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É sempre assim: basta um filme fazer sucesso que vem logo a sequência. Se ofilme em questãotiver custado uma pechincha e rendido milhões, então não há muito que discutir. Actividade Paranormal 2 não foge muito do esquema do primeiro capítulo (do qual não gostei), logo o mais certo é que as reacções sejam invariavelmente as mesmas. Por outro lado, também é provável que venha a gostar do novo filme (como aconteceu comigo), já que, munido de mais recursos e sabendo exactamente o que o público anseia, ele consegue fintar as armadilhas da simples sequela onde mais e maior são as palavras de ordem, ao mesmo tempo que investe numa gradual construção de tensão e que recompensa o espectador como o antecessor não conseguiu (no qual a sequência mais apavorante ocorria a meros minutos do fim).
De início, Actividade Paranormal 2 surpreende por não dar seguimento lógico aos eventos do filme anterior: Katie assassina o marido após ter sido possuída e encontra-se a monte. Só que a narrativa recua largos meses antes destes acontecimentos, levando-nos a conhecer o casal Kristi e Daniel que acabaram de ser pais de um saudável rapaz. Algum tempo depois, a sua casa é (supostamente) assaltada e ele decide instalar câmaras de segurança em várias divisões (que, incrivelmente, dispõem de alta definição e captação de áudio...) e, aos poucos, começam a presenciar estranhos eventos que poderão estar relacionados com algo que aconteceu na infância de Kristi e... (aqui está uma das grandes sacadas do roteiro) de Katie, a sua irmã. Assim, a parte dois estabelece-se como uma prequela dentro daquele universo e que levará aos factos já conhecidos.
Não que isto altere muita coisa na estrutura narrativa: há longas sequências onde pouca de relevante acontece; há o marido céptico que se apercebe de algo errado quando já é tarde demais; há a empregada doméstica que, respeitando a quota de estrangeiros em Hollywood, tem origens latinas e acredita no oculto; há muitas portas que abrem misteriosamente e objectos que caem sem razão aparente; e por aí fora. Mas há também a cadela Abby e o bebé Hunter que, extremamente naturais em cena, tornam-se no grande destaque da película, algo que deve ter dado um trabalho imenso à equipa de produção. Hunter, por sinal, é o protagonista das cenas mais tensas, nas quais a fragilidade do bebé põe o espectador em alerta total, num jogo sádico de adivinhação de onde, quando e como o perigo se irá materializar.
No entanto, a tentativa de fazer com que Actividade Paranormal 2 conte com um maior número de sustos acaba por enfraquecer o próprio filme. Enquanto o primeiro adoptava a essência de um "falso documentário" do início ao fim, o mais recente tomo foi montado como uma obra cinematográfica para potenciar o suspense. Um exemplo: no primeiro filme estávamos limitados a uma câmara e era por ela que observávamos aquele universo, mas agora temos seis câmaras espalhadas pela casa. Quando Kristi olha pela janela para perceber a origem de um ruído, o filme não corta para a câmara exterior que nos poderia mostrar (ou não) o que se passava fora da moradia. Noutro caso, as luzes vão abaixo e são mostradas as luzes da piscina a apagarem-se através da câmara exterior. O propósito, claro, é aumentar a tensão não de forma genuína, mas sim cinematográfica. No primeiro exemplo ficamos tensos pelo que não vemos; no segundo é pelo que nos é dado a conhecer. Isto sem referir nas conversas pessoais gravadas por uma câmara de mão cujo único objectivo é expor informações importantes, uma vez que é difícil de acreditar que seres comuns gravariam tais discussões.
O que é certo é que estes mecanismos, apesar de quebrarem com a lógica estabelecida do primeiro filme, têm o efeito desejado na plateia e isto é o que interessa: Actividade Paranormal 2 funciona e assusta. E não se espantem com a repetição ad infinitum de um determinado plano mesmo que nada pareça acontecer; há dois objectos que mudam constantemente de lugar. Apenas mais um jogo divertido e inconsequente – dois adjectivos que podem caracterizar perfeitamente este filme de terror – proposto pela narrativa.
Qualidade da banha: 11/20