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Regresso ao passado

por Antero, em 09.09.10

 

De certa forma, Predadores consegue o queOs Mercenáriosfalhou em tentar: homenagear satisfatoriamente o cinema de acção da década de 80 do século passado. Povoado por heróis sem grandes traços de personalidade que não a virilidade, a expressão fechada e os absurdos músculos, essa década foi fértil em películas na quais as sequências de acção faziam sombra a tudo o resto. Neste aspecto, o novo capítulo da saga Predador acerta em cheio, já que a acção praticamente ininterrupta é o mote de todo o argumento. Longe de ser uma refilmagem, Predadores respeita o original (cujos eventos são referenciados) e, ao mesmo tempo, desenvolve uma nova história independente dos filmes anteriores (nomeadamente, aquelas porcarias que metiam os Aliens ao barulho).

 

Produzido por Robert Rodriguez, Predadores estabelece logo nos primeiros minutos a sua premissa: um grupo armado composto por mercenários e soldados cai de pára-quedas numa selva e, em poucos minutos, já estão a ser caçados pelos nossos queridos monstros. Cabe-lhes enfrentar o ambiente hostil e delinear estratégias que possibilitem a sua sobrevivência e a fuga daquele lugar. Sem perder tempo com apresentações das personagens, o filme atira o espectador para a acção contínua que quase não o deixa respirar – o que é uma bênção, uma vez que, quando se dedica a desenvolver minimamente aqueles indivíduos, o cheiro que atinge o público é bafiento. Relacionando-se com curtas frases de efeito que (claro!) são precedidas de uma pausa enorme para (tentar) aumentar o efeito dramático, o grupo inclui o líder que (só podia...) é norte-americano, o mexicano brutamontes (Danny Trejo, que até tem direito a um plano só dele a exclamar "Isto é o Inferno!"), o franzino que serve de alívio cómico, o russo que tem saudades da família, um condenado à morte com cara de lunático e um asiático que (obviamente!) é um especialista com espadas.

 

Improvável como herói de acção, Adrien Brody é uma completa surpresa no papel de protagonista de um filme puramente voltado para o entretenimento. Não que essa surpresa venha pela sua actuação, que está no piloto automático, mas sim pela sua entrega a este tipo de filmes. Ainda assim, ele (e os seus músculos) fazem um trabalho mais eficaz a carregar o filme às costas que Jake Gyllenhall no recentePríncipe da Pérsia. Juntamente com a brasileira Alice Braga, eles são o mais próximo de uma personagem tridimensional, ainda que ela se destaque no papel da israelita amargurada pela sua vida de violência. Não que isto interesse muito, pois estes traços são meros detalhes no filme que, como já referi, se dedica a explorar a acção – e, neste aspecto, o filme não decepciona. Bem orquestradas (com a excepção de uma luta que envolve espadas), as sequências de acção estabelecem uma dinâmica de presa-caçador que se mantém até ao fim e, se é estranho os Predadores fazerem muita cerimónia em matar os oponentes já que contam com tecnologia para os aniquilar em três tempos, é por que o prazer não está em matar, mas sim em como se atinge o adversário – e só o facto de este pormenor não ser escancarado ao público por uma personagem já é algo digno de aplausos num filme tão óbvio e derivativo.

 

Com uma banda sonora decalcada da partitura de Alan Silvestri para o original, Predadores acerta também ao estabelecer os obstáculos que esperam os heróis que, além de contarem com a fúria assassina dos alienígenas, ainda têm de enfrentar o habitat imprevisível do campo de batalha, onde a selva cerrada imensa dá lugar a um deserto rochoso ou a uma floresta mais ampla. No entanto, o filme perde-se na coerência: é no mínimo estranho que se ninguém se lembre de usar lama para se camuflarem dos Predadores já que alguém os informa disto ou que algumas personagens se movam quase sem dificuldade mesmo após de sofrer ferimentos graves. Claro que isto não é tão grave quanto as expectativas deixadas pela conclusão do filme : ao deixar a porta totalmente aberta para uma sequela e a fazer fé no trajecto da saga anteriormente, é de crer que o próximo filme destruirá o que de bom se conseguiu agora.

 

Qualidade da banha: 12/20

 

publicado às 17:08

A retaliação de Stephen Sommers

por Antero, em 25.08.09

 

Vamos ser francos: o que esperar de um filme como G.I. Joe: O Ataque dos Cobra? Baseado numa linha de bonecos de um esquadrão militar norte-americano (que, para efeitos da globalização ou porque a imagem dos EUA anda pelas ruas da amargura, é transformado num depósito de várias nacionalidades), não devemos esperar uma narrativa das mais profundas ou personagens tridimensionais, mas sim algo que divirta o nosso parco tempo enquanto gastamos fortunas em pipocas, bebidas e outros consumíveis característicos dos multiplexes. Preconceito da minha parte? Chamem-lhe o que quiserem, mas um filme com estas condicionantes não pode inspirar boa coisa. O que se espera são boas cenas de acção, muitos e bons efeitos especiais, actores convincentes (acreditem que não é pedir muito) e – porque não? – actrizes atraentes que saibam como rechear os uniformes e mostrar as suas curvas. É com base nestes pressupostos que se avalia um filme como O Ataque dos Cobra.

 

Que é uma merda. Excepto no último ponto, claro. Tal como o primo afastadoTransformers – Retaliação, G.I. Joe – O Ataque dos Cobra é um atiçador sexual pré-adolescente: estão lá as actrizes a desfilar e a fazer pose, muitas máquinas e armamento, virilidade a rodos e pouco conteúdo. Situado num ‘futuro não tão distante’ – o que, invariavelmente, significa que a Ciência e a Lógica sofrerão múltiplos atentados – o filme conta a história dos G.I. Joes, uma elite de soldados que ‘onde todos os outros falharam, eles não falharão!’ (a película é recheada de frases clichés como esta), onde assistimos ao recrutamento de Duke (Channing Tatum) e Ripcord (Marlon Wayans). O objectivo é recuperar uma tecnologia de nanorobôs que devoram todo o metal que encontram de uma organização terrorista que a roubou e pretende usá-la para fins terríveis. E pronto, temos a desculpa perfeita para aquelas brincadeiras de crianças nas quais dois exércitos combatem entre si. Porque O Ataque dos Cobra é isto: uma brincadeira. Uma cara, insípida e estúpida brincadeira.

 

Stephen Sommers, o homem por trás de A Múmia, O Regresso da Múmia e Van Helsing (que currículo, minha nossa senhora!) encara o filme como se de um grande jogo de vídeo se tratasse, mantendo uma consistência fiel à sua medíocre filmografia. Logo temos forma sobre o conteúdo, que é como quem diz, milhentos efeitos especiais para tão pouca história. Mas nada do “método Michael Bay”: Sommers não recorre a mil e um cortes entre as cenas e faz com que o público perceba nitidamente a geografia, bem como os participantes das cenas e até que vislumbremos os efeitos criados por computador. O que acaba por jogar contra ele, uma vez que os efeitos são de qualidade duvidosa e as cenas de acção insossas, algo fatal numa longa-metragem de acção.

 

Porém, isto é o menos em O Ataque dos Cobra. Sabendo estar a lidar com um argumento óbvio e rasteiro, Sommers adopta uma estrutura narrativa errática, que consiste em inserir inúmeros flashbacks ao longo do filme para tentar demonstrar a “profundidade” e os “conflitos” entre as personagens. Isto atinge o cúmulo do ridículo com a inserção de um flashback de míseros 5 segundos (se tanto…) em plena luta entre duas personagens, para demonstrar que a) ambos são irmãos (o que é desnecessário, porque, mesmo antes, um deles diz para o outro ‘Olá, irmão!’), b) ambos têm um passado conflituoso e já lutavam juntos quando crianças. Isto era mesmo necessário? De certa forma sim, segundo a ideia de Sommers e companhia de que nós, espectadores, somos burros como uma porta. Só isto para explicar que Baronesa (Sienna Miller, linda, estilosa e… e… e…) surja loira quatro anos antes como se isso fosse necessário para estabelecer a mudança de carácter da personagem. E o que dizer do vilão? Uma mistura de Darth Vader e dos piores vilões da série 007, onde não falta a recapitulação do seu plano megalómano para que o público mais distraído (ou que tenha adormecido) não se perca na incoerente narrativa, onde até os soldados que não deveriam sentir dor berram quando são atingidos.

 

Sem contar com um elenco que ofereça o mínimo carisma aos redutores papéis que lhe foi entregue, G.I. Joe:  O Ataque dos Cobra acaba por afundar de vez na longa sequência do ataque em Paris que, com a inócua destruição em massa promovida pelos G.I. Joes relembrou-me da comédia Team America - Polícia Mundial, quando estes atacam os terroristas árabes também na capital Francesa, acabando por causar mais destruição do que aquela que pretendiam evitar. E não deixa de ser irónico que Team America seja uma sátira perfeita deste G.I. Joe: O Ataque dos Cobra, sendo que o primeiro foi produzido há mais de 4 anos. Isto é, quando a Baronesa era loira e boa moça.

 

Qualidade da banha: 3/20

 

publicado às 01:51

A retaliação de Michael Bay

por Antero, em 26.06.09

 

Não há como fugir muito a isto: assistir a Transformers – Retaliação, continuação do fraco filme lançado em 2007, é uma experiência próxima da tortura. Tudo é ampliado nesta sequela: mais dinheiro, mais robôs, mais vilões, mais acção, mais efeitos especiais, mais barulho, mais filtros amarelos, mais planos à volta das personagens, mais câmaras lentas, mais tremedeira, mais burrice, mais incompetência. Incrível como Michael Bay consegue cavar no buraco que já é a sua medíocre carreira, mas a constatação final é a de que este é o pior filme dos já realizados por ele. E se levarmos em conta que ele é o ‘génio’ por detrás de coisas como Bad Boys 2, Pearl Harbor e, claro, o primeiro Transformers, já para ter uma ideia do quão mau é este Transformers – Retaliação: uma síntese não só dos piores vícios de Bay, mas também da máquina de Hollywood.

 

Escrito a seis mãos – sendo que quatro delas devem ter esgotado a inteligência toda ao escreverStar Trek– este novo filme remenda um dos erros do antecessor, que consistia em várias narrativas paralelas que se cruzavam por obra e graça do Espírito Santo, ao incluir todas as personagens na mesma história de forma desajeitada e absurdamente gratuita (como, por exemplo, os pais de Sam e, ainda mais rasteiro, o agente Simmons). Dois anos se passaram desde os eventos da película anterior e agora os bons Autobots unem-se ao exército norte-americano na defesa do planeta contra as ameaças dos cruéis Decepticons numa unidade que deveria ser ultra-secreta, mas que acaba por causar tantos estragos por onde passa (como se vê logo no início do filme) que até custa a acreditar que a população caia nas lérias do Governo (se calhar eles pediram emprestado ao MIB aqueles apagadores de memória em que um flash era seguido de uma patranha qualquer). Sam Witwicky vai para a Faculdade, porém o seu namoro com Mikaela continua de pedra e cal, embora ele não consiga expressar a palavra “amo-te”, o que causa dúvidas na moça. É quando surge o maligno robô Decepticon, Derrotado (Fallen no original), que, juntamente com os seus aliados, pretende reunir uma série de artefactos antigos que poderão levar à destruição do nosso Sol e acabar com a raça humana.

 

Trazendo uma infinidade de novos robôs prontos a serem comercializados como bonecos, Transformers – Retaliação aposta tudo nas cenas de acção, nas imensas explosões e nos impecáveis efeitos digitais num contínuo ataque aos sentidos do espectador para que este fique anestesiado e não perceba que, no fundo, não há história alguma ali. A cada 10 minutos, entre uma explosão e outra, lá surge um novo elemento que leva os heróis a uma longa explicação e a uma mudança nos seus objectivos. Consta que o argumento teve de ser finalizado às pressas em virtude da Greve dos Argumentistas no final de 2007 e isso nota-se no filme, tamanhos são os erros que Bay e companhia desfilam sem pudor diante dos nossos olhos. É inacreditável: os Autobots devem esconder a sua presença dos humanos, mas Optimus Prime não tem qualquer problema em marcar um encontro com Sam num cemitério, em plena luz do dia. Numa cena os heróis são perseguidos no deserto para, logo a seguir, aparecer um mato do nada e, uns segundos depois, uma aldeia que logo dá lugar ao deserto. Mas nada disto se compara ao dedo do meio levantado à Geografia que é a impressão de que as ruínas de Petra e as Pirâmides de Gizé distam poucos quilómetros ou que os heróis não têm qualquer problema em viajar do Egipto para a Jordânia, só que têm de passar num posto fronteiriço no Egipto para… voltar ao Egipto!

 

Recheado de personagens aborrecidas (todas, sem excepção), Transformers – Retaliação ainda encontra espaço para todas as manias de Michael Bay. Desde o seu ego inchado (a inclusão do poster de Bad Boys 2) passando pela exaltação das forças militares norte-americanas, Bay filma tudo como uma sucessão de clímaxes, berrando aos nossos ouvidos “vejam esta explosão! BOOOOMMM!” ou “olhem que efeitos espectaculares!” como se isso fosse atenuante para o descalabro total. E se antes podíamos contar com o carisma de Shia Labeouf para aliviar o sofrimento, aqui o rapaz só se embaraça, principalmente quando se torna ‘possuído’ pelas visões do que resta do cubo Centelha. Aliás, todo o elenco está péssimo, não fazendo o mínimo esforço para tornar as personagens mais interessantes. E, sinceramente, começo a temer pela carreira de John Turturro que,mais uma vez, se expõe ao ridículo gritando e fazendo caretas, provando que nenhum talento está imune ao poder devastador de Michael Bay, o verdadeiro herdeiro dos Decepticons.

 

Porém, eu estaria sendo injusto se não guardasse uma parte deste texto para Megan Fox e a sua Mikaela. Inexpressiva ao máximo, a actriz adopta a mesma postura de ninfeta sedutora do filme anterior, evidenciando aquilo que Mikaela realmente é: um objecto a ser explorado sexualmente nas mãos de Bay. Perfeitamente maquilhada mesmo quando trabalha na oficina do pai, Mikaela é mais um ‘efeito especial’ para desviar a atenção do espectador e satisfazer as necessidades dos adolescentes masculinos (aquela posição em cima da motorizada…). A sua história de amor com Sam é irritante, ainda mais depois de percebermos que, como namorado, ele é uma lástima, uma vez que ela decide acompanhá-lo para o epicentro de um combate e o rapaz nem insiste para que ela fique segura. Se eu fosse Mikaela, mandava Sam dar uma volta, registava a patente daquele batom duradouro que não desaparece com poeira nem sujidade e vivia milionário até ao fim dos meus dias.

 

Contendo uma piada que envolve os testículos de um Transformer, o que, num mundo ideal, daria consultas psiquiátricas vitalícias a Bay (por falar nisso, a noção que ele tem de residências universitárias é a de uma boîte, mas creio que isso é um mal de Hollywood), Transformers - Retaliação ainda tem laivos de grandiosidade ao achar que tem história para duas horas e meia de duração, arrastando o tormento até aos limites do suportável. Duas horas e meia da mais pura celebração da mediocridade de Hollywood, onde os departamentos de marketing são quem mais ordenam. A evitar a todo o custo.  

 

Qualidade da banha: 3/20

 

publicado às 04:32

O dia em que a Terra morreu de tédio

por Antero, em 13.12.08

 

Hollywood tem mesmo uma mentalidade peculiar, para dizer o mínimo. Basta ver esta refilmagem do clássico de ficção-científica de 1951, O Dia Em que a Terra Parou: partindo da mesma premissa, o filme actual tem muita parafernália, mas nem um décimo da espessura do antecessor. É como se um dos produtores olhasse para trás e dissesse: "este filme tem uma história engraçada e que merece ser actualizada". Ao que outro diria: "Ah! Mas a história é tão ingénua!"  e responde outro: "Não tem mal. Metemos uma carrada de efeitos especiais, chamamos um monte de gente famosa, mudamos algo aqui e ali e inserimos umas marcas em certas alturas. Ai, que já vejo o filme quase pago!". Ao que outro concordará: "É isso mesmo! E como o original já tem mais de 50 anos ninguém se lembra dele. Afinal, quem vê um filme com mais de cinco décadas?". O resultado final é um misto de O Dia da Independência, A Guerra dos Mundos e Eu Sou A Lenda. Ou seja, um filme sem identidade.

 

O filme começa em 1928, quando um explorador numa região remota e gelada do planeta toma contacto com uma esfera brilhante e, cuja origem vimos a saber mais tarde, é extraterrestre. Salto para a actualidade: uma enorme esfera aterra em Manhattan (os povos extraterrestres parecem ter uma fixação com Nova Iorque) de onde sai um ser que é atacado pelos militares norte-americanos que recebem retaliação de GORT, um robô incumbido de proteger a esfera e o tal ser. Esse ser vem a revelar-se como Klaatu, um alienígena cujo corpo é o do tal explorador - no único rasgo de originalidade desta nova versão que explica que os alienígenas já se encontravam entre nós para estudar a raça humana - que tem como missão alertar os humanos da sua extinção iminente devido aos males causados ao planeta. Cabe a Helen Benson, uma astrobióloga famosa, tentar fazer com que Klaatu mude de ideias enquanto se preocupa com o seu enteado Jacob que lamenta a ausência do pai morto um ano antes.

 

Tentando deixar a ingeniudade do original de lado (que alertava para os perigos da guerra entre os povos e isto no início da Guerra Fria), O Dia Em que a Terra Parou acaba por se revelar um filme cobarde: temos uma menção à mentalidade belicista dos EUA (que tentam resolver tudo na base dos ataques armados), mas os comentários de Jacob de que os extraterrestres deviam ser atacados soam vazios, já para não falar que um miúdo de 8 anos dificilmente reagiria com tamanha naturalidade aos factos que vão ocorrendo ao longo do filme (ataques, mortes e afins). Falando nos ataques, o filme nunca faz menção às prováveis vítimas mortais, o que é rídiculo, principalmente quando vemos a desvastação provocada no final do filme (há edifícios a serem desfeitos, mas é melhor evidenciar uma placa a ser destruída para mostrar que Nova Iorque é o alvo). Mas, acima de tudo, o mais irritante nesta refilmagem é que tudo é feito para não ferir susceptibilidades, uma vez que a mensagem ecológica de protecção do planeta fica-se pelo óbvio ("vocês fazem mal... o planeta está a morrer..."). E com isto, apesar de revelar intenções louváveis, o filme torna-se deveras aborrecido ao antecipar uma catástrofe que nunca chega, pelo menos nos moldes que é prometida. Até O Dia da Independência tem cenas de destruição em massa melhores e já lá vão 12 anos!

 

Para agravar o tédio que se instala durante a projecção existem as interpretações burocráticas de todo o elenco: desde a expressão monocórdica e os diálogos insípidos de Keanu Reeves (cuja inexpressividade do actor joga a favor dele na maior parte do filme, mas quando chega a altura de revelar alguma emoção perde-se tudo); a postura "eu-é-que-mando-aqui" de Kathy Bates; aos problemas que não interessam a ninguém do enteado de Helen interpretado por Jaden Smith (filho de Will Smith) que, basicamente, só sabe fazer beicinho; até a de Jon Hamm, cuja personagem, num constante e inexplicável desespero, parece ter sucumbido aos fantasmas interiores do seu Don Draper da sérieMad Men, passando pela expressão "só-estou-aqui-para-pagar-as-contas" de John Cleese. Assim, a única que se destaca é, como não podia deixar de ser, a lindíssima Jennifer Connelly que tenta com que a sua Helen Benson seja mais do que aquilo que se pretende: uma actriz famosa que faça de ponte entre o filme e o público, se bem que chega a certo ponto que as suas falas resumem-se ao básico "nós podemos mudar", mas aí a culpa é do argumento desajeitado.

 

Ainda assim, o filme ainda consegue revelar-se falho na sua grande aposta: os efeitos especiais. Usando e abusando de fracos efeitos por computador e do mais que evidente chroma-key, O Dia Em que a Terra Parou ainda se dá ao "luxo" de conter duas ou três cenas em que as esferas se elevam no céu e que devem ter sido desenvolvidas com o pior que o After Effects tem para oferecer. E porquê fazer de GORT um robô gigantesco se isto não tem qualquer função narrativa que inove do filme original? Resposta: para gastar mais uns milhões em efeitos especiais, embora os seus movimentos soem mecânicos e sem fluidez alguma. No fundo, maior não necessariamente significa melhor. Tal como esta refilmagem, no final de contas.

 

Qualidade da banha: 6/20

 

publicado às 16:35

Rasto de sangue pela Europa fora

por Antero, em 31.10.08

Dia de Halloween e nada como ver dois filmes violentos acabados de estrear. Não, não estou a falar de Saw 5 - A Sucessão (nem o primeiro vale a pena, fará os seguintes) ou High School Musical 3, embora tendo em conta as qualidades (ou falta delas...) dos mesmos, o seu visionamento também se adequasse à ocasião. Ainda pretendo ver A Turma hoje ou amanhã, mas só lá para segunda o textinho vem cá parar (e para a semana temos o novo 007!). Então vamos lá.

 

Em Bruges

In Bruges

 

 

Ray e Ken (Colin Farrell e Brendan Gleeson, respectivamente) são dois assassinos profissionais que vão parar à cidade Belga de Bruges esperar por um novo serviço. Na verdade, eles estão lá porque Ray fez burrada da grossa em Londres (na cena mais sádica - e hilariante - do filme) e precisa de desanuviar, mesmo que seja contra a sua vontade. Sem terem muito que fazer, vão visitanto os pontos turísticos da cidade e cruzando-se com personagens caricatas. Contar mais do que isto é pecado. Tudo porque o argumento de Martin McDonagh (que também assina a realização) tira tantos coelhos da cartola que, apesar de ir buscar temas já abordados por Tarantino, os Irmãos Coen ou até mesmo Guy Ritchie, consegue soar refrescante à sua maneira.

 

Recheado de humor negro, Em Bruges não poupa estereótipos: o perfeccionismo britânico, a obesidade norte-americana, as prostitutas holandesas, anões e nem a cidade do título sobrevive: afinal, aquilo é uma pasmaceira. Tudo isto embalado pela realização de McDonagh que oscila entre o drama e a comédia com muita elegância, o que também é facilitado pelos diálogos afiados que fazem graça com a redundância presente nos discursos coloquiais. É aquela velha história: quando uma personagem é atingida nos olhos e não pára de se queixar, aparece outra que remata: "Claro que não consegues ver, levaste com um balázio nos olhos". E por aí vai.

 

Mostrando que se divertem a valer, o trio composto por Farrell, Gleeson e Ralph Fiennes funciona na perfeição. Principalmente o primeiro que se redime aqui de tantos passos em falso na carreira: cheio de tiques nervosos (por exemplo, as alterações no seu olhar) e com um carregado sotaque irlandês, Farrell impressiona com a jornada existencial (sim, isso mesmo) que se opera em Ray e que fecha o filme naquele bem sacado desenlace. Diferente das propostas que costumam vir de Hollywood, Em Bruges é um filme difícil de catalogar, o que não o prejudica em nada. Olho neste Martin McDonagh que o rapaz tem futuro.

 

Qualidade da banha: 16/20

 

 

Busca Implacável

Taken

 

 

Há mais de 14 anos (desde Leon - O Profissional) que Luc Besson não vê o seu nome associado a um bom filme. Lançado para a fama no início dos anos 90 em que foi adjectivado como o expoente máximo do cinema europeu "com cabeça" aliado aos meios de Hollywood, Besson deixou-se levar pelos piores vícios deste último: argumentos vazios, acção disparada (e disparatada) e nomes sonantes como protagonistas. No entanto, parece que ele ainda dispõe de algum poder negocial no meio, uma vez que só assim se percebe a inclusão de Liam Neeson neste Busca Implacável, que mais parece uma daquelas películas de acção brutamontes que os anos 80 foram férteis (e o título português parece querer mesmo resgatar esse espírito). E a sua escolha foi acertada: Liam Neeson vai muito bem, sendo aliás a única razão de ser deste filme.

 

Bryan é um antigo espião que abandonou a profissão para estar mais perto da filha de 17 anos, Kim (Maggie Grace, a Shannon de LOST), até que esta vai numa viagem a Paris e, enquanto telefona ao seu pai, é raptada por uma gangue do Leste Europeu de tráfico de mulheres. Então, Bryan parte para França para libertar a filha e matar os culpados, munido de toda a sua experiência de anos de serviço. E assim temos a velha fórmula do "herói-exército" tão usada há 20 anos atrás quando um só individuo faz frente a dezenas deles. Só que aqui o grande diferencial é Liam Neeson que, com uma carreira acumulada de papéis de homens confiantes e mentores, confere grande segurança, intensidade e inteligência a um papel que nas mãos de um Steven Seagal qualquer levaria o filme ao desastre total. Vai daí, o que realmente interessa é o banho de sangue e este não desaponta, embora não atinja os níveis de "obras" anteriores.

 

No entanto, a acção está longe de conseguir compensar o fiapo de história: há algumas lutas bem coreografadas (apesar de curtas), mas as perseguições de carros são confusas e, a partir da metade, o filme assume a velha manha da "cena de acção a cada 5 minutos", o que até é perdoável visto que não há história alguma para contar. Imperdoável é a actuação de Maggie Grace como Kim: muito mais velha que os 17 anos que a personagem que interpreta, a actriz deve achar que uma moça rica, virgem e tão nova só pode ser mimada, desajeitada e infantil. Incluindo ainda uma participação nada memorável de Holly Valance, Busca Implacável é um filme fraco que, mesmo com uma proposta tão pouco ambiciosa, não soube contornar as suas falhas mais que evidentes.

 

Qualidade da banha: 7/20

 

publicado às 15:45

Muita parra e pouca uva

por Antero, em 10.10.08

 

Olhos de Lince é um daqueles filmes formatadinhos que não deixa nada ao acaso: a fórmula está mais que gasta, mas ainda agrada ao público; tem muita correria, mas não tem grande conteúdo; tem bons actores, mas personagens rasas; tem uma história que se quer trepidante e pertinente, mas acaba por descambar na estupidez. Nota-se perfeitamente a mão dos produtores e menos a marca do realizador (geralmente, o argumentista não é para aqui chamado). E como um dos produtores executivos dá pelo nome de Steven Spielberg, que antes era sinónimo de entretenimento de primeira água e agora é só desconfianças, já podemos esperar muita coisa, como a inclusão do seu protegido Shia LaBeouf e uma história mastigadinha e cheia de acção, numa tentativa clara (e infrutífera) de esconder um argumento falho e repleto de buracos.

 

Situado em Janeiro de 2009 para evitar qualquer relação com a administração Bush apenas porque sim, Olhos de Lince traz Jerry Shaw, um jovem que certo dia recebe a notícia que o seu irmão gémeo, com o qual já mal tinha contacto, morreu e, após ir ao funeral, chega a casa e é preso sob acusações de terrorismo. A partir daí, ele é auxiliado na sua fuga por uma voz no telefone que o coloca no mesmo veículo que Rachel (Michelle Monaghan), que também foi envolvida no assunto sem perceber o que se passa para salvar a vida do seu filho. Ambos são perseguidos pelas autoridades e ajudados pela Voz que parece ter uma missão para ambos. Assim como as personagens, o espectador é deixado completamente às cegas sobre o que está a acontecer na maior parte do tempo, o que é uma decisão acertada conseguindo até camuflar algumas soluções mais absurdas da história até então (como a fuga de Jerry, a primeira perseguição de carros e a cena dos cabos eléctricos).

 

Por outro lado, sempre que o argumento tenta desenvolver o clima de conspiração, começam a pipocar os buracos do mesmo e, a partir do momento em que a tal Voz se revela e quais as suas intenções, o filme oscila entre o estúpido e o insultuoso para a inteligência do espectador. O terceiro acto da história é quase um desastre absoluto: até aí, a Voz era algo omnipresente e com poderes ilimitados (ou seja, misteriosa e temível); depois só podemos concluir que a mesma é extremamente burra, o que acaba por atestar o filme como algo sem a mínima lógica. Basta o espectador parar para pensar um pouco e os defeitos ficam logo escancarados à sua frente, já para não falar nos elementos copiados homenageados de outros filmes superiores (2001 - Odisséia no Espaço; Os Homens do Presidente; Eu, Robot; O Homem que Sabia Demais - esta então é escandalosa!).

 

Porém, em abono da verdade, há que dar mérito a D. J. Caruso que mantém a narrativa sempre em movimento e com um constante clima de urgência de modo a que o espectador não pare um segundo (e daí repense tudo o que viu e está o caldo entornado). Os actores estão também bastante carismáticos e se o espectador atura alguns exageros e palhaçadas da trama, é porque os mesmos se mostram bastante sérios em cena. Resumindo e concluindo: Olhos de Lince é um thriller com reminiscências de Hitchcock (o tema do indivíduo perseguido e falsamente acusado) feito para as plateias mais jovens com um olho nos bolsos e carteiras destes. Duas horas bem passadas e um divertimento esquecível mal termina.

 

Qualidade da banha: 9/20

 

publicado às 16:50


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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