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Bridesmaids (2011)
Realização: Paul Feig
Argumento: Annie Mumolo, Kristen Wiig
Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covey, Ellie Kemper, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Jon Hamm
Qualidade da banha:
Quem depositava as suas esperanças emA Ressaca - Parte IIpara ser a comédia deste Verão, infelizmente apostou no cavalo errado. Depois de realizar, escrever e produzir uma série de comédias que deram novo alento ao género bromance, Judd Apatow patrocina uma variação do tema, agora com um enfoque feminino, mas sempre com o mesmo clima de camaradagem, humor de casa de banho, situações constrangedoras e diálogos afiados. Tudo o que funciona em comédias como Knocked Up - Um Azar do Caraças e Virgem aos 40 Anos, obras que muitos apelidam de machistas por relegarem as personagens femininas a meros enfeites castradores da rotina masculina, funciona perfeitamente em A Melhor Despedida de Solteira, um filme com os ditos cujos no sítio e uma sensibilidade enorme. Filme de gaja ou não, o certo é que diverte e muito.
Annie (Wiig) é uma trintona com vários problemas: a sua pastelaria faliu devido à recessão, a vida amorosa está em frangalhos e ela partilha a casa com dois peculiares irmãos britânicos. O seu escape é a melhor amiga, Lilian (Rudolph), que anuncia que irá casar com um rico banqueiro e deseja que Annie seja a sua dama de honor. Falida e angustiada, Annie tem de organizar os preparativos para um típico casamento norte-americano (leia-se cinematográfico: cheio de pompa e circunstância) e encontra na rica e sofisticada Helen (Byrne), esposa do patrão do noivo, uma possível ameaça não só para a sua missão, mas também para a sua longa amizade com Lilian.
Pela sinopse, qualquer um poderia pensar que estamos na presença de um "A Ressacapara elas" e até o infeliz título em Português engana nesse sentido – e o nome original, damas de honor em Inglês, acerta por desviar as atenções para o núcleo de mulheres que acompanhamos ao longo da película, que além das três principais, inclui ainda Becca (Kemper), uma recém-casada ingénua em relação à vida a dois; Rita (McLendon-Covey), uma cínica dona de casa farta da rotina do lar e dos três filhos ("a minha casa está cheia de sémen!", reclama ela a certo ponto); e a destravada Megan (McCarthy) que, à primeira vista, serve como contraparte feminina do Alan de Zach Galifianakis, mas cuja confiança e ímpeto sexual levam-na a criar uma identidade própria que recusa comparações. Além disso, o filme é eficaz ao estabelecer uma relação duradoura entre Annie e Lilian que soa genuína e plena de cumplicidade – e bastava o argumento falhar neste ponto para arruinar tudo, já que dificilmente aceitaríamos o envolvimento de Annie em tamanhas confusões e mal-entendidos bem como o seu temor com a intromissão de Helen entre as duas amigas.
Escrito por Annie Mumolo com a colaboração de Wiig, A Melhor Despedida de Solteira também ganha pontos por inverter as nossas expectativas em relação à história: quando o grupo se junta para celebrar a despedida em Las Vegas, seria de esperar que elas se envolvessem em situações embaraçosas nessa localidade tão fértil para obras deste tipo – e não demora muito para elas serem recambiadas para casa por razões que não pretendo desvendar. Ao mesmo tempo, Mumolo e Wiig sabem as regras do jogo e percebem que uma comédia destas funciona melhor se os problemas forem aumentando de dimensões gradualmente, começando com pequenos incidentes (um discurso que parece não ter fim), passando por um violento jogo de ténis, uma inacreditável e indigesta prova de vestidos, e culminando numa grandiosa cerimónia com imensos presentes. Isto, claro, faz com que a narrativa esteja sempre em crescendo e cada uma das situações seja ainda mais hilariante e espectacularmente vergonhosa que a anterior.
Com um elenco composto por vários integrantes do Saturday Night Live, o casting também acerta no alvo ao dar a oportunidade a actores reconhecidos como Rose Byrne e Jon Hamm de brincar com as imagens normalmente associadas a eles: se Byrne abandona a figura inocente e manipulável da série Damages por uma sujeita desprezível que chega a dar pena, Hamm praticamente ofusca quem o acompanha em cena com o seu egocêntrico e patético Ted, longe do melancólico e recatado Don Draper de Mad Men. No entanto, quem ilumina o filme é Kristen Wiig: bonita sem ser estonteante (o que lhe dá um charme natural), Wiig faz de Annie uma heroína relutante, quase sem forças para lutar contra as adversidades, e que contém uma doce vulnerabilidade de quem carrega o Mundo às costas, algo com que facilmente nos identificamos. Além disso, o seu interesse romântico, personalizado pelo adorável Chris O'Dowd, é construído com sensibilidade e ternura e os diálogos entre os dois resultam não só por ressaltarem a química entre eles, mas também por servirem como janela para os desgostos da insegura protagonista.
Ainda assim, no meio dos abundantes risos, é possível encontrar um coração em A Melhor Despedida de Solteira, uma vez que o filme não tem medo de discutir nas entrelinhas tópicos como a solidão da mulher moderna, o fracasso profissional, a mudança de hábitos que um casamento acarreta, a constante busca por um parceiro ideal (mesmo que momentaneamente) e a força dos laços de amizade. São pequenos detalhes nas interacções entre aquelas mulheres que fazem deste filme mais do que um entretenimento passável – e mesmo que todos os problemas de Annie não estejam resolvidos no final da projecção, foi um prazer segui-la na sua demanda em, pela primeira vez em muito tempo, tentar fazer algo acertado.
Na senda de comédias como Os Fura-Casamentos, American Pie – A Primeira Vez e Dias de Loucura (com o qual partilha o realizador, Todd Philips), o recém-estreado A Ressaca é uma daquelas comédias politicamente incorrectas, onde os adultos se mostram imaturos como adolescentes e dispostos a tudo por uma boa noite de farra. Este tipo de comédia, depois de ter o seu ponto alto no início dos anos 80 do século passado, voltou a estar em voga em Hollywood, com sucessos como os citados acima e a colaboração de Judd Apatow, em comédias como Virgem aos 40 Anos, Knocked Up – Um Azar do Caraças e Superbad. No entanto, ao contrário das obras produzidas por Apatow, este A Ressaca tem o mesmo género de piadas grosseiras, mas não tem um “coração” por assim dizer (no primeiro seria a cruzada de Steve Carrell; no segundo o despertar para a paternidade; e no terceiro o valor da amizade). Não que esse “coração” faça muita falta ao resultado final.
Doug Billings vai casar. Para comemorar o evento, os seus melhores amigos organizam uma ida a Las Vegas, onde a promessa de muitas tentações embalam os desejos dos últimos dias de um solteiro. O grupo é composto por Doug, Phil, um professor casado, pai de um rapaz e infeliz, Stu, controlado pela namorada possessiva, e Alan, irmão da noiva, que não parece jogar com o baralho todo. Depois de uma noite de arromba, o noivo desaparece e cabe aos restantes três encontrá-lo e tentar perceber o que se passou na noite anterior, uma vez que eles não se recordam de nada. O quarto está virado do avesso, há um tigre na casa de banho, uma galinha, um deles esteve no hospital, outro perdeu um dente e há um bebé também perdido pelo meio. Ao longo do filme vamos sabendo o que realmente aconteceu durante a noite, o que envolve situações absurdas como gangues asiáticas, Mike Tyson, uma prostituta e muito mais. A situação da galinha nunca é esclarecida.
Com uma premissa semelhante ao execrável Onde Tá o Carro, Meu?, A Ressaca vai caminhando na linha ténue que separa o hilariante do estúpido, mas sem nunca tirar o pé do acelerador: as gags sucedem-se a um ritmo altíssimo complementadas pelas hilariantes tiradas das personagens (gosto especialmente daquela em que Heather Graham declara: “Na verdade, eu sou uma acompanhante. Mas achei que a prostituição seria um melhor meio de angariar clientes.”). E se o filme falha na participação descartável de Mike Tyson e na execução de algumas piadas (como aquela do confronto entre Alan e um miúdo, onde a construção da cena é óptima, mas a resolução deixa a desejar), logo se redime com o gangster asiático de comportamento errático, com o exemplar doseamento de uma piada referente a um tripulante de cruzeiro que é repetida em todo o filme e nunca cansa, e… basicamente todas as cenas em que Alan intervém.
Alan, interpretado por Zach Galifianakis numa actuação inspiradíssima, acaba por se tornar no centro do filme e o dono das melhores cenas. Totalmente sem noção e ingénuo, com um complexo de inferioridade em relação ao resto do grupo (reparem no detalhe da verdadeira adoração que ele nutre por Phil) e tentando integrar-se mediante esforços que já nascem fracassados (“Eu era o lobo solitário de uma alcateia…”), Alan é uma daquelas personagens com o qual o público simpatiza de imediato. Ele tem as melhores cenas (a da recepção e a do telhado do hotel) e as melhores tiradas, principalmente duas que se referem a tragédias como o Holocausto e o 11 de Setembro. Mas nada disto funcionaria em pleno se o restante elenco não fosse coeso e os restantes actores exibem carisma e uma química perfeita: Bradley Cooper retrata Phil não como um ser imaturo, mas sim alguém irresponsável preso a uma vida a dois; Ed Helms mostra uma vulnerabilidade para com a namorada que se vai esgotando ao longo do tempo; e Heather Graham representa Jade como uma boa moça à procura do homem ideal.
Desta forma, o público acaba por se deixar conquistar pelo charme destas personagens e pelas situações mirabolantes na qual elas se envolvem, algo que pode ser atestado pela óbvia, porém eficaz montagem final, onde são exibidas fotos do que aconteceu ao longo da noite de folia em Las Vegas. O espectador acaba por rir do choque porque conhece e simpatiza com aqueles quatro indivíduos, deixando a sala de cinema com um sorriso estampado no rosto, seguro que acabara de assistir a uma boa comédia. E isto é mais do que se pode dizer das obras do género actualmente.
Qualidade da banha: 15/20
Dia de Halloween e nada como ver dois filmes violentos acabados de estrear. Não, não estou a falar de Saw 5 - A Sucessão (nem o primeiro vale a pena, fará os seguintes) ou High School Musical 3, embora tendo em conta as qualidades (ou falta delas...) dos mesmos, o seu visionamento também se adequasse à ocasião. Ainda pretendo ver A Turma hoje ou amanhã, mas só lá para segunda o textinho vem cá parar (e para a semana temos o novo 007!). Então vamos lá.
Em Bruges
In Bruges
Ray e Ken (Colin Farrell e Brendan Gleeson, respectivamente) são dois assassinos profissionais que vão parar à cidade Belga de Bruges esperar por um novo serviço. Na verdade, eles estão lá porque Ray fez burrada da grossa em Londres (na cena mais sádica - e hilariante - do filme) e precisa de desanuviar, mesmo que seja contra a sua vontade. Sem terem muito que fazer, vão visitanto os pontos turísticos da cidade e cruzando-se com personagens caricatas. Contar mais do que isto é pecado. Tudo porque o argumento de Martin McDonagh (que também assina a realização) tira tantos coelhos da cartola que, apesar de ir buscar temas já abordados por Tarantino, os Irmãos Coen ou até mesmo Guy Ritchie, consegue soar refrescante à sua maneira.
Recheado de humor negro, Em Bruges não poupa estereótipos: o perfeccionismo britânico, a obesidade norte-americana, as prostitutas holandesas, anões e nem a cidade do título sobrevive: afinal, aquilo é uma pasmaceira. Tudo isto embalado pela realização de McDonagh que oscila entre o drama e a comédia com muita elegância, o que também é facilitado pelos diálogos afiados que fazem graça com a redundância presente nos discursos coloquiais. É aquela velha história: quando uma personagem é atingida nos olhos e não pára de se queixar, aparece outra que remata: "Claro que não consegues ver, levaste com um balázio nos olhos". E por aí vai.
Mostrando que se divertem a valer, o trio composto por Farrell, Gleeson e Ralph Fiennes funciona na perfeição. Principalmente o primeiro que se redime aqui de tantos passos em falso na carreira: cheio de tiques nervosos (por exemplo, as alterações no seu olhar) e com um carregado sotaque irlandês, Farrell impressiona com a jornada existencial (sim, isso mesmo) que se opera em Ray e que fecha o filme naquele bem sacado desenlace. Diferente das propostas que costumam vir de Hollywood, Em Bruges é um filme difícil de catalogar, o que não o prejudica em nada. Olho neste Martin McDonagh que o rapaz tem futuro.
Qualidade da banha: 16/20
Busca Implacável
Taken
Há mais de 14 anos (desde Leon - O Profissional) que Luc Besson não vê o seu nome associado a um bom filme. Lançado para a fama no início dos anos 90 em que foi adjectivado como o expoente máximo do cinema europeu "com cabeça" aliado aos meios de Hollywood, Besson deixou-se levar pelos piores vícios deste último: argumentos vazios, acção disparada (e disparatada) e nomes sonantes como protagonistas. No entanto, parece que ele ainda dispõe de algum poder negocial no meio, uma vez que só assim se percebe a inclusão de Liam Neeson neste Busca Implacável, que mais parece uma daquelas películas de acção brutamontes que os anos 80 foram férteis (e o título português parece querer mesmo resgatar esse espírito). E a sua escolha foi acertada: Liam Neeson vai muito bem, sendo aliás a única razão de ser deste filme.
Bryan é um antigo espião que abandonou a profissão para estar mais perto da filha de 17 anos, Kim (Maggie Grace, a Shannon de LOST), até que esta vai numa viagem a Paris e, enquanto telefona ao seu pai, é raptada por uma gangue do Leste Europeu de tráfico de mulheres. Então, Bryan parte para França para libertar a filha e matar os culpados, munido de toda a sua experiência de anos de serviço. E assim temos a velha fórmula do "herói-exército" tão usada há 20 anos atrás quando um só individuo faz frente a dezenas deles. Só que aqui o grande diferencial é Liam Neeson que, com uma carreira acumulada de papéis de homens confiantes e mentores, confere grande segurança, intensidade e inteligência a um papel que nas mãos de um Steven Seagal qualquer levaria o filme ao desastre total. Vai daí, o que realmente interessa é o banho de sangue e este não desaponta, embora não atinja os níveis de "obras" anteriores.
No entanto, a acção está longe de conseguir compensar o fiapo de história: há algumas lutas bem coreografadas (apesar de curtas), mas as perseguições de carros são confusas e, a partir da metade, o filme assume a velha manha da "cena de acção a cada 5 minutos", o que até é perdoável visto que não há história alguma para contar. Imperdoável é a actuação de Maggie Grace como Kim: muito mais velha que os 17 anos que a personagem que interpreta, a actriz deve achar que uma moça rica, virgem e tão nova só pode ser mimada, desajeitada e infantil. Incluindo ainda uma participação nada memorável de Holly Valance, Busca Implacável é um filme fraco que, mesmo com uma proposta tão pouco ambiciosa, não soube contornar as suas falhas mais que evidentes.
Qualidade da banha: 7/20
Cerimónia fraca, sem piadas de jeito e com poucos momentos realmente bons (Ricky Gervais, Steve Martin e só). Alguns prémios injustos, o que vem do facto da Academia premiar com base num só episódio escolhido pelas emissoras. Segue a lista das categorias principais com pequenos comentários:
Melhor Série Comédia: 30 Rock
Nada a dizer. Entre todas as nomeadas, 30 Rock seria obviamente premiada e teve um segundo ano realmente bom, embora Entourage merecesse o prémio também.
Melhor Série Drama: Mad Men
Com a aclamação que trazia atrás de si (eu mesmo já elogiei a série aqui), Mad Men teria que ganhar. Porém, num mundo perfeito, Dexter e LOST não ficariam de mãos a abanar.
Melhor Actriz (Drama): Glenn Close, de Damages
Merecidíssimo.
Melhor Actor (Drama): Bryan Cranstom, de Breaking Bad
A surpresa da noite. Nunca vi Breaking Bad, mas ultrapassar concorrentes de peso como Hugh Laurie, Michael C. Hall e o favorito Jon Hamm tem um travo de injustiça.
Melhor Actor (Comédia): Alec Baldwin, de 30 Rock
Era ele ou Steve Carell.
Melhor Actriz (Comédia): Tina Fey, de 30 Rock
America Ferrera e Julia Louis-Dreyfus já tinham ganho, então era entre Tina Fey e Mary-Louise Parker. Desde que não ganhasse Christina Applegate pela intragável Samantha Who? já seria lucro.
Melhor Actor Secundário (Drama): Zeljko Ivanek, de Damages
Michael Emerson não ganhou. Amuei.
Melhor Actriz Secundária (Drama): Dianne Wiest, In Treatment
Dianne Wiest é quase uma lenda vida das actrizes secundárias quer na televisão quer no cinema e consta que foi justissímo.
Melhor Actor Secundário (Comédia): Jeremy Piven, Entourage
Enquanto Entourage durar, escusam de fazer suspense com este prémio, uma vez que Jeremy Piven papa tudo.
Melhor Actriz Secundária (Comédia): Jean Smart, Samantha Who?
Que horror premiar uma série tão má. Até fiquei enjoado.
Melhor Realização (Drama): Greg Yaitanes, House
Tanto o piloto de Damages como de Mad Men mereciam, mas o penúltimo episódio da temporada transacta de House (aquele do acidente do autocarro) é fenomenal.
Melhor Argumento (Drama): Matthew Weiner, Mad Men
Só podia dar Mad Men aqui: os episódios são escritos com uma elegância tremenda e com as críticas mais que positivas, não podia ser de outra maneira.
Melhor Realização (Comédia): Barry Sonnenfeld, Pushing Daisies
A realização do The Office foi chão que deu uvas e, apesar de não ir muito à bola com Pushing Daisies, a realização é inventiva e sempre pronta a surpreender o espectador.
Melhor Argumento (Comédia): Tina Fey, 30 Rock
Esta mulher é polivalente. Pena é que as audiências não sejam famosas, mesmo com a enchurrada de prémios que tem recebido.
Melhor Apresentador de Reality Show: Jeff Probst, Survivor
Não vejo, não comento.
Melhor Programa de Variedades: The Daily Show with Jon Stewart
Já não assisto ao Daily Show há anos, mas se mantiverem a acutilância e o arrojo de sempre, então não há concorrentes à altura.
Melhor Reality Show: The Amazing Race
Desde que esta categoria foi criada em 2001, só deu The Amazing Race. Ou é muito boa ou os outros nomeados são uma bosta.
Voltando às séries, hoje temos a estreia de How I Met Your Mother (hurray!) e Heroes com episódio duplo (*gasp*), o que significa que a rubrica do Episódios da Semana vai estar recheadissíma desta vez. Até quinta, então.
Tal como na excelente série Entourage, Tempestade Tropical é uma sátira ao universo de Hollywood, infestado de indivíduos egocêntricos e no qual os lucros ordenam. Enquanto que na televisão, a finalidade é tornar a acção mais realista, mas não menos cómica, no filme é o absurdo que toma conta da tela, o que não o menospreza de maneira nenhuma. No fundo, Tempestade Tropical é como uma metralhadora desgovernada a disparar para todos os lados, não deixando ninguém incólume. Lidando com estereótipos conhecidos de Hollywood, o filme é uma grata surpresa no panorama desolador da comédia cinematográfica actual.
Escrito a seis mãos por Ben Stiller (que também assina a realização), Justin Theroux e Etan Coen, o filme começa com dois anúncios publicitários e três trailers falsos, cuja finalidade é apresentar as personagens principais: a estrela de acção Tugg Speedman, um sub Vin Diesel; o comediante Jeff Portnoy, cujo filme mais conhecido é uma clara sátira às comédias de Eddie Murphy; e Kirk Lazarus, vencedor de cinco Óscars da Academia. Os três encontram-se a filmar um blockbuster de guerra baseado no livro Tempestade Tropical e, em poucos dias de filmagens, já o orçamento estourou e o realizador Damien Cockburn (Steve Coogan, engraçado como sempre) anda às voltas com as manias dos protagonistas que lhe dificultam a vida. Quando o principal produtor ameaça fechar a torneira, Cockburn decide transferir a acção para uma selva imensa e deixar indicações aos actores com o objectivo de filmar o melhor e mais realista filme de guerra de sempre, sem no entanto lhes informar que estão numa verdadeira zona de guerra algures no Vietname.
Ao contrário de lixos tóxicos como Epic Movie e Meet The Spartans, Tempestade Tropical não se limita a reproduzir cenas de filmes conhecidos, na esperança que o espectador ache piada àqueles exageros todos (aliás, acredito que as referências a Benson e a The Jeffersons passe ao lado de muita gente). Aqui, no meio da história que quer contar, há tiradas hilariantes ao mundo das vedetas de Hollywood e não fica pedra sobre pedra: filmes de guerra (Platoon e Apocalypse Now são referências óbvias); produtores sedentos de dinheiro (numa participação curiosa de Tom Cruise); campanhas humanitárias e ambientais em que as estrelas se envolvem; filhos adoptivos para auto-promoção; agentes preocupados com clausulas de contrato mesquinhas; actores de ego inchado (“Eu não leio guiões, os guiões lêem-me a mim.”), rappers, prémios da Academia e muito mais.
No meio disto tudo, Robert Downey Jr. consegue a proeza de, pela segunda vez no mesmo ano, ser a melhor coisa que dois bons filmes têm para oferecer. O seu Kirk Lazarus, actor adepto do Método e que se sujeita a uma cirurgia para ficar com aspecto afro-americano, é genial. Não deixando de representar um negro nem mesmo quando não está em cena, ele pensa saber tudo sobre os meandros de Hollywood e do culto das vedetas. É dele um dos melhores diálogos dos filme quando ele discute a diferença entre representar um deficiente mental, mas não um atrasado de todo e que apenas os primeiros são premiados. Outro ponto positivo é o filme saber o espaço que cada personagem do seu elenco absurdamente estrelado deve ter, o que não deixa de ser uma bela ironia tendo em conta o teor do filme.
Conseguindo captar mesmo quem não esteja muito por dentro do star-system de Hollywood, Tempestade Tropical é uma comédia irreverente que não deixa cair o pique nem por um momento, graças ao seu argumento repleto de surpresas e acidez. Entre as comédias em cartaz, prefiram este filme a abortos como Zohan. A Humanidade agradece.
Qualidade da banha: 16/20
Adam Sandler é daqueles fenómenos inexplicáveis que Hollywood cria uma vez por outra. Comediante fraco originado no Saturday Night Life, os seus filmes acumulhavam milhões nas bilheteiras ao mesmo tempo que mostravam a secura de ideias que ia por aqueles lados, resignando-se ao humor de casa de banho e argumentos pavorosos. No entanto, muita boa gente via em Sandler um bom actor, tanto para o drama como para a comédia, só que não lhe eram dadas as devidas oportunidades. Até que alguém se lembrou dele para Embriagado de Amor e Sandler, finalmente, pode mostrar ao mundo a fibra de que era feito. E depois?
Bem, depois a festa continuou a mesma de sempre: Terapia de Choque, A Minha Namorada Tem Amnésia, Os Quebra-Ossos, Click e Declaro-vos Marido... e Marido. Tudo filmes que vão do medíocre ao péssimo. Ou seja, Sandler não soube agarrar a oportunidade que lhe foi dada (as interpretações em Espanglês e Reign Over Me podem ser boas, mas não apagam o "currículo" do actor) e se pensarmos que muitos desses filmes foram produzidos e até escritos pelo próprio, a desculpa de que "não lhe são dadas as devidas oportunidades" cai em saco roto. Logo, a cada nova comédia do actor não se pode esperar grande coisa, mas nada, repito nada, me preparou para o fundo do poço que é Não Te Metas Com o Zohan, que, mais uma vez, traz Sandler como produtor, co-argumentista e co-protagonista.
Leram bem: Adam Sandler é co-protagonista do filme, uma vez que Dennis Dugan, realizador do filme e cuja carreira cinematográfica é abaixo de cão, dá tanta atenção ao chumaço genital que Sandler enverga ao longo da película, que se torna injusto não incluir o mesmo nos créditos do filme (e ao salário devido, já agora). Sandler é Zohan Dvir, um agente da Mossad, os serviços secretos israelitas, que se farta da guerra interminável com a Palestina e decide simular a própria morte, fugindo para os Estados Unidos para realizar o seu sonho: ser cabeleireiro num salão de beleza. Ao chegar a Nova Iorque, acaba por ir trabalhar para o salão de uma bonita palestiniana e verifica que, longe do Médio Oriente, ambos os povos acabam por se dar relativamente bem.
Começando o filme com cenas escabrosas que retratam Zohan como um agente implacável (aliás, todas as cenas de acção parecem saídas de um desenho animado... e isto não é um elogio!), o filme logo investe em piadas de baixo nível e em comentários racistas e homofóbicos, principalmente quando o foco do filme muda para Nova Iorque. Aí, Sandler massaja o próprio ego, ao mostrar Zohan como um indivíduo cheio de energia sexual, que satisfaz as mulheres ao mesmo tempo que lhes arranja o cabelo, o que o torna ainda mais irresistível para o sexo oposto (querem coisa mais sexista que esta?). Todo o elenco se expõe ao ridículo a certa altura, mas se isto já seria prevísivel num elenco recheado de actores com clara falta de talento como Rob Schneider, Dave Matthews, Chris Rock e Mariah Carey (a interpretação desta é digna de um filme pornográfico), o mesmo não pode ser dito de gente do calibre de John Turturro e Kevin James, que deveriam envergonhar-se de aparecer numa porcaria destas.
No entanto, é Adam Sandler e o seu chumaço (a César o que é de César) que se tornam o verdadeiro buraco negro de Não Te Metas Com o Zohan. Mais parecendo uma cópia contrafeita de Borat, o Zohan de Sandler é ingénuo, acha-se irresistível, faz comentários sexuais nada oportunos, fala baixo (hábito irritante em Sandler) e com sotaque pesado. Porém, se em Borat a caricatura tinha a intenção de parecer genuína, aqui o máximo que Sandler consegue é passar vexame e quase arruinar o filme. Este só é arruinado de vez quando tenta mostrar a sua (in)consciência política quanto ao conflito entre Israel e a Palestina, espalhando-se ao comprido. Há uma cena em que o filme parece que vai revelar um traço de inteligência, quando Bor... perdão, Zohan e mais uns quantos começam a criticar a administração Bush quanto ao conflito, mas logo desviam o assunto para uma discussão sobre qual primeira dama seria a mais "comestível".
Penoso de assistir, Não Te Metas Com o Zohan é um desastre absoluto: não faz rir, as sequências parecem não ter ligação entre elas, é ridículo, é absurdo, é constrangedor (o torneio entre israelitas e palestinianos). E como Zohan tão bem me ensinou, vou reduzir o meu último comentário a uma piada bem fácil: pela vossa sanidade mental, não se metam com este filme.
Qualidade da banha: 2/20