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Transformers: Era da Extinção

por Antero, em 11.07.14


Transformers: Age of Extinction (2014)

Realização: Michael Bay

Argumento: Ehren Kruger

Elenco: Mark Whalberg, Stanley Tucci, Kelsey Grammer, Nicola Peltz, Jack Reynor, Sophia Myles, Li Bingbing, Titus Welliver, T. J. Miller

 

Qualidade da banha:

 

"Porque nos haveríamos de preocupar com estes humanos?" – pergunta a certa altura um Transformer ao seu líder, Optimus Prime, no mais recente instrumento de tortura filme de Michael Bay no que imediatamente me soou como uma mensagem subliminar do argumentista Ehren Kruger para o realizador sempre mais preocupado com explosões, barulho e efeitos especiais do que em desenvolver personagens apropriadamente. Kruger já havia sido o escritor do pavoroso terceiro capítulo que, por sua vez, sucedeu ao também pavoroso segundo filme (e estes juntos fazem do somente fraco original de 2007 um tratado filosófico) e, como tal, terá pensado em suavizar a ingrata tarefa de trabalhar novamente para Bay ao enviar-lhe pequenos recados na forma de diálogos e que este, como forma de manter a coerência da sua filmografia, tratou de ignorar.

 

Isto, pelo menos, foi o que pensou o meu lado mais inocente sempre crente na bondade humana personificada por Hollywood. Ou então eu já estava tão desesperado com o que via no ecrã que entrei em negação e desatei a conceder descontos a tudo o que me enfiavam goela abaixo. O resultado: Transformers: Era da Extinção é um objeto que contamina os olhos, os ouvidos, o cérebro e a alma do espectador. Não deixa de ser espantoso como ao final de cada Transformers eu penso sempre que foi pior que o anterior – provavelmente até nem é, mas não estou disposto a tirar isso a limpo – e há que dar no mínimo esse mérito à série: quando achamos que a mediocridade atingiu um novo limite, lá aparece Michael Bay para nos mostrar o quanto estamos errados.

 

Com um elenco renovado (o que na prática significa zero já que Michael Bay arrancaria uma prestação ruim até do melhor Marlon Brando), Era da Extinção conta a história de… bom, basicamente conta a mesma história: os Autobots são bons, os Decepticons são maus, o planeta está em perigo, muita destruição, muita lataria a voar, muito caos visual, muito ruído e muita piada sem graça. Há também, claro, umas personagens atiradas ali para o meio e mantidas durante a projeção por pura conveniência uma vez que limitam-se ao papel de qualquer ser humano num filme de Michael Bay: debitar diálogos atrozes, fugir de explosões que ocorrem mesmo ao lado deles e, no caso das femininas, serem sexualmente exploradas pelo olhar machista do realizador.

 

Que, como sempre, usa e abusa do seu indispensável arsenal para atingir um público que ele encara como se tivesse défice de atenção: para além das já citadas explosões (tudo explode ao mínimo contacto!), estão lá os mil cortes por segundo, o slow motion sem critério, as panorâmicas circulares, os planos contrapicados, as poses heróicas, os filtros amarelos, os orgasmos pelas forças armadas e muito frenesim. O filme só acalma para fazer descaradíssimos product placements. Estão também lá erros de palmatória inacreditáveis: uma cena ao pôr-do-sol (Michael Bay adora o pôr-do-sol!) é entrecortada por outra que se passa já de noite bem escura para, logo a seguir, voltarmos à cena anterior... onde ainda não escureceu! Mais à frente, os bondosos Autobots lançam-se numa perseguição louca onde desfazem veículos uns atrás dos outros para, minutos depois, defenderem o lema de que "não magoamos humanos".  Mais tarde, Optimus Prime pede aos inúteis humanos que o acompanham para se encarregarem de levar um objeto importante para um sítio qualquer – o que é uma estupidez, já que ele poderia pedir o mesmo aos seus amigos robots que até podem voar e proteger a tal peça com melhores recursos. Tudo isto leva-me a crer que Bay é um discípulo de Ed Wood a quem saiu a lotaria de poder trabalhar com orçamentos multimilionários.

 

A história é uma colcha de retalhos estruturada para esticar ao máximo a duração entre uma explosão e outra. Chega a uma altura lá pela marca dos 90 minutos na qual o filme ativa o modo turbo e simplesmente recusa-se a acabar. E nem minimamente original consegue ser, uma vez que Chicago é mais uma vez assolada pela destruição. Não deixa de ser deprimente como uma narrativa tão derivativa de outras obras superiores tenha que usar as próprias ideias em segunda mão. Contudo, Chicago é só um aperitivo para o grande destaque da película que é quando a ação salta para Hong Kong. Porquê Hong Kong? Porque a série Transformers é muito lucrativa para os lados da China. Considerem isto como uma pequena vingança do mundo ocidental: eles enviam para cá produtos de qualidade duvidosa e nós respondemos ao situar lá lixo cinematográfico. Não é uma maravilha?

 

E as atuações? Não existem. Mark Whalberg é tão credível como um inventor nas lonas e pai de uma adolescente como Denise Richards era como física nuclear. Essa adolescente é Nicola Peltz que obviamente é um colírio para os olhos e que deveria aparecer na ficha técnica como "substituta de serviço para Megan Fox". Stanley Tucci é o único que dá algum gozo ver em cena, talvez porque o ator demonstre estar ciente da imbecilidade que o rodeia e das coisas idiotas que é obrigado a dizer. Ele faz o papel de um empresário claramente moldado em Steve Jobs que conseguiu isolar um metal chamado "Transformium" que, duh!, é capaz de se transformar em qualquer coisa – exceto fazer de Era da Extinção algo prestável.

 

De resto, não há muito que se aproveite. Nem o mórbido prazer de acompanhar algo tão mau que tem de ser visto para crer. Com uma hora a menos, talvez passasse como curioso exercício trash de grande orçamento. Com quase três insuportáveis horas, Transformers: Era da Extinção é um crime. Deviam existir leis contra filmes assim.

 

publicado às 00:57


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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