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The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 (2011)
Realização: Bill Condon
Argumento: Melissa Rosenberg
Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Billy Burke, Peter Facinelli, Nikki Reed, Elizabeth Reaser
Qualidade da banha:
Eu tentei, juro que tentei. Enchi-me de boa vontade e dirigi-me ao cinema para ver o novo Twilight. Estava disposto a esquecer que o primeiro filme não tem grande história, que nosegundonão acontece nada de especial e que oterceiroé uma repetição do anterior. Queria deixar para trás o insosso triângulo amoroso formado por Edward-Bella-Jacob, a impressão que as interpretações são da escola Madame Tussuad, as imbecilidades da narrativa criada por Stephenie Meyer e a falta de tensão dos capítulos anteriores. Afinal, Bella (Stewart) e Edward (Pattinson) casam-se, vão de lua-de-mel e voltam com um rebento por nascer que, gerado por uma humana e um vampiro, ameaça não só o mundo destas criaturas, mas também a trégua firmada com os lobisomens. Eu esforcei-me, a sério, mas Amanhecer - Parte 1 voltou a confirmar-me o porquê de Twilight, a saga onde pouco acontece, ser um poço de mediocridade.
Dividido em dois tomos sem razão aparente que não aquela de incrementar o lucro (uma decisão que funcionou nos últimosHarry Potter), Amanhecer - Parte 1 é o tipo de disparate que demora duas horas a contar uma história simplória que facilmente era arrumada num terço do tempo. O filme comete os erros de sempre: Bella, a nossa heroína, anda sempre nervosa e com ar depressiva, como se estivesse prestes a ter uma quebra de tensão, e isto no dia do próprio casamento! Sempre desconfortável ao lado de Edward, o amor da sua vida, Bella é interpretada por Kristen Stewart com a já costumeira falta de alegria e de vida que faria Vítor Gaspar soar como João Baião. Não que eu a censure: o agora marido pode ser bastante carinhoso (ainda que pouco articulado para alguém que já viveu mais de um século), mas logo dá sinais da sua habitual agressividade e machismo, chegando a ser desagradável com a moça e entrando numa espécie de transe quando a gravidez começa a correr mal (aquele pequeno problema mensal que levantei no texto sobreLua Novaestá resolvido).
É aí que entra o terceiro vértice do triângulo: Jacob (Lautner), praticamente irreconhecível com a t-shirt vestida na maior parte do tempo. Possessivo e obcecado ao extremo (o protótipo do amor incondicional, segundo as jovens fãs), ele passa o filme com o seu olhar de adolescente birrento que até tem direito a uma cena na qual desfaz-se do convite de casamento e, à chuva, foge sem destino... e sem t-shirt (isto com um minuto de filme). Sim, a forma física do rapaz é invejável, mas eu preferia admirar a sua forma artística e que ele debitasse os diálogos com o mínimo de convicção. No entanto, isto seria pedir muito, já que os diálogos são profundamente risíveis e tragicamente pastosos e creio que nem Peter O'Toole conseguiria imprimir o mínimo de elegância à narração que acompanha a ridícula cena em que Jacob confronta o bebé recém-nascido e... não, não vou revelar o que acontece. Basta referir que a mesma, em toda a sua grandiosa lamechice, quase vale o preço do bilhete.
Deixando de lado a metáfora da abstinência sexual, Amanhecer - Parte 1 leva uma eternidade a preparar a noite de núpcias do casal e, quando o momento chega, temos direito a menos que nada e logo Edward recusa os avanços de uma Bella acabada de descobrir a sua própria sexualidade. A conclusão deprimente é que a saga promove a necessidade "imperativa" de se praticar a abstinência (sexo é perigoso!) e, mais tarde, torna-se descaradamente antiaborto, numa continuação temática da punição pela quebra da castidade, apesar das personagens terem feito tudo após o casamento, como mandam os "desígnios", e esperarem três filmes (e ele 100 anos) pelo momento. O que esperar, porém, de uma narrativa que atraiçoa as suas personagens quando os vampiros já nem brilham à luz do Sol, desrespeitando uma das (estúpidas) regras estabelecidas anteriormente?
Inexplicavelmente atraído para este projeto, Bill Condon (dos ótimos Deuses e Monstros e Relatório Kinsey) vê-se obrigado a trabalhar com uma classificação etária que limita uma abordagem mais adulta e gráfica, como a história exigia. Além disso, o seu despreparo com efeitos visuais é notório: os lobisomens são impecáveis quando estáticos; quando se movem soa tudo falso, pouco fluido e as lutas são de difícil compreensão devido a uma montagem sem nexo que sabota até a sequência do parto, cuja tensão é inexistente. Pior é perceber que ele não soube aproveitar as (poucas) boas ideias presentes no texto como o cerco infligido à família Cullen e a míngua a que foram sujeitos pela falta de sangue ou facto de uma integrante do clã de Jacob estar insatisfeita com a pessoa que lhe foi "destinada". Até o Rio de Janeiro é desaproveitado aqui, com uma daquelas panorâmicas que devem ter sido emprestadas pelo arquivo da Rede Globo e a banda sonora, tanto a incidental como a selecionada, tira qualquer um do sério pela sua constante intrusão e obviedade (não há um momento sem música no filme!).
Absurdamente superficial e entediante para uma história de contornos mais sombrios, Amanhecer - Parte 1 espera que comecemos a nos preocupar com a chata da Bella, o bronco do Edward e o louco do Jacob quando três filmes falharam completamente nessa tarefa. O único indivíduo de quem realmente nutro pena é o sensato pai de Bella e não pela sua dor pela ausência da filha, mas sim pela constatação que ele criou e sofre por uma rapariga tão frágil e insignificante.
Nem tudo é mau: só falta um. Por outro lado, ainda falta um.
PS: há uma cena importante durante os créditos finais.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.