltariam com um novo filme caso a história fosse realmente boa e tivesse algo a acrescentar à ex-trilogia. Pois bem, a história não tem ponta por onde se lhe pegue, está cheia de furos e quando o filme realmente acerta no ponto (pouquíssimas vezes) deve-se mais à mitologia estabelecida pelos 3 primeiros filmes do que propriamente por ideias novas. E se o "algo a acrescentar à saga" vem na personagem de Mutt Williams, eu vou ali e já venho.
As cenas de acção são burocráticas ao máximo, exceptuando-se talvez a perseguição de moto, e nada empolgantes. Aliás, em todo o filme não se nota a mão de Spielberg para este tipo de filmes, cuja acção tem de ser envolvente e dinâmica, algo que é ressaltado pelo absurdo de cenas como a do frigorífico (quem viu, percebe), das três cataratas e a do "Tarzan improvisado" (mais uma vez, quem viu percebe; quem não viu, abençoado seja). Disse Lucas e Spielberg que só iam recorrer a efeitos especiais de computador quando fosse estritamente necessário e tal é falso: da metade do filme para a frente dá-se uma overdose de CGI e nem por isso são dos melhores efeitos especiais que andam por aí.
As interpretações são boas: Harrison Ford continua excelente no papel, embore não se esforce por aí além; Shia LaBeouf demonstra mais uma vez o carisma de Transformers e Paranóia; Cate Blanchett também se safa no papel da estereótipada vilã comunista dos anos 50; e como é bom ver Karen Allen de volta! A única interpretação que destoa é a de John Hurt no papel de Oxley, mas a culpa nem é dele mas sim do argumento que lhe dá falas como "Eles foram para o espaço entre os espaços". Mais tosco, impossível!
O filme nem as poucas boas ideias que tem consegue aproveitar: o clima da perseguição ao comunismo que se vivia nos EUA nos anos 50 (o filme passa-se em 1957, exactos 19 anos depois do terceiro filme) podia ser melhor desenvolvido, sendo que o único conflito que ocorre é logo no início quando o Governo põe em causa todo o trabalho de Indiana por pensar que ele ajuda os russos; o anacronismo de um herói clássico de aventuras estar ainda em acção no início da era atómica como metáfora para o lugar da saga no cinema actual (isto foi muito melhor desenvolvido no último Rocky); a ideia da fotografia que dá a impressão que o filme foi filmado nos anos 80 perde o sentido quando o CGI toma conta da história; o templo onde deve ser depositada a tal Caveira de Cristal é um achado, mas já vem tarde, quando todo o esforço de encontrar algo de original já está perdido; e a oportunidade de fazer uma alegoria com símbolos cristãos que esteve presente nos filmes anteriores é completamente rasteira e só deverá ser notada porque... tal esteve presente nos filmes anteriores!
Já se sabe que as expectativas eram elevadíssimas e que é sempre dificil lidar com isso. Mas é complicado encontrar pontos positivos numa obra que dá a impressão que todos os envolvidos estão a fazer um frete e que não se empenharam a fundo, em que a história anda aos solavancos, que as cenas de acção não trazem nada de novo, alinhando na moda dos últimos anos de fazer tudo parecer um videojogo, retirando-lhes autenticidade. Este parece-me ser o grande erro do filme: trazer o herói para o cinema do século XXI em vez de levar o espectador por uma viagem pela magia dos filmes da década de 80. Só por este prisma é que se pode dizer que Indiana Jones tem lugar no cinema actual.
Qualidade da banha: 7/20
Marion: "Não és o homem que conheci há 10 anos atrás."
Indiana: "Não são os anos, querida, é a quilometragem."
Diálogo d' Os Salteadores da Arca Perdida
Nunca tive o prazer de assistir nenhum dos filmes da saga Indiana Jones no cinema, algo que será retificado na próxima Quinta-feira, quando estrear o novo tomo: Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. O que é muito estranho, pois todo o universo criado por George Lucas e Steven Spielberg não é mais que uma grande homenagem ao cinema, àquele cinema de aventuras e acção inocente dos anos 30 e 40, que preenchiam o imaginário dos jovens de então. Obviamente que não tinha ainda nascido quando os dois primeiros filmes foram lançados, sendo que no terceiro ia a caminho dos 4 anos, quando as preocupações passavam, obrigatoriamente, por brincar, comer e dormir.
Sendo assim, creio que vi todos os três filmes na televisão, o que não retira em nada o charme e o impacto das aventuras do arqueólogo Doutor Jones e companhia. Indiana Jones e o Templo Perdido (1984) foi aquele que vi mais vezes, acho que até foi o primeiro que assisti, ou seja, acabei por respeitar a cronologia do universo da personagem. Toda a cena inicial no Club Obi-Wan (perceberam?) em busca do diamante, aquele jantar nojento e a fastástica perseguição na mina faziam as minhas delícias. Por outro lado, tinha um medo terrrível da cena do ritual satânico, em que o mauzão arranca o coração ainda a bater do peito de um tipo qualquer.
Depois vi Os Salteadores da Arca Perdida (1981), provavelmente o melhor filme da série, em que a personagem foi apresentada ao mundo. Como só anos depois vim a saber que este tinha sido o primeiro filme a ser lançado, é que reparei como o filme é realmente bom: toda a apresentação da personagem e da mitologia que o rodeia é perfeita, Harrison Ford incorporou de tal maneira o papel que é impossível imaginar outro actor a interpretá-lo, diálogos majestosos a fazer lembras as comédias das décadas de 30 e 40, e uma magia que só os grandes filmes proporcionam. O final fecha o filme de forma perfeita e cínica, quando Spielberg sabia como encerrar os seus filmes da melhor maneira, algo que foi perdendo com o tempo.
Tempos mais tarde, acabei por assistir à grande aventura que é Indiana Jones e a Grande Cruzada (1989), com um ritmo mais leve contrapondo ao negrume de ...Templo Perdido. A história tem bastantes semelhanças com o primeiro filme da personagem, mas os acertos são tantos que tornam o filme mais de que um mero entretenimento: a acção é melhor e desenfreada, é o mais bem humorado dos 3 filmes (a piada de Hitler é clássica), toda a sequência inicial com o jovem Indiana, e, claro, Sean Connery como pai de Indiana, Henry Jones, caiu como uma luva no papel e a sua química com Harrison Ford é imaculada. Como James Bond foi uma das inspirações para a personagem e Spielberg andava desgostoso pois queria realizar um filme do espião, mas não lhe deixavam, só o eterno 007 para ser o pai de Indiana Jones. Um grande entertenimento como só Spielberg sabe fazer (mas parece que foi perdendo o jeito...).
Com o revivalismo dos anos 80 que se tem assistido no cinema (e não só) nos últimos anos, o lançamento de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal acaba por ser um dos pontos altos deste movimento. É uma pena que Sean Connery não tenha alinhado em participar neste filme, mas trouxeram a personagem de Marion, a primeira Indy-girl e o grande amor de Indiana Jones, o que me parece bastante acertado. Espero mais do que um filme de Verão: espero sentir-me como os espectadores se sentiram nos anos 80; que o filme faça jus aos anteriores; que a aventura e o entretenimento sejam de primeira água; que a música do grande John Williams me arrepie todo e me embale durante o filme todo; acima de tudo, quero a magia de volta!
Nunca tive o prazer de ver nenhum dos filmes da saga Indiana Jones no cinema. Quase que diria que este último vai ser lançado só para que eu tenha esse prazer...