Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Finalmente tirei a tala do pé, o osso recuperou bem e não precisarei de fisioterapia. Cinco semanas que tornaram a minha perna esquerda numa potencial candidata à fila da sopa dos pobres, que envelheceu a minha pele uns 70 anos e fizeram das minhas unhas a inveja de qualquer felino. Custa pousar o pé no chão: a sensação de desconforto é terrível, mas nada que umas caminhadas valentes não resolvam. Agora terei de "reaprender" a conduzir e já poderei ir ao cinema, ao café pelo meu próprio pé ou mesmo à Luz no próximo fim-de-semana. E começar a tratar de vida que isto de estar parado tanto tempo foi um suplício. Adeus muletas, adeus tala pesada e desconfortável, adeus banho sentado e com saco de plástico enrolado, adeus boleias do pessoal e piadas óbvias, adeus horas passadas na cama (ok, desta não terei tantas saudades...).
Hoje acordei com as galinhas (o normal tem sido levantar-me por volta das 15 horas) para ir à consulta marcada em Vila Nova de Gaia com o objectivo de - pensava eu - tirar a tala que me tem acompanhado no último mês. Lá chegado, começaram os problemas: na Radiologia não me queriam fazer a radiografia porque o papel dizia expressamente "sem tala". Só que não havia nenhum enfermeiro para me fazer isso porque se encontram de greve e eles só cumprem o que está estipulado e não passam por cima de ninguém. Eu só pensava que agora que eu mais precisava todos decidem ser responsáveis e idóneos. Mas como quem tem amigos não morre na cadeia, uma cunha lá deu indicação para falarem com o ortopedista que decidiu por fazer a radiografia mesmo com tala. A técnica foi de uma simpatia extrema, desculpando sempre o atraso por causa da greve e do facto do médico que ainda não ter chegado (eram 9h45), ao que eu brinquei questionando-a se também ele estaria de greve. Ao que ela respondeu: "Ah, eles não precisam disso. Basta reinvidicarem e têm o que querem na hora.". Ri-me, mas não deixei de concordar com ela: os médicos agem e são tratados como se fossem donos do Mundo.
Tirado o raio-x, fui para o consultório do médico onde decorreu a seguinte conversa:
- Então e qual é o pé?
- O esquerdo. Caí na cozinha e fracturei um osso. Não me pergunte qual.
- Ah, ok... errr, ainda não recebi os seus exames...
- Não?! Mas eu acabei de fazê-los.
- Pois, mas ainda não me vieram entregar.
- Não me diga que isso também está a cargo dos enfermeiros...
(...)
- Tirar a tala vai ser um problema. Não está cá ninguém...
- Não posso eu fazer isso?
- Você sabe?
- Não é só cortar?
- É.
- Onde está a dificuldade, então?
(já com os exames)
- Mais uma semana e tira isso.
- O quê?!?
- É que o osso ainda não recuperou completamente. Por precaução fica mais uma semana, volta, faz novo raio-x e tira isso de certeza.
- Oh...
- Vejo que já trazia uma sapatilha e uma meia para calçar.
- Pois, já vinha mesmo preparado para largar as muletas. Estou farto disto.
- Pode guarda-las aqui no meu armário e vem buscar daqui a uma semana. - disse ele muito sorridente.
- Pode ser é que te caia um dentinho. - pensei eu.
Saí do hospital com cara de poucos amigos. A minha paciência tinha o prazo de um mês e ele acabou de expirar. Queria pegar no carro e já pensava ir ao cinema este fim-de-semana. Estou farto de tomar banho sentado e com uma perna esticada. Já não suporto as comichões. Não poder ir a lado nenhum sem ter de arrastar alguém comigo. Ou poder sair à noite e curtir até às tantas. Tenho tentado levar isto de ânimo leve, mas está complicado. Estou saturado e de muito mau humor. Cuidado Mundo!
Quando deixei de trabalhar no início de Dezembro, a minha ideia era tirar uns valentes dias de descanso, organizar umas coisas e deixar a procura por um novo emprego para o início do ano novo. Descansar era a palavra de ordem. Por isso, estar agora com o pé engessado não deixa de ser uma trágica ironia, uma vez que sou obrigado a não fazer nada. Ser obrigado a fazer algo nunca é bom. Até mesmo quando isso significa não fazer nada.
Ontem, lá peguei nas minhas novas amigas e saí de casa. Soube bem sair à rua, respirar ar puro, levar com a ventania no corpo (e nos dedos descobertos, que ficaram gelados) e tomar um café. Estive 5 dias enfiado em casa e sem tomar café; não sei como sobrevivi. Andar de muletas é chato e cansativo, mas já consigo pousar o pé no chão (mas não pressionar) e estou a ganhar algum traquejo para me aventurar sozinho e não ficar tanto tempo sem café. O que irrita mesmo é a comichão: no outro dia procurei desesperadamente uma régua para enfiar dentro do gesso e aliviar a pele. Já vi fotos da passagem de ano que perdi, o que me deixou terrivelmente frustrado, mas eu não tinha mesmo condições para sair de casa nesse dia.
De qualquer forma, os dias vão passando e a primeira semana - a pior, porque exige repouso absoluto - já lá vai. Agora é esperar pacientemente até dia 28.
O ano acabou de perfazer oito horas e aqui estou à frente do computador. Normalmente, estaria a chegar a casa, semi-embriagado, depois de uma noite de farra, mas desta vez foi diferente. Oacidentede anteontem deitou todas as meus planos por terra. Passei a meia-noite em casa, com os pais, acompanhado pelas minhas novas amigas (a Mu e a Leta), com a perna esquerda levantada e televisão ligada na TVI. Estava a dar a final de um programa qualquer com a Júlia e o Goucha (esqueci-me do nome) onde crianças cantavam (mal e porcamente) músicas conhecidas e habilitavam-se a um prémio de 25 mil euros. É bom, mas também não é assim tanto dinheiro. Uma passagem de ano na TVI é um espectáculo de brejeirice total e, se não é a melhor forma de começar o ano, pelo menos é coerente com a política do canal. Já não devia acompanhar um fim de ano pela TVI desde que o Zé Maria ganhou o Big Brother.
Engraçado lembrar-me do Zé Maria (onde pára essa criatura?), uma vez que essa foi o primeiro réveillon que saí com os meus amigos até o Sol nascer. E desde então tem sido assim: doze badaladas em casa e, 15 minutos depois, salta para a rua. Este ano seria diferente; havia casa alugada no meio do monte, bebida, comida, Party & Co., PES 2009 (que o 2010 está difícil de entrosar) e churrasco no dia seguinte. Acabou por ser diferente realmente. Há dois dias que estou praticamente na cama, sem sair de casa, a ver filmes, a dormir muito, a fumar pouco (menos mal), a tentar que o inchaço passe depresa para poder sair nem que seja para ir à beira-mar respirar ar puro. Embora o mais certo seria ser arrastado por uma onda ou levado pelas rajadas de vento.
Por isso, meus amigos, por muito má que tenha sido o vosso réveillon e não tenham grandes expectativas para 2010, lembrem-se que eu estou com o pé engessado, foi um circo tremendo para tomar banho, e estive na companhia de espumante rasca, dos berros da Júlia, das piadas do Goucha e da canalha sem jeito para cantorias. O pior fim de ano que eu podia imaginar. Se isto for um prenúncio para os próximos 12 meses, alguém me dê um soporífero de longa duração e salta-se já para 2011.
É o que promete até dia 28 de Janeiro.
Andava eu todo contente a escrever o texto sobre os melhores e piores filmes do ano (a publicar hoje mesmo), quando estatelei-me no chão da cozinha enquanto fazia o jantar. Nestas alturas de humidade, um chão de tijoleira é fatal. Torci o pé, pus gelo e não me chateei muito. Uma hora depois, já tinha um valente inchaço, mas não me fiz rogado e fui para o café, como sempre faço.
É então que as dores tornam-se insuportáveis, quase como se a sapatilha me estivesse a apertar o pé (embora eu lhe tenha dado folga para não me magoar tanto) e decido vir embora mais cedo. Chego ao carro e fico em choque ao ver o inchaço, que estava enorme. Corri para o hospital, fiz uma radiografia e o diagnóstico deitou-me ao chão: osso fracturado e pé engessado durante um mês.
A dois dias da passagem de ano.
Quando estava prestes a voltar para o ginásio.
Vou ficar preso à cama agora que estou mais folgado de tempo.
Sem saídas à noite.
Sem conduzir.
A andar de muletas e dependente de outros.
Bela forma de acabar o ano...