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ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Foi a temporada das despedidas, das poucas descobertas e, no geral, marcada pela negativa no que à qualidade das séries que acompanho diz respeito. Os segundos anos de Game of Thrones e The Killing serão analisados quando terminarem.
Desperate Housewives: temporada 8
Oito anos. Eu acompanhei esta série por oito anos. O-I-T-O! Foi a série que me apresentou aos downloads pela Internet e criou o bichinho que perdura até hoje. A combinação entre o humor mordaz e o drama das donas de casa de Wisteria Lane foi como amor à primeira vista – e a primeira temporada de Desperate Housewives foi um furacão que arrasou a televisão em 2004/2005 e permanece como uma pérola do meio televisivo contemporâneo. De lá para cá, a série foi tendo altos e baixos, com histórias repetitivas e absurdas, o que até se compreende uma vez que a criação de Marc Cherry é, acima de tudo, uma sátira às soap operas.
Esta temporada sofre do mesmo mal das anteriores: entra-se a matar com o mistério da ocasião, escalam-se os eventos até ao tal episódio "especial" (que, abençoado seja, não trouxe desastres absurdos) e depois entra tudo em ponto morto até ao desfecho. Tem sido assim: na obrigação de dar, no mínimo, quatro narrativas diferenciadas às protagonistas, Desperate Housewives enrola mais do que devia e ousa menos do que seria recomendado. Quantas vezes vimos Andrew a atazanar a vida de Bree? Lynette a meter o nariz no trabalho de Tom? Ou Gaby a superar o seu egoísmo? O que vale é que tivemos um mistério que as envolvia a todas quando encobriram o crime de Carlos ao ter assassinado o padrasto de Gaby – e como a série brilha mais quando as quatro cruzam as suas histórias, foi uma delícia ver o plano delas (encabeçado por Bree) desmoronar a passos largos.
Para cada boa história, porém, levámos com outras de pouco interesse: as aulas de arte de Susan; os mafiosos que ameaçavam o empreendimento de Ben; a morte de Mike não teve impacto algum, não se relacionou com nada e a história do mafioso acabou por ali mesmo; a bebé de Julie foi um bocejo (estava na cara que ela nunca a abandonaria e tiveram de espetar à força um segredo de Mike para ela mudar de ideias). Por outro lado, Renee destacou-se bem mais que no ano anterior (e com muito mais piada) e algumas sequências relacionadas com o divórcio de Lynette e a nova paixão de Tom foram comoventes (e Felicity Huffman volta a provar que é mais talentosa do elenco e o quanto foi desperdiçada ultimamente). O final foi o feliz entre o possível: Bree foi absolvida; só Susan ficou sem marido, mas com uma neta para criar; Karen McCluskey morre; e mudam-se todas de Fairview ao som da mítica narração da defunta Mary Alice e do regresso de algumas personagens que por lá passaram (e morreram).
Fica a memória de uma sensacional primeira temporada, uma terceira e quarta também de alto nível e o restante já é mais do mesmo. Ainda assim, as intrigas, os mistérios e o humor de Wisteria Lane vão deixar saudades.
Melhor episódio: 8×09 – Putting It Together: o plano de Bree em encobrir o homicídio de Alejandro deixa-a completamente desgastada e isolada, pelo que ela tenta o suicídio.
Pior episódio: 8×18 – Any Moment: Andrew regressa "desomossexualizado" e Susan lida com o rescaldo da morte de Mike e a agressividade do pequeno MJ, o pior ator infantil de qualquer série!
Dexter: temporada 6
Pior era improvável, mas Dexter superou-se na sua mediocridade. Está tudoaqui.
Melhor episódio: 6x07 - Nebraska: uma lufada de ar fresco. Dexter é dominado pelo seu lado mau personificado pelo seu irmão. Pena que durou um mísero episódio.
Pior episódio: 6x09 - Get Gellar: a reviravolta mais previsível de sempre é apresentada com incrível amadorismo.
Homeland: temporada 1
Inteligente, adulta, provocante e absurdamente tensa, Homeland é um soco no estômago de uma América a lamber as feridas do 11 de setembro e a expurgar os fantasmas da última década. Mas os questionamentos que a série levanta vão muito além das fronteiras norte-americanas e vão ao âmago de cada um de nós: qual o preço a pagar pela nossa segurança? Liberdade? Família? Qualquer hipótese de redenção? Como se não bastasse este fabuloso estudo de personagens imersas nas suas convicções, Homeland ainda oferece um duelo de intepretações (Claire Danes e Damian Lewis nos papeis das suas vidas) simplesmente magistral. Sem mais,a melhor série do ano!
Melhor episódio: 1×07 – The Weekend: a meio da temporada de estreia, a série vira o jogo de maneira chocante e abre toda uma janela de possibilidades.
Pior episódio: 1×02 – Grace: escolha difícil e injusta numa temporada marcada por uma qualidade altíssima, mas empalidece um pouco em relação ao brilhante capítulo de estreia.
House: temporada 8
Outra que acompanhei por anos a fio (embora não tão religiosamente) e que este ano também se despediu, House atingiu um nível insuportável no início da derradeira temporada – e foi por isso que a abandonei por não conseguir assistir a um cadáver em composição de um produto outrora excelente. Regressei para os três últimos episódios e fiquei satisfeito com o que vi. Não por que a série havia melhorado muito, mas sim por que vi um esforço em dar-lhe um enterro digno, o que, vistas as coisas, já foi o suficiente. Deixei de ver com a entrada daquela irritante médica chinesa e depois da despedida da Thirteen, uma personagem que detestava e que passei a acarinhar com o tempo (ou então o nível baixou tão drasticamente que a beleza de Olivia Wilde ofuscou-me). O que mais me irritava nem era tanto o esquematismo da narrativa (era a fórmula da série e não havia muito a fazer): o que me chateava era a forma como os argumentistas inseriam acontecimentos ditos "bombásticos" aqui e ali para dar a impressão que as personagens "evoluiam" para, logo a seguir, voltar tudo ao mesmo. A estreia, com House na prisão em modo Prison Break, foi a gota de água: depois do desfecho miserável do ano anterior, isto foi o melhor que conseguiram arranjar? Daí até ao abandono foi um tiro - daí que não ache justo apontar qual o melhor e pior episódio, já que não os vi todos. Nem o enorme talento de Hugh Laurie me levou a superar a tortura que era assistir House, maneiras que não posso deixar de estar satisfeito com o fim da série. Metade dela valeu a pena; a outra metade não merece ser recordada.
How I Met Your Mother: temporada 7
Eles conseguiram! Fizeram a pior temporada de How I Met Your Mother! Eles conseguiram arrastar a questão menor da noiva de Barney por um ano inteiro! E ainda por cima é a Robin! Bolas, eu sou dos poucos defensores da altura em que eles foram um casal, mas apenas por que durou pouco tempo e renderam a situação ao máximo. Também não me importo que as coisas estejam mal resolvidas entre os dois e que, de quando em vez, se toque no assunto (como na possível gravidez dela), mas – porra! – apresentam Quinn que pega de estaca com Barney e, pouco depois, volta tudo ao mesmo. Inacreditável! E Ted? Até quando teremos de aturar a chatice crónica da personagem? Ele não se decide: ora está bem sozinho, ora deseja alguém ou então ainda está apaixonado pela Robin e exprime-se de maneira impossivelmente piegas – e estas narrativas circulares tornam-se ainda mais ridículas quando... sabemos que Robin não é a mãe dos filhos dele! O pior ficou guardado para o fim: o regresso de Victoria quando... também sabemos que esta não é mãe! (e, outra coisa, incomodou-me como Ted decide levá-la ao altar por já ter sido lá deixado e, numa questão de minutos, muda de ideias - que carácter!). Quanto a Marshall e Lily não me lembro de uma única situação memorável envolvendo os dois, o que só mostra o degredo que foi este ano.
Melhor episódio: 7×12 – Symphony of Illumination: Robin narra a sua triste história para os filhos... que nunca irá ter.
Pior episódio: 7×15 – The Burning Beekeeper: uma história de caca (Lily organiza uma festa que corre mal), tentativas deprimentes em fazer rir e um lamentável desperdício do grande Martin Short.
Fringe: temporada 4
É ler as reviews semanais. Não esteve à altura da temporada anterior, mas foi criativa, empolgante e recheada de momentos memoráveis como se pede a Fringe. É fazer figas para que a última temporada de 13 episódios encerre a série com chave de ouro e apague o sabor amargo deixado pelo final.
Melhor episódio: 4x14 - The End of All Things: a origem dos Observadores!
Pior episódio: 4x21 - Brave New World (Part 1): apressado e tosco, a primeira parte daquele que esteve para ser o final da série é tudo aquilo que Fringe, bem ou mal, foi sabendo contornar. E nunca pensei que o regresso de William Bell fosse tão insípido.
Descobertas: Sherlock; Happy Endings
Depressões: Alcatraz, Terra Nova, Falling Skies, Spartacus, Touch, New Girl, The Big Bang Theory
Série que tenho mesmo de começar a ver: Breaking Bad
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Fringe 4x21/4x22: Brave New World
Se este fosse o final da série, eu ficaria frustrado. Como final de temporada não foi dos melhores e deixa um sabor amargo na boca, mas há razões para olhar para os 13 episódios finais com esperança e pensar que isto foi apenas um acidente de percurso num produto tão inventivo e atento aos detalhes. Temo que a indecisão da FOX quanto à renovação deixou os produtores com uma enorme bota para descalçar e, assim, tentaram agregar tudo num desfecho que satisfizesse o público fiel, até por que os dois capítulos fecham várias pontas e poderia, sim, ter sido o encerramento previsto. O tal episódio em 2036 ficaria como um sinal do que eles teriam feito caso a machadada final fosse dada pela estação, o que não aconteceu e ainda bem. O que me irritou foi a maneira corrida e trapalhona como tudo foi encadeado.
Na primeira parte, vemos que é William Bell a figura por detrás dos planos de David Robert Jones e este era um mero peão das suas maquinações. Primeira escorregadela: uma temporada inteira a desenhar Jones como o grande vilão e traçam-lhe uma despedida inglória numa das maquinações mais absurdas que já acompanhei (sim, até mesmo para Fringe): uns nanorobots disseminados num espaço público que matam por combustão espontânea todos aqueles que se encontram em movimento. Os sobreviventes ficam ali parados à espera de ajuda da Divisão Fringe e estes levam APENAS UMA pessoa como amostra (Rebecca Mader, mais uma a fazer-me suspirar por LOST) quando o FBI facilmente arranjaria meios para ajudar todos os outros que se mantinham imóveis (quanto mais não fosse para deitá-los). Jessica, a cobaia, tem um peripaco enquanto Walter sintetiza o antídoto e é Olivia, com os seus superpoderes, que a estabiliza numa ótima cena que antecipava um excelente rumo para o final.
Nada disso: um raio de luz solar projeta-se sobre Boston e ameaça destruir um reservatório de petróleo sob a cidade. Peter e Olivia seguem no encalço de Jones que estava a controlar o fenómeno e deparam-se com duas antenas no topo dois prédios e que devem ser desativadas AO MESMO TEMPO! Olivia para um lado, Peter para o outro e este é atacado por Jones num mano a mano indigno de uma inteligência superior como o nosso vilão que, certamente, deve ter uma mão cheia de ajudantes mais habilitados para o confronto. Eis que, no outro prédio, Olivia superpoderosa controla o corpo de Peter a ajuda-o a eliminar o "grande vilão" numa cena tão mal conduzida que pensei que estava a assistir Heroes. E tudo isto para quê? Ora, para desviar Peter e Olivia do caminho de Bell e fazer com que Walter reencontrasse o cientista. Como Bell conseguiu planear e executar cuidadosamente tantas variáveis em jogo é um mistério para mim, mas talvez ele já contasse com a inépcia jamais vista de Jones que nem um jogo de xadrez sabe interpretar (era óbvio que o bispo seria ele) e recebe o sermão sobre o jogo como uma lição divina, quando aquilo não é mais do que baboseiras incorretas sobre algo milenar (a peça mais valiosa é o rei e nunca, em momento algum, se sacrifica – ou o jogo termina por desistência!).
A segunda parte não foi tão fraca; foi apenas mediana. Começamos com Astrid baleada sabendo que ela estará viva e de boa saúde no futuro, mas ao menos não tentaram criar tensão com o assunto. Talvez desagradado com as escolhas da FOX, o grande plano de Bell é ter uma segunda temporada de Terra Nova à força toda, nem que para isso tenha de destruir dois universos e criar um novo. A tal de Jessica pede ajuda a Olivia, mas era tudo um logro e ela trabalha para Bell. Aqui temos a melhor cena de ambos os episódios: Setembro encurralado a intercetar as balas disparadas por Jessica. No entanto, não consegue evitar o disparo de uma arma mais sofisticada (obra de Bell), o que explica como ele apareceu ferido no laboratório de Walter há uns capítulos atrás. Mais uma vez é Olivia, a Mulher-Maravilha, a conseguir fazer ricochete com as próprias mãos e mata a aliada de Bell. O Observador desaparece depois de declarar a Olivia que a conversa que tiveram sobre o facto de ela estar destinada a morrer de qualquer maneira ainda não havia ocorrido, numa daqueles maravilhosos nós no cérebro que só as viagens no tempo proporcionam.
A seguir, tivemos direito à sequência mais bizarra de toda a série e olhem que a concorrência é enorme: o cérebro de Jessica é brevemente reativado através de equipamentos da Massive Dynamic e revela de forma enigmática a localização de Bell e Walter. Estes têm uma conversa onde o primeiro tenta convencer o segundo sobre a validade dos seus planos, afinal a ideia inicial era de Walter antes de este ter removido partes do seu cérebro por temer a pessoa que se estava a tornar. Os universos começam a entrar em colapso e Peter e Olivia chegam mesmo a tempo de impedir Bell, só que este assegura que o processo é irreversível graças aos poderes "cortexiphianos" de Olivia – então, Walter dá-lhe um tiro em cheio na testa e interrompe a destruição das realidades. O resto foi previsível: Bell desaparece ao tocar num sino (momento vergonha alheia) e Walter acaba por "ressuscitar" Olivia, vide as capacidade regenerativas do medicamento vistas no episódio anterior lá com o bolo de limão. Apesar de tudo, a cena foi bem conduzida e deu para sentir o desespero de Peter e o pragmatismo de Walter.
A encerrar, a Divisão Fringe recebe um aumento de verbas pelos serviços prestados e Olivia descobre no hospital que está grávida (nas séries, toda a gente descobre que carrega um feto depois de passar por perigo de vida). Seria o desfecho satisfatório se Setembro não aparecesse de rompante no laboratório a avisar que "eles estão a caminho" – "eles" são, naturalmente, os Observadores que preparam-se para tomar conta do Mundo. Nota-se que esta é a cena que distingue o desfecho planeado caso a série fosse cancelada e aquele que faria a ponte para a quinta temporada.
No geral, gostei muito da temporada e deram bem a volta à situação do "desaparecimento" de Peter. Abriram novas possibilidades, puseram os dois universos em colaboração total (e todo o elenco foi formidável neste aspeto) e responderam a um monte de perguntas. Já o final foi apressado, mal trabalhado (os poderes de Olivia cresciam consoante os intervalos comerciais) e muito previsível. Brochante seria o termo ideal. Assim, Fringe despede-se este ano abaixo daquilo que nos proporcionou na estupenda terceira temporada, mas é de acreditar que, com 13 episódios, não deverá haver espaço para enrolações nem margem de manobra para soluções enfiadas a martelo.
Vemo-nos em setembro!
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Fringe 4x19: Letters of Transit e 4x20: Worlds Apart
Para uma série com baixas audiências e que vive no limiar do cancelamento, é um prazer ver que o produto de ficção científica exibido num meio avesso ao tema (leia-se: canal aberto nos EUA) insiste em sair da zona de conforto que provavelmente lhe traria um público estável ainda que à custa de um esvaziamento narrativo da forte mitologia e dos dramas pessoais que sustentam a série. Todo este esforço compensou e a FOX renovou Fringe para uma quinta e última temporada de 13 episódios, o que denota imenso respeito pelos espectadores que acompanham a criativa história ao permitir-lhes um fim planeado com antecedência. A FOX de outros tempos não hesitaria em cancelar Fringe mal os números caíram a pique na terceira temporada e só isso é algo a ser comemorado nos dois universos.
Esta introdução serve para declarar que seria um crime Fringe acabar precocemente sem termos a possibilidade de voltar ao futuro visto em Letters of Transit: em 2036 existe um regime totalitário comandado pelos Observadores que aparentemente cansaram-se do livre arbítrio mal usado pelos humanos num futuro ainda mais distante e, como remédio, voltaram no tempo para tomar as rédeas de tudo e estabelecer um mundo onde a liberdade é uma miragem e a opressão é uma realidade. É neste cenário que Desmond, perdão, Simon e Etta (só alguém muito distraído não topou logo que era a filha de Olivia e Peter), agentes de uma Divisão Fringe que funciona como uma força policial de recursos precários, desempenham um papel fulcral na resistência rebelde ao resgatar Walter da sua prisão de âmbar autoimposta.
Sem qualquer relação com a trama central que vinha sendo apresentada, este episódio levanta várias questões: o que levou os Observadores a tornarem-se parte ativa nos rumos da raça humana? Menciona-se um cataclismo em 2015 e vários pontos estão devastados (o Central Park, por exemplo), mas não chega para afirmar se o Lado B foi destruído e ou se foi, de alguma forma, fundido ao Lado A (o café em rebuçados e algumas tecnologias são claramente do outro Lado)? E como Walter pode ter despistado as autoridades ao aprisionar-se em âmbar? Será que sabiam da sua localização e deixaram estar ou perderam-lhe o rasto? E William Bell? Vai aparecer vivinho da silva? O que fez ele a Olivia? Matou-a? Será ele a grande mente a comandar os planos de David Robert Jones?
Já Worlds Apart traz-nos de volta para o presente e a para o centro das maquinações de Jones que, depois de recrutar os antigos colegas de Olivia dos testes de cortexiphan, começa a fundir as duas realidades com o objetivo que estas entrem em colapso e daqui surja um novo universo onde o vilão será rei e senhor. É curioso notar que na temporada anterior víamos os dois universos em conflito (devido ao desejo de vingança de Walternate), e agora acompanhamos um cenário de cooperação e consequente cura do Lado B que só foi possível por causa da mudança de perspetiva daquelas personagens, o que nos leva à maravilhosa e reveladora cena onde os dois Walters conversam lado a lado sobre o sentimento redescoberto pela reaparição do filho perdido e que motivara as ações destrutivas de ambos.
Aqui, além de vermos as personagens e respetivas contrapartes em momentos que revelam conexões inesperadas (com destaque para aquela entre as Olivias), o episódio liga de forma objetiva vários pontos-chave da narrativa de Fringe (as cobaias; a zona segura que permitirá a sobrevivência à destruição; as criaturas de Jones) e realça a culpa que Walter sente em relação ao trabalho desenvolvido com William Bell, levando a uma ameaça extrema que requer uma solução radical: desligar a Máquina do Apocalipse e encerrar a ponte que faz a ligação entre os dois universos separando, efetivamente, os dois Mundos – e as consequências desta medida poderão estar relacionadas com o futuro de 2036.
Mais dois episódios e siga para a quinta temporada! Abram o champanhe!
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Fringe 4x18: The Consultant
Não é uma maravilha quando Fringe mete os dois universos a trabalhar em conjunto para resolver um caso? Foi isto que senti falta em alguns momentos da temporada, mas agora não posso reclamar: nesta reta final, a série tem usado com engenho este recurso para nos levar a um encerramento de temporada (ou mesmo da série) que promete ser bombástico.
O caso da semana deu uma nova luz sobre o que poderá ser o grande plano de David Robert Jones: chocar ambas as realidades que entrariam em rutura e apenas sobrariam aqueles que não têm uma contraparte do outro Lado (Jones e os seus experimentos, Peter, o filho de Broyles). Provavelmente isto explica como o Broyles B cooperava com o vilão na medida em que este ajudava na doença do seu filho, mas, ao fim e ao cabo, talvez não seja boa ideia tentar salvar a vida de um filho se este não tiver um mundo onde viver. Assim, depois de receber instruções para ativar um aparelho na (esquecida) Máquina do Apocalipse que sincronizaria os dois universos na mesma frequência (levando-os ao colapso), Broyles B decide entregar-se.
Já antes, Broyles B auxiliara Olivia a regressar ao Lado A quando esta o ajudara no caso das crianças raptadas (3x07: The Abducted) e, agora, volta para o lado dos bons após remoer-se com outra situação que envolve uma criança – nada mais que o seu filho. Gostei de saber que Broyles não é um metamorfo 2.0 e que pode ser uma mais-valia à Divisão Fringe. O que mais gostei, porém, foi da interação entre Walter e Altivia quando o cientista lhe dá a entender que, com a ameaça de uma toupeira, todos são suspeitos e devem ser investigados - sem esquecer, claro, os ovos mexidos, a piada da acompanhante (não prostituta!) e o facto de o café ser o equivalente ao caviar no Lado B.
Enfim, tudo aquilo que a série prometeu no final da terceira temporada (os dois Lados em cooperação mútua) está a ser-nos mostrado de forma elegante, criativa e inteligente – três adjetivos que podem descrever perfeitamente a narrativa de Fringe ao longo destes quatro anos.
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Fringe 4x17: Everything In Its Right Place
Abram alas para Lincoln Lee, a personagem periférica de Fringe que ganha aqui um episódio inteiro dedicado a ele e agarra a ocasião com unhas e dentes. Sentindo-se como peixe fora de água ao lado de Olivia, Peter e Walter, o mais novo agente da equipa aproveita para ir ao Lado B para fazer um ponto de situação sobre os metamorfos 2.0 de David Robert Jones e depara-se com um dos primeiros e mal-sucedidos experimentos do cientista e que dedica-se a matar criminosos de meia tigela enquanto espera que o seu criador o reencontre e corriga os seus defeitos. Como quase sempre, é ver a série a refletir os casos policiais com o drama dos protagonistas: tal como Lincoln, o metamorfo tenta dar algum sentido à sua existência e, como tem de matar para sobreviver, mais vale assassinar escumalha e poupar inocentes até que a sua situação melhore.
Enquanto isso, Lincoln A mostra o seu valor diante da equipa do lado de lá ao mesmo tempo que estabelece uma dinâmica peculiar com a sua contraparte ao tentarem descobrir onde os caminhos de ambos se desviaram (o que faz com que um seja contido e metódico e o outro mais solto e impulsivo). Ao passo que aqui Lincoln sente-se como aquela peça de Tetris que não se encaixa e atrapalha tudo o que vem atrás, é no Lado B que ele (re)encontra o seu lugar, ainda que à custa da morte de Lincoln B e depois de garantir um proveitoso reforço para a Divisão Fringe ao trazer a versão inicial do metamorfo para ser estudada por Walter e ajudar a eliminar um dos braços essenciais aos planos de Jones ao desmascar a Nina Sharp do outro lado. Entretanto, Alt-Broyles vai passando por entre as gotas da chuva, embora seja estranho como ainda ninguém começou a desconfiar de que existe uma fuga de informação, já que é a segunda vez que uma captura é sabotada e o próprio Lincoln B refere isso mesmo antes de falecer.
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Fringe 4x16: Nothing As It Seems
Em The Transformation, 13º episódio da primeira temporada, a Divisão Fringe lidava com um vírus que transformava humanos em criaturas animalescas. Três anos depois, o mesmo caso volta à baila, mas com contornos ligeiramente diferentes: a mesma pessoa que se mutava num porco-espinho gigante durante um voo consegue aterrar em segurança para depois ser morto pelas autoridades. No universo repaginado da atual temporada, Peter e Olivia usam as suas lembranças do caso anterior (ela a meio-gás) para iniciar investigação e, no processo, descobrem que é David Robert Jones que está por detrás das aberrações – e vários são os experimentos mantidos em cativeiro pelo vilão com um propósito ainda por esclarecer.
No início, Fringe era composta por casos isolados sem grande paralelo com a história principal; tudo o que sabíamos era que a equipa era designada a desvendar casos que iam além da compreensão humano e estes estariam conectados a algo obscuro denominado de Padrão. Depois vieram as realidades paralelas, as versões alternativas, o passado de Walter, o cortexiphan e o Padrão foi esquecido, deixado para trás como a rampa de lançamento da mitologia da série. Pois agora esse conceito é resgatado e é-lhe dado o seguimento que antes era impossível: se Jones sempre esteve ao leme de toda esta conspiração, a sua morte no final do primeiro ano da série acabou com os seus planos.
Curioso que Fringe use esta "nova" realidade para abrir novas possibilidades sobre algo que achávamos satisfatoriamente resolvido: já foi dito que Jones sofre de complexo de Deus e nada como saltar entre universos e misturar o ADN de humanos e animais (tal como o Dr. Moreau da obra de H. G. Wells) para denotar esta característica. Se Peter não tivesse sido apagado e Jones tivesse morrido, não saberíamos nada disto e jamais perceberíamos a ligação. Como todos os grandes vilões, Jones tem um intelecto só equiparável a Walter, um dos nossos heróis.
No mais, perceberam como a dinâmica do laboratório parece estar a voltar ao que era antes de Peter ter desaparecido? Walter mais solto, Peter a emocionar-se com o pai, Astrid a ser alvo de novas alcunhas? Será que, aos poucos, também eles poderão lembrar-se do que era e do que fizeram anteriormente? Claro que a peça que não se encaixa é Lincoln, magoado por se ter deixado encantar por uma Olivia que não lhe estava destinada. E por falar nela, compreendem-se as dúvidas do FBI, mas, como Broyles bem apontou, mais vale uma Olivia a perder as suas memórias do que não ter uma Olivia de todo. E o desconforto na presença de Nina Sharp? Ui, ui...
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Fringe 4x15: A Short Story About Love
Amor é a resposta, minha gente! Foi o amor de Olivia e Walter por Peter (e vice-versa) que fez com que este não fosse apagado completamente da existência e tenha voltado em circunstâncias que ultrapassam o intelecto dos Observadores. "Não há explicação científica" – diz Setembro, mas eu posso avançar com uma: cortexiphan. Olivia foi sujeita a doses massivas e, de alguma forma, a droga deve ter ativado algum resquício da sua consciência que não era apenas uma vã lembrança, mas um sentimento muito forte. E não se esqueçam que, alertado pelos seus amigos carecas no início da temporada, Setembro teve oportunidade de forçar um novo "reajustamento" na linha temporal e recuou na sua missão.
Muitos acharão que explodiu uma bomba de lamechice numa série habituada a dar respostas tão "racionais", mas eu sou daqueles que acredita que Fringe contorna as situações mais melosas com imensa classe, como na cena em que Olivia confessa a Nina que prefere ficar com as memórias que a levem a perseguir alguém que a complete do que com aquelas que "vivenciou" ao longo do tempo e pede à madrasta que não deixe de tentar de estabelecer novamente um laço afetivo com ela. Simples, belo e tocante.
O caso da semana, confesso, foi desinteressante. Um cientista que matava homens para captar as suas feromonas e, antes de assassinar as respetivas companheiras, tinha acesso a um lampejo do que é sentir-se amado. Tudo muito óbvio e chatinho, apenas deu para ver como Lincoln não tem hipótese na luta pelo coração de Olivia e acaba com olhos de carneiro mal morto. Até por que Olivia decide voltar para Peter e este, na posse da informação de que sempre esteve em casa e esta é a sua amada, regressa aos braços da nossa heroína sem pensar duas vezes.
Pois é: nada de Lado C e afins. Esta é mesmo a realidade de sempre, reescrita com a "morte" de Peter. Os argumentistas enfiaram-nos numa espiral de dúvidas e certezas que se revelaram erradas e conseguiram o feito de nos manter em constante suspense sobre a grande questão da temporada: que universo era este. E agora como voltará (se é que voltará) tudo ao que era antes?
Sherlock – temporadas 1 e 2
Eu não gosto de acompanhar séries britânicas. Não me refiro a assistir, mas sim a acompanhar. Talvez condicionado pelo método de produção televisivo norte-americano de 24 episódios por temporada (ou 12 nas redes privadas), ser espectador assíduo de uma série britânica é um suplício. Como as temporadas são curtíssimas (se chegar à dezena é uma sorte), extremamente espaçadas (um ano e tal é a regra) e o calendário não tem um padrão, então mais vale esperar que acabe para ver tudo de uma vez. Claro que isto traz outros benefícios: uma produção cuidada, não há racionamento de recursos, cada temporada é pensada como um núcleo isolado e não se esticam ou encurtam consoante as audiências (um método com muitas semelhanças aos das estações por subscrição norte-americanas). Além disso, como a indústria britânica não é tão avançada como a de Hollywood, a primeira produz pouco, mas bem – e não é por acaso que é comum dizer-se que as séries de terras de Sua Majestade têm mais “qualidade”.
Nada disto, porém, me levava a acompanhar uma série britânica. Isto até me suplicarem a ver Sherlock na mesma medida em que eu gritava aos quatro ventos para todos veremHomeland (estão à espera de quê?!). Sabia que era transmitida no AXN, que era uma atualização da figura mítica do detetive para o século XXI, que tinha poucos episódios, mas nada disso me puxou. Até que decidi dar uma oportunidade. Não devorei-a em pouco tempo por razões que explicarei adiante, mas confesso-me rendido: a série é um buraco de criatividade, engenho, estilo e diversão como poucas vezes vi.
Desenvolvida por Steven Moffat e Mark Gatiss, dois argumentistas da longeva Doctor Who, Sherlock é uma reimaginação da personagem vitoriana para os dias de hoje, com toda a tecnologia ao seu alcance e os adesivos de nicotina no lugar do característico cachimbo (uma valente alfinetada no politicamente correto contemporâneo). Na primeira temporada vemos como Sherlock e Watson se conhecem e, desta vez, a figura do médico é alterada para um veterano da guerra no Médio Oriente que tem de procurar casa onde morar: nem mais nem menos que a famosa morada do 221B em Baker Street. As investigações são resolvidas com recurso à Internet e ao constante envio de SMS que surgem no ecrã de maneira criativa e tornam a narrativa mais ágil (já para não falar nas rocambulescas deduções lógicas do protagonista).
No entanto, a essência da personagem mantem-se inalterada: Holmes continua à margem da sociedade, é olhado com desconfiança pelas autoridades e consegue ser altivo e inconveniente com aqueles que os rodeiam – e isto é apenas o ponto de partida para desenvolver a sua personalidade. Aqui não posso deixar de referir o episódio 2x01, A Scandal in Belgravia, uma pequena obra-prima e um dos melhores episódios de qualquer série que alguma vez assisti. Se antes Sherlock era apresentado como uma "máquina" em busca de casos que pusessem à prova o seu intelecto, aí vemos como ele foi capaz de estabelecer laços com uns poucos afortunados (Mrs. Hudson, Watson), chegando ao ponto de se preocupar com eles e até se desculpar pela sua arrogância. Além disso, o episódio estabelece a sofisticada e inteligente Irene Adler como alguém capaz de bater-se taco a taco com Sherlock sem se esquecer de brincar com aspetos da sua sexualidade (a castidade autoimposta, uma possível homossexualidade reprimida).
Visualmente cativante e com um ritmo imparável, Sherlock divide-se em seis capítulos de 1h30 que não aborrecem o espectador, embora eu demorasse bastante a ver cada um, já que a melhor forma é encara-los como telefilmes e saboreá-los com tempo e tranquilidade. Até por que a próxima temporada está prevista para ser gravada em 2013 e lançada, o mais tardar, em 2014. Eu não disse que séries britânicas eram um suplício?
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Fringe 4x14: The End of All Things
(peço desculpa pela demora em iniciar o texto, mas ainda estou a recuperar os pedaços do meu cérebro explodido aqui pela casa e... ah! cá está o lobo temporal...)
(...é só um momento, se faz favor... reparar, assimilar, testar e...)
E um dos grandes mistérios de Fringe foi finalmente desvendado: quem são os Observadores e qual a sua missão? Tal como suspeitara há umas semanas, estes seres que aparecem em tudo que é universo são um dos possíveis futuros da Humanidade; cientistas com tecnologia para viajarem no tempo e entre realidades com o objetivo de testemunharem eventos importantes.
Segundo Setembro, o nosso Observador favorito e do qual aparentemente nos despedimos para todo o sempre, Peter é importante e ver a invenção da cura para a doença que o afligia em criança era um momento imperdível ao qual o nosso careca não podia faltar - embora tenha interferido e levado a que Walternate falhasse no seu experimento, o que fez com que Walter invadisse o Lado B e raptasse Peter, para posteriormente ser salvo pelo mesmo Setembro que se viu na difícil posição de remendar a burrada que tinha feito, o que, por sua vez, levou à guerra entre os dois universos e a tudo o que aconteceu nas três primeiras temporadas. Uff!
Se Peter é assim tão importante e o facto de ter concebido um filho com a Olivia errada ser tão fulcral, leva-me a crer que os Observadores deverão ser descendentes diretos de Henry que, com os genes de um pai e um avô superinteligentes e uma mãe com altas taxas de alcoolemia por cortexiphan (e de outro universo), levará ao surgimento do próximo estágio da evolução humano, digamos o Homo superior. Ora, se Olivia já desenvolvia os seus poderes antes de conhecer Peter, é de supor que ela, eventualmente, iria cruzar os universos, conhecer Peter, Altivia e os demais e, quiçá, ter um filho de forma natural com o amor da sua vida. Esta seria a linha do tempo original e Setembro, ao fazer com que Peter não fosse curado no Lado B, criou uma variante da mesma cujas ramificações catastróficas pudemos acompanhar até ao momento em que Peter decidiu sacrificar-se e Henry lixou-se por tabela. Confuso? Nem tanto.
Ah! Mas há mais: sempre disposta a atirar detalhes revelantes que podem explicar eventos em larga escala, o episódio usa o palimpsesto para fazer não só para avançar a investigação sobre o paradeiro de Olivia, mas também para atirar mais lenha sobre a discussão de que universo é este. Assim, se a fita de VHS contém traços das gravações anteriores (como os pergaminhos contêm os carateres antigos que teriam sido raspados para neles se escrever de novo), Fringe lança a dúvida: esta realidade foi reescrita após Peter ter ativado a Máquina do Apocalipse, adaptando os factos à sua ausência e o caráter das personagens mediante novas vivências (embora, na essência, elas permaneçam as mesmas) e, desta forma, Peter tenha extravasado da linha do tempo anterior para a nova, exatamente como os carateres antigos que ainda estão presentes e visíveis na atualidade. Será?
Numa reviravolta bem sacada, percebemos que a Nina enclausurada com Olivia não é nossa, muito menos um metamorfo já que a diretora da Massive Dynamic interrogada por Broyles e Lincoln teria de estar morta, e sim a do outro Lado e que estará a fazer companhia ao Broyles de lá nos planos de David Robert Jones. E por falar em Jones, este tornou-se praticamente indestrutível graças à reorganização molecular derivada das travessias pelos dois universos, o que torna-o num vilão ainda mais perigoso e cujos planos permanecem uma incógnita. No final, um Peter tão confuso como nós com estas coisas de projeções mentais e linhas do tempo alteradas decide afastar-se de Olivia e deixar a nossa pobre heroína desamparada.
A espera vai ser tortuosa até 23 de março quando Fringe voltar de mais um hiato.
ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Fringe 4x13: A Better Human Being
Quando a quarta temporada de Fringe começou, levantei a teoria de que após o desaparecimento de Peter estaríamos a acompanhar uma versão ligeiramente alterada de tudo o que víramos antes, como se o universo tivesse "reparado" as falhas mediante a ausência de Peter e "apagado" os eventos diretamente relacionados a ele. Com o tempo, certas inconsistências foram aparecendo e o facto de David Robert Jones surgir vivinho da silva (quando Peter havia causado a sua morte) foi o culminar da ideia que este não se trata do Lado A, mas sim de um universo completamente novo onde Peter cai de paraquedas inexplicavelmente. Agora não tenho a certeza de nada e fico de pé atrás em avançar seja o que for.
O que é ótimo! Dá para perceber que os responsáveis pela série são hábeis em nos confundir a cada nova informação, mas sem deixar a perceção de que, mesmo a conta-gotas, estamos a caminhar para algum lugar (ainda que este seja difícil de precisar) e que a estrutura da temporada está a ser delineada aos poucos para depois poder ser vislumbrada como um todo (e a coesão narrativa de Fringe é nada menos que admirável e algo que eu não deixo de alardear).
Com Olivia a recuperar as memórias da outra Olivia, Walter sugere que Peter inconscientemente projeta nela as suas próprias memórias, vide as suas capacidades sensitivas. Só que nós sabemos mais do que eles: as injeções de cortexiphan podem ter aumentado os poderes agora adormecidos de Olivia e até potencia-los a limites nunca antes vistos. Não admira que Peter acabe por vê-la como a sua Olivia, como se esta substituísse a atual. Quando Walter está prestes a revelar uma nova teoria, o cientista tem um bloqueio mental, o que me fez desconfiar na hora: será que as alterações poderão não ter sido espaciais e temporais, mas sim mentais? Uma espécie de lavagem cerebral levada a cabo pelos Observadores? Isto seria um pouco forçado, é certo, mas já acho tudo possível.
O caso da semana, como já é hábito, tem muito a ver com as personagens: um jovem internado por esquizofrenia tem acesso aos pensamentos de um grupo de assassinos e, com a investigação, descobre-se que eles são todos irmãos da parte do pai e os crimes eram cometidos para que o mundo não descobrisse a condição que eles partilhavam. Tive pena que o episódio não aprofundasse mais esta questão do "pensamento coletivo" (embora o seu funcionamento como uma colónia de abelhas seja intrigante), mas tudo foi perdoado ao ver que Lincoln e Walter foram capazes de desmascarar Nina Sharp e, logo de seguida, vemos a verdadeira Nina em cativeiro com uma Olivia acabada de ser raptada, provavelmente pela equipa de Jones e que a diretora da Massive Dynamic terá sido substituída por um metamorfo.