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ALERTA DE SPOILER! Este texto contém informações relevantes, pelo que é aconselhável a sua leitura caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

How I Met Your Mother - última temporada

Era uma vez uma sitcom que apareceu meio que despercebida em 2005. Na ressaca de Friends, tinha todo o clima desta última mas com uma engenhosa particularidade: a história é contada por Ted Mosby em 2030 aos seus filhos sobre como conheceu a mãe destes. Isto permitia que a estrutura narrativa assumisse o ponto de vista de Ted e tínhamos flashbacks, histórias paralelas, versões contraditórias, saltos temporais, enfim, uma miríade de coelhos na cartola na forma de como contar uma história. Era divertida, envolvente, carismática. Infelizmente, não era um estrondo de audiências. Mas, caramba, era realmente boa.

 

Até que algo engraçado aconteceu: a série tornou-se um sucesso – e como tudo o que faz sucesso é para manter (ainda para mais no canal que renova incessantemente coisas como The Big Bang Theory e CSI's e as suas crias), a série foi-se esticando, enfiou-se por caminhos erráticos, a qualidade caiu abismalmente e a piada inicial já era uma memória distante brevemente trazida à tona com um ou outro episódio bem esgalhado. Parecia que a tal Mãe nunca chegaria e não havia fim à vista.

 

É então que no final da 8ª temporada – quando eu estava pronto a desistir – eles decidem revelar quem é a dita cuja e o meu coração encheu-se de esperança. A mim não me bastava saber só como ela e Ted se conheceram: eu queria conhecê-la a fundo, queria vê-la a enturmar-se no grupo, perceber como Ted, após tantas aventuras e desventuras no campo amoroso, iria ver nela a recompensa por tantos dissabores e porque raios afinal ela seria a Tal! A aleatoriedade de poder ser qualquer uma não me satisfazia e eles teriam uma temporada inteira para preparar o terreno.

 

Nisto, os produtores decidem encapsular toda a derradeira temporada num único fim de semana – o do já anunciado casamento de Barney e Robin – e a série enterrou-se de vez. Sim, o final foi uma revoltante porcaria e seria-o mesmo que os 22 episódios anteriores tivessem sido brilhantes. Como o ano foi simplesmente terrível, este desfecho não fez muita mossa, pelo menos para mim. Prémio de consolação: não foi tão tenebroso como o final de Dexter.

 

A ideia do fim de semana já seria um erro à partida e não foram precisos muitos episódios para que execução da mesma se mostrasse pouco inspirada: Marshall passa metade do tempo afastado do grupo, Robin e Barney duvidam e duvidam e duvidam e duvidam e duvidam do passo gigantesco que é o matrimónio, a Mãe ficava capítulos sem aparecer, as participações especiais eram mal aproveitadas (o que fizeram – ou melhor: não fizeram – com a grande Tracey Ullman devia dar cadeia), e Ted, coitado, eternamente naquele limbo de ver os amigos a seguirem com as suas vidas e ele a ficar para trás. E não posso deixar de mencionar o episódio feito somente com rimas, um dos maiores lixos televisivos que já presenciei.

 

Enquanto isso, o pouco tempo de antena a que a Mãe tinha direito só acentuava a frustração do planeamento da temporada: desenvolvida como um "Ted com vagina" e atirada para anos de reclusão devido a um trauma terrível enquanto a sua alma gémea por encontrar divertia-se mesmo em depressão ou encalhado (um postura conservadora e machista dos produtores), a Mãe tinha a sua definição limitada a "mulher ideal para Ted" e mais nada. O que era uma pena já que quando ela e Ted partilhavam momentos em comum, Cristin Milioti inspirava simpatia imediata, tinha excelente química com Josh Radnor e bom timing cómico. Convinha ver mais dela, saber mais dela, que ela interagisse mais com o grupo, mas nada disso aconteceu. A esta altura, eu até já aceitava que eles investissem no velho cliché do "odeiam-se, mas amam-se no fundo", ao menos acompanharíamos a Mãe durante mais tempo.

 

Eles tinham a hora final para remediar isto. Ted ainda não se tinha cruzado com a "mulher da sua vida" (o que custa escrever isto agora, mas já lá vamos) e o casamento mais custoso da história da TV já se tinha realizado. E, mesmo com expectativas baixas, eles conseguiram estragar tudo.

 

Mais preocupado em atirar novos problemas para cima das personagens do que em fechar as pontas soltas, o final salta apressadamente ao longo dos anos para nos dar novas informações: Lily e Marshall estão de volta de Itália (e nem uma menção a isto) e ele, após ter perdido a oportunidade de ser juiz, vê-se encurralado num trabalho ingrato; Barney e Robin divorciam-se em três anos (Sim! O casamento que nos atiçaram durante anos e ao qual dedicaram uma temporada é desfeito aos 10 minutos do episódio seguinte!); Robin é uma estrela mundial das notícias e mal tem tempo para os amigos pois está sempre a viajar; e Ted vive pacatamente com a Mãe – cujo nome é Tracy.

 

Quando Barney reúne o grupo no bar e fica histérico com a possibilidade de reviver velhos momentos, confesso que não consegui conter um sorriso de nostalgia... apenas para este me saltar da cara e nunca mais voltar com o que veio a seguir: Barney volta a ser o mulherengo do costume e insiste para que o deixem "ser como ele é" numa negação clara e idiota do crescimento que ele sofreu nos últimos anos. Para mostrar, porém, que todos têm de crescer (embora isto já fosse estabelecido), Barney cumpre o desafio de dormir com 31 mulheres em 31 dias – e engravida a última, sendo obrigado a assumir a responsabilidade da paternidade. Reparem que isto foi feito estupidamente ao longo do episódio final: Barney amadureceu. Afinal, não. Ups, agora vai ter de se portar como crescido. Não tem piada. É triste, é imbecil e não faz sentido. Mas, acima de tudo, não tem piada!

 

O pior, claro, estava por vir. Ao longo do episódio percebi porque era imperativo (para os argumentistas, claro) que nós, espectadores, e o grupo não conhecêssemos a Mãe a fundo. A ridícula reviravolta final diz tudo. Não falo do facto de a Mãe estar morta no futuro: essa hipótese já fora levantada há uns dois anos e a própria série encarregou-se de atirar pistas nesse sentido. E até não seria mal de todo uma vez que daria a justificação perfeita para que Ted conte a história aos filhos e acabaria a comédia num tom agridoce, mas de dever cumprido.

 

Contudo, não é dessa "reviravolta" que falo: a Mãe nunca foi o amor da vida de Ted, mas sim Robin. Os filhos de Ted ouvem toda a saga e, de forma bem relaxada para quem acabou de saber a história da mãe defunta, instruem o pai a reatar com Robin. O crítico Alan Sepinwall relata tudo aqui. Muito resumidamente: este sempre foi o plano dos criadores. A cena com os filhos estava filmada desde o início da segunda temporada e eles decidiram ater-se ao plano inicial – mesmo que tudo o que tenham feito entretanto contradiga o que nos foi mostrado na hora final. A história nunca passou pelo encontro com a Mãe e as motivações do espectador são atiradas pela janela. A identidade da Mãe nunca interessou: ela é irrelevante na sua própria história. A própria jornada para a encontrar nunca interessou: por mais que tenham dito e mostrado que o binómio Ted-Robin estava ultrapassado, afinal nunca esteve – mesmo que estivesse. O que interessava é que Ted encontrasse a felicidade: ok, concedo esta, mas sempre ficou explícito que ele seria feliz ao lado da Mãe e que Robin estava fora da equação.

 

Fica a impressão que, como Robin não quer ter filhos (e, posteriormente, não os pode ter), a Mãe foi apenas a ponte para que Ted pudesse realizar o seu desejo de ser pai e, uma vez morta, pudesse voltar a insistir numa relação amorosa falida. A forma como os argumentistas manipularam as peças para chegar a este ponto roça o sadismo e a desconsideração pelos fãs – e não admira que a Internet esteja em polvorosa com todo o ódio dirigido ao final. Para quê insistir no casamento de Barney com Robin? Porquê dedicar toda uma temporada – e uma fraquíssima temporada – a algo que eles sabiam que não iria durar?

 

Mais sádico que isto só se tiver visto as primeiras temporadas recentemente – e foi isto que fiz após apanhar uns quantos episódios na Fox Life. Deu para compreender porque me viciei na série e a aguentei por tanto tempo, sempre olhando para o fundo do poço à espera que ela se reerguesse.

 

Se How I Met Your Mother se encerrasse naquela bonita cena da estação, talvez os produtores se safassem mesmo com todas as asneiras cometidas. Ao arrastarem Ted para a porta de Robin com a trompa azul, só cavaram mais fundo no buraco onde se enfiaram.

publicado às 18:35


3 comentários

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De Mafalda Neto a 12.04.2014 às 23:24

Viva Antero, já deixei a minha opinião aqui http://tvdependente.net/2014/04/how-i-met-your-mother-9x239x24-last-forever-cbs/#comment-215713 , mas aproveito para rertribuir o comentário.

Realmente a (fraca) temporada já deixava antecipar que a má qualidade seria uma constante, mas de uma série em que se investiu tanto a nível emocional, esperamos sempre um pay-off satisfatório. Será impossível esquecer o final, mesmo com tanta coisa boa que a série nos deu anteriormente, e por mais que quisesse que a cena da estação fosse a última, nunca vou conseguir ignorar o que vem a seguir. Fico-me pelas repetições das temporadas anteriores para me confortarem.
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De Sit a 04.11.2014 às 02:40

Obrigado por relatar o final da série, não vi, não me apeteceu. Abandonei o visionamento da mesma nem sei em que temporada - a 2ª ou 3ª provavelmente, após me cansar que num universo dito "normal" aqueles parvalhoides de amigos não conseguiam se apaixonar FORA do círculo. Afinal aquilo era uma mulher para dois homens. Nunca ia passar daí. Ficou obvio. E percebe-se logo que vai descambar quando a Robin está com um, depois fica com outro, depois afinal gosta é do primeiro, mas o primeiro já não gosta, mas afinal descobre que gosta, mas ela já gosta de outro, e esse outro também gosta dela, mas ele não quer assumir nem para si mesmo, e o outro nega que ainda ama a primeira e ... irra! Não é chato? Acho que é. Infelizmente muitas séries limitam toda a história a umas parcas personagens e as pobres são forçadas a "reproduzir" entre si. Como se mais nenhum ser humano existisse na trama. Uma mulher para dois homens é muito pouco. Só podia dar mer....

Ah, e claro: aquela porcaria de "Como eu conheci a vossa mãe...." nunca mais terminava. Quando ia dar em alguma coisa lá o parvo do Ted dizia "Mas não foi assim que conheci a vossa mãe". Era obvio que, como em LOST, a série estava só a encher chouriços, a Robin ia ficar ali como um pêndolo que ora ia para um ora ia para outro e NADA de interessante podia sair dali. Apanhei vislumbres de episódios das temporadas seguintes e só confirmou tudo. Robin com Ted, Robin com Barney. E os outros dois, já casal, a "inventarem" situações para equilibrar uma trama sem pés nem cabeça.

VISUALMENTE gostaria de ter realizado um pequeno filme humorístico e colocado no youtube. OU fazer um cartoon - se soubesse desenhar bem- a reproduzir aquele estúpido sofá e aquelas duas crianças a tentar descobrir como o pai conheceu a mãe. Na minha mente idealizei vê-las gradualmente a envelhecer, até ficarem de cabelos brancos e soltarem um longo "Chhhhheeeeeeeegggggggaaaaa! Diz-nos já como é que conheceste a porra da nossa mãe!" . "Chega. Não aguentamos mais". - puxam cada qual do seu revólver e estouram os miolos. Aliviados.

Quanto ao final se descobrir que a mãe está morta - isso me soa original e interessante. Que ele afinal ama Robin é... bah, banal e típico. Não existiu outro desenvolvimento em toda a estúpida trama. E esse facto surpreende bastante porque, acho que se forem a ver bem, ROBIN não tem nada de apaixonante - nem qualquer um deles, do TRIO romântico, parece estar apaixonado ou ter fortes razões para estar. Esquisito.
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De aline a 05.03.2016 às 13:42

Acabei de assistir ontem....nunca fiquei tão decepcionada com uma série

O Ted passa a vida toda atrás de uma mulher perfeita pra ele e quando finalmente encontra passa poucos anos juntos só o tempo dela realizar o sonho dele de ser pai e morre super jovem, whats!?

O Barney meu favorito não mudou exatamente por causa da Robin, ele amadureceu e percebeu que queria mais da vida, queria se casar por isso pediu a estripper em casamento, não deu certo pq era a mulher errada, ele e a Robin de um jeito imperfeito eram perfeitos e depois de tudo...do nada simplesmente terminam?? a Robin volta com o Ted ( que é um tapado pq poderia muito bem amar de novo e ser feliz com a esposa) pq agora que ele realizou todos os sonhos como um casal com a falecida esposa ele pode der feliz com a verdadeiro amor? Palhaçada isso sim, me arrependi de ter assistido a série, estava mo curiosa pra ver o final, acho que o roteirista deveria ter se apaixonado na época que escreveu a nova perspectiva de vida do Barney aí levou um pé na bunda e resolveu expressar sua insatisfação atrás do personagem dizendo que a única mulher que muda um cara é o filho aff

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Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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