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Eles andam aí... outra vez!

por Antero, em 31.10.10

 

É sempre assim: basta um filme fazer sucesso que vem logo a sequência. Se ofilme em questãotiver custado uma pechincha e rendido milhões, então não há muito que discutir. Actividade Paranormal 2 não foge muito do esquema do primeiro capítulo (do qual não gostei), logo o mais certo é que as reacções sejam invariavelmente as mesmas. Por outro lado, também é provável que venha a gostar do novo filme (como aconteceu comigo), já que, munido de mais recursos e sabendo exactamente o que o público anseia, ele consegue fintar as armadilhas da simples sequela onde mais e maior são as palavras de ordem, ao mesmo tempo que investe numa gradual construção de tensão e que recompensa o espectador como o antecessor não conseguiu (no qual a sequência mais apavorante ocorria a meros minutos do fim).

 

De início, Actividade Paranormal 2 surpreende por não dar seguimento lógico aos eventos do filme anterior: Katie assassina o marido após ter sido possuída e encontra-se a monte. Só que a narrativa recua largos meses antes destes acontecimentos, levando-nos a conhecer o casal Kristi e Daniel que acabaram de ser pais de um saudável rapaz. Algum tempo depois, a sua casa é (supostamente) assaltada e ele decide instalar câmaras de segurança em várias divisões (que, incrivelmente, dispõem de alta definição e captação de áudio...) e, aos poucos, começam a presenciar estranhos eventos que poderão estar relacionados com algo que aconteceu na infância de Kristi e... (aqui está uma das grandes sacadas do roteiro) de Katie, a sua irmã. Assim, a parte dois estabelece-se como uma prequela dentro daquele universo e que levará aos factos já conhecidos.

 

Não que isto altere muita coisa na estrutura narrativa: há longas sequências onde pouca de relevante acontece; há o marido céptico que se apercebe de algo errado quando já é tarde demais; há a empregada doméstica que, respeitando a quota de estrangeiros em Hollywood, tem origens latinas e acredita no oculto; há muitas portas que abrem misteriosamente e objectos que caem sem razão aparente; e por aí fora. Mas há também a cadela Abby e o bebé Hunter que, extremamente naturais em cena, tornam-se no grande destaque da película, algo que deve ter dado um trabalho imenso à equipa de produção. Hunter, por sinal, é o protagonista das cenas mais tensas, nas quais a fragilidade do bebé põe o espectador em alerta total, num jogo sádico de adivinhação de onde, quando e como o perigo se irá materializar.

 

No entanto, a tentativa de fazer com que Actividade Paranormal 2 conte com um maior número de sustos acaba por enfraquecer o próprio filme. Enquanto o primeiro adoptava a essência de um "falso documentário" do início ao fim, o mais recente tomo foi montado como uma obra cinematográfica para potenciar o suspense. Um exemplo: no primeiro filme estávamos limitados a uma câmara e era por ela que observávamos aquele universo, mas agora temos seis câmaras espalhadas pela casa. Quando Kristi olha pela janela para perceber a origem de um ruído, o filme não corta para a câmara exterior que nos poderia mostrar (ou não) o que se passava fora da moradia. Noutro caso, as luzes vão abaixo e são mostradas as luzes da piscina a apagarem-se através da câmara exterior. O propósito, claro, é aumentar a tensão não de forma genuína, mas sim cinematográfica. No primeiro exemplo ficamos tensos pelo que não vemos; no segundo é pelo que nos é dado a conhecer. Isto sem referir nas conversas pessoais gravadas por uma câmara de mão cujo único objectivo é expor informações importantes, uma vez que é difícil de acreditar que seres comuns gravariam tais discussões.

 

O que é certo é que estes mecanismos, apesar de quebrarem com a lógica estabelecida do primeiro filme, têm o efeito desejado na plateia e isto é o que interessa: Actividade Paranormal 2 funciona e assusta. E não se espantem com a repetição ad infinitum de um determinado plano mesmo que nada pareça acontecer; há dois objectos que mudam constantemente de lugar. Apenas mais um jogo divertido e inconsequente – dois adjectivos que podem caracterizar perfeitamente este filme de terror – proposto pela narrativa.

 

Qualidade da banha: 11/20

 

publicado às 23:49

Maldito hype

por Antero, em 04.12.09

 

Rodado por tuta e meia em poucos dias e tendo rendido mais de 100 milhões de dólares só nos Estados Unidos (graças a uma bem montada estratégia de marketing), Actividade Paranormal chega aos cinemas com uma recepção entusiástica e com críticas que o definem como o novo clássico do terror moderno. Emprestando a estética de obras como O Projecto Blair Witch, My Little Eye, Cloverfield e [REC], o inexperiente realizador Oren Peli recorre a todas as soluções possíveis para esconder os seus parcos recursos e contar a história do casal amedontrado por um demónio na sua nova casa. Tudo o que fez a fama dos filmes anteriores está presente aqui: o registo documental, elenco desconhecido, ameaça sobrenatural, investigações que não levam a lado nenhum, montagem e publicidade do material como se algo real se tratasse. No entanto, como exercício de tensão e medo, o filme é um fracasso, onde o choque é substituído pela frustração.

 

Actividade Paranormal começa com Micah a adquirir um equipamento de filmagem de alta definição para que ele e a esposa, Katie, possam estudar os estranhos fenómenos que têm acontecido na sua casa. Com a visita de um especialista em acontecimentos sobrenaturais, logo ficamos a saber que Katie já sentia os mesmos, em maior ou menor grau, desde os 8 anos de idade e que poderá estar a ser perseguida por uma entidade demoníaca. É desta forma económica e eficaz que Peli encontra de situar o espectador na história, embora o papel do especialista venha a ter pouca ou nenhuma relevância no decorrer da narrativa. E este é um dos males do filme: apesar de construir tensão de maneira brilhante em duas ou três cenas, elas pouco ou nada contribuem no desenrolar da acção. O resultado é óbvio: uma história repetitiva e, ocasionalmente, episódica, onde cada cena nocturna (as mais tensas) é analisada pelo casal no dia seguinte. Quando voltam para o quarto, reinicia-se a rotina. No dia seguinte, analisam e as coisas pioram. Noite outra vez. Barulhos e cenas estranhas. Ver filmagens pela manhã. Basicamente, é isto.

 

Não ajuda também as personagens não serem nada simpáticas e pouco dadas a que o espectador se identifique com elas: Micah, por exemplo, passa todos os limites do cepticismo ao aguentar a situação por demasiado tempo e sempre com comentários engraçadinhos, o que o torna irritante. Por outro lado, Katie revela-se um pouco mais sensata e responsável, embora acate praticamente todas as decisões do companheiro, mesmo que estas sejam as mais equivocadas possíveis. O certo é que Katie e Micah são personagens imbecis: por muito que tentem, eles merecem passar por aquele inferno. Depois de assistirem a eventos altamente improváveis – e de terem tudo filmado – eles fazem o que qualquer pessoa sã faria: mantêm-se em casa e mal pedem ajuda a terceiros (o único disposto a ajudar, o médium, revela-se um inútil naquela que é a cena mais patética do filme, onde Micah quase implora pelo seu auxílio quando, segundos antes, gozava com a sua presença).

 

Ainda assim, o filme assusta quando acerta em cheio, o que me faz lamentar o potencial perdido de uma obra assim. Situando as cenas mais tensas no quarto do casal quando estes dormem (logo, quando estão mais desprotegidos), Peli faz com que o espectador fique tenso por ter a grande ideia de, basicamente, dividir estes planos em duas metades distintas, onde a direita inclui o casal a dormir e a da esquerda tem a porta do quarto aberta e o corredor ao fundo envolto em sombras. Esta divisão faz com o que espectador fique alerta de onde e como o perigo irá aparecer e a estar atento a todo e qualquer movimento. Claro que o impacto destas sequências é diluído pela sua curta duração e com a consequente discussão no dia seguinte, sem resultados práticos. De qualquer forma, há duas ou três cenas aterradoras, com destaque para a sequência do sótão e quando uma das personagens é arrastada pela entidade.

 

Porém, o que prejudica gravemente o resultado de Actividade Paranormal é o seu desenlace: sem criar uma tensão crescente que leve o espectador a colar na cadeira, ele é anti-climático ao extremo e, pior de tudo, rendido aos piores clichés de Hollywood, como comprovam os últimos segundos. Ao contrário dos minutos finais de O Projecto Balir Witch, Cloverfield ou [REC] que rebentavam com os nervos do público, o filme atira o espectador para fora de sala com uma sensação de desapontamento e tempo perdido. Já aqui manifestei por diversas vezes que ter muitos milhões não significa ter um bom filme, como se pode ver pelas bostas que todos os anos invadem as salas de cinema. Pois bem, o inverso também se aplica: não basta ter uma boa ideia para se fazer um filme de sucesso.

 

Basta um bom departamento de marketing.

  

Qualidade da banha: 8/20

  

publicado às 14:39


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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