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Fringe: o fim

por Antero, em 22.01.13

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Há quase três anos, na ressaca do final de LOST, pedi que me aconselhassem uma nova série que preenchesse a minha necessidade de uma narrativa televisiva semanal inteligente. Indicaram-me Fringe avisando para ser paciente com a primeira temporada que na segunda a história começaria a carburar. Meu dito meu feito: ainda demorei a acabar o primeiro ano, mas devorei o segundo em poucos dias e os poucos episódios do terceiro que me faltavam até chegar à exibição norte-americana também foram despachados em pouco tempo. Fringe era um oásis numa televisão recheada de enlatados criminais e dramas clínicos: com personagens cativantes e uma mitologia riquíssima (algo que divide com a série da Ilha mais famosa da TV), a série era uma ficção científica de primeira categoria que não se acobardava diante dos desafios proporcionados pela sua narrativa - e quando a guerra com a realidade paralela se tornou uma realidade, a série tornou-se numa montanha-russa de emoções que espremia ao máximo as possibilidades dos seus conceitos absurdos.

 

O preço a pagar por não subestimar a inteligência dos espectadores foi o óbvio: audiências pífias e a ameaça do cancelamento nos últimos anos. Como a série não atraía as atenções de um Emmy ou de um Golden Globe e a base de fãs era pequena (embora fiel), é quase um milagre que Fringe tenha conseguido atingir cinco temporadas e a marca de 100 episódios – o que é ainda mais espantoso vindo de uma estação aberta (mais sensível ao impacto nas audiências) como a FOX, conhecida pelas suas decisões de fechar a torneira prematuramente a produtos de fantasia e ficção científica sem nenhum voto de confiança, algo que Fringe beneficiou várias vezes (apesar de, na minha opinião, isto ter influenciado negativamente os rumos da história). Assim, antes de mais há que congratular toda a equipa pelo esforço em manter no ar e conseguirem completar uma arriscada produção que, para salvar a pele, bem poderia basear-se em episódios isolados e personagens unidimensionais como acontece na maioria dos casos na televisão atual.

 

Antes de passar para o final propriamente dito, convém fazer uma recapitulação do ponto onde deixei de comentar a série semanalmente por absoluta falta de tempo: com a busca das cassetes com partes do plano para derrotar os Observadores em curso, Peter implanta em si o dispositivo que fornece aos vilões as suas extraordinárias capacidades, o que, claro, opera no sujeito uma crescente metamorfose que diminui a usa humanidade em prol de uma inteligência e perceção superior que o aproxima da apatia e frieza daqueles que deseja aniquilar. Isto trazia dois problemas: com Peter superpoderoso e capaz por si só de vencer os Observadores, todo o esquema das cassetes e o tempo perdido com elas tornar-se-iam redundantes. A solução encontrada foi trazer Peter de volta à normalidade através da sua relação com Olivia e, por mais que tenha gostado da maneira como isto ocorreu (quando Fringe apela para o lado emocional consegue ser bem lamechas, mas a forma como Olivia recorre ao luto de Etta para resgatar Peter foi simplesmente comovente), não posso deixar de ficar desiludido uma vez que preferia acompanhar a queda do nosso herói no lado negro pela salvação da raça humana do que ficar à espera das informações da cassete seguinte.

 

Voltámos, então, à rotina de antes: recuperar artefactos que pudessem auxiliar no plano final. Ao mesmo tempo, Walter lidava com a "regressão" da sua personalidade para o tempo em que a sua megalomania deitou tudo a perder; sacrifícios foram feitos (a despedida de Nina Sharp foi sensacional); soubemos mais sobre os Observadores, sendo que Windmark, o chefão, tem de responder a um superior muitos anos no futuro (e lança o interessante conceito de "protocolo temporal" que deve ser respeitado); e Michael, o rapaz observador visto na primeira temporada, revela-se como peça fundamental para a missão dos nossos heróis. Filho de Setembro (despojado das suas habilidades devido às suas interferências na linha temporal), o rapaz trata-se de uma anomalia genética na linhagem dos Observadores e que, para sua proteção, foi enviado para o passado antes que pudesse ser detetado e eliminado.

 

 

Mas o que tem Michael de tão diferente? Tal como o pai, ele alia o seu intelecto superior a uma compreensão das emoções que regem os comportamentos humanos – e se Setembro tinha alguma dificuldade em compreendê-las (embora não as negasse), o seu filho demonstra entendê-las na sua plenitude, tanto é que através de lembranças projetadas em Walter que este consegue descortinar que o obscuro Donald é o próprio Setembro, haja visto a amizade que cresceu entre os dois. Desta forma, Fringe continua a pavimentar o caminho que sempre guiou os seus rumos: a parentalidade como definidora do nosso caráter e catalisadora das nossas emoções mais extremas. O poder de Michael, aliás, vai muito além dos seus companheiros de espécie como visto na cena em que Windmark o tenta interrogar e acaba por sofrer dos efeitos secundários recorrentes da extração de memórias.

 

O plano em si sinceramente... deixou-me dececionado. Já se sabe que cada uma das partes teria a sua função, mas vê-lo a ser posto em prática por uma sugestão milagrosa de Astrid revela que o mesmo talvez não tivesse sido tão bem pensado quanto isso. E com tão pouco tempo até o encerramento, era óbvio que nada iria correr mal: enviar Michael para o futuro para demonstrar que esta "anomalia" pode ser uma bem-vinda evolução cognitiva dos Observadores e estes não precisariam de ser criados sem emoções e, deste modo, a invasão de 2015 poderá ser evitada. Walter acompanha o miúdo devido à morte sem sal de Setembro e também para não se tornar um paradoxo temporal capaz de pôr em risco todo o plano – confesso que esta parte não percebi muito bem. Se Walter redesenhasse a linha do tempo, por que raio se tornaria numa ameaça ao sucesso da missão? Ao reescrever tudo, nunca haveria invasão, cassetes, planos, mortes e afins e o cientista seguiria confortável a sua vidinha. A cassete com a revelação de Walter para Peter foi um momento poderoso entre os dois, mas não faz qualquer sentido já que, se tudo corresse como previsto, ela jamais seria vista.

 

Por outro lado, lembraram-se de algo com o qual me questionava há imenso tempo: o Lado B. É através dele que Olivia resgata Michael dos Observadores e como foi bom rever Altivia e Lincoln. Ao longo do episódio final, vários são os momentos que remetem para outros capítulos da série como a droga alucinogénia que simula borboletas mortais, os isótopos radioativos, balas de antigravidade e por aí fora. E, claro, o regresso do cortexiphan, cujas doses maciças injetadas em Olivia permitem-lhe não só cruzar os universos como também ter um acesso de fúria e matar Windmark antes que este se teletransportasse completamente. No entanto, a informação mais importante da conclusão foi sabermos que a expedição que incluía Setembro continha 12 Observadores (cujo nome de código refere-se a cada mês do ano), sendo que este grupo inicial afeiçoou-se de tal maneira à natureza humana (lembrem-se que Agosto morreu por se ter apaixonado por uma humana e Setembro salvou Walter e o jovem Peter do lago por compaixão) que acabam por conspirar contra o reinado de opressão chefiado por Windmark.

 

O plano corre bem: Michael e Walter vão para o futuro e a linha do tempo é reescrita. Tudo o que vimos referente à quinta temporada (mais o episódio 4x19) não aconteceu. A invasão foi impedida e os Observadores não existem... pelo menos não da maneira como os conhecíamos. Assim, como Peter pode estar são e salvo junto de Olivia e da pequena Etta a usufruir de uma tarde no parque? Duas hipóteses:

  • No futuro, Walter pode ter alertado para o envio da expedição original e da necessidade de Setembro (ou outro qualquer) interferir no rumo dos acontecimentos no momento em que Walter cruza o universo para resgatar o filho doente. Assim, a linha do tempo original é preservada até 2015 (as quatro primeiras temporadas) e é a partir deste ponto que tudo foi alterado.
  • Esta é mais complicada: não havendo Observadores também nunca houve expedição original e Setembro nunca existiu para interferir. Logo tanto o Peter do Lado A como o do Lado B morreriam (por razões diferentes) e não haveria Fringe para ninguém. A questão é que... Peter é uma anomalia. Foi apagado no final da terceira temporada e reapareceu em Reiden Lake no início da quarta temporada. Ele próprio conseguiu furar a lógica do seu desaparecimento e as regras não se aplicam a ele. É como se o universo tivesse feito uns pequenos ajustes à sua continuidade devido à ausência de um dos seus elementos: na temporada 4 foi Peter; agora são os Observadores. 

 

Não foi a melhor das temporadas (creio que até foi a menos boa de todas), mas foi um encerramento digno. Como já referi, ter chegado aqui foi um milagre: a indecisão do cancelamento criou uma abrupta reviravolta da terceira para a quarta temporada, originou um final insatisfatório a apressado para esta última e levou a uma temporada final mais curta que, mesmo sem os rasgos de criatividade de outrora, encerrou as pontas convenientemente. Olhando para trás, há que saudar a competência e coesão de Fringe (algo a confirmar numa futura maratona), com uma primeira temporada a plantar as sementes de forma cuidada e lenta (ah, os casos do Padrão!) para injetar fôlego num segundo ano a fazer a ponte para a explosão de ousadia e qualidade narrativas vistas na temporada 3 (ainda a minha favorita). A quarta começou devagar, mas depois arrancou de vez com mais mistérios, nós no cérebro e respostas ansiadas há muito. Esta temporada voltou a mexer na estrutura da série: foram-se os casos da semana e ficava a missão de derrotar os Observadores.

 

E, no meio disto tudo, o que não falhava era a fabulosa galeria de personagens e os seus dramas: Olivia e o seu distanciamento emocional devido a experimentos científicos e a um pai abusivo; Walter e o seu complexo de Deus transformado em remorso que o levou a operar o cérebro, o que lhe forneceu uma deliciosa infantilidade; Peter e a sua gradual e comovente reaproximação do pai. E, claro, os secundários: Astrid, Broyles, Nina, Setembro, William Bell, David Robert Jones, os metamorfos, e tantos outros que pontuaram a narrativa – sem esquecer as contrapartes que habitam o Lado B com os seus dirigíveis, as Torres Gémeas intactas e a sua Estátua da Liberdade de bronze. Mais os conceitos absurdos e divertidos, a mitologia única, e temas universais como a relação pais-filhos, Destino versus Livre Arbítrio, a Ciência como algo a ser simultaneamente contemplado e temido.

 

E agora?

 

Agora olho à minha volta e não vejo nada de bom. Vejo séries de investigação que já devem esgotado o stock de homicidas dos EUA, dramas clínicos cujo emparelhamento romântico de casais já devem ter usado todas as combinações possíveis com o elenco disponível, produtos formatados para um público jovem que os consome sem perceber que subestimam e até insultam a sua inteligência. Acabou-se Fringe e não vejo uma série que me desperte aquele fascínio de dissecá-la, discuti-la, de exercitar o meu cérebro com cambalhotas até ele quebrar, com aqueles momentos "WTF?" ou "PQP!". Não vejo ambiguidade ou engenho (ok, berram-me aos ouvidos "Breaking Bad! Breaking Bad!" e eu juro que hei de lá chegar). Houve uma altura em que estreava a série com o rótulo de "novo LOST". Fringe apareceu nessa altura, foi caracterizada como tal (embora deva mais a Ficheiros Secretos do que a LOST) e daquela fornada foi a única artisticamente bem-sucedida.

 

E para todos aqueles que estão a fritar massa cinzenta à procura de uma explicação para a tulipa branca que Peter recebe nos derradeiros segundos, não pensem muito nisso. Se é um furo ou se há realmente uma justificação para aquilo, essa é a herança que Fringe nos deixa. Erro ou não, se Peter percebe o seu significado ou se Walter conseguiu sabe-se lá como enviá-la, a tulipa vale pelo simbolismo que encerra em si. E nada mais justo que nos despeçamos desta fantástica série com ela.

 

 

publicado às 23:26

Fringe: o pioneiro

por Antero, em 13.11.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Sim, eu sei que tenho quatro episódios de Fringe em atraso, mas nada temam: não abandonei a série nem estou desiludido com a mesma – muito pelo contrário. Tirando o terceiro capítulo com aquela foleirada de povo que registava tudo naqueles cubos e tomava uma atitude passiva perante os acontecimentos (como qualquer historiador) e cujo sacrifício daquele pai ao ajudar a Divisão Fringe já se antecipava a milhas do fim, os rumos tomados nesta reta final estão a agradar-me e muito.

 

A questão das cassetes de vídeo ainda me causa arrepios (eu pensei que elas estariam espalhadas pela cidade e não que estariam todas presas no âmbar), mas quanto menos pensar nisso melhor. A morte de Etta nas mãos dos Observadores foi surpreendente por acontecer tão cedo e por ser o estopim da revolução que Peter opera em si mesmo. Como Olivia já referira em conversa com o marido, o desaparecimento da filha de ambos fez com que Peter se agarrasse à ideia de a reencontrar e Olivia, já sem esperanças, preferiu reunir forças pela Resistência. Assim, não admira que ela adote uma postura mais distante durante o luto (totalmente condizente com a sua personalidade) e Peter embarque numa jornada de vingança e fúria com consequências imprevisíveis – e potencialmente desastrosas.

 

Claro que isto faz com que Anna Torv ande meia apagada, o que é compensado pelo show dado por Joshua Jackson na sua cruzada contra os Observadores: ao implantar o dispositivo que os torna tão poderosos, Peter é provavelmente o primeiro de todos os Observadores, algo que reforça ainda mais a sua importância no "grande esquema das coisas" e justifica a sua salvação quando quase se afogava logo após Walter o ter raptado do Lado B e o facto de ter "regressado" na quarta temporada. Desta forma, Fringe parece investir numa lógica circular tão comum em narrativas que lidam com viagens no tempo (e que tanto me fascinam) e parece mesmo disposta a fechar as pontas soltas de maneira coerente (o que pode ser comprovado com o ressurgimento daquele rapaz visto na primeira temporada e que, sabemos agora, sempre era um Observador).

 

Sempre disponível para mergulhar em ideias intrigantes, Fringe introduz o conceito de um pocket universe (ou mundo compacto para quem, como eu, leu banda desenhada a mais), um universo inserido nos limites de outro maior, mas que não pode ser acedido pelos meios normais e onde as regras da Ciência não funcionam da mesma forma (um exemplo famosíssimo é a Ilha de LOST), embora escorregue na tolice de fazer-nos acreditar que Walter guardaria exemplos de casos arquivados e confidenciais na cave do laboratório, apesar de a ideia de os usar contra os Observadores tenha a sua piada. E ainda que eu ache que a busca pelas cassetes não funciona na perfeição, tenho de tirar o chapéu pelo facto de a série conseguir equilibrar a sua continuidade narrativa com um aspeto que sempre a caracterizou: os casos da semana que acabam por ter uma ténue relação entre si.

 

No entanto, é o lado humano da série que ainda se destaca e se Peter faz uma jogada perigosa para derrotar os Observadores, é provável que isso lhe custe a sua humanidade – o reflexo do próprio Walter que, ao recolocar as partes do cérebro que lhe faltavam, vê-se a voltar a ser o homem que tanto abominava. Mais do que isso: ao tornar-se no potencial primeiro Observador, Peter percorre o mesmo caminho que Walter que, por motivos passionais (a morte do filho), tomou uma decisão catastrófica e deixou dois universos em pé de guerra. É um Peter moralmente dividido entre a sua integridade e a possibilidade de salvar tudo o resto que acompanhamos agora – um lugar onde Walter já esteve tantas vezes e que demonstra um dos temais preferidos de Fringe: a relação entre pais e filhos. Peter, inadvertidamente, está em vias de cometer os mesmos erros do pai.

 

publicado às 23:26

Fringe: fé

por Antero, em 09.10.12

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Fringe 5x02: In Absentia

A distância e frieza de Etta sempre me pareceram uma postura herdada de Olivia que, como bem sabemos, adotava características semelhantes para ocultar os seus problemas de confiança e projetar o seu profissionalismo como agente do FBI. Agora percebemos as verdadeiras razões destes traços da personalidade de Etta – e eles não poderiam ser mais lógicos: criada num mundo dominado pela tirania dos Observadores e que dividiu a raça humana numa autêntica guerra civil, a agente da Resistência encara a brutalidade ao seu redor sem a mínima compaixão, o que a leva a atos de crueldade capazes de a deixar no mesmo patamar daqueles que ela combate.

 

Assim, a surpresa e quase repulsa de Olivia ao não se rever moralidade distorcida da própria filha faz com que Fringe resgate aquilo que tem de melhor: o estudo daquelas personagens e das consequências dos seus atos. Para lidar, despistar e lutar contra o domínio dos Observadores, Etta perdeu a sua humanidade; o contrário torná-la-ia num alvo fácil de ser atingido numa guerra sem inocentes. Ao capturar e torturar barbaramente um Legalista (humanos que se juntaram à causa dos vilões), ela transparece tudo o que perdeu e o que foi obrigada a transformar-se – e é no reencontro com os pais que ela descobre motivos para se tornar num ser melhor, capaz de confiar e de demonstrar emoções.

 

É certo que o esquema das filmagens perdidas como registos do plano de Walter e de Setembro não é das mais originais (e ficarei aborrecido se, por razão nenhuma, a equipa as encontrar na ordem correta uma vez que não há indício do paradeiro das restantes), mas neste episódio Fringe mostra que ainda tem fôlego para, mais do que uma boa ficção científica, ser uma excelente crónica sobre como as circunstâncias nos definem como indivíduos.

 

publicado às 21:31

Fringe: a missão

por Antero, em 03.10.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 5x01: Transilience Thought Unifier Model-11

Findo o temor do cancelamento que pairou durante dois anos, Fringe volta para uma última temporada composta por 13 episódios e cabe-nos agora desfrutar da derradeira jornada até nos despedirmos de vez. Depois do insossofinalda quarta temporada, retomamos os eventos vistos emLetters of Transitde forma rápida e objetiva: em pouco tempo, os dissidentes da Divisão Fringe já libertaram Olivia e preparam-se para pôr em ação o plano que levará à derrocada dos Observadores que, em 2036, controlam a humanidade com mão de ferro com vista à sua extinção.

 

Simples e diretas são também as explicações que preenchem os vazios sobre o que aconteceu nos últimos 20 anos: o que era feito de Olivia, por que Etta não ficou presa em âmbar e como isto afetou Peter e Olivia (na cena mais estranha e desnecessária do episódio, já que os produtores não se contiveram em criar uma cena mais emocional num capítulo recheado delas - e bastante superiores). O plano, engendrado por Setembro e "disperso" na mente de Walter, requer que um aparelho recuperado por Olivia (o tal unificador de pensamentos) para que o cientista se lembre de tudo e, ao mesmo tempo, despistar os novos vilões. O problema é que Walter é capturado e torturado, o que faz com que o plano vá por água abaixo – uma sequência que me recordou Matrix e a semelhante tortura infligida a Morpheus.

 

E já que referi nas cenas mais emocionais, o reencontro entre Olivia e a filha foi tocante e mostra o quanto Anna Torv tem crescido como intérprete, sendo apenas superada pelo inigualável John Noble que, no subtil e belo final do episódio, comove com a redescoberta do prazer da Música e a agonia de perceber que a harmonia inerente a essa arte não encontrar paralelo na sua mente fraturada.

 

Como é bom ter Fringe de volta!

 

publicado às 21:51

A temporada em série (2011-2012)

por Antero, em 30.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

Foi a temporada das despedidas, das poucas descobertas e, no geral, marcada pela negativa no que à qualidade das séries que acompanho diz respeito. Os segundos anos de Game of Thrones e The Killing serão analisados quando terminarem.

 

 


Desperate Housewives: temporada 8

Oito anos. Eu acompanhei esta série por oito anos. O-I-T-O! Foi a série que me apresentou aos downloads pela Internet e criou o bichinho que perdura até hoje. A combinação entre o humor mordaz e o drama das donas de casa de Wisteria Lane foi como amor à primeira vista – e a primeira temporada de Desperate Housewives foi um furacão que arrasou a televisão em 2004/2005 e permanece como uma pérola do meio televisivo contemporâneo. De lá para cá, a série foi tendo altos e baixos, com histórias repetitivas e absurdas, o que até se compreende uma vez que a criação de Marc Cherry é, acima de tudo, uma sátira às soap operas.

 

Esta temporada sofre do mesmo mal das anteriores: entra-se a matar com o mistério da ocasião, escalam-se os eventos até ao tal episódio "especial" (que, abençoado seja, não trouxe desastres absurdos) e depois entra tudo em ponto morto até ao desfecho. Tem sido assim: na obrigação de dar, no mínimo, quatro narrativas diferenciadas às protagonistas, Desperate Housewives enrola mais do que devia e ousa menos do que seria recomendado. Quantas vezes vimos Andrew a atazanar a vida de Bree? Lynette a meter o nariz no trabalho de Tom? Ou Gaby a superar o seu egoísmo? O que vale é que tivemos um mistério que as envolvia a todas quando encobriram o crime de Carlos ao ter assassinado o padrasto de Gaby – e como a série brilha mais quando as quatro cruzam as suas histórias, foi uma delícia ver o plano delas (encabeçado por Bree) desmoronar a passos largos.

 

Para cada boa história, porém, levámos com outras de pouco interesse: as aulas de arte de Susan; os mafiosos que ameaçavam o empreendimento de Ben; a morte de Mike não teve impacto algum, não se relacionou com nada e a história do mafioso acabou por ali mesmo; a bebé de Julie foi um bocejo (estava na cara que ela nunca a abandonaria e tiveram de espetar à força um segredo de Mike para ela mudar de ideias). Por outro lado, Renee destacou-se bem mais que no ano anterior (e com muito mais piada) e algumas sequências relacionadas com o divórcio de Lynette e a nova paixão de Tom foram comoventes (e Felicity Huffman volta a provar que é mais talentosa do elenco e o quanto foi desperdiçada ultimamente). O final foi o feliz entre o possível: Bree foi absolvida; só Susan ficou sem marido, mas com uma neta para criar; Karen McCluskey morre; e mudam-se todas de Fairview ao som da mítica narração da defunta Mary Alice e do regresso de algumas personagens que por lá passaram (e morreram).

 

Fica a memória de uma sensacional primeira temporada, uma terceira e quarta também de alto nível e o restante já é mais do mesmo. Ainda assim, as intrigas, os mistérios e o humor de Wisteria Lane vão deixar saudades.

 

Melhor episódio: 8×09 – Putting It Together: o plano de Bree em encobrir o homicídio de Alejandro deixa-a completamente desgastada e isolada, pelo que ela tenta o suicídio.

 

Pior episódio: 8×18 – Any Moment: Andrew regressa "desomossexualizado" e Susan lida com o rescaldo da morte de Mike e a agressividade do pequeno MJ, o pior ator infantil de qualquer série!

 

 

 

Dexter: temporada 6

Pior era improvável, mas Dexter superou-se na sua mediocridade. Está tudoaqui.

 

Melhor episódio: 6x07 - Nebraska: uma lufada de ar fresco. Dexter é dominado pelo seu lado mau personificado pelo seu irmão. Pena que durou um mísero episódio.

 

Pior episódio: 6x09 - Get Gellar: a reviravolta mais previsível de sempre é apresentada com incrível amadorismo.

 

 

 

Homeland: temporada 1

Inteligente, adulta, provocante e absurdamente tensa, Homeland é um soco no estômago de uma América a lamber as feridas do 11 de setembro e a expurgar os fantasmas da última década. Mas os questionamentos que a série levanta vão muito além das fronteiras norte-americanas e vão ao âmago de cada um de nós: qual o preço a pagar pela nossa segurança? Liberdade? Família? Qualquer hipótese de redenção? Como se não bastasse este fabuloso estudo de personagens imersas nas suas convicções, Homeland ainda oferece um duelo de intepretações (Claire Danes e Damian Lewis nos papeis das suas vidas) simplesmente magistral. Sem mais,a melhor série do ano!

 

Melhor episódio: 1×07 – The Weekend: a meio da temporada de estreia, a série vira o jogo de maneira chocante e abre toda uma janela de possibilidades.

 

Pior episódio: 1×02 – Grace: escolha difícil e injusta numa temporada marcada por uma qualidade altíssima, mas empalidece um pouco em relação ao brilhante capítulo de estreia.

 

 

 

House: temporada 8

Outra que acompanhei por anos a fio (embora não tão religiosamente) e que este ano também se despediu, House atingiu um nível insuportável no início da derradeira temporada – e foi por isso que a abandonei por não conseguir assistir a um cadáver em composição de um produto outrora excelente. Regressei para os três últimos episódios e fiquei satisfeito com o que vi. Não por que a série havia melhorado muito, mas sim por que vi um esforço em dar-lhe um enterro digno, o que, vistas as coisas, já foi o suficiente. Deixei de ver com a entrada daquela irritante médica chinesa e depois da despedida da Thirteen, uma personagem que detestava e que passei a acarinhar com o tempo (ou então o nível baixou tão drasticamente que a beleza de Olivia Wilde ofuscou-me). O que mais me irritava nem era tanto o esquematismo da narrativa (era a fórmula da série e não havia muito a fazer): o que me chateava era a forma como os argumentistas inseriam acontecimentos ditos "bombásticos" aqui e ali para dar a impressão que as personagens "evoluiam" para, logo a seguir, voltar tudo ao mesmo. A estreia, com House na prisão em modo Prison Break, foi a gota de água: depois do desfecho miserável do ano anterior, isto foi o melhor que conseguiram arranjar? Daí até ao abandono foi um tiro - daí que não ache justo apontar qual o melhor e pior episódio, já que não os vi todos. Nem o enorme talento de Hugh Laurie me levou a superar a tortura que era assistir House, maneiras que não posso deixar de estar satisfeito com o fim da série. Metade dela valeu a pena; a outra metade não merece ser recordada.

 

 

 

How I Met Your Mother: temporada 7

Eles conseguiram! Fizeram a pior temporada de How I Met Your Mother! Eles conseguiram arrastar a questão menor da noiva de Barney por um ano inteiro! E ainda por cima é a Robin! Bolas, eu sou dos poucos defensores da altura em que eles foram um casal, mas apenas por que durou pouco tempo e renderam a situação ao máximo. Também não me importo que as coisas estejam mal resolvidas entre os dois e que, de quando em vez, se toque no assunto (como na possível gravidez dela), mas – porra! – apresentam Quinn que pega de estaca com Barney e, pouco depois, volta tudo ao mesmo. Inacreditável! E Ted? Até quando teremos de aturar a chatice crónica da personagem? Ele não se decide: ora está bem sozinho, ora deseja alguém ou então ainda está apaixonado pela Robin e exprime-se de maneira impossivelmente piegas – e estas narrativas circulares tornam-se ainda mais ridículas quando... sabemos que Robin não é a mãe dos filhos dele! O pior ficou guardado para o fim: o regresso de Victoria quando... também sabemos que esta não é mãe! (e, outra coisa, incomodou-me como Ted decide levá-la ao altar por já ter sido lá deixado e, numa questão de minutos, muda de ideias -  que carácter!). Quanto a Marshall e Lily não me lembro de uma única situação memorável envolvendo os dois, o que só mostra o degredo que foi este ano.

 

Melhor episódio: 7×12 – Symphony of Illumination: Robin narra a sua triste história para os filhos... que nunca irá ter.

 

Pior episódio: 7×15 – The Burning Beekeeper: uma história de caca (Lily organiza uma festa que corre mal), tentativas deprimentes em fazer rir e um lamentável desperdício do grande Martin Short.

 

 

 

Fringe: temporada 4

É ler as reviews semanais. Não esteve à altura da temporada anterior, mas foi criativa, empolgante e recheada de momentos memoráveis como se pede a Fringe. É fazer figas para que a última temporada de 13 episódios encerre a série com chave de ouro e apague o sabor amargo deixado pelo final.

 

Melhor episódio: 4x14 - The End of All Things: a origem dos Observadores!

 

Pior episódio: 4x21 - Brave New World (Part 1): apressado e tosco, a primeira parte daquele que esteve para ser o final da série é tudo aquilo que Fringe, bem ou mal, foi sabendo contornar. E nunca pensei que o regresso de William Bell fosse tão insípido.

 

 

Descobertas: Sherlock; Happy Endings

Depressões: Alcatraz, Terra Nova, Falling Skies, Spartacus, Touch, New Girl, The Big Bang Theory

 

Série que tenho mesmo de começar a ver: Breaking Bad


publicado às 23:32

Fringe: um novo mundo

por Antero, em 15.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x21/4x22: Brave New World

Se este fosse o final da série, eu ficaria frustrado. Como final de temporada não foi dos melhores e deixa um sabor amargo na boca, mas há razões para olhar para os 13 episódios finais com esperança e pensar que isto foi apenas um acidente de percurso num produto tão inventivo e atento aos detalhes. Temo que a indecisão da FOX quanto à renovação deixou os produtores com uma enorme bota para descalçar e, assim, tentaram agregar tudo num desfecho que satisfizesse o público fiel, até por que os dois capítulos fecham várias pontas e poderia, sim, ter sido o encerramento previsto. O tal episódio em 2036 ficaria como um sinal do que eles teriam feito caso a machadada final fosse dada pela estação, o que não aconteceu e ainda bem. O que me irritou foi a maneira corrida e trapalhona como tudo foi encadeado.

 

Na primeira parte, vemos que é William Bell a figura por detrás dos planos de David Robert Jones e este era um mero peão das suas maquinações. Primeira escorregadela: uma temporada inteira a desenhar Jones como o grande vilão e traçam-lhe uma despedida inglória numa das maquinações mais absurdas que já acompanhei (sim, até mesmo para Fringe): uns nanorobots disseminados num espaço público que matam por combustão espontânea todos aqueles que se encontram em movimento. Os sobreviventes ficam ali parados à espera de ajuda da Divisão Fringe e estes levam APENAS UMA pessoa como amostra (Rebecca Mader, mais uma a fazer-me suspirar por LOST) quando o FBI facilmente arranjaria meios para ajudar todos os outros que se mantinham imóveis (quanto mais não fosse para deitá-los). Jessica, a cobaia, tem um peripaco enquanto Walter sintetiza o antídoto e é Olivia, com os seus superpoderes, que a estabiliza numa ótima cena que antecipava um excelente rumo para o final.


Nada disso: um raio de luz solar projeta-se sobre Boston e ameaça destruir um reservatório de petróleo sob a cidade. Peter e Olivia seguem no encalço de Jones que estava a controlar o fenómeno e deparam-se com duas antenas no topo dois prédios e que devem ser desativadas AO MESMO TEMPO! Olivia para um lado, Peter para o outro e este é atacado por Jones num mano a mano indigno de uma inteligência superior como o nosso vilão que, certamente, deve ter uma mão cheia de ajudantes mais habilitados para o confronto. Eis que, no outro prédio, Olivia superpoderosa controla o corpo de Peter a ajuda-o a eliminar o "grande vilão" numa cena tão mal conduzida que pensei que estava a assistir Heroes. E tudo isto para quê? Ora, para desviar Peter e Olivia do caminho de Bell e fazer com que Walter reencontrasse o cientista. Como Bell conseguiu planear e executar cuidadosamente tantas variáveis em jogo é um mistério para mim, mas talvez ele já contasse com a inépcia jamais vista de Jones que nem um jogo de xadrez sabe interpretar (era óbvio que o bispo seria ele) e recebe o sermão sobre o jogo como uma lição divina, quando aquilo não é mais do que baboseiras incorretas sobre algo milenar (a peça mais valiosa é o rei e nunca, em momento algum, se sacrifica – ou o jogo termina por desistência!).

 

A segunda parte não foi tão fraca; foi apenas mediana. Começamos com Astrid baleada sabendo que ela estará viva e de boa saúde no futuro, mas ao menos não tentaram criar tensão com o assunto. Talvez desagradado com as escolhas da FOX, o grande plano de Bell é ter uma segunda temporada de Terra Nova à força toda, nem que para isso tenha de destruir dois universos e criar um novo. A tal de Jessica pede ajuda a Olivia, mas era tudo um logro e ela trabalha para Bell. Aqui temos a melhor cena de ambos os episódios: Setembro encurralado a intercetar as balas disparadas por Jessica. No entanto, não consegue evitar o disparo de uma arma mais sofisticada (obra de Bell), o que explica como ele apareceu ferido no laboratório de Walter há uns capítulos atrás. Mais uma vez é Olivia, a Mulher-Maravilha, a conseguir fazer ricochete com as próprias mãos e mata a aliada de Bell. O Observador desaparece depois de declarar a Olivia que a conversa que tiveram sobre o facto de ela estar destinada a morrer de qualquer maneira ainda não havia ocorrido, numa daqueles maravilhosos nós no cérebro que só as viagens no tempo proporcionam.

 

A seguir, tivemos direito à sequência mais bizarra de toda a série e olhem que a concorrência é enorme: o cérebro de Jessica é brevemente reativado através de equipamentos da Massive Dynamic e revela de forma enigmática a localização de Bell e Walter. Estes têm uma conversa onde o primeiro tenta convencer o segundo sobre a validade dos seus planos, afinal a ideia inicial era de Walter antes de este ter removido partes do seu cérebro por temer a pessoa que se estava a tornar. Os universos começam a entrar em colapso e Peter e Olivia chegam mesmo a tempo de impedir Bell, só que este assegura que o processo é irreversível graças aos poderes "cortexiphianos" de Olivia – então, Walter dá-lhe um tiro em cheio na testa e interrompe a destruição das realidades. O resto foi previsível: Bell desaparece ao tocar num sino (momento vergonha alheia) e Walter acaba por "ressuscitar" Olivia, vide as capacidade regenerativas do medicamento vistas no episódio anterior lá com o bolo de limão. Apesar de tudo, a cena foi bem conduzida e deu para sentir o desespero de Peter e o pragmatismo de Walter.

 

A encerrar, a Divisão Fringe recebe um aumento de verbas pelos serviços prestados e Olivia descobre no hospital que está grávida (nas séries, toda a gente descobre que carrega um feto depois de passar por perigo de vida). Seria o desfecho satisfatório se Setembro não aparecesse de rompante no laboratório a avisar que "eles estão a caminho" – "eles" são, naturalmente, os Observadores que preparam-se para tomar conta do Mundo. Nota-se que esta é a cena que distingue o desfecho planeado caso a série fosse cancelada e aquele que faria a ponte para a quinta temporada.

 

No geral, gostei muito da temporada e deram bem a volta à situação do "desaparecimento" de Peter. Abriram novas possibilidades, puseram os dois universos em colaboração total (e todo o elenco foi formidável neste aspeto) e responderam a um monte de perguntas. Já o final foi apressado, mal trabalhado (os poderes de Olivia cresciam consoante os intervalos comerciais) e muito previsível. Brochante seria o termo ideal. Assim, Fringe despede-se este ano abaixo daquilo que nos proporcionou na estupenda terceira temporada, mas é de acreditar que, com 13 episódios, não deverá haver espaço para enrolações nem margem de manobra para soluções enfiadas a martelo.

 

Vemo-nos em setembro!

 

publicado às 17:55

Fringe: futuro sombrio

por Antero, em 03.05.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x19: Letters of Transit e 4x20: Worlds Apart

Para uma série com baixas audiências e que vive no limiar do cancelamento, é um prazer ver que o produto de ficção científica exibido num meio avesso ao tema (leia-se: canal aberto nos EUA) insiste em sair da zona de conforto que provavelmente lhe traria um público estável ainda que à custa de um esvaziamento narrativo da forte mitologia e dos dramas pessoais que sustentam a série. Todo este esforço compensou e a FOX renovou Fringe para uma quinta e última temporada de 13 episódios, o que denota imenso respeito pelos espectadores que acompanham a criativa história ao permitir-lhes um fim planeado com antecedência. A FOX de outros tempos não hesitaria em cancelar Fringe mal os números caíram a pique na terceira temporada e só isso é algo a ser comemorado nos dois universos.

 

Esta introdução serve para declarar que seria um crime Fringe acabar precocemente sem termos a possibilidade de voltar ao futuro visto em Letters of Transit: em 2036 existe um regime totalitário comandado pelos Observadores que aparentemente cansaram-se do livre arbítrio mal usado pelos humanos num futuro ainda mais distante e, como remédio, voltaram no tempo para tomar as rédeas de tudo e estabelecer um mundo onde a liberdade é uma miragem e a opressão é uma realidade. É neste cenário que Desmond, perdão, Simon e Etta (só alguém muito distraído não topou logo que era a filha de Olivia e Peter), agentes de uma Divisão Fringe que funciona como uma força policial de recursos precários, desempenham um papel fulcral na resistência rebelde ao resgatar Walter da sua prisão de âmbar autoimposta.

Sem qualquer relação com a trama central que vinha sendo apresentada, este episódio levanta várias questões: o que levou os Observadores a tornarem-se parte ativa nos rumos da raça humana? Menciona-se um cataclismo em 2015 e vários pontos estão devastados (o Central Park, por exemplo), mas não chega para afirmar se o Lado B foi destruído e ou se foi, de alguma forma, fundido ao Lado A (o café em rebuçados e algumas tecnologias são claramente do outro Lado)? E como Walter pode ter despistado as autoridades ao aprisionar-se em âmbar? Será que sabiam da sua localização e deixaram estar ou perderam-lhe o rasto? E William Bell? Vai aparecer vivinho da silva? O que fez ele a Olivia? Matou-a? Será ele a grande mente a comandar os planos de David Robert Jones?

 

Worlds Apart traz-nos de volta para o presente e a para o centro das maquinações de Jones que, depois de recrutar os antigos colegas de Olivia dos testes de cortexiphan, começa a fundir as duas realidades com o objetivo que estas entrem em colapso e daqui surja um novo universo onde o vilão será rei e senhor. É curioso notar que na temporada anterior víamos os dois universos em conflito (devido ao desejo de vingança de Walternate), e agora acompanhamos um cenário de cooperação e consequente cura do Lado B que só foi possível por causa da mudança de perspetiva daquelas personagens, o que nos leva à maravilhosa e reveladora cena onde os dois Walters conversam lado a lado sobre o sentimento redescoberto pela reaparição do filho perdido e que motivara as ações destrutivas de ambos.

 

Aqui, além de vermos as personagens e respetivas contrapartes em momentos que revelam conexões inesperadas (com destaque para aquela entre as Olivias), o episódio liga de forma objetiva vários pontos-chave da narrativa de Fringe (as cobaias; a zona segura que permitirá a sobrevivência à destruição; as criaturas de Jones) e realça a culpa que Walter sente em relação ao trabalho desenvolvido com William Bell, levando a uma ameaça extrema que requer uma solução radical: desligar a Máquina do Apocalipse e encerrar a ponte que faz a ligação entre os dois universos separando, efetivamente, os dois Mundos – e as consequências desta medida poderão estar relacionadas com o futuro de 2036.

 

Mais dois episódios e siga para a quinta temporada! Abram o champanhe!

 

publicado às 00:39

Fringe: o grande plano

por Antero, em 17.04.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x18: The Consultant

Não é uma maravilha quando Fringe mete os dois universos a trabalhar em conjunto para resolver um caso? Foi isto que senti falta em alguns momentos da temporada, mas agora não posso reclamar: nesta reta final, a série tem usado com engenho este recurso para nos levar a um encerramento de temporada (ou mesmo da série) que promete ser bombástico.

 

O caso da semana deu uma nova luz sobre o que poderá ser o grande plano de David Robert Jones: chocar ambas as realidades que entrariam em rutura e apenas sobrariam aqueles que não têm uma contraparte do outro Lado (Jones e os seus experimentos, Peter, o filho de Broyles). Provavelmente isto explica como o Broyles B cooperava com o vilão na medida em que este ajudava na doença do seu filho, mas, ao fim e ao cabo, talvez não seja boa ideia tentar salvar a vida de um filho se este não tiver um mundo onde viver. Assim, depois de receber instruções para ativar um aparelho na (esquecida) Máquina do Apocalipse que sincronizaria os dois universos na mesma frequência (levando-os ao colapso), Broyles B decide entregar-se.

Já antes, Broyles B auxiliara Olivia a regressar ao Lado A quando esta o ajudara no caso das crianças raptadas (3x07: The Abducted) e, agora, volta para o lado dos bons após remoer-se com outra situação que envolve uma criança – nada mais que o seu filho. Gostei de saber que Broyles não é um metamorfo 2.0 e que pode ser uma mais-valia à Divisão Fringe. O que mais gostei, porém, foi da interação entre Walter e Altivia quando o cientista lhe dá a entender que, com a ameaça de uma toupeira, todos são suspeitos e devem ser investigados - sem esquecer, claro, os ovos mexidos, a piada da acompanhante (não prostituta!) e o facto de o café ser o equivalente ao caviar no Lado B.

 

Enfim, tudo aquilo que a série prometeu no final da terceira temporada (os dois Lados em cooperação mútua) está a ser-nos mostrado de forma elegante, criativa e inteligente – três adjetivos que podem descrever perfeitamente a narrativa de Fringe ao longo destes quatro anos.

 

publicado às 23:39

Fringe: no devido lugar

por Antero, em 11.04.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x17: Everything In Its Right Place

Abram alas para Lincoln Lee, a personagem periférica de Fringe que ganha aqui um episódio inteiro dedicado a ele e agarra a ocasião com unhas e dentes. Sentindo-se como peixe fora de água ao lado de Olivia, Peter e Walter, o mais novo agente da equipa aproveita para ir ao Lado B para fazer um ponto de situação sobre os metamorfos 2.0 de David Robert Jones e depara-se com um dos primeiros e mal-sucedidos experimentos do cientista e que dedica-se a matar criminosos de meia tigela enquanto espera que o seu criador o reencontre e corriga os seus defeitos. Como quase sempre, é ver a série a refletir os casos policiais com o drama dos protagonistas: tal como Lincoln, o metamorfo tenta dar algum sentido à sua existência e, como tem de matar para sobreviver, mais vale assassinar escumalha e poupar inocentes até que a sua situação melhore.

 

Enquanto isso, Lincoln A mostra o seu valor diante da equipa do lado de lá ao mesmo tempo que estabelece uma dinâmica peculiar com a sua contraparte ao tentarem descobrir onde os caminhos de ambos se desviaram (o que faz com que um seja contido e metódico e o outro mais solto e impulsivo). Ao passo que aqui Lincoln sente-se como aquela peça de Tetris que não se encaixa e atrapalha tudo o que vem atrás, é no Lado B que ele (re)encontra o seu lugar, ainda que à custa da morte de Lincoln B e depois de garantir um proveitoso reforço para a Divisão Fringe ao trazer a versão inicial do metamorfo para ser estudada por Walter e ajudar a eliminar um dos braços essenciais aos planos de Jones ao desmascar a Nina Sharp do outro lado. Entretanto, Alt-Broyles vai passando por entre as gotas da chuva, embora seja estranho como ainda ninguém começou a desconfiar de que existe uma fuga de informação, já que é a segunda vez que uma captura é sabotada e o próprio Lincoln B refere isso mesmo antes de falecer.

 

publicado às 23:16

Fringe: a ilha do Dr. Jones

por Antero, em 03.04.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x16: Nothing As It Seems

Em The Transformation, 13º episódio da primeira temporada, a Divisão Fringe lidava com um vírus que transformava humanos em criaturas animalescas. Três anos depois, o mesmo caso volta à baila, mas com contornos ligeiramente diferentes: a mesma pessoa que se mutava num porco-espinho gigante durante um voo consegue aterrar em segurança para depois ser morto pelas autoridades. No universo repaginado da atual temporada, Peter e Olivia usam as suas lembranças do caso anterior (ela a meio-gás) para iniciar investigação e, no processo, descobrem que é David Robert Jones que está por detrás das aberrações – e vários são os experimentos mantidos em cativeiro pelo vilão com um propósito ainda por esclarecer.

 

No início, Fringe era composta por casos isolados sem grande paralelo com a história principal; tudo o que sabíamos era que a equipa era designada a desvendar casos que iam além da compreensão humano e estes estariam conectados a algo obscuro denominado de Padrão. Depois vieram as realidades paralelas, as versões alternativas, o passado de Walter, o cortexiphan e o Padrão foi esquecido, deixado para trás como a rampa de lançamento da mitologia da série. Pois agora esse conceito é resgatado e é-lhe dado o seguimento que antes era impossível: se Jones sempre esteve ao leme de toda esta conspiração, a sua morte no final do primeiro ano da série acabou com os seus planos.

 

Curioso que Fringe use esta "nova" realidade para abrir novas possibilidades sobre algo que achávamos satisfatoriamente resolvido: já foi dito que Jones sofre de complexo de Deus e nada como saltar entre universos e misturar o ADN de humanos e animais (tal como o Dr. Moreau da obra de H. G. Wells) para denotar esta característica. Se Peter não tivesse sido apagado e Jones tivesse morrido, não saberíamos nada disto e jamais perceberíamos a ligação. Como todos os grandes vilões, Jones tem um intelecto só equiparável a Walter, um dos nossos heróis.

 

No mais, perceberam como a dinâmica do laboratório parece estar a voltar ao que era antes de Peter ter desaparecido? Walter mais solto, Peter a emocionar-se com o pai, Astrid a ser alvo de novas alcunhas? Será que, aos poucos, também eles poderão lembrar-se do que era e do que fizeram anteriormente? Claro que a peça que não se encaixa é Lincoln, magoado por se ter deixado encantar por uma Olivia que não lhe estava destinada. E por falar nela, compreendem-se as dúvidas do FBI, mas, como Broyles bem apontou, mais vale uma Olivia a perder as suas memórias do que não ter uma Olivia de todo. E o desconforto na presença de Nina Sharp? Ui, ui...

 

publicado às 23:47


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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