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X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

por Antero, em 23.05.14


X-Men: Days of Future Past (2014)

Realização: Bryan Singer

Argumento: Simon Kinberg

Elenco: Hugh Jackman, Michael Fassbender, James McAvoy, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Peter Dinklage, Ellen Page, Shawn Ashmore, Omar Sy, Evan Peters, Josh Helman, Halle Berry, Patrick Stewart, Ian McKellen

 

Qualidade da banha:

 

Bryan Singer nasceu para filmar os X-Men. Não adianta ele andar perdido com objetos medíocres como Jack, o Caçador de Gigantes; esta é a sua praia. Foi ele que viu que os comics podiam não só ser uma fonte de (muita) receita para Hollywood, mas também o seu potencial dramático para criar obras sérias, adultas e instigantes que acabassem com o estigma da infantilidade com que a Nona Arte ainda é catalogada. Esta foi a conclusão a que cheguei após assistir ao mais recente e fabuloso capítulo dos X-Men no grande ecrã que, além de mostrar Singer de volta ao topo da forma, aproveita todos os acertos do igualmente fantástico X-Men: O Início.

 

Baseado num arco de duas partes publicado em 1981, Dias de Um Futuro Esquecido consegue a proeza de simultaneamente servir como prequela da trilogia original e continuação direta de X-Men: O Início: em 2023, os mutantes encontram-se praticamente exterminados devido à ação dos Sentinelas, máquinas letais que detetam o gene X e capazes de mimetizar poderes mutantes. Os poucos sobreviventes, encabeçados pelo professor Xavier (Stewart) e Magneto (McKellen), têm a ideia de usar os poderes de Kitty Pride (Page) para enviar a consciência de Wolverine (Jackman) de volta à década de 70 a fim de impedir que Mística (Lawrence) assassine o empresário Bolivar Trask (Dinklage) – um incidente que daria impulso à criação daquelas máquinas. Porém, para convencer Mística a abandonar os seus planos, Wolverine terá de procurar a ajuda das versões mais jovens de Xavier (McAvoy) e Magneto (Fassbender), que não são exatamente os melhores amigos.

 

Provando que o seu riquíssimo universo é um prato cheio para alegorias sobre preconceito e intolerância, Dias de Um Futuro Esquecido equilibra-se entre a leveza do seu bom humor e tópicos mais sérios como a promoção da cultura do medo no seio da população (via a comunicação social, claro) ao mesmo tempo que impede que aqueles seres se tornem caricaturas coloridas. Trask, por exemplo, até pode odiar e temer os mutantes, mas a sua mente científica permite-lhe fascinar-se com as potencialidades oferecidas por estes, enquanto Magneto, sempre imprevisível e instável, age consoante as suas convicções diante do ódio que é dirigido à sua raça. Por outro lado, Xavier percorre o arco emocional mais intenso da narrativa ao começar como alguém que abriu mão dos seus poderes (e, consequentemente, da sua missão de mentor) devido a falhanços sucessivos e que, aos poucos, redescobre a própria vocação na causa mutante e a intrigante Mística encontra-se dividida entre o dever de proteger os seus e o custo que as suas ações implicam.

 

Entretanto, o Wolverine de Hugh Jackman serve como fio condutor entre as duas linhas temporais e o ator mostra-se completamente à vontade no papel não só a demonstrar o seu timing cómico como a fornecer a Logan um olhar ora entristecido ora determinado pelo peso da missão que tem em mãos. O elenco do filme é tão certeiro que o argumento de Simon Kinberg não tem receio de pôr frente a frente James McAvoy e Patrick Stewart como as duas versões de Charles Xavier, numa das melhores sequências da projeção. Contudo, a melhor cena deste novo X-Men é uma que envolve o mutante Mercúrio (Peters, divertidíssimo) numa cozinha e que é um prodígio de efeitos especiais, inventividade e irreverência.

 

Beneficiado por usar novamente eventos históricos para ancorar aquela realidade fantasiosa (no anterior era a Crise dos Mísseis de Cuba; aqui é o rescaldo da Guerra do Vietname), Dias de Um Futuro Esquecido é hábil ao lidar com um elenco numeroso e vários focos de ação – e o mérito do trabalho de Singer pode ser atestado a partir do momento em que a história salta com precisão entre o passado e o futuro e os eventos de ambos convergem para um clímax trepidante. Além disso, Synger também brilha na condução das cenas de ação que nunca soam gratuitas e aproveitam ao máximo os poderes de cada mutante para conferir agilidade e clareza na forma como se complementam uns aos outros.

 

Recheado de referências a todos os filmes anteriores (incluindo as dececionantes aventuras a solo de Wolverine) embora seja facilmente acompanhado por aqueles alheios ao universo mutante nos cinemas, Dias de Um Futuro Esquecido fecha a maioria das pontas da velha trilogia e abre novas possibilidades para a franquia, mas vale, acima de tudo, por ser o bálsamo de qualquer blockbuster sazonal: ambicioso, envolvente, fascinante e divertido.

É, numa palavra, um filmaço.

 

PS: há uma cena adicional após os créditos.

 

publicado às 00:11

A realidade sonhada

por Antero, em 23.07.10

 

Na comunidade cinéfila, há um certo número de indivíduos que repudiam o conceito de blockbuster (muitas vezes com razão, como comprovam as porcarias lançadas por Hollywood todos os anos). Lançados nas alturas de maior afluência às salas (Natal e Verão do hemisfério Norte), os blockbusters são aqueles filmes de grande orçamento que aplicam o paradigma do espectáculo de massas que é o Cinema, apostando em valores técnicos que, muitas vezes, não encontram reflexo num aprimoramento narrativo. Expoente máximo do negócio que sustenta Hollywood, a maioria desses filmes não vale um décimo da milionária campanha publicitária de que são alvos e, por isso, é tão prazeroso assistir a um filme como A Origem: sem renegar a sua génese de entretenimento sazonal feito para render milhões, ele consegue a proeza de aliar o melhor que a tecnologia actual oferece a uma história insólita, inteligente e fascinante. Mérito para Christopher Nolan, um dos poucos artesãos que ainda consegue criar obras instigantes sem tratar o espectador como um atrasado mental.

 

Desenvolvido durante mais de uma década e alvo de extensas revisões, A Origem traz Dom Cobb como um profissional de uma arte peculiar: ele consegue extrair segredos valiosos dos sonhos dos seus alvos quando estes se encontram num sono profundo, logo quando a mente está mais vulnerável e o subconsciente se encontra mais activo. A sua habilidade é um trunfo na área da espionagem empresarial e Dom, bem como a sua equipa, é encarregue de um trabalho arriscado e complexo - em vez de retirar uma ideia, eles terão que plantar uma na mente de um herdeiro de uma companhia poderosa e, com isso, fazer com que ele desmembre o vasto império do seu pai enfermo. Como fugitivo internacional, Dom encara esta tarefa como a saída necessária para voltar à sua família e encerrar as acusações que recaiem sobre si, algo que não será nada fácil, visto que a sua própria consciência pode deitar tudo a perder.

 

Tal como emShutter Islandlançado este ano, Leonardo DiCaprio interpreta Dom como um sujeito dividido entre a realidade e o sonho, remoído por actos passados e que encontra nas suas memórias o escape necessário para manter a sua sanidade e, também como no filme de Scorsese, uma figura feminina representa a origem da sua psique conturbada. Como herói torturado, DiCaprio parece repetir o mesmo Teddy Daniels daquele filme só que, aqui, Dom parece estar em absoluto controlo de tudo o que o rodeia, isto até as suas próprias lembranças comecem a ameaçar o sucesso da empreitada. E que empreitada: dissecando a psique humana de várias formas, Nolan mergulha-nos numa viagem surrealista que envolve sonhos dentro de sonhos, vários níveis de consciência, consciências paralelas e um sem número de alegorias que remetem para a eterna batalha entre as diferentes instâncias do aparelho psíquico (Id, Ego e o Superego).

 

Por exemplo, para exemplificar a mente fracturada de Cobbs, Nolan não hesita em utilizar a metáfora de um elevador no qual cada andar corresponde a um nível da estrutura mental (memórias) que ele idealizou, ao mesmo tempo que sugere que, a cada etapa da missão, a noção de tempo torna-se mais difusa, retratando a distância cada vez maior da realidade (o que levará ao clímax, na qual três acções paralelas convergem de forma impactante). Por outro lado, a morte no irreal representa o despertar da consciência do indivíduo; os acontecimentos de um nível superior influenciam os do seguinte; e cada um dos intervenientes no processo deve ter um objecto pessoal (um totem) que servirá como âncora para a realidade. Todos estes conceitos engenhosos vêm embrullhados numa estrutura de heist movie (filme de golpe) que compensa as partes mais cerebrais do filme com elaboradas sequências de acção.

 

Repleto de cenas de inegável beleza plástica (os planos em câmara lenta são de tirar o fôlego e a luta num corredor de hotel é sensacional), A Origem conta com faustosos efeitos especiais que, longe de serem um mero artifício, soam orgânicos à narrativa: se abrimos a boca de espanto por vermos parte de uma cidade ser "dobrada" é pelo que aquilo representa no contexto - nada mais do que a infinitude das capacidades da mente humana aquando o sonho. Além disso, o filme conta com um elenco em perfeita sintonia, do qual se destacam Ellen Page como a novata Arquitecta a desvendar as possibilidades do processo de Extração (tal como nós), Joseph Gordon-Levitt a destilar profissionalismo como o Apontador, Tom Hardy como o desconfiado Falsificador, Cillian Murphy como o milionário emocionalmente atormentado pela sua relação fraterna, e, claro, Marion Cotillard que, em poucos minutos, cria uma personagem trágica dividida entre o real e o que ela quer que seja a sua "realidade".

 

No entanto, o grande mérito de A Origem é a sua confiança na inteligência do espectador, obrigando-o a pensar por si e a estar atento a cada pormenor, sob pena da compreensão da obra ficar irremediavelmente perdida (não há cá finais mastigados a explicar tudo ao pormenor). Tal como acontecia em Memento ou O Terceiro Passo, o argumento é hipnotizante na forma como vai arquitectando as suas ideias, além de oferecer um protagonista com traços em comum com tantos outros das obras anteriores de Nolan (o indivíduo que, em busca da redenção, é capaz de pôr tudo em causa para o conseguir - aqui é a noção de "realidade"). Merecedor de ser visto mais do que uma vez, A Origem é uma experiência altamente gratificante capaz de prender a atenção do espectador até ao último segundo.

 

Literalmente.

 

Qualidade da banha: 19/20

 

publicado às 19:45


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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