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127 Hours (2010)
Realização: Danny Boyle
Argumento: Simon Beaufoy
Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams, John Lawrence
Qualidade da banha:
Aron Ralston é um alpinista que, na Primavera de 2003, ficou com o braço direito preso entre duas rochas durante uma caminhada no Blue John Canyon. Por mais de cinco dias (daí as 127 horas do título), Aron desesperou com a sede, a fome, o cansaço e a falta de ajuda (ele não tinha informado ninguém sobre o passeio), lutando pela sobrevivência com todos os meios disponíveis. Esta impressionante história é levada agora às telas pelos oscarizados Danny Boyle e Simon Beaufoy (do sobrevalorizado Slumdog Millionaire) e a árdua tarefa de manter uma longa-metragem focada numa única personagem e situada praticamente num só cenário é cumprida com bons resultados, ainda que com alguns percalços.
Incluindo uma introdução que delineia Aron com um sujeito de espírito aventureiro e amante da natureza, 127 Horas consegue a proeza de manter o espectador preso à cadeira com o drama vivido pelo protagonista. Inicialmente, Aron reage com um surpreendente racionabilidade ao acidente e só aos poucos o desespero toma conta dele, o que, obviamente, faz com que o jovem reavalie as atitudes que tomou até àquele ponto (e se...?), passando pela introspecção sobre a sua vida (principalmente quando ele começa a delirar) e não demora muito até que se revolte contra Deus, berrando a plenos pulmões que não merece tal destino.
Estes comportamentos raivosos dizem muito do ser humano envolvido em situações limite e o filme consegue levar-nos a identificar com a situação de Aron, uma vez que este é retratado como uma pessoa comum, com família, amigos e preocupações triviais – nunca o filme o tenta pintar como um herói, mas como alguém vulnerável numa posição extrema. Assim, o facto de Aron filmar depoimentos ao longo dos dias (o que realmente aconteceu) é como uma janela aberta para a sua alma e para os relacionamentos que ele mantém com outros indivíduos que aparecem em desnecessários e intrusivos flashbacks durante a projecção. Esta foi uma das formas arranjadas por Boyle para manter o público interessado no filme (e esticar a duração) e o que ele parece não perceber é que 127 Horas torna-se um verdadeiro murro no estômago graças ao clima de urgência da condição de Aron e não ao facto de perdermos tempo com a ex-namorada ou com momentos de infância ao lado do pai. Em contrapartida, as alucinações e a inserção de imagens como bebidas e comida salientam, sem nenhuma subtileza (e ainda bem), o desequilíbrio físico e psicológico do alpinista.
No entanto, nenhum filme destes se sustentaria sem uma interpretação que não tivesse a força de carregar a narrativa às costas, e 127 Horas conta com um James Franco que revela uma capacidade espectacular em demonstrar não só a degradação de Aron, mas também a sua imensa força de vontade em (sobre)viver. É quando ele deve tomar uma atitude drástica que o filme alcança o patamar de intensidade e crueza que vinha a ameaçar desde o início; e se a sequência em questão funciona é, em parte, graças a Boyle pela forma como a encena (com uma edição agitada, mas nada "michaelbayana"), mas principalmente devido à actuação visceral de Franco que retrata, sem eufemismos, a hesitação, a coragem e o extremismo a que Aron tem de chegar para lutar pela sua vida.
Impactante estudo sobre a persistência do ser humano, 127 Horas pode cometer os seus erros aqui e ali, mas também tem a sua quota de acertos (o plano que revela gradualmente o isolamento de Aron é de tirar o fôlego) e conta também com um James Franco em estado de graça, o que desequilibra a balança claramente a favor de Boyle.