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Fringe: encurralados

por Antero, em 13.02.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x12: Welcome to Westfield

Um episódio que faria Fox Mulder e Dana Scully incharem de orgulho. Se dizem que Fringe é influenciado por Ficheiros Secretos (e eu digo), nada melhor do que ver a série abraçar essa influência de maneira inventiva e – por que não? – carinhosa. Não se passou grande coisa, mas quando acabou fiquei a pensar "o quê?! Já?!".

 

História isolada que se conecta a mitologia da série de forma superficial, este capítulo traz Olivia, Peter e Walter "presos" numa pequena localidade que experiencia uma espécie de fusão com a sua contraparte do outro Lado. Os habitantes unificam em si aspetos distintos de ambos os universos, como memórias, traços físicos e até o dobro do ADN - o que, invariavelmente, os levará à morte bem como a cidade inteira entra em colapso visto que, diz-nos a Física, dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Bem que o episódio nos tentou convencer que Olivia sofria do mesmo mal da população, embora aquele sonho inicial com Peter tenha sido de estranhar.

E assim foi: aquela Olivia começou, aparentemente, a partilhar memórias da nossa Olivia, aquela que Peter conhece e ama. Partilhar ou manifestar? É que dizem por aí que isto do Lado C e D é uma treta, que estamos a acompanhar os usuais A e B alterados. Que Peter não tem de voltar para lado nenhum; ele está onde deveria estar! Por enquanto, sigo o meu instinto e vou pela opinião que tenho defendido nas últimas semanas: Peter surgiu, sabe-se lá como ou porquê, num universo distinto daquele que víramos por três anos e tem de voltar para casa. Há muita coisa para ser respondida e explicada, é verdade, mas ainda sigo por esta via, apesar da aproximação de Walter a Peter (o cientista ultrapassou a sua agorafobia), que pode resultar de uma ligação intíma e natural entre o pai e o seu filho, e estas "recaídas" de Olivia que, por outro lado, podem ser fruto das injeções ministradas por Nina ou, quem sabe, do sentimento que a une/unia a Peter. Ou então tudo isto ao mesmo tempo.

 

publicado às 20:58

Fringe: o salvador

por Antero, em 06.02.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x11: Making Angels

Interessante o caso da semana: Neil, um assassino capaz de vislumbrar passado, presente e futuro, convicto da sua missão de interromper vidas alheias condenadas à morte e o sofrimento de terceiros. Isto na sequência de um acidente de viação que vitimou o seu pai e irmão e que lançou a sua vida no caos e no remorso: é na sua demanda de contornos divinos que ele procura algum tipo de redenção para a sua existência. Um detalhe que pode ter escapado a muitos é que a sua condição aproxima-se das dos Observadores que, além de resgatarem um dispositivo que Setembro havia "deixado" no Lago Reiden (onde Peter morreu e, posteriormente, "voltou"), talvez o considerem como uma ameaça, visto que um simples ser humano conseguiu ascender às suas posições e, de certa forma, obter os mesmos poderes (capacidade de ver e alterar eventos).

Melhor do que isto, porém, só mesmo o desenvolvimento das personagens e Astrid tem aqui mais tempo de antena com a visita da sua contraparte que, amargurada pela morte do pai distante, resolve atravessar para o outro Lado para saber como lidar com a situação. Ao mesmo tempo, a Astrid Alternativa ganha a simpatia de Walter e faz-lhe a indagação mais lógica e, paradoxalmente, improvável: por que este não aceita "este" Peter como o seu filho perdido e permite-se amá-lo. Engraçada a interação de ambos os universos no laboratório de Walter: o desconforto de Olivia pela presença e vivacidade de Altivia, a reação inicial e a consequente compaixão de Astrid pela sua versão alternativa, Walter a ver Peter a tomar o seu lugar como parte ativa da investigação.

Voltando aos Observadores, o episódio descortinou alguns pontos importantes: o que são ou quem são estes seres? O próximo estágio da evolução humana? Divindades? Quais as suas motivações? O que farão estes agora que sabem onde Peter está? Ajudá-lo-ão? Ou tentarão consertar tudo da pior maneira para o nosso protagonista?

 

publicado às 22:59

Fringe: futuro (in)certo

por Antero, em 31.01.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x10: Forced Perspective

A adolescente Emily tem um problema: consegue prever quando e como alguém vai morrer. Amaldiçoada pela sua condição, ela tenta avisar os infelizes através de desenhos, embora nunca tenha sido bem-sucedida. A sua família tenta protege-la a todo o custo, mudando de cidade em cidade sempre que são reconhecidos, devido a breves experimentos feitos pela Massive Dynamic quando Emily era uma criança (tal como Olivia, para os mais distraídos). A resposta é dada por Walter: ecos temporais, acontecimentos traumáticos que "ecoam" através da linha temporal e que são "captados" pela garota antes de todos os outros.

Claro que depois de receber um aviso do Observador que iria morrer de qualquer maneira (curioso que ele tenha vestígios da Gripe Espanhola no seu ADN; talvez tenha lá a cura da SIDA também... – o que reforça a ideia de serem humanos), Olivia percebe que isto tem tudo a ver com ela mesma: estará o Destino traçado? Ou poderá ser evitado? Com o ato terrorista a ser impedido em cima da hora, Olivia tenta provar a si própria que o Observador pode estar errado, embora a explicação dada por Peter sobre a essência destes seres e como eles interagem com o Tempo de forma distinta (tal como Emily) a tenha assustado de sobremaneira. Até temos o exemplo de Peter: o facto de este não "existir" nestes universos não impediu que ambos entrassem em conflito. De certo modo, o fim seria sempre o mesmo, embora Peter esteja cá para que este não se repita. Confuso?

Detalhes do episódio que convém reter: a hipnose mais elaborada de Walter em relação à feita na primeira temporada (verde-verde-verde-vermelho – lembram-se?); Peter e o pai a trabalharem em conjunto numa solução para a Máquina do Apocalipse, já que esta variante não deverá responder a um Peter que não deveria existir; Nina Sharp a sobrepor o seu entusiasmo pela Ciência à sua ética como mãe adotiva de Olivia, o que desperta nesta uma certa desconfiança. E, obviamente, o surgimento de um novo Observador nos últimos segundos. Será Março? É que a avaliar pelo glifo desta semana...

publicado às 19:25

Fringe: inimigo comum

por Antero, em 23.01.12

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Fringe 4x09: Enemy of My Enemy

Título mais apropriado era impossível. David Robert Jones firma-se como a grande ameaça aos dois universos e consegue aquilo que eu suplicava desde o início da temporada: ver os dois Lados a trabalhar em sintonia total em prol do bem de todos. O que não será fácil, uma vez que Jones conta com o Broyles de lá e a Nina Sharp prontos a sabotarem qualquer iniciativa da Divisão Fringe. Só que está lá Peter a fazer a diferença, a variável com que Jones não contava, a deixar os seus planos de regresso para outra altura e disposto a ajudar as Olivias, os Lees e os Walters.

E por falar em Walter(s), acho sensacional como Walternate, visto como o grande vilão da série, reformulou-se para um indivíduo capaz de deixar rancores e mágoas antigas para trás e focar-se essencialmente em proteger o seu universo, percebendo, no processo, que uma aliança é inevitável e será a melhor forma de combater Jones. Walter, porém, recebe a inesperada visita de Elizabeth que, à sua maneira, torna-se a tulipa branca que o cientista encarou como um sinal de redenção (num dos melhores episódios da série) e este decide ajudar o "filho" a regressar ao seu lugar. No final, ficamos com a clara perceção de que a nossa Olivia será fundamental aos planos de Jones. Será que as injeções patrocinadas por Nina revelarão os seus poderes originados pelos testes de cortexiphan (que, nesta realidade, Olivia não chegou a concluir)? Será que Jones os usará para poder cruzar universos mais facilmente e sem sofrer danos colaterais?

Quem tinha dúvidas quanto aos rumos de Fringe na quarta temporada, pode começar a fazer as pazes com esta linha temporal.

publicado às 23:19

Fringe: infiltrados

por Antero, em 16.01.12

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x08: Back To Where You've Never Been

Primeiro episódio do ano de Fringe, audiências péssimas e a Máquina do Cancelamento promete ser mais aterradora que a Máquina do Apocalipse. Tudo por que este reboot que deram à série mostra-nos novas camadas numa estrutura narrativa pensada ao pormenor: este quarto ano é análogo à primeira temporada. E nada como brincar com todas as possiblidades de novos universos sem cair na repetição, como as variações das personagens que já conhecemos, mas que surgem frescas aos nossos olhos, com outras motivações embora sejam, essencialmente, as mesmas. Será uma pena se a série for cancelada antes de atingir todo o seu potencial.

Depois de receber uma nega de Walter em ajudá-lo a voltar para "casa" (numa ótima cena onde John Noble brilha ao recordar o suicídio da esposa), Peter decide invadir o Lado D para pedir auxílio a Walternate, mas Lincoln e Olivia têm outros planos e decidem ajudá-lo de maneira a reunirem provas que sustentem a tese que o outro universo é o responsável pelos transmorfos 2.0. Do lado de lá, as coisas complicam-se para Lincoln e Peter é reconhecido pela sua "mãe" (noutra ótima cena) que o leva a Walternate. Este revela-se tudo menos o responsável pela variante dos transmorfos e até daquele lado a infiltração destes seres em altas cúpulas atingiu dimensões alarmantes. Walternate promete ajudar Peter se este colaborar a resolver esta conspiração, algo que Peter relutantemente aceita.

Em mais uma demonstração de que a história desenvolve-se a partir de ideias já vistas, porém com novas nuances, é o facto de trazer novamente David Robert Jones, o tal da organização ZFT (lembram-se?) e morto no final da primeira temporada (é ele a quem Peter se refere quando diz que matou um sujeito ao desativar o portal), como o autor por trás dos planos com os transmorfos, embora seja improvável que estejam relacionados diretamente com William Bell, já que este não deverá aparecer mais devido à recusa de Leonard Nimoy. E quais serão os seus motivos? Estarão novamente ligados com a Massive Dynamic? Sabemos que o Broyles do Lado D (Droyles?) trabalha com ele e "deste" lado? E como e porquê Setembro foi baleado e, mais importante, que quis ele dizer ao afirmar que em todos os futuros possíveis Olivia terá de morrer? Como assim? A morte dela é essencial na resolução de tudo? Só esta Olivia ou todas as existentes?

Confesso que já tinha saudades de me debruçar sobre questões assim. Ainda bem que Fringe voltou!

publicado às 19:28

Assassinaram o Dexter!

por Antero, em 26.12.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Dexter: temporada 6

Oh, God! – exclama Dexter antes de encerrar o seu sexto ano. Que bosta de final! E de temporada! – acrescento eu.

 

Seria de esperar que a série quisesse recuperar-se da fraca temporada anterior e os rumos até apontavam nesse sentido: a discussão sobre religião trazia um seguimento lógico a uma personagem que busca algum tipo de redenção e de integração numa sociedade na qual tem de ocultar e redirecionar constantemente a sua essência. A figura de Brother Sam, um indivíduo que encontrou na Fé a salvação para um passado criminoso, oferecia o contraponto necessário para a postura cética do nosso anti-herói enquanto Travis e Geller estabeleciam-se como vilões eficientes, mas nada digno do Trinity de John Lithgow (já lá vamos à grande "revelação" da temporada). Nisto, Brother Sam é assassinado e, ao vingá-lo num momento de raiva absoluta, Dexter é acometido pelo lado negro do seu Passageiro Sombrio, antes suavizado pela figura paterna, e agora controlado pela imagem do seu irmão, o Ice Truck Killer. Pena que durou tão pouco.

 

Em tantos aspetos que me incomodaram, este foi um deles: a tendência da narrativa não mergulhar a fundo nas suas ideias. A discussão religiosa ficou pela superfície, talvez por receio de irritar uma parcela do público, e mesmo o facto de ver um Dexter tomado na íntegra pelo seu instinto homicida foi resolvido num capítulo. Pior que isto, só deixar narrativas pelo meio, num puro desperdício de tempo e de talento do elenco: o imbróglio de Matthews serviu para provar a idoneidade de Debra e o jogo sujo de LaGuerta, mas e daí? Batista e Quinn pareciam saídos de uma comédia policial, o novo detetive não serviu para nada, a irmã do Batista e o estagiário do Masuka ocuparam mais tempo do que deveriam e nem quero pensar que este está a ser preparado para ser o próximo vilão apenas por... não conseguir impressionar o Dexter! Até atentados terroristas tivemos este ano. Cruzes!

 

Nada disto se compara à imbecilidade de criar uma trama romântica entre os irmãos Morgan. Tudo bem que eles não irmãos biológicos, mas – que caraças! – eles foram criados juntos desde cedo! E nada disto foi minimamente abordado nos últimos anos. De onde surgiu isto, então? Ora, da necessidade de estabelecer um conflito em Debra aquando a sua descoberta do segredo do irmão, talvez por que amor fraternal não seria suficiente nas cabeças acéfalas de quem idealizou tamanha cretinice. E dá-lhe sessões com a terapeuta menos articulada da História (deu saudades de In Treatment) capaz de convencer a pobre Debra que a sua dependência do irmão é... amor! E dá-lhe quase orgasmos na presença de Dexter! Chiça, penico!

 

Quanto à revelação que Gellar é uma alucinação de Travis, bem... desconfiei logo no primeiro capítulo. Afinal, se Dexter tem o seu pai para o auxiliar, não seria descabido pensar que um novo assassino poderia ter um semelhante. No entanto, uma mera suspeita tornou-se algo ridiculamente óbvio ao arrastarem a questão semanas a fio e tornou-se vergonhoso perceber que Travis, desenvolvido como um sujeito normal levado a cometer atrocidades em nome da Fé (um tópico corajoso e ambicioso), logo foi transformado num psicopata esquizofrénico caricatural igual a tantos outros - uma solução covarde e preguiçosa. E que me perdoem aqueles que gostaram de Debra ter descoberto que o irmão é um assassino, mas eu gostaria que a situação tivesse sido construída com mais cuidado e não que ela decida, do nada, declarar-se para o irmão... e numa cena do crime! Ou seja, isto veio com uma temporada de atraso, o que aumenta mais a minha irritação com os caminhos que Dexter tomou nos últimos dois anos.

 

Não posso deixar de referir aqui os numerosos momentos constrangedores que rechearam esta temporada e cá vão eles:

  • quando já muitos desconfiavam que Gellar era uma alucinação, Travis receia que ele apareça a qualquer momento. No jardim de casa da irmã...
  • ainda estou para perceber como Dexter safou-se das cordas que o prendiam no barco a incediar por Travis. Vi-o a tentar roê-las, mas, que eu saiba, Dexter não é um vampiro...
  • o nosso herói está em alto-mar, sem possibilidade de salvação, e convenientemente aparece um barco com imigrantes clandestinos chamado... Milagro!
  • Debra sonha com um jantar romântico ao lado do irmão...
  • Dexter apercebe-se do ataque com gás e ainda bem que estava lá aquela salinha disponível para isolar a moça...
  • Debra está com tusa pelo irmão que lhe aparece à frente... sem camisa...
  • eu acho que o estagiário roubou uma falsificação da mão da vitíma do Ice Truck Killer por que aquilo tem um ar tosco de plástico, espécie de adereço de série televisiva. Eu queixava-me já à Amazon....
  • como Dexter conseguiu carregar com Travis e o filho do topo do prédio sem o pessoal da Miami Metro chegar?! Talvez por que estes sejam incompetentes, já que...
  • ... esperam pelo analista de sangue antes de verificarem uma cena do crime!
  • e como ninguém deu conta das marteladas de Dexter na parede para apagar a sua cara desenhada por Travis?
  • Dexter mata o latino criminoso à frente de dezenas de pessoas e nem parece se chatear com isso...
  • Dexter envia uma mensagem de vídeo para o telemóvel de Travis a anunciar o seu fim. Nem sei como qualificar isto...
  • o que deu a Dexter para matar Travis numa igreja?! Era logo numa praça pública! E ainda por cima no local que Debra sabia onde ele estaria. Que amador...
  • Michael C. Hall é um grande ator, mas na cena em que finge ter-se injetado deu-me cá uma pena dele...
  • Debra, a nova tenente, está com as chefias à perna e Dexter insistir na investigação a solo sobre Travis sabendo que a irmã está no lodo. Porra, Dexter, deixa de ser chato e ajuda a irmã!
  • Travis invade a festa do infantário de Harrison e rapta-o na maior das calmas enquanto Dexter atende um telefonema de dois minutos, se tanto. Nem sei se felicito Travis por ser tão eficaz, se reclamo das educadoras de infância ou se insulto Dexter por se ter distraído quando um serial killer anda no seu encalço, sabe onde ele mora e que tem um filho.

Acho que já chega.

Não nego que a próxima temporada tem um potencial enorme, mas receio que os produtores vão arranjar novas formas de estragar tudo em vez de levá-la a bom porto. O Dexter que conheciamos está agora no Paraíso das Séries juntamente com LOST, Seinfeld, Friends e Os Sopranos. Amputada de dois membros, é certo, mas eu estou em crer que lá em cima também se preocupam com questões de acessibilidade.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.


publicado às 23:56

Homeland: a melhor série do ano

por Antero, em 19.12.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Homeland: temporada 1

Há várias semanas que queria escrever sobre Homeland, sobre o prazer que ela me devolveu em acompanhar uma série todas as semanas, isto numa altura em que as estreias não chamam a atenção (American Horror Story?! Terra Nova?!), em que as de longa data apresentam imenso desgaste (How I Met Your Mother, House) e ainda outras que vão ladeira abaixo (Dexter foi particularmente penoso de assistir, mas isso fica para outro texto). Esfriei os ânimos e decidi esperar pelo final, não fosse desapontar-me a valer. Felizmente, isso não aconteceu. Pode ser difícil de acreditar, mas desde o primeiro ano de LOST que eu não via uma temporada de estreia tão absorvente, intensa e viciante.

 

Baseado num original israelita, Homeland começa com o regresso do sargento Nicholas Brody de regresso aos EUA após um cativeiro de oito anos no Iraque como prisioneiro de guerra da Al-Qaeda. De regresso a uma família que já havia seguido o seu rumo sem o patriarca, Brody é encarado como um herói por todos exceto a agente Carrie Mathison, que tem a informação de que um militar norte-americano foi convertido ao Islamismo e aos dogmas da organização terrorista. Trabalhando diretamente com Saul Berenson, que serve como mentor, Carrie fará tudo para provar que um ataque aos EUA é iminente ao mesmo tempo que lida com questões pessoais que podem pôr em causa a sua competência profissional e, pior ainda, a sua sanidade.

 

Ou seja, Brody pode ou não ser um terrorista, Carrie pode ou não estar certa ou, pelo menos, não completamente. Assim, somos atirados de cabeça num jogo de gato e rato, cheio de reviravoltas, traições e onde nada é o que parece. Se isto não soa especialmente inovador para quem já viu Prison Break ou 24 (com a qual divide alguns produtores), Homeland mergulha fundo na mente daqueles indivíduos e percebemos os seus desejos, os seus medos e as suas contradições. Carrie é astuta, determinada e inteligente, mas não será a sua instabilidade psicológica acentuada por anos e anos de trabalho árduo na CIA? Ou é a sua particularidade que a torna numa profissional tão competente? Por outro lado, Brody vê-se num mundo onde não se encaixa, rompe com a dinâmica familiar estabelecida na sua ausência e tem comportamentos estranhos. Será mesmo um terrorista? Ou terá se convertido como mecanismo de defesa?

 

Ao desenvolver as suas personagens cuidadosamente, Homeland faz com que nos preocupemos com cada uma delas e as consequências dos seus actos, enquanto aumenta a tensão em cenas compostas por confrontos verbais ou um simples teste do polígrafo. Além disso, a série não pinta a CIA como uns santos em defesa da pátria e ilustra bem as motivações dos terroristas bem como as ações destrutivas de ambas as partes em conflito – e é este clima de ambiguidade, em que nada é preto no branco em diferentes escalas, que torna a série tão fascinante e adulta. Mas o que realmente faz desta temporada de Homeland algo tão memorável é a sua ousadia em cruzar linhas que dávamos como certas e, deste modo, abrir toda uma janela de possibilidades – e, volto a repetir, este texto está cheio de spoilers, por isso é melhor parar de ler por aqui. Eu estou a avisar.

 

Eu avisei.

 

Continuando...

 

Quando Carrie e Brody se envolvem romanticamente no brilhante sétimo episódio, a narrativa faz aquilo a que poucas se atreveriam ou, pelo menos, não tão cedo. Sem o auxílio da vigilância ilegal que instalara na casa do sargento, Carrie vê-se obrigada a revelar-se e a conviver com o suspeito que logo se revê no seu caráter autodestrutivo, já que ele próprio está em vias de perder tudo aquilo que tinha. Ela, no entanto, vê nele alguém que preencha o vazio da sua carência emocional e ambos estabelecem um vínculo fugaz, mas marcante. Ela comete um erro, abre o jogo e a série responde a um monte de perguntas que outro produto televisivo arrastaria durante semanas. Aquele fim de semana, contudo, fornece dados que Carrie usará no último episódio para indiretamente (e sem saber) prevenir o ataque terrorista que Brody levara a cabo. A história pode tomar algumas direções bizarras e improváveis, mas, se formos a pensar bem, elas surgem lógicas e condizentes com as personalidades daqueles indivíduos.

 

A encabeçar um elenco de prestações homogéneas, Claire Danes dá um verdadeiro espetáculo como a decidida Carrie ao dominar todas as facetas da personagem: o génio forte, a instabilidade, a inteligência, a sagacidade, o descontrolo e uma certa vulnerabilidade (e a atriz é inteligente ao abraçar os traços menos atraentes de Carrie sabendo que o sucesso desta não depende da simpatia irrestrita do espectador). Dispensava-se era a narração sobre a sua ineficácia em impedir o 11 de Setembro, uma vez que custa acreditar que a jovial Carrie fosse um agente influente aos vinte e poucos anos, mas em tudo o resto Danes é dinamite pura. E mais: com o carismático Mandy Patinkin, ela estabelece uma dinâmica de pai e filha genuína e que nos leva a temer pela mesma devido às ações impensadas dela. Damian Lewis também brilha a grande nível como o ambíguo sargento Brody e Morena Baccarin destaca-se como a sofrida esposa que tenta endireitar a vida com a chegada do marido desaparecido.

 

No final, com Brody em direção à política e Carrie a submeter-se a um tratamento de choque, Homeland planta as sementes do já anunciado segundo ano. Porém, tirando uns pozinhos aqui e ali, este seria o final perfeito caso estivesse a falar de uma minissérie, já que os arcos dramáticos deles foram, de certa forma, satisfatoriamente resolvidos: ele em relação à família e à sua missão; ela em relação à doença. Posso até apostar que a próxima temporada não estará ao nível desta, mas estou em pulgas para saber que cartas é que os argumentistas têm na manga. Mesmo assim, fica a memória de 12 maravilhosos capítulos que fazem da temporada algo envolvente, instigante, conciso e perfeito.

 

Homeland estreia em janeiro na FOX e prepara-se para arrebatar vários prémios nos próximos meses.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

 

publicado às 23:11

Zombies iguais a tantos outros

por Antero, em 29.11.11

 

The Walking Dead - temporada 1

A Noite dos Mortos-Vivos. The Evil Dead. Morte Cerebral. 28 Dias Depois. O Renascer dos Mortos. Shaun of the Dead. [REC]. Zombieland. O que é que estas obras (e são as que me lembro de cabeça) têm em comum? Todas, de uma maneira ou de outra, souberam aproveitar as características dos "filmes com zombies" para temáticas mais adultas, para fins cómicos ou mesmo para exercícios de terror absoluto. Todos eles, à sua maneira, são bons exemplares do subgénero.

 

The Walking Dead, série transmitida no canal por cabo AMC (de Mad Men, Breaking Bad e The Killing), pega numa misturadora e enfia lá dentro todos os exemplos supra citados. O resultado, como não podia deixar de ser, soa tudo menos fresco e inovador. Inspirada por uma banda desenhada, a série mostra-nos a cidade norte-americana de Atlanta mergulhada no caos e infestada de comedores de carne viva. Rick Grimes é um polícia que acorda de um coma de vários meses (hello?! 28 Dias Depois!) e vê-se num mundo pós-apocalíptico onde a sua maior preocupação (para além de manter-se vivo) é encontrar a sua família que, por sua vez, sobrevive num acampamento improvisado fora das grandes urbanizações com outros sobreviventes.

 

Produzida por Frank Darabont, The Walking Dead chupa todos os elementos conhecidos destes filmes e adapta-os para o pequeno ecrã com resultados irregulares: se os aspetos técnicos são louváveis (nomeadamente, a caracterização dos zombies) e o investimento em cenas de violência gráfica ser mais do que adequado, o grupo de sobreviventes parece obedecer a todas as regras estabelecidas e gastas. Há o líder, o conflituoso, a esposa sofredora, o cretino, o rapaz prodígio (e asiático), o velho paternalista, as irmãs inseparáveis e mais um monte de gente que ou servirá de comida para os mortos-vivos ou ganhará mais destaque adiante mesmo que tenha passado os episódios anteriores em branco.

 

A primeira temporada, composta por míseros 6 capítulos, já dá o mote da série: espécie de road zombie movie, vemos aquele grupo de dinâmica formulaica a lutar pela vida em diferentes cenários que tentam ocultar o facto de que nada de especial acontece – e quando a história está prestes a arrancar de vez (como com a chegada ao Centro de Controlo de Doenças), voltamos à estaca zero sem que nos seja dada alguma informação que não puséssemos deduzir por nós próprios (como o processo de "infeção" nos humanos). Só quem nunca viu meia dúzia de filmes de zombies é que se impressiona com The Walking Dead.

Pelos vistos, a migração dos mortos-vivos para o pequeno ecrã não foi lá grande ideia.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

 

publicado às 01:07

Fringe: integração

por Antero, em 21.11.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x07: Wallflower

É uma pena que Fringe se despeça de 2011 com um episódio que, lá por ter os seus méritos, empalidece se comparado com o rastilho acendido no anterior. Quando suponhamos que a narrativa iria dar prioridade a Peter e ao seu "regresso" a casa, Olivia é posta novamente no centro das atenções e Peter e Walter são deixados em segundo plano. É certo que este não seria o capítulo final antes das férias (devido à pausa prolongada por causa dos jogos de basebol), mas sim o próximo que promete ser bombástico (eu vi a promo) e volta a trazer o outro lado para a ação.

 

Centrado na investigação sobre uma ex-cobaia da Massive Dynamic com predisposição genética para se tornar invisível, Wallflower mostra-nos Eugene, uma personagem cuja história era tão curiosa quanto trágica e, à sua própria maneira, romântica – afinal, ele só queria ser visto. No meio do caso, Lincoln luta para se integrar e conviver saudavelmente com tantas coisas bizarras do seu trabalho, Peter vê-se no epicentro das desconfianças ao ser encarado como um Evento Fringe e uma Olivia ligeiramente mais distante da que conhecemos sente-se incapaz de se envolver emocionalmente e suspeita que isso possa ser um efeito colateral dos testes de cortexiphan levados a cabo por Walter e William Bell.

 

Eugene quer amar e ser visto; Olivia quer amar e ser alguém. Curiosamente, ambos são criações indiretas da Massive Dynamic. No final, ficamos a saber que Nina Sharp, a pessoa em quem Olivia mais confia, tem uma agenda oculta para com a sua protegida e que esta remete a injeções decortexiphanadministradas à revelia dela (daí as suas enxaquecas). Walter chegou a frisar que a substância não era eficaz em adultos, o que justificava os testes em crianças e os seus cérebros em desenvolvimento. Agora, com Olivia a ser injetada em adulta, as vantagens (se é que as há) poderiam passar pelo crescimento de outras capacidades que não apenas a de viajar entre universos sem riscos (o que poderá ajudar Peter no futuro). E qual o papel de Nina no meio disto tudo?

 

Respostas só em Janeiro. Até 2012.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

 

publicado às 23:15

Fringe: a bolha

por Antero, em 15.11.11

ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.

 

 

Fringe 4x06: And Those We've Left Behind

Um episódio e peras. Fringe sempre ganha outro brilho quando os casos semanais espelham os dramas pessoais da equipa e este não foi exceção: tal como Walter, o cientista Raymond cruza todos os limites para salvar a pessoa que mais ama, sem sequer pensar nos riscos para si e para os outros e, tal como Peter, ele vê-se submerso num estado de impotência perante a apatia da amada que, doente de Alzheimer, não se recorda de nada. A experiência de criar bolhas temporais para voltar, ainda que fugazmente ao passado, foi despoletada pela chegada de Peter que virou do avesso as regras da continuidade espácio-temporal, o que explica (até ver) as distorções temporais que vimos nos últimos tempos.

 

Com algumas semelhanças com o estupendo White Tulip da segunda temporada (até pela maneira como gere e brinca com os saltos no tempo), este capítulo traz a verdadeira perceção que Peter está onde não deveria e tornou-se numa anomalia rapidamente a ser corrigida. O mais engraçado é que todos os dados estavam lá desde o início da atual temporada, mas, como Peter, andámos em negação e demorámos a compreender: os transmorfos 2.0, a relação de Nina com Olivia, o desconhecimento dos Observadores, os dramas de Walter, foi toda uma nova mitologia construída a partir de tudo o que sabíamos. O certo é que o novo arco da série deverá ter como função o regresso de Peter a casa, seja de que maneira for. Afinal, esta é uma terceira realidade, aquela não é a nossa Olivia, o nosso Walter, e tudo pode acontecer daqui em diante.

 

Sejam benvindos ao Lado C!

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

 

publicado às 18:52


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

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