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Dez anos.

 

Dez anos é muito tempo, mas não chega para esquecer aquele dia, aquelas terríveis imagens e aquela sensação estranha e arrepiante, um misto de incredulidade e tormento. Há dez anos, a História escreveu-se de forma cruel, todos nós voltámos à nossa frágil condição e mergulhámos num clima de suspeição e incerteza cujas sequelas ainda se sentem hoje em dia. Naquela Terça-feira, o Mundo realmente mudou. Para melhor ou pior, ainda estamos a tentar perceber.

 

Eu, na pacatez dos meus quase 16 anos, estava a fazer uma sesta após o almoço para, durante a tarde, voltar à praia. Na altura, tinha a mania de assistir à Euronews a partir da RTP 2 (não perguntem) e qual não foi o meu espanto quando acordo e vejo o topo da torre norte em chamas. As informações preliminares eram contraditórias: falava-se que algo teria colidido com a torre, não se sabia se era um avião comercial, militar ou privado, especulava-se sobre uma explosão interna e levantou-se a hipótese de um atentado terrorista. Poucos minutos depois, esta última teoria ganhou forma com uma visão aterradora que nunca esquecerei: o segundo avião colidia com a torre sul e eu gelei. Fui chamar o meu irmão e acompanhamos o resto da emissão. A praia teria de ficar para outro dia.

 

Entre o ataque ao Pentágono, o sequestro e despenhamento do United 93 e informações sobre aviões que desapareciam dos radares para voltarem a aparecer pouco depois, a evacuação e fecho de sedes governamentais e a decisão de encerrar todo o tráfego aéreo norte-americano, os acontecimentos no World Trade Center monopolizavam as atenções. Anónimos horrorizados, pessoas em estado de choque e imagens aterradoras de indivíduos que preferiram saltar de dezenas de andares a morrerem queimados e o planeta inteiro a acompanhar pela Televisão. Senti, então, uma urgente necessidade de falar com os meus pais, embora não tivesse nada de relevante para lhes dizer. Liguei para a pastelaria e atendeu a minha mãe. Claro que estavam também a assistir. Eu nem sabia o que dizer. Ela reconfortou-me e disse-me para ir para a praia, que o dia estava bom e que devia espairecer. Desliguei e, pouco depois, a torre sul desmoronou-se numa imagem que, no cinema, seria espectacular e digna de aplausos, mas que, naquela tarde, foi um terrível despertar para a realidade.

 

O pânico dos nova-iorquinos enquanto fugiam dos escombros que se amontoavam numa imensa nuvem de pó e detritos, a consequente queda da torre norte, o caos térreo que contrastava com um belíssimo céu azul, o silêncio ensurdecedor dos ensanguentados e empoeirados quase em estado catatónico – era demasiada coisa para assimilar.

 

Tragédias como o tsunami no Índico, a crise humanitária na Somália ou o conflito no Darfur mexem connosco, revoltam-nos, mas o impacto do 11 de Setembro foi mais alargado e profundo. Tudo por que seguimos a par e passo pela Televisão, acompanhamos o horror da situação, desejámos que as operações de socorro fossem bem sucedidas e sentimos a dor como se tivéssemos uma janela que nos transportasse directamente para Nova Iorque.

 

Vimos o pior e o melhor da raça humana em simultâneo. Ali, diante dos nossos olhos e perante a nossa impotência.

 

Percebemos como o Mundo pode ser um lugar injusto e atroz e unimo-nos numa corrente de solidariedade que o canalha Bush e restante corja decidiram arruinar a favor de uma guerra estúpida movida por interesses obscuros.

 

Tudo isto numa Terça-feira enquanto se digeria o almoço.

 

publicado às 17:18


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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