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Este vídeo de Luís Franco-Bastos resume bem o ponto a que se chegou com as recentes declarações de Joseph Blatter em relação a Cristiano Ronaldo. Não só é ridículo ver um famoso a tomar as dores de Ronaldo em relação a opiniões alheias como também está cheio de factos adulterados para defender a verdade universal que só as Ronaldetes conseguem discernir: Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do Mundo e ai de quem pense o contrário. Para piorar, o vídeo acaba numa toada agressiva e insultuosa ao visar um terceiro sujeito que nada tem a ver com o assunto, como se Franco-Bastos pensasse "Se eu mandar o Platini para o cara***, provarei a minha argumentação e todos estarão comigo! Viva eu!". São quase 3 minutos que redefinem a expressão "vergonha alheia".
Vamos por partes: Blatter prestou-se a uma figura infeliz ao tecer comparações entre Messi e Ronaldo num programa televisivo, elogiando o primeiro e gozando com o segundo. Tentou ter piada e deu-se mal: timing cómico não é com ele. Já não bastava declarar preferências quando se pedia uma posição neutra para alguém que é presidente da FIFA, ainda por cima a forma como o fez foi desrespeitosa (e nada engraçada). Até aqui tudo certo. Se isto justifica o circo que se montou a seguir? De modo algum.
E chovem petições para tirar o homem do cargo porque "esta foi a gota de água!" (não foi com as suspeitas de corrupção; foi porque gozaram com Cristiano Ronaldo, vejam só!), porque não gostam de portugueses, porque o Messi também não é santo nenhum (e alguém disse que era? Ou que isto serve de parâmetro para avaliar capacidades futebolísticas?), porque Ronaldo é um injustiçado, blá blá blá. Até o Governo veio exigir desculpas, para verem o nível de surrealismo que isto atingiu. A resposta de Ronaldo não demorou e veio carregada de ironia e tom de ameaça ("Agora muita coisa está explicada.") que só veio dar mais razão a quem alinha nisto das reações desproporcionais, em mais um capítulo embaraçoso desta novela.
E claro que isto veio dar pólvora às Ronaldetes, sem capacidade de encaixe sempre que o seu ídolo é contestado, incapazes de apreciarem o duelo de dois génios em campo sem diabolizar um deles, que sacam dos "arroubos nacionalistas" para se defenderem (quem não prefere Ronaldo é mau português, pensam as Ronaldetes) e que fazem um berreiro porque um morcão qualquer teve uma tirada infeliz numa carreira recheada delas. Infelizmente o que não falta neste país são Ronaldetes.
Cristiano Ronaldo tem mais é que jogar à bola e calar-se. Joseph Blatter tem mais é que tratar do futebol e calar-se. Se não consegue tratar do futebol, apenas cale-se.
No futebol (e em quase tudo), o mito é algo que supera qualquer negatividade. Nele, a parte humana é relegada para segundo plano: nenhum homem é um santo, por isso, o mito estabelece e celebra os seus feitos, as suas competências, o seu talento. O ser humano é imperfeito por natureza, mas no mito não há espaço para imperfeições. Diego Maradona é o exemplo máximo: fabuloso jogador de futebol com uma história pessoal perturbada pelo consumo de drogas. No entanto, ele é considerado mítico porque o seu talento e as suas proezas ultrapassaram em muito os factores negativos que rodearam (e rodeiam) a sua pessoa. Dissocia-se o talento do homem, porque não convém estar a enaltecer defeitos. Uma vez estabelecido, é difícil fazer cair um mito: o povo segue tão cegamente as suas crenças que a mudança das convenções é quase uma utopia.
Esta pequena reflexão vem a propósito de Cristiano Ronaldo. Considero Ronaldo um nabo. Um saloio exibicionista que é extremamente talentoso dentro dos relvados. Por outro lado, a sua conduta fora deles deixa a desejar: colecciona namoradas, já esteve envolvido em escândalos sexuais (alguns sem culpa própria), é mimado, já teve atitudes pouco profissionais condimentadas com declarações infelizes e, acima de tudo, não é humilde. Admito que a sua parca modéstia me irrita profundamente: a forma como ele se promove para o prémio de melhor do Mundo da FIFA enoja-me. A comunicação social também tem culpas no cartório, ao babar-se a cada movimento do rapaz (muitas vezes sem razão aparente) e com perguntas insistentes para pescar declarações sobre o prémio. Mas aí, Ronaldo mostrar-se-ia cheio de personalidade se fosse mais humilde. E já se sabe que o português médio se dá mal com pretensiosismos, por isso até é natural que ele não reúna consenso cá no burgo.
Dificilmente, Ronaldo será um mito. Pelo menos ao nível de Pelé, Maradona, Eusébio, Di Stéfano, Cruijff e muitos outros. Falta-lhe um je ne sais quoi capaz de criar admiração nas massas. Num mundo em constante mudança, em que o que está na berra hoje, amanhã entra em desuso, isto é fatal. O mundo funciona à base de modas e terá Ronaldo o estofo para ser mais que uma moda? E com o culto de celebridades que hoje em dia rodeia os futebolistas, é praticamente impossível separar o homem do talento. Eu até acho, e qualquer pessoa também, que ele merece o prémio de melhor do Mundo: o Europeu foi para esquecer, mas este ano a concorrência esteve a milhas. E o prémio da FIFA laureia o melhor entre todos, mesmo que seja "o menos mau" de todos. Para melhor personalidade, já temos prémios Nobeis da Paz e quejandos. Dêem lá o prémio ao rapaz que tanto suspira por ele. Ou então teremos de aturar outro dos seus amuos.
O senhor Blatter, presidente da FIFA, que deve acertar menos nas declarações do que eu a jogar à malha, veio defender Cristiano Ronaldo na sua possível transferência para o Real Madrid, acusando o Manchester United de manter um regime de escravidão por querer manter um jogador contra a sua vontade. Ora bem, se trabalhar contra a vontade é considerado escravidão, então esta não foi abolida. Ela está institucionalmente implementada. Para piorar a coisa, Ronaldo declarou que concorda com as declarações de tão ilustre (contém ironia) pessoa. É aquilo que se sabe: o tipo é muito bom dentro do campo; fora dele deixa muito a desejar (ou já se esqueceram do pirete na Luz?). E esta é a cara da “nossa” Selecção…
Falando na Selecção, parece que temos dois seleccionadores novos: o Carlos Queirós, adjunto do Manchester e o Carlos Queiroz, também adjunto do Manchester. Dois pelo preço de um, isto é que é saber negociar. Não haja dúvida que o Manchester United está a ser goleado pela Península Ibérica. Brincadeiras à parte, creio ser um boa opção para o lugar de Scolari. A ver vamos se o Carlinhos reverte a espiral de desconfiança que se instalou depois deste Europeu. Ricardo fora da baliza seria um bom começo.
Não é por nada, mas hoje em dia, a blogosfera consegue ser muito mais fiável que os jornais desportivos na divulgação de furos jornalísticos. Hoje li que Simão Sabrosa seria a grande surpresa anunciada por Pinto da Costa para o plantel do FC Porto. Sinceramente, tenho dúvidas. Simão já veio dizer que não se quer meter nestes assuntos e, além do mais, é um jogador caro. Se ainda fosse o Pongolle, acreditava. Já há uns dias, tinha lido que Aimar e Micolli também iam rumar ao Dragão e, pelos vistos, o negócio com Carlos Martins atrasou porque o FC Porto meteu-se ao barulho. Sabendo a fibra moral que aquela gente não tem, não me admirava nada que assim fosse. Lixar o Benfica é o que está a dar. E que tal contratar o Benfica para o departamento de prospecção? Evitavam-se estas novelas e ainda caíam no goto da maioria do país. Sempre era um ponto a favor. Por oposição às centenas de pontos contra…