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O Partido Socialista, com José Sócrates à cabeça, acabou de levar uma tareia nas Legislativas 2011 e não ficou por aí: mesmo o Bloco de Esquerda e a CDU levaram um forte abalo e uma nova coligação PSD-CDS é iminente. Isto numas eleições carregadas pelo peso das medidas que o FMI irá implantar nos próximos anos e numa campanha mergulhada em acusações de todos os lados sobre culpabilidade e omissão. Sabendo como é o povo português, não era de todo improvável uma nova reeleição de José Sócrates, seja pela inexperiência e/ou ineficácia da oposição ou pela postura do próprio Sócrates, cuja eloquência e retórica desarmavam os opositores e a sua habilidade em trazer a si os louros de "pequenas" conquistas e alhear-se dos prejuízos.
Nada disto serviu (nem as sondagens que pintavam um cenário renhido) e eu, simpatizante socialista e plenamente consciente do mau serviço prestado pelos representantes do PS, estou surpreso e - diria até - moderadamente satisfeito. Porque o povo não foi nas lérias do Zé, na sua constante vitimização à qual os adversários ainda davam mais lenha e não caiu na mesma asneira uma segunda vez (segunda por que a primeira eleição foi contra Santana Lopes, então não conta). Por outro lado, dá para perceber que Sócrates não só minou o Partido Socialista, mas também teve efeitos colaterais em toda a Esquerda: o BE, que vinha em crescendo no mapa político nacional, viu-se relegado à quinta posição.
Eu votei em branco e andei toda a semana a ouvir mil e uma aberrações sobre essa decisão. Ia ajudar o Sócrates, para isso mais valia nem ir, que votasse num dos partidos sem expressão, enfim. Pois bem, eu votei em branco por que me preocupo: se estivesse nas tintas para isto, nem punha lá os pés. Li (por alto) as principais medidas propostas por TODOS os partidos e, quanto aos chamados pequenos, era cada um pior que o outro. Se eu não vejo capacidade e não deposito confiança naquela gente, simplesmente não voto em ninguém. Se isso favorece X ou Y, problema deles. Sejam mais eficientes da próxima vez. Eu não vou por "males menores".
Outra coisa que me deixou agastado: o facto de eu não apoiar Passos Coelho não faz de mim automaticamente pró-Sócrates, tal como o inverso não se aplica. Não gosto de Passos Coelho, de quem o rodeia, acho que perdeu tempo a falar de imbecilidades e acusações, de fazer joguinhos com o Governo na altura do PEC, acho que ele é inexperiente e não poderá fazer muito com a herança que terá em mãos (cuja culpa também tem de ser repartida com o PSD e - vejam só! - com aquele sujeito que reside no Palácio de Belém). Daí a adorar o Sócrates vai uma distância e tanto e não convém diabolizar nem um nem outro. Por isso é que eu entendo a postura dos meus pais em votar PS por que realmente houve coisas bem feitas e acham que há margem de manobra para pôr isto nos eixos, assim como percebo o meu irmão que engoliu o orgulho esquerdista e votou na Direita por que crê que necessitamos de uma mudança.
E isto escreve-vos um tipo de Esquerda, avesso à Direita, liberal, que acha que o Estado deve ter um papel minimamente regulador, que as preocupações máximas de um Governo deveriam ser educação e saúde, que concorda com as privatizações da TAP, Correios e CP; que as parcerias público-privadas devem ser revistas, defensor dos direitos dos homossexuais, que acha que o Ministério da Cultura é essencial ao país (mas que será o primeiro a levar cortes), que a RTP deve ser pública, que a Assembleia é maioritariamente composta por inúteis, que é a favor da despenalização do aborto, ateu, alérgico ao conservadorismo, que acredita que o grande mal deste país é a falta de fiscalização. Em tudo! Que admira a pluralidade da Esquerda por oposição a uma certa rigidez da Direita, mas com uma ponta de inveja do carácter reaccionário e singular para o qual tende a Direita que contrasta com uma certa passividade da Esquerda (alguém vê o CDS atacar o PSD como o BE e a CDU atacam o PS?).
Que Passos Coelho e restante executivo façam um bom trabalho e me surpreendam. De bom grado morderei a língua, se for caso disso.
Convenhamos que qualquer um dos semi-finalistas ficaria bem sentado no trono do futebol mundial. Fosse pela máquina alemã, pelo estoicismo uruguaio, pelo percurso 100% vitorioso da "laranja mecânica" até à final, ou pelo colossal jogo colectivo da luminosa Espanha. Foi a partir dos quartos-de-final que o torneio começou a ganhar interesse e relevância, com os candidatos ao pódio a definirem-se em jogos emocionantes, ainda que não totalmente bem jogados. Bom futebol, aliás, foi algo que só a espaços se viu nestas últimas semanas e a final foi o reflexo dessa tendência. A Espanha dominou durante largos períodos, mas os contra-ataques da Holanda destilavam veneno e valeu Casillas contra Robben. Nesse momento, estava escrito que a Holanda sairia derrotada da sua terceira final. Bastante agressivo (os cartões amarelos voavam do bolso do árbitro), o jogo lá foi caminhando para o prolongamento, a Holanda viu-se com menos um quando o deveria ter visto mais cedo, e Iniesta levou os nuestros hermanos ao céu a quatro minutos do final do prolongamento.
Vitória justa de uma Espanha que fica com a fama de só ganhar por 1-0, embora faça o suficiente para marcar mais (excepção feita, talvez, com o Paraguai). Olhando para trás, seria um crime que tão enfadonha selecção portuguesa eliminasse tão vibrante fúria vermelha: aqueles "chouriços" que acontecem quando o rei faz anos havia sido a derrota inicial com a Suíça, pelo que, dificilmente, a Espanha voltaria a cair noutra. Porém, falar do Mundial 2010 é falar também de Fórlan que carregou o Uruguai às costas, da coesão não recompensada dos germânicos, dos esforços dos dispensados Robben e Sneijder, da bomba (no mau sentido) que foi o futebol argentino, da desilusão brasileira, do destino cruel dos ganeses, da fraude chamada Inglaterra, do empolamento injustificado da Selecção Nacional (apesar dos históricos 7-0), do polvo, da organização africana, da Shakira, dos árbitros zarolhos, da Larissa Riquelme, do beijo de Casillas à namorada repórter, das insuportáveis vuvuzelas (espero que não se torne moda), de uma Itália expirada, da eterna guerra Adidas contra Nike, ou da birra francesa.
Vemo-nos daqui a quatro anos, no Brasil.
"Já ninguém liga aos clássicos!" - diz a personagem de Nuno Markl na primeira cena de A Bela e o Paparazzo, mas eu vou mais longe e reformulo: já ninguém liga ao cinema português. Acusado de ser demasiado intelectual, recheado de 'panelinhas', asneirento, que nunca é comercial e, quando o inverso ocorre, oferecer ao grande público exercícios trash e amarrado a dispositivos televisivos, é certo que o cinema cá do burgo já viu melhores dias. Porém, ainda há um indivíduo a remar contra a maré (Joaquim Leitão parece ter desistido de tentar e Leonel Vieira foi areia atirada aos nossos olhos): António Pedro Vasconcelos, um dos poucos que ainda consegue aliar o cinema dito 'inteligente' a uma vertente mais popular, sem resvalar para a chungaria digna de objectos como Corrupção, O Crime do Padre Amaro ou Contrato. Vasconcelos sabe contar uma boa história, sabe dirigir actores e, o melhor de tudo, sabe como utilizar o contexto social a favor da sua obra. Uma pena que a sua filmografia seja tão escassa: apenas três longas-metragens nos últimos dez anos.
Escrito por Tiago Santos, que já se aliara ao realizador no anterior Call Girl, A Bela e o Paparazzo pretende ser uma comédia romântica sofisticada, em que o mundo das celebridades e da imprensa cor-de-rosa são objecto de sátira. Mariana Reis é uma actriz à beira de um colapso nervoso: a sua personagem perde espaço na novela em que participa e a sua vida pessoal é sempre motivo de capas nas revistas sociais. A culpada é Gabriela, nome fictício de João, um fotógrafo que a persegue para todo o lado para satisfazer os objectivos da sua ávida editora, sempre disposta a publicar o próximo escândalo. Um dia, devido a uma série de mal-entendidos, Mariana e João envolvem-se sem ela saber a profissão dele. A partir daqui o óbvio acontece: promessas de amor, desentendimentos, obstáculos que atiram no caminho do casal, enfim... nada que alguém que já tenha visto comédias românticas não saiba.
O final é conhecido, mas é o percurso que interessa nos filmes do género e é aqui que A Bela e o Paparazzo começa a marcar pontos: a direcção e a fotografia são elegantes, aproveitando os cenários de uma Lisboa glamurosa, romantizada, mas ao mesmo tempo palpável; as afinetadas aos bastidores da fama são certeiras (embora pudessem ser mais ácidas); e a galeria de secundários é excelente, destacando-se o realizador agastado de Nicolau Breyner e a viperina editora de Maria João Luís que merecia um filme só dela. No entanto, todas as cenas da narrativa paralela da independência do prédio só servem para desviar o foco principal, uma vez que parecem saídas de outro filme e nunca se enquadram organicamente na história do casal. Percebem-se as boas intenções deste arco (recuperar a tradição das comédias clássicas do cinema português) e as personagens são bem defendidas por Nuno Markl e Pedro Laginha, mas tudo parece caído do céu e pouco desenvolvido.
Tão importante como o percurso é o casal de protagonistas e Soraia Chaves e Marco D'Almeida exibem uma óptima química e, principalmente no caso dele, um bom timing cómico como pode ser atestado na sequência do restaurante japonês. É de lamentar que o seu talento tenha que ser desperdiçado em telenovelas sem expressão. Quanto a Soraia Chaves, continua a percorrer um bom caminho depois da surpresa de Call Girl e vem-se revelando como uma actriz cada vez mais madura, inteligente e menos um corpo escultural a passear no ecrã. Mesmo não estando ao nível denso d' Os Imortais, A Bela e o Paparazzo é um filme agradável de acompanhar, com boas piadas e bons actores. Longe dos objectos deprimentes direccionados para o grande público que o cinema português nos tem brindado, posso afirmar que este é o feel good movie que Portugal precisava. Pode ser que outros aprendam.
Qualidade da banha: 13/20
Ler os testemunhosdesteblog é algo revoltante. É inacreditável como uma boa ideia para uma minoria como são os Recibos Verdes sai fora do controlo e permite situações de falta de respeito para com o trabalhador, abusos de poder e uma constante tendência para usar os buracos do sistema em proveito próprio. Cabe na cabeça de alguém descontar tanto para a Segurança Social e pagar impostos e não usufruir dos mesmos direitos que os restantes?! Onde anda o Tribunal do Trabalho para agir em conformidade nas inúmeras situações ilegais que estão sujeitos, há vários anos, milhares de trabalhadores? E o Governo, tão lesto a condenar o trabalho precário e a gabar as melhorias na fiscalização, não nota que há pessoas a passar recibos para as mesmas empresas anos a fio? Claro que isto não é de admirar num Estado que, além do facto de ter pressa em receber mas hibernar para pagar o que deve, tem a seu cargo milhares de trabalhadores a Recibos Verdes (uma designação já de si idiota, uma vez que eles são tudo menos verdes), nomeadamente em Centros de Novas Oportunidades e nas Actividades Extra Curriculares. Boas ideias, sim senhor, mas há que analisar o reverso da medalha.
Só espero nunca chegar ao ponto desesperante de algumas pessoas cujos testemunhos li com imenso choque. A Tugalândia está cada vez mais deprimente.
Bom ano para todos!
Sporting vence a Supertaça
No jogo das comadres, ganhou o Sporting que comeu o FC Porto de... cebolada (não resisti). Yannick Djaló foi o herói do jogo ao marcar os dois golos da vitória, sendo que os azuis ainda mandaram uma bola ao poste e falharam um penalti, porcamente executado por Lucho. E para aqueles que falam que Bruno Alves é apenas duro, vejam bem a entrada sobre o Derlei, que nem amarelo levou (se bem que Caneira também devia levar um sobre uma entrada nos tintins de Rodriguez... mal empregue a falta de força!). Entra o Sporting com o pé direito na época 2008/2009, o que é bom, pois assim ficam todos inchados e perdem o gás rapidamente (como acontece quase sempre). Cheira-me que este ano o FC Porto vai ter de suar muito para vencer (e convencer, já agora) alguma coisa. Jesualdo Ferreira deve entrar em paranóia sempre que joga com o Sporting, tantas são as invenções que opera no onze titular. Bem, pior seria se perdessem a taça com dois golos do Tiuí... Já agora, Pinto da Costa não está suspenso? Que fazia ele na tribuna do estádio? Será que o dinheiro do envelope do árbitro era pouco e toca a angariar mais algum?
Benfica perde nas grandes penalidades com Inter de Milão
Bom jogo de ambas as partes, sendo que a equipa titular do Benfica mostra progressos notáveis nestas últimas semanas. A diferença é abissal para os anos anteriores. Pudera, sem Nuno Assis (esse ingrato), Luis Filipe e quejandos, a equipa até parece respirar melhor. Só falta despachar o Edcarlos e já me dou por satisfeito. Embora não concorde com as condições do empréstimo de Freddy Adu, creio que Quique Flores e Rui Costa estão a fazer um bom trabalho. E Urretavizcaya é um achado!
Criminalidade em Portugal
O assalto à dependência do BES em Campolide, que resultou numa situação de sequestro, trouxe à baila os temas do aumento da criminalidade, do comportamento dos media, da questão da imigração e da actuação das forças policiais. Quanto a esta última, já se ouviram vozes a criticar a acção policial, o que me deixa impressionado. Devem achar que as forças policiais atiraram logo a matar mal chegaram, não? Elas só recorreram à força quando verificaram que todas as saídas possíveis sem causar danos maiores estavam esgotadas. Será que é tão difícil de entender? Fizeram o seu melhor dadas as circunstâncias e isso é de louvar. E, no estado actual, só um louco pode achar que palavras e atitudes passivas podem diminuir a criminalidade. Quanto à comunicação social, sinceramente, já vi posturas bem piores da parte deles (como por exemplo, na queda da ponte de Entre-os-Rios).
Conflito na Geórgia
O comportamento da Rússia em apoiar o movimento separatista de Abecásia e Ossétia do Sul e, com isso, invadir a Geórgia é totalmente condenável, mas a atitude dos Estados Unidos em vir criticá-los na pessoa da Condoleezza Rice (esse demónio de saias) é absurda e reveladora da hipocrisia e arrogância da administração Bush. Fosse uma zona recheada de petróleo, era ver norte-americanos e russos em jantares regados a muita vodka, com a União Europeia cabisbaixa, sussurrando: isto não está certo...
Jogos Olímpicos: Pequim 2008
Não sou grande fã dos Jogos Olímpicos, acho a maioria das modalidades secantes e o pequeno interesse que poderia haver pelas provas dos atletas portugueses vai diminuindo na proporção inversa das derrotas dos mesmos. Também, quem os mandou prometer mundos e fundos, como por exemplo Obikwelu com o seu discurso de "eu quero a medalha de ouro, que a de prata já eu tenho!"? Humildade nunca fez mal a ninguém, certo? Porém, tenho de admitir que fiquei arrebatado pela brilhante cerimónia de abertura. Que coisa magnífica, genial e uma prova ao mundo da capacidade organizacional sem paralelo dos chineses. Só por isso, já valeu a pena.
Guimarães na Liga dos Campeões
Há sempre um respeito especial pelas equipas ditas pequenas na Europa. Nestes casos, gosto de apoiar estes piquenos (Braga, Setúbal, Belenenses, Sporting...) que tentam fazer um brilharete nas competições europeias. No entanto, não consigo perceber a necessidade do Vitória de Guimarães ir à Champions. Para quê? Se estamos assim tão necessitados de pontos no ranking, mais vale irem para a Taça UEFA, uma vez que, passando à fase de grupos da prova máxima, iam conseguir o quê? Um ou dois empates? Se nem a um Basileia conseguem marcar um golito que seja, o que se pode esperar para mais tarde? (ok, foram roubados em dois penaltis, mas fora isso que mais fez a equipa para ganhar o jogo?) Bem sei que o momento é histórico para o clube e que o dinheiro amealhado muito bem lhes faria, mas como adepto objectivo, não consigo visualizar o clube a defender/humilhar/dignificar (riscar o que não interessa) Portugal na Liga dos Campeões. O melhor é não se entusiasmarem muito senão ainda descem outra vez de divisão.
Adoro tirar uma sesta durante a tarde. Quem é que não gosta? Ao domingo, então, é sagradinho. Os níveis de azeite em Espinho sobem consideravelmente nestes dias da semana (e no Verão, todos os dias são domingos) que é preferível estar em casa a laurear a pevide e dormir um par de horas durante a tarde. E é tão bom. É daquelas coisas que deviam ser obrigatórias por lei. De certeza que este país só teria a ganhar em muitos aspectos. Porém, o mais provável era o português comum usar as horas da sesta para trabalhar e as horas de trabalho para... dormir. Num campeonato de chico-espertice não há quem nos bata.
Os combustíveis estão caros.
O salário mínimo faz jus ao nome.
A segurança social caminha para o abismo.
O sistema de saúde é mais lento que uma tartaruga.
A justiça é ainda mais lenta que o sistema de saúde.
O desemprego aumenta.
As manifs, greves e boicotes sucedem-se.
O ensino reforma-se constantemente e definha.
Os políticos falam muito e mexem-se pouco.
A insegurança cresce a cada dia.
Acima de tudo, está tudo falido.
Mas...
...o Euro 2008 começa hoje!