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Portugal 2 Gana 1

por Antero, em 26.06.14

Vitória inglória e uma amarga despedida.

 

- Fizemos a nossa parte; se os alemães tivessem dado uma ajuda...;

- Se os convocados fossem outros...;

- Se a condição física fosse outra...;

- Se Ronaldo estivesse no seu melhor...;

- Se Paulo Bento não fosse o selecionador...;

- Se Raúl Meireles aparasse a barba e deixasse crescer o cabelo...;

- Se o Veloso fosse um jogador de jeito...;

- Se o Nani deixasse de se querer mostrar...;

- Se o meio-campo fosse este desde o início...;

- Se o Pepe não fosse expulso...;

- Se o Bruno Alves não tivesse paragens cerebrais...;

- Se a Alemanha não nos estivesse espetado quatro no lombo...;

- Se não fossemos em digressão pelos Estados Unidos antes do Mundial...;

- Se Hugo Almeida, Postiga e Éder não fossem tão fraquinhos...;

- Se o Varela jogasse de início...;

- Se...

 

Escolham a vossa desculpa. Quanto a mim, é um até já em França, daqui a dois anos. Com Paulo Bento (parece que lá terá de ser...) ou outro qualquer, será um escândalo se Portugal não marcar presença nos 24 participantes (por oposição dos 16 usuais até aqui).

 

publicado às 19:28

EUA 2 Portugal 2

por Antero, em 23.06.14

Ligados à máquina.

Ainda bem que renovámos com o Paulo Bento antes do Mundial, não vá ele receber uma proposta tentadora e deixar-nos na mão. Depois de um apuramento sofrido (o oposto é que seria estranho), convoca a malta do costume mesmo que tenham feito épocas abaixo do normal ou tenham passado a maior parte do tempo lesionados ou cheguem a esta fase todos arrebentados, insiste naquele meio-campo nojento que não cria nada nem desequilibra ou em nulidades atacantes como Postiga ou Hugo Almeida (e os dois nem em condições estavam já que tiveram de saltar fora ainda nas primeiras partes de cada jogo, desperdiçando assim uma substituição) e, claro, a triste dependência de Cristiano Ronaldo "O Melhor Jogador do Mundo" (tem de ser escrito assim segundo a comunicação social com o pito aos saltos) que é obrigado a ser o suporte quando deveria ser a alavanca. E já nem pego no planeamento do Mundial, com digressões pelos Estados Unidos e chegadas ao Brasil quatro dias antes da estreia na competição porque... bom, o historial da Federação Portuguesa de Futebol fala por si.

Primeira parte muito fraca de Portugal neste segundo jogo: foi o golo logo no início e uma bola no poste seguida de grande defesa de Tim Howard e só. Nervosos, sem segurar uma bola, meio-campo completamente ausente a atacar e permeável a defender, laterais que pareciam autoestradas, ataque desinspirado e sem garra. Chegou o intervalo com o resultado a nosso favor e eu só pensava que era bom começar a marcar mais uns quantos para anular a diferença de golos – afinal, mesmo com todas as contrariedades, estava na cara que a Seleção tinha mais do que equipa para os norte-americanos. Na segunda parte, os EUA puxaram dos galões, ameaçaram, marcaram um golão e geriram até disferir a estocada (quase) final (o tempo que Bruno Alves demora a levantar-se chega a ser cómico). Portugal entra em modo desespero, Ronaldo lá consegue fazer um cruzamento decente e Varela faz o golo milagroso já a bater nos 95 minutos que mantém as ténues esperanças da Seleção no apuramento.

Temos de golear o Gana e esperar que o outro jogo não dê empate – se possível com goleada da Alemanha sobre os EUA. Aposto que vão explodir teorias da conspiração sobre um potencial empate que nos atire borda fora. Aposto também que, chegada a hora da verdade, Portugal não consegue sequer fazer a sua parte – e quem viu o espetacular embate entre os ganeses e alemães sabe do que falo. A Seleção precisa de ser renovada, andamos em rota descendente desde o Mundial 2006 com uns fogachos ali em 2012, mas que no essencial não altera nada. Esta equipa é muito pobre.

Nem tudo é negativo: quem quiser, pode agora apreciar o Messi e torcer pela Argentina sem levar com o rótulo de "mau português".

 

publicado às 01:20

Alemanha 4 Portugal 0

por Antero, em 16.06.14

Ugh!

 

Acho que ainda estamos a pagar a afronta de, com uma equipa de suplentes e com um Sérgio Conceição on fire, termos espetado três secos nesta Alemanha. De lá para cá, só derrotas. Mas hoje foi mau demais.

 

Tudo bem que a Alemanha tem melhor equipa, seria sempre favorita e o mais certo seria ganhar, mas a ideia que ficou é que nem precisaram de carregar muito para lançar o pânico na defesa lusitana que, geralmente, é o setor mais estável e hoje fartou-se de meter água. 11 contra 11 já seria difícil, então com a burrice de Pepe tudo ficou irremediavelmente perdido. Não é tanto pela derrota em si já que nunca acreditei que Portugal pudesse vencer (com aquele meio-campo amorfo e a crónica ineficácia atacante, só mesmo um camelo), mas são os números que poderão fazer mossa num eventual desempate por diferença de golos, a forma física longe do ideal de pedras basilares (com Ronaldo à cabeça), a lesão de Coentrão e, claro, o castigo de Pepe.

Antes que atirem com a arbitragem, aqui vai o que penso: a grande penalidade a favor da Alemanha é forçadíssima; Pepe é bem expulso e não pode fazer aquilo ao adversário (ainda por cima com a estupidez alarmante de realmente ter havido falta na disputa de bola anterior e o árbitro ter deixado seguir); há um penálti sobre Éder que não é assinalado - mas que pouco mudaria o andamento da partida.

 

Como é que vai ser, Paulo Bento? Mundial 2002 ou Euro 2012?

 

publicado às 19:23

O Campeão voltou!

por Antero, em 20.04.14

 SPORT LISBOA E BENFICA

CAMPEÃO NACIONAL 2013/2014
 
Muito haveria para dizer sobre esta época (e irei escrever esse texto em tempo oportuno). Agora é altura de festejar em grande, pintar essas ruas de vermelho e espalhar esta alegria imensa. Viva o Benfica!

publicado às 19:49

O Rei subiu ao quarto anel

por Antero, em 05.01.14

 

Agadir, sul de Marrocos, verão de 2002. Estava de férias com a minha família. A certa altura, aproxima-se de nós um vendedor ambulante que logo nos topou como turistas e que, pelas nossas características físicas, percebeu que éramos do sul da Europa. "Espanhóis? Italianos?" – perguntou. "Não. Portugueses." – respondemos. "Ah, Portugal! Figo, Benfica, Eusébio!" – exclamou com um imenso sorriso. Reparem só: estávamos em 2002, Figo brilhava no Real Madrid campeão europeu, o Benfica penava na lama há anos e Eusébio reformara-se há uns 25 anos.

 

É com histórias como esta que percebemos a dimensão dos símbolos. Tal como muitos que hoje escrevem, eu não vi Eusébio a jogar, mas conhecia o legado, nutria admiração e respeito. Nenhum dos meus avós era benfiquista, mas a maioria dos meus tios (tanto da parte da mãe como de pai) é adepta do Benfica – e tudo graças à fabulosa geração de 60 que contava com o Pantera Negra nas suas fileiras. Mesmo os meus familiares simpatizantes de outras cores afirmam, sem complexos, o prazer que foi ver Eusébio a espalhar magia por mil e um relvados e a semear o pânico com aquele portentoso remate de pé direito. A sua luz era tão brilhante que conseguia ofuscar os seus valiosos companheiros de equipa, mas os mitos funcionam assim mesmo: a figura cola-se no imaginário coletivo e é alçada ao divino. Tudo o resto (até o homem) é secundário.

 

O que Eusébio fez por um Portugal cinzento, pobre e ignorado é imensurável, mas o que ele fez pelo Maior é indizível. O Benfica não seria metade do que é hoje sem ele. Muitos de nós somos orgulhosos benfiquistas graças a Eusébio.

 

Numa altura em que se criam verdadeiras batalhas com discussões inúteis sobre se Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do Mundo e quiçá o melhor jogador português de sempre, o Rei deixa-nos com a certeza que até podia não ser o Melhor para todos, mas era Enorme todos os dias. Os mitos são assim: intocáveis. Maradona até pode ser o melhor, mas antes dele houve Pelé. E antes dele houve Garrincha. E isto só para pegar nos exemplos mais básicos e objetivos, já que a discussão daria pano para mangas. Por mim, todos terão sempre lugar no Olimpo que, mais uma vez, desviou do mundo dos vivos uma nova contratação de peso.

 

Até sempre, Campeão!

 

publicado às 22:40

As Ronaldetes saíram da toca

por Antero, em 30.10.13

Este vídeo de Luís Franco-Bastos resume bem o ponto a que se chegou com as recentes declarações de Joseph Blatter em relação a Cristiano Ronaldo. Não só é ridículo ver um famoso a tomar as dores de Ronaldo em relação a opiniões alheias como também está cheio de factos adulterados para defender a verdade universal que só as Ronaldetes conseguem discernir: Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do Mundo e ai de quem pense o contrário. Para piorar, o vídeo acaba numa toada agressiva e insultuosa ao visar um terceiro sujeito que nada tem a ver com o assunto, como se Franco-Bastos pensasse "Se eu mandar o Platini para o cara***, provarei a minha argumentação e todos estarão comigo! Viva eu!". São quase 3 minutos que redefinem a expressão "vergonha alheia".

 

Vamos por partes: Blatter prestou-se a uma figura infeliz ao tecer comparações entre Messi e Ronaldo num programa televisivo, elogiando o primeiro e gozando com o segundo. Tentou ter piada e deu-se mal: timing cómico não é com ele. Já não bastava declarar preferências quando se pedia uma posição neutra para alguém que é presidente da FIFA, ainda por cima a forma como o fez foi desrespeitosa (e nada engraçada). Até aqui tudo certo. Se isto justifica o circo que se montou a seguir? De modo algum.

 

E chovem petições para tirar o homem do cargo porque "esta foi a gota de água!" (não foi com as suspeitas de corrupção; foi porque gozaram com Cristiano Ronaldo, vejam só!), porque não gostam de portugueses, porque o Messi também não é santo nenhum (e alguém disse que era? Ou que isto serve de parâmetro para avaliar capacidades futebolísticas?), porque Ronaldo é um injustiçado, blá blá blá. Até o Governo veio exigir desculpas, para verem o nível de surrealismo que isto atingiu. A resposta de Ronaldo não demorou e veio carregada de ironia e tom de ameaça ("Agora muita coisa está explicada.") que só veio dar mais razão a quem alinha nisto das reações desproporcionais, em mais um capítulo embaraçoso desta novela.

 

E claro que isto veio dar pólvora às Ronaldetes, sem capacidade de encaixe sempre que o seu ídolo é contestado, incapazes de apreciarem o duelo de dois génios em campo sem diabolizar um deles, que sacam dos "arroubos nacionalistas" para se defenderem (quem não prefere Ronaldo é mau português, pensam as Ronaldetes) e que fazem um berreiro porque um morcão qualquer teve uma tirada infeliz numa carreira recheada delas. Infelizmente o que não falta neste país são Ronaldetes.

 

Cristiano Ronaldo tem mais é que jogar à bola e calar-se. Joseph Blatter tem mais é que tratar do futebol e calar-se. Se não consegue tratar do futebol, apenas cale-se.

 

publicado às 20:35

Aquele terrível mês de Maio

por Antero, em 26.05.13

"Quanto a Jorge Jesus, receio que o seu tempo acabou. Já não consegue motivar, as suas ideias parecem paradas no tempo (mais precisamente em Maio do ano passado), o discurso está recheado de tiros no pé, leva banhos tácticos de toda a gente" – escrito em Maio de 2011, após a eliminação da Liga Europa pelo SC Braga.

 

"Se, no verão passado, considerei a permanência de Jorge Jesus no Benfica um pequeno milagre tendo em conta a forma como foi planeada e desenvolvida a temporada anterior, temo que o seu reinado está com os dias contados. (...) Vítor Pereira será campeão. Não há maior atestado de incompetência a Jorge Jesus. Que faça as malas em Maio e obrigado por tudo e por nada." – escrito em Março de 2012, após a derrota na Luz com o FC Porto por 3-2 (o tal do golo do Maicon).

 

"Não houve mérito de quem ganhou, mas sim demérito de quem não soube ganhar. (...) Último apontamento para Jorge Jesus: enfim, vai lá à tua vida. Já não acrescentas nada, és teimoso, arrogante, achas-te infalível e deve haver jogadores que nem te podem ver à frente. (...) Se até um macaco amestrado como Vítor Pereira é campeão, tu, que és muito melhor, também o poderás ser. Não te podemos é ter como refém com medo que vás para um rival. Muito mal estará o Benfica se achar que não arranja melhor do que tu neste momento." – escrito no final de Abril de 2012, após o empate com o Rio Ave que confirmou o FC Porto como campeão.

 

Passei a maior parte da época receoso. O Benfica andava ali taco a taco com o FC Porto, não jogava especialmente bem, mas ia ganhando e ainda tinha a Liga Europa para se preocupar. Cada vitória somada era um alívio, era mais uma etapa ultrapassada na imensa corda bamba que sustentava uma equipa que a qualquer momento poderia desabar. Dois anos a levar com as asneiras de Jorge Jesus tornaram-me cauteloso. Até que o FC Porto começa a ceder e a ficar para trás, a Liga Europa vai bem encaminhada mesmo com poupanças e eu começo a sentir aquela pontinha de esperança típica do adepto de futebol a ganhar mais peso e intensidade. No entanto, foi só depois da dupla jornada contra o Sporting/Marítimo que comecei verdadeiramente a acreditar. Acreditar, não! Estava no papo: com 4 pontos de vantagem e uma visita ao Dragão, não havia nada a temer. A confirmação da final da Taça e o regresso à ribalta europeia depois de tantos anos era mel. Eu andava nas nuvens, mas queria mesmo era o céu.

 

Três semanas depois, é o que se sabe: equipa arrebentada, zero títulos, uma incrível falta de estofo nos momentos decisivos. Foi exatamente o mesmo filme com a agravante de ter sido ainda mais épico que das outras vezes. A exibição da final da Taça de Portugal foi inqualificável: contra um Vitória esforçado, mas fraquíssimo, tudo foi um frete. Até o golo caído do céu pareceu um frete. Começo a acreditar que fomos campeões em 2010 não graças a Jorge Jesus, mas apesar dele. Estou saturado disto. Chego a Maio e sinto-me como se estivesse preso num loop. Se daqui a um ano a situação for a mesma, faço apenas um link para este texto e sempre poupo umas linhas.

 

publicado às 20:15

Alguns esclarecimentos:

  • Paulo Bento pega numa equipa destroçada pelo Carlinhos e já com a fase de qualificação para o Euro 2012 em andamento;
  • À exceção de dois jogos (Dinamarca e Bósnia, ambos cá), incute um futebol pouco vistoso, quase de serviços mínimos, mas eficiente e Portugal vai ao Europeu;
  • Toma decisões invulgares (Hugo Viana como segunda escolha, Manuel Fernandes nem a cheira) e envolve-se em rábulas bizarras (Bozingwa e Ricardo Carvalho), mas consegue blindar o grupo;
  • Portugal é incluído no grupo da morte com Alemanha, Holanda e Dinamarca (primeiro lugar no grupo de qualificação);
  • Os amigáveis correm muito mal: exibições pálidas, jogadores em sub-rendimento, a crónica ineficácia atacante. Além disso, os setores não se entendem e a defesa mete água inexplicavelmente;
  • Perde a primeira partida do Europeu ao abusar do controlo do jogo alemão quando estava mais que visto que estes abordavam a Seleção com pinças. Portugal decide carburar após sofrer o golo aos 75 minutos e, sem alguém que a meta lá dentro, perde naturalmente por que a Alemanha raras vezes brinca em serviço.

Depois disto tudo, haveria alguém que objetivamente acreditasse que Portugal chegaria às meias-finais da competição, sendo eliminada nos penaltis pela Espanha campeã europeia e mundial? Por tudo isto, Paulo Bento está de parabéns: não se deixou abater pelas adversidades e pela desconfiança, incutiu um espírito coletivo no grupo (tínhamos grandes jogadores, mas não tínhamos equipa) ainda que com bastantes percalços pelo meio, confiou nos que tinha à disposição e estes não o deixaram ficar mal. Para mim, cujas expectativas eram pouco mais que zero, esta campanha é nada menos que excelente.

 

Esta Espanha pode não ter o fulgor dos últimos anos, mas não deixa de ser a Espanha que enfia no seu onze a força do Real Madrid e a magia do Barcelona. Portugal bateu-lhes o pé, anulou-lhes o jogo e fez 90 minutos sólidos em que o equilíbrio foi dominante. Depois veio o prolongamento e, aí sim, Portugal não teve pernas para os acompanhar, limitando-se a resguardar a baliza de Patrício enquanto a Espanha ia subindo e subindo no terreno. Sinceramente, a haver vencedor sem penaltis seria a Espanha: teve mais pulmão, mais cabeça e lutou mais para que o jogo não passasse do prolongamento. Portugal lutou muito e bem, mas foi inofensivo nos 30 minutos extra. Na lotaria final, alguém tinha de cair. Caímos nós. Acontece. Já estivemos do outro lado da barricada; alguma vez teria de ser ao contrário.

 

Não queria atirar pedras a ninguém, mas acho que alguns reparos devem ser feitos. Nani foi inconsequente durante todo o torneio. Nelson Oliveira foi pouco mais que uma aposta falhada (tem potencial, mas está na linha ténue que separa o sucesso do flop). Hugo Almeida é um inútil a atacar, mas ajudou nas tarefas defensivas e talvez tenha descoberto aqui a sua verdadeira vocação. João Pereira e Bruno Alves têm de ter mais calma a abordar certos lances (e isto não vem de agora). Paulo Bento podia ser mais ambicioso nas substituições, mas preferiu jogar em contenção e ele lá saberá. Desde o Sporting que João Moutinho não serve para marcar penaltis, mas... enfim.

 

E foi assim que acabou a participação no Euro 2012. Contra todas as críticas e olhares de soslaio (eu que o diga). Tudo o que espero agora é uma fase de qualificação tranquila para o Mundial 2014. Paulo Bento mostrou que há matéria-prima para isso. É que já chega da turbulenta calculadora e play-offs da treta para nos safarem.

 

publicado às 01:12

República Checa 0 Portugal 1

por Antero, em 21.06.12

Se há umas semanas me tentassem vender a ideia de que a Seleção Nacional seria eliminada nos quartos-de-final do Euro 2012, eu comprá-la-ia na hora. Agora, convenhamos, ser atirado borda fora por esta frágil República Checa depois de passar um grupo de dificuldade máxima seria algo difícil de engolir. Tal não aconteceu e ainda bem, mas era evitável que Portugal fizesse um jogo de nervos, sempre sobre brasas, até pela confiança injetada depois do jogo com a Holanda (e salientada por infelizes tiradas sobre supostos "traidores") e, mais do que isso, por que os checos nunca mostraram ser ameaça por aí além.

 

Em tempo de São João, o que mais se viu foram balões: pontapé para a frente e fé em Ronaldo (muito bom) e Nani (fraco). Das vezes que Portugal criou oportunidades foram maioritariamente de bola corrida e que, muitas vezes, acabavam numa valente estouro para a bancada. Tirando as bolas no poste de Ronaldo, uma grande defesa de Petr Cech a um remate de Moutinho e uma incursão de Nani, não há ali ninguém que atine na hora do remate. Postiga lesionou-se (GOLO!!!), entra Hugo Almeida (bolas!), o que, bem vistas as coisas, até era o ideal para o irritante chuveirinho no qual a equipa insistia. O problema é que Almeida não é jogador, é uma barata. Tonta. Perdida em campo. Há um lance cómico à entrada da área checa em que um jogador português (Ronaldo? Nani?) tem de cruzar, mas acaba por fletir para o centro por que o nosso enorme ponta-de-lança demora uma eternidade até se pôr em linha. Se Portugal não tem pontas-de-lança de jeito, por que não tentar rotinar a equipa para jogar sem ele?

 

Isto, porém, terá de ficar para outra altura. Paulo Bento tem levado a água ao seu moinho mesmo sem ter um plantel estrondoso à sua disposição, mostrando ser um excelente gestor de recursos ainda que à custa de muita passividade e previsibilidade na leitura do jogo (as substituições são sempre as mesmas e sempre na mesma altura). Hoje tivemos o Ronaldo que se pede, um incansável Coentrão e um sempre impecável Pepe. O resto cumpriu sem deslumbrar (onde é que o meio-campo e especialmente Moutinho fizeram um jogaço?) ou passeou sem comprometer (Nani, Postiga, Almeida, João Pereira).

 

Venha de lá mais uma semana de mamadas intermináveis, estatísticas da treta e anúncios insuportáveis para o CR7 e seus companheiros. Desde que Portugal ganhe, até o circo se torna um pouco (pouquinho) mais tolerável.

 

publicado às 23:36

Portugal 2 Holanda 1

por Antero, em 17.06.12

Depois de muitas (e merecidas) críticas, é chegada a altura dos elogios. Portugal sobreviveu ao grupo da morte e está nos quartos-de-final onde encontrará a República Checa (curiosamente, o duelo político Alemanha versus Grécia será transportado para os relvados). No jogo de todas as decisões, a Seleção disse presente e recambia a desilusão do Euro 2012 para casa: finalista do último Mundial, com uma equipa de topo e uma qualificação irrepreensível, a Holanda abandona a competição com três derrotas no bolso e prestações globalmente fracas, nomeadamente no capítulo da defesa.

 

Convém perceber isto pois foi por aqui (a Holanda defendeu mal e porcamente) que Portugal arrancou para uma excelente exibição coletiva – mas com o mal dos outros podemos nós bem. No entanto, nada nos primeiros dez minutos fariam prever a reviravolta: os holandeses entraram a todo o gás e, provavelmente com a memória do nosso irregular jogo com a Dinamarca, pressionavam pelo corredor onde estava Fábio Coentrão sozinho contra o Mundo e marcaram um golaço (eu nem me contive e gritei "Que grande golo!"). A partir daí, a equipa atinou de vez e desatou a criar oportunidades atrás de oportunidades que só a já crónica miserável finalização não permitiu que o marcador tomasse proporções históricas. Ao mesmo tempo, a defesa ia dando conta do recado nas poucas e assertivas vezes que o ataque holandês construía algo com pés e cabeça, mas logo a bola era recuperada e lançada para o ataque português. O golo da consolação, porém, só surgiu aos 74 minutos por um Ronaldo ao seu melhor nível – simplesmente aquele que se suplicava que aparecesse de vez. Hoje foi o dia e que jeito deu!

 

No geral, toda a equipa esteve bem: as perdidas de Nani acabam por não apagar a agilidade que deu ao seu flanco e mesmo que eu ache que Bruno Alves esteve algo nervoso é só por que, do seu lado, esteve um monstro chamado Pepe a ofuscá-lo. Contudo, eu noto que o rapaz até se esforça, mas Postiga é muito fraco e o rácio das suas boas opções deve de 1 para 10 (eu sei que Nélson Oliveira não tem mostrado muito mais e nem venham dizer que Hugo Almeida é solução para qualquer coisa). Felizmente, a noite foi de Ronaldo e convém esclarecer um ponto: assim como não éramos a pior equipa ontem, hoje também não somos a melhor. Se os elogios fazem sentido hoje, também as desconfianças fizeram sentido ontem. Ninguém está imune à crítica. Eu que sempre apontei que não temos um coletivo forte, hoje vi-me obrigado a repensar esta ideia. E como isto é bom, caraças!

 

A Seleção pode ter um coletivo sólido se trabalhar para tal. Que Paulo Bento e, principalmente, Cristiano Ronaldo saibam aproveitar este embalo e façam boa figura contra os checos. O grupo da morte fica para trás e o céu é o limite!

 

publicado às 23:02


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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