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O Cavaleiro das Trevas Renasce

por Antero, em 02.08.12


The Dark Knight Rises (2012)

Realização: Christopher Nolan

Argumento: Jonathan Nolan, Christopher Nolan

Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Anne Hathaway, Tom Hardy, Marion Cotillard, Mathew Modine, Joseph Gordon-Levitt, Morgan Freeman, Michael Caine
 

Qualidade da banha:

 

Com a difícil tarefa de apagar a má imagem deixada por Joel Schumacher, o britânico Christopher Nolan operou uma verdadeira revolução no excelente Batman: O Início e superando-se no fabulosoO Cavaleiro das Trevasao criar um universo realista, adulto e contemporâneo: Gotham City deixava de ser a cidade fantasiosa onde Batman habita para se tornar o reflexo de qualquer metrópole mundial com os seus problemas de violência e criminalidade ao passo que Bruce Wayne se transformava num indivíduo tridimensional com os seus questionamentos e demónios pessoais. Pois a trilogia encerra-se agora em O Cavaleiro das Trevas Renasce com uma experiência envolvente e épica, ainda que, para ser honesto, a empreitada fique abaixo dos capítulos anteriores.

 

Iniciando-se logo com a apresentação do vilão Bane (Hardy) e os seus atributos (força descomunal, inteligência e a fidelidade que é capaz de inspirar nos seus colaboradores), O Cavaleiro das Trevas Renasce passa-se oito anos desde a morte de Harvey Dent – uma tragédia que, atribuída ao Homem-Morcego (Bale), inspirou a criação de uma lei que, associada aos esforços do comissário Gordon (Oldman), acabou com a criminalidade na cidade. É neste contexto que Bruce Wayne acaba por ter de reassumir o papel de herói depois que a presença de Bane em Gotham é revelada – numa história que envolverá ainda a ladra Selina Kyle (Hathaway), o jovem policial Blake (Gordon-Levitt) e a milionária Miranda Tate (Cotillard).

 

Sempre preocupado em ancorar o seu universo no mundo real, os irmãos Nolan tornam a conclusão no mais fantasioso dos três episódios sem deixar que estes elementos distraiam a atenção (embora o programa capaz de apagar qualquer base de dados seja difícil de engolir) e que sejam integrados de forma orgânica naquele contexto - e muito contribui para esta sensação a opção de usar efeitos visuais práticos e mecânicos, limitando aqueles desenvolvidos em CGI ao mínimo. Assim, Gotham surge como uma cidade naturalmente calcada no quotidiano e, no processo, envolvemo-nos com as agruras dos seus habitantes quando estoura uma situação de calamidade pública. Toda a trilogia, aliás, se poderia denominar como Gotham City, já que é o apego à mesma (e aos seus problemas) que movem as ações de Bruce Wayne, algo realçado pelo facto do argumento remeter para vários pontos de Batman: O Início para desenvolver a sua própria história.


Por outro lado, O Cavaleiro das Trevas Renasce peca por ter personagens e histórias paralelas a mais, o que, claro, incha a duração e faz o ritmo oscilar – e a mais prejudicada é Marion Cotillard cuja filantropa Miranda Tate arrasta-se pela projeção sem dizer a que veio (e quando diz, é tarde demais). Já Anne Hathaway destila sensualidade e pouco mais – a sua Selina Kyle mantém-se interessante por sabermos que é a Mulher-Gato, enquanto Joseph Gordon-Levitt mostra firmeza de caráter e dedicação, Gary Oldman brilha com os remorsos do Comissário Gordon em ocultar a verdade por tantos anos, Michael Caine fica encarregue das cenais mais tocantes pelo carinho que demonstra pelo seu "Menino Bruce", e o cada vez mais impressionante Tom Hardy investe num tom de voz que mistura calculismo, vigor e desprezo refletindo o seu intelecto superior e que faz um ótimo prolongamento ao seu físico imponente.

 

Contudo, o destaque é mesmo Christian Bale que ao longo de três filmes construiu o mais amargurado dos super-heróis: magro e cansado no início do filme (e com o cabelo levemente grisalho, o que estabelece economicamente a passagem dos anos), ele torna-se mais forte e ágil com o passar do tempo, mas não menos trágico: a sua obsessão na luta contra o crime custou-lhe tudo o que ele mais amava levando-se a tornar um eremita – e quanto Bruce assume novamente o manto de Batman, percebemos o quanto lhe custa entregar-se mais à uma vez à sua jornada. A composição sensível de Bale faz com que nenhum outro herói seja tão cobrado física e emocionalmente, o que é realçado pela bela estrutura do argumento que costura várias passagens dos capítulos anteriores para introduzir várias rimas temáticas que aprofundam ainda mais a trajetória de Bruce Wayne, como no momento em que Alfred confessa ter queimado a carta que Rachel havia deixado para o milionário.

 

Todavia, por muito boa que seja a estrutura de O Cavaleiro das Trevas Renasce há aspetos mal desenvolvidos (e aconselho a leitura deste parágrafo apenas para quem já viu o filme): como Bruce conseguiu voltar a Gotham em tão pouco tempo se ele estava falido e tão longe de casa, sendo que a metrópole até estava isolada? E como explicar a falta de lógica do plano de Bane em fornecer "esperança" aos habitantes de Gotham para depois destruir tudo se, para começar, ele mata centenas de pessoas, faz chantagem com o governo e deixa a cidade em estado de sítio? Falando em Bane, é uma pena que a sua despedida do filme seja tão inglória, uma vez que ele sofre do estigma do "supra-vilão que, a poucos minutos do fim, revela-se um mero peão do verdadeiro estratega" numa reviravolta muito batida e nada plausível. E resta dizer que a morte de Miranda é encenada de maneira involuntariamente cómica e, não por acaso, já é objeto de gozo pela Internet.

 

(fim dos spoilers)

 

Com um clima de tensão crescente e empolgantes sequências de ação em grande escala (embora Nolan tenha notórios problemas a montá-las – e isto não é exclusivo deste filme), O Cavaleiro das Trevas Renasce fecha de maneira satisfatória e ambiciosa a trilogia que elevou as obras baseadas em comics para outro nível sem deixar de apontar o rumo para futuras e prováveis sequelas. E que fique claro que quem pegar nisto terá uns grandes sapatos para encher.

 

publicado às 05:45

The Fighter – Último Round

por Antero, em 22.02.11

 

The Fighter (2010)

Realização: David O. Russell

Argumento: Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson

Elenco: Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams

 

Qualidade da banha:

 

The Fighter – Último Round é um filme duro e realista não sobre o boxe, mas sim sobre alguém que decide sair da sombra dos seus familiares, numa típica narrativa de ascensão - queda – reviravolta, cinematográfica por natureza. Esse alguém é Micky Ward (Whalberg), um pugilista que durante anos participou em combates menores até que decidiu dar uma volta de 180º à sua vida depois de se envolver com uma rapariga da sua cidade. Irmão do decandente Dicky Eklund (Bale), cujo maior no boxe feito foi ganhar um combate à estrela Sugar Ray Leonard, e filho mais novo de uma numerosa família (ele tem sete irmãs!) encabeçada pela enérgica Alice (Leo), manager dos dois, Micky assumia uma postura passiva nos ringues até abater o adversário cansado, algo a que ele dava seguimento na sua vida privada até se fartar dos abusos da família e perfazer o seu próprio caminho.

 

Produzido graças aos esforços do seu protagonista, The Fighter – Último Round oferece um olhar deprimente sobre uma sociedade tomada pelas drogas e a pobreza – e esta imagem é personificada pela figura de Dicky, uma celebridade na localidade de Lowell, que parece não perceber que o seu auge terminou há muito, estando agora entregue ao consumo de estupefacientes e a uma glorificação dos seus próprios (e longínquos) feitos. Interpretado com um magnetismo sensacional por Christian Bale, Dicky é magro ao ponto de gerar preocupação e revela todos os trejeitos associados a um toxicodependente, mas nunca deixa de transparecer uma genuína preocupação com o irmão, embora as suas acções o prejudiquem mais do que o ajudem. Além disso, ele é capaz de aconselhar Micky sobre a melhor maneira de vencer o seu oponente, o que, de certa forma, redime (e explica) o fascínio que ele exerce no protagonista.

 

Micky, por outro lado, mostra-se um verdadeiro saco de pancada psicológico da família, principalmente da sua mãe. Abusando da boa fé do filho, Alice investe a sua dedicação no problemático Dicky e prefere submeter Micky a combates perigosos pelas contrapartidas financeiras que daí podem surgir. Cínica e agressiva, ela encontra uma rival à altura na namorada de Micky, Charlene (Adams), que não tem receio em opor-se à sua influência no caminho do amado – e ver duas fabulosas interpretações femininas como estas é mais uma das virtudes do filme. No epicentro das convulsões familiares está Micky: leal à família e cheio de boas intenções, é com desconforto que ele assiste ao colapso do irmão que ele considera um ídolo, ainda que falho. Mark Whalberg, um actor subvalorizado, surge adequadamente discreto, num perfeito contraste com as personalidades explosivas daqueles que o rodeiam.

 

Dono de uma curta mas rica filmografia, o realizador David O. Russell imprime realismo e discrição à história ao usar a desculpa do documentário que está a ser filmado em Lowell (e que realmente passou na HBO em 1995) e recorrer a uma fotografia pouco estilizada para ditar o tom do seu trabalho ao longo do filme (o que acaba por ser salientado ao usar habitantes reais de Lowell e a notáveis do mundo do boxe). No entanto, os combates vistos ao longo da película são demasiado curtos e pouco inventivos para se destacaram de outros filmes do género – e como The Fighter – Último Round acaba por amarrar a (previsível) trajectória de Micky com o duelo que o tornou famoso, o filme ressente-se deste final quase anti-climático.

 

Não que isto seja um grande problema, já que o filme faz questão de valorizar mais as suas personagens do que os combates: condimentado com cenas sensíveis como a repercussão da exibição do tal documentário sobre Dicky, está mais que visto que as verdadeiras lutas em The Fighter – Último Round são entre Micky e todos os infortúnios que se atropelam no seu caminho.

 

publicado às 23:43

Mais robótico, menos humano

por Antero, em 05.06.09

 

Sabendo a postura dos executivos de Hollywood, parece impossível de acreditar que a magnífica saga Terminator esteve parada longos 12 anos. E devia ter ficado por aí: apesar de ser um filme de acção razoável, se bem que descartável no cômputo da narrativa, T3: A Ascensão das Máquinas metia os pés pelas mãos sempre que o assunto era viagens no tempo. Mas, uma vez reaberto o filião, nada como continuar a fazer render o peixe e assim chegamos ao recente Exterminador Implacável: A Salvação, realizado por McG (dos "estupendos" Anjos de Charlie) que tenta dar um novo fôlego à saga, situando-a no futuro após os acontecimentos conhecidos como o Dia do Julgamento. Porém, não se deixem enganar pelo título, uma vez que o filme, de salvação, tem muito pouco. Está mais para Exterminador Implacável: A Escorregadela.

 

Em 2003, Marcus Wright (Sam Worthington) encontra-se prestes a ser executado por ter estado envolvido na morte do seu irmão e de alguns policias. Abordado pela doente Dra. Kogan (Helena Bonham Carter), Wright aceita doar o seu corpo para a Cyberdine Systems para complexas experiências, e acaba por acordar já em 2018, anos depois do sistema Skynet ter adquirido consciência e matando quase todos os seres humanos (que, segundo o filme anterior, ocorreu em 2003, adiando a data inicialmente estabelecida em 1997). Confuso, ele encontra o jovem Kyle Reese, que é perseguido por estar destinado a se tornar o pai de John Connor (Christian Bale), o líder da resistência humana.

 

Líder... apelidar John Connor de líder acaba por ser uma piada de mau gosto. Com discursos patéticos, sem carisma, com cara de duro e constantemente aos berros, este John Connor é muito mal desenvolvido, descartando um dos pontos onde até T3 se evidenciou: o legado que Connor carrega e a missão que deve cumprir. Aqui temos um soldado que se rebela com os seus superiores (não falta nem a batida cena do "estás dispensado"), mas o porquê de ele granjear tantos seguidores é uma incógnita. Tudo isto poderia ser minimizado com a actuação de Bale, mas até esta acaba por contribuir para o desastre. O que ainda equilibra a balança é Worthington, mas falar da sua interpretação acaba por ser spoiler (se bem que qualquer um com dois dedos de testa descobre logo tudo). E como A Salvação acaba por lhe dar grande destaque, o filme ganha pontos aí.

 

Que logo os perde ao focar-se demasiado na acção, revelando a ausência de um argumento que sustente tudo de forma coesa. Aqui o que interessa é saltar de uma cena de acção para outra, mesmo que esta surja desnecessária e/ou sem o dinamismo que James Cameron imprimiu nos dois primeiros filmes (porém, a bem da verdade, há que referir uma cena em que McG se supera e estou a falar do longo plano sequência do helicóptero no início do filme. Mas a fonte de boas ideias esgota-se por aí.). "Emprestando" elementos de produções como Transformers, Guerra dos Mundos, O Dia da Independência, Mad Max e, claro, dos filmes anteriores, A Salvação acaba por se tornar uma obra sem identidade, sem algo de realmente inovador. A não ser que considerem variedades de robots (aquáticos, aéreos, híbridos,...) uma inovação, mas eu acho que é mais para vender bonecos.

 

Sem conseguir instaurar um clima de tensão que nos leve a desesperar pelos heróis, A Salvação ainda comete o pecado de amenizar (com vista a classificação etária) o "comportamento" dos Terminators, que nunca chegam a ser aquelas máquinas letais que matam sem dó nem piedade, chegando ao cúmulo de lutarem "mano-a-mano" com os humanos (como se tal fosse possível). Além disso, o filme é recheado de bons efeitos especiais, muita barulheira e várias explosões que, além de não conseguirem esconder um argumento robótico e previsível, ainda soam como um massacre aos sentidos que Michael Bay não desdenharia em apadrinhar.

 

Com tudo isto, o filme ainda dá uns valentes tiros no pé, como por exemplo o facto de Reese conduzir bem um veículo depois de afirmar que nunca conduzira na vida. Ou o facto da Skynet não matar Reese quando o tem preso. Ou o helicóptero que escapa à vontade de uma enorme explosão que, supostamente, deveria ser nuclear. Desta forma, apesar de não ferir a lógica dos filmes anteriores (algo que T3 não conseguiu), Exterminador Implacável: A Salvação acaba por não acrescentar nada ao que já conhecíamos. E se esta constatação vem embrulhada num pacote onde nada faz muito sentido, podemos ver que, no nosso mundo, as máquinas já se revoltaram há que tempos. Ou seja, o dinheiro vence sempre.

 

Qualidade da banha: 7/20

 

publicado às 16:16


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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