Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



The Hobbit: The Battle of the Five Armies (2014)

Realização: Peter Jackson

Argumento: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro

Elenco: Martin Freeman, Richard Armitage, Luke Evans, Evangeline Lilly, Lee Pace, Orlando Bloom, Cate Blanchett, Hugo Weaving, Christopher Lee, Billy Connolly, Aidan Turner, Ryan Gage, Ken Stott, Stephen Fry, Ian McKellen

 

Qualidade da banha:

 

E eis-nos chegados ao último tomo da trilogia mais dispensável de sempre. Um final que nunca consegue justificar a divisão deste fiapo de história em três filmes e que acredita que nos preocupamos com os destinos de Bilbo, dos anões, dos elfos e do raio que o parta quando as seis horas anteriores não conseguiram torná-los minimamente interessantes ou queridos junto do público (até porque sabemos de antemão quem sobreviverá para aparecer no O Senhor dos Anéis).

 

Quase não estive para escrever este texto já que os erros e acertos de A Batalha dos Cinco Exércitos são os mesmos que referi quando analisei Uma Viagem Inesperada e A Desolação de Smaug: um exercício de prepotência e excessos, um festim para os olhos sem emoção, longos e grandiosos discursos que não diminuem o tédio dos acontecimentos e, claro, cenas irrelevantes para a jornada em questão e que só estão lá revermos caras conhecidas e fazer ligações desnecessárias com eventos posteriores. Isto tudo ao som da banda sonora de Howard Shore que deve ser pago ao minuto visto que praticamente não há um momento de silêncio durante o filme.

 

Iniciando-se com o ataque de Smaug a Esgaroth prometido no desfecho do capítulo anterior, A Batalha dos Cinco Exércitos começa logo a pressionar os botões da irritação já que o dragão sai de cena aos dez minutos - o que me levou a questionar o bom senso artístico de Peter Jackson que poderia perfeitamente ter incluído esta parte em A Desolação de Smaug e não o prejudicar com aquele fim abruto. Com a criatura fora da equação, os anões liderados por Thorin (Armitage) conquistam a Montanha Solitária e, enquanto procura a Arkenstone que Bilbo (Freeman) mantém escondida, o rei anão fica paranóico em relação aos tesouros que agora possui e decide renegar o seu acordo com os humanos liderados por Bard (Evans). Entretanto, o rei elfo Thranduil (Pace) decide atacar a Montanha para recuperar parte do tesouro que julga pertencer ao seu povo, ignorando a aproximação dos perigosos orcs comandados por Azog (Bennett). Isto resultará na batalha do título e que ocupa a maior parte da projeção.

 

Impecável nos aspetos técnicos (com a exceção do tenebroso rejuvenescimento digital de Legolas), A Batalha dos Cinco Exércitos não é mais do que um longo e cansativo desfecho indeciso entre o tom épico que deseja imprimir e a infantilidade proveniente dos escritos de Tolkien. A repetição e a falta de subtileza são atributos que Peter Jackson parece ter abraçado ao longo dos anos e este filme poderia ser um best of desta constatação: dos diálogos expositivos às mudanças de caráter inexplicáveis e repentinas (Thorin, Thranduil), passando pelas incontáveis vezes que alguém é salvo no último instante e acabando na insistência em passagens com seres descartáveis (Alfrid, Radagast, Galadriel, Sauron, etc.). É inacreditável, aliás, que tanto tempo investido naquele universo não tenha deixado espaço para amarrar as pontas: o que aconteceu aos tesouros da Montanha? Foram divididos pelos pretendentes? Ficaram todos satisfeitos? Para quê, então, toda aquela batalha?

 

Batalha essa que empalidece daquelas vistas n' O Senhor dos Anéis não obstante os avanços tecnológicos na última década já que a carga dramática é nula. Thorin é um líder tão antipático e Thranduil tão arrogante que fica impossível torcer por algum deles - e, assim, ficamos entregues à pasmaceira de esperar que Bilbo saia vivo da Montanha (o que sabemos que acontecerá) e deprimir por vê-lo tão apagado na sua própria história. De qualquer forma, o nosso Hobbit sempre está um patamar acima dos anões que o rodeiam que, chegados ao terceiro capítulo, continuam sem se distinguirem uns dos outros a não ser em termos de vestuário e maquilhagem. Já a adição da elfa Tauriel volta a revelar-se uma curiosidade inócua por estar caída de amores por um anão e presa a pastosos diálogos que fazem estremecer a Terra Média (e Evangeline Lilly merecia um prémio só por permanecer inteira ao dizer coisas como "Não há amor em ti!" e "Porque dói tanto?!")

 

Incluindo um combate numa arrebatadora cascata congelada que tem tanto de empolgante como de estúpido (o pouco prático calhau usado como arma por Azog é ridículo até porque este tem uma enorme lâmina no lugar do braço!), A Batalha dos Cinco Exércitos ganha uma certa vida quando Jackson descortina a imensidão e o alinhamento dos exércitos e tem um ou outro momento de tirar o fôlego (quando os elfos saltam sobre uma fileira de anões), mas é a prova que um ou dois filmes seriam mais do que suficientes para elaborar esta prequela. É triste ver um cineasta como Peter Jackson desperdiçar os seus créditos desta maneira. A Terra Média precisa de descanso, Hollywood!

 

publicado às 18:07

Há pouco mais de um ano, eu era uma pessoa deprimida após o final de Breaking Bad. Ainda havia boas séries no ar, mas nada ao nível da excelência daqueles produtos que, não só nos põem a salivar pelo episódio seguinte, como também permitem que cada capítulo possa ser "saboreado" pelos seus valores narrativos, estruturais e técnicos. Até que The Good Wife lança o já mítico 5x05 - Hitting The Fan e o meu Twitter explode em elogios - e eu, apesar de conhecer a série e já ter-lhe posto os olhos uma ou outra vez sem grande entusiasmo, ativei o modo Maria-vai-com-as-outras e lá fui ao nosso amigo torrent sacar e ver o episódio. No final, só pensava que tinha de fazer uma maratona da boa esposa e já!

 

Em tempos que as séries mais comentadas têm entre 10 a 13 episódios, tratam assuntos polémicos, a violência (moral ou física) rola solta e o sexo é uma constante, The Good Wife chega sem pompa e circunstância e trilha o seu caminho de cabeça levantada mesmo tendo tudo contra si. Afinal, estamos a falar de mais um drama de advogados que é transmitido em canal aberto, obedece ao padrão de 22 capítulos anuais, o conteúdo é mais restrito, a fórmula reside muito no típico "caso da semana", o seu alcance e sucesso depende inteiramente das audiências e não permite, em teoria, grandes ousadias criativas que os canais por cabo oferecem sem problemas. Além disso, a série é transmitida pela CBS que, com os seus intermináveis enlatados de investigação e comédias imbecis como The Big Bang Theory ou Two And a Half Men, faz logo torcer o nariz a quem percebe da indústria e - heresia! - a protagonista é uma mulher quarentona rodeada por adultos da mesma faixa etária - óbvio turn off para a malta mais jovem sedenta de zombies esfomeados. Mesmo em Portugal, The Good Wife é praticamente uma desconhecida exceto pelos espectadores regulares da FOX Life que também não se inibe de culpas ao tratar a série com descaso demorando meses a transmiti-la e compactando temporadas em episódios diários que diluem o efeito das mesmas.

 

E, ainda assim, sem sangue, sexo, palavrões, mortes chocantes e reviravoltas dignas de Shonda Rhimes, The Good Wife assume as suas limitações e aborda-as como obstáculos a contornar com histórias absorventes, personagens fortes e marcantes e uma sofisticação que raramente se vê noutros produtos contemporâneos. Poucas são as séries que chegam à sexta temporada em tão boa forma, mas aí está The Good Wife a manter o pique depois de um brilhante quinto ano que, contando com o (intenso, fabuloso, magnífico) episódio supracitado, foi a única que vi bater de frente em qualidade com a reta final de Breaking Bad. Quem acompanha e percebe da poda, sabe que não é exagero.

 

(Spoilers de agora em diante, mas nada do outro mundo.)

 

O ponto de partida, admito, não é dos mais promissores: Alicia Florrick é a esposa de um State's Attorney (o equivalente ao nosso Procurador da República - cada Estado norte-americano tem um) que se vê obrigada a voltar a exercer advocacia após anos de dedicação à família assim que o seu marido é preso por conta de um escândalo sexual e suspeitas de má conduta, tráfico de influência e desvio de dinheiro. Caída em desgraça, Alicia consegue trabalho na firma Lockhart/Gardner e tenta refazer a sua vida profissional e familiar a partir do zero. A certa altura, o termo "the good wife" deixa de fazer sentido (e os próprios criadores já admitiram que o título não é dos mais felizes ou chamativos) já que o grande arco da série trata-se da transformação da "coitadinha" Alicia que tem de provar o seu valor para os seus superiores numa mulher independente e poderosa - uma trajetória que é construída com cuidado, sensibilidade, com avanços e recuos, e que por demorar o seu tempo e ser tão detalhada para alguém que tem de cumprir os papéis de mãe, esposa, advogada, funcionária, amiga e até amante e eventualmente patroa, é perfeitamente verosímil e agradável de acompanhar uma vez que as mudanças na narrativa raramente soam bruscas ou demasiado convenientes.

 

E isto é um dos pontos mais fortes de The Good Wife: a série está em constante evolução e, mesmo que tenha de responder ao requisito do "caso da semana", há toda uma história nos bastidores que avança, as personagens crescem diante dos nossos olhos e arcos que duram três episódios ou meia temporada dão lugar a novos eventos que vêm na sequência lógica de tudo o que está para trás. Claro que isto não deixa de ser uma série de advogados e, como tal, a Lockhart/Gardner e Alicia ganharão 90% dos casos, o que não significa que a vitória seja total. Há uma aura de ambiguidade que se instala naquele universo e guia aquelas personagens seja num caso em que os adversários pagam uma indemnização milionária, mas bem abaixo do que pretendiam, nas concessões que os empregados exigem dos patrões que, por sua vez, tentam aliciar trabalhadores para evitar uma greve ou nos casos que remetem para notícias atuais. E por falar em atualidade, nenhuma outra série aborda a tecnologia e os seus efeitos no quotidiano com a densidade e a criatividade de The Good Wife: aqui não há espaço para posições extremas como a tecnofobia ou a reverência à mesma; há, sim, uma discussão fascinante sobre as suas implicações no modo como vivemos e interagimos uns com os outros.

 

No entanto, The Good Wife destaca-se mesmo é na subtileza com que discute, nas entrelinhas, temas atuais na vivência de qualquer país industrializado: o conflito geracional no mercado de trabalho em que a classe mais velha, experiente e, por isso mesmo, privilegiada só tem olhos para o lucro, manda e desmanda a bel-prazer e, em tempos de crise, tem de manter o barco à tona enquanto os jovens e recém-chegados têm de galgar terreno ou ficarão para trás na escala hierárquica cujo topo é o prémio. Não admira que os jogos políticos e as intrigas da série atirem a um canto as lutas vazias por tronos de Game of Thrones: no mundo moderno, não há nada a fazer quando a influência e o dinheiro são mais fortes que a espada.

 

Tudo isto, porém, pode dar a impressão que a série é um poço de soturnidade e depressão. Nada mais errado: The Good Wife é divertidíssima, tem um humor invejável e uma galeria de secundários que é uma atração à parte num dos mais abençoados e acutilantes elencos que a Televisão já viu (os meus favoritos são David Lee, o inescrupuloso representante de direito familiar da firma, e Patti Nyholm, a advogada que usa gravidezes e bebés para ganhar vantagem em tribunal, sem esquecer o sensacional Eli Gold). O destaque, porém, pertence mesmo ao leque principal de atores com Julianna Margulies a mostrar o porquê de ser considerada uma das maiores estrelas da televisão norte-americana. O trabalho de Margulies com Alicia é dos mais completos que já vi: a atriz domina todas as facetas da advogada e brilha num esforço recheado de pequenos detalhes, nuances e expressividade contida. A série cria uma bagagem emocional ao longo dos anos que resultam em cenas nas quais o silêncio, as expressões e até a linguagem corporal de Alicia dizem mais do que um monólogo inteiro de Aaron Sorkin.

 

Também é de destacar o respeito com que os produtores de The Good Wife tratam as figuras femininas: para além de Alicia, temos a incrível Diane Lockhart que, focada na carreira, nunca, em momento algum, fica a lamentar da falta de "um homem" ou filhos - afinal, ela está demasiado ocupada a ganhar casos atrás de casos. E - aleluia! - haja um produto de Hollywood em que duas mulheres adultas se ajudam mutuamente para atingir interesses comuns e não se envolvem em disputas amorosas ou vinganças infantis. O nosso envolvimento, aliás, com todas as personagens é tanto que, quando a série comete a ousadia de os separar e pôr em lados opostos da barricada (que é o cerne do tal episódio que destaquei no primeiro parágrafo), não há como torcer contra algum deles. Queremos que Alicia vença, mas não queremos forçosamente que os seus patrões percam - e é esta ambiguidade que torna tudo tão fascinante e divertido. Tudo isto ao sabor de um texto refinado (a escrita da série é de topo) e interpretações dignas de aplausos.

 

Muitos têm reclamado da atual sexta temporada porque a mesma se tem dedicado à campanha política de Alicia para o cargo de State's Attorney. Eu discordo. As politiquices são tão relaxadas e divertidas que distanciam-se do tom quase macabro que a política consegue ter numa, digamos, House of Cards, para abordar o lado mais leve, trivial e caricato que a política também consegue ter. Já para não falar que a campanha contrasta com o drama quase irrespirável de Cary Agos estar em vias de ir preso devido a Lemond Bishop, o traficante mais famoso de Chicago e cliente da Lockhart/Gardner e posteriormente da Florrick/Agos. Depois de anos a brincar na corda bamba de defender um criminoso (ainda que com a desculpa dos seus negócios legítimos), The Good Wife pega nesse detalhe insignificante e agarra o touro pelos cornos, impondo às suas personagens (e aos espectadores) dilemas morais e éticos que rios de dinheiro toldavam.

 

Produto televisivo sobre e para adultos, The Good Wife é imperdível e merece a oportunidade. A primeira temporada é boa, as duas seguintes são muito boas, a quarta dá uma recaída, mas recupera lá no meio e vai em crescendo até atingir patamares excelentes - que é o ponto onde nos encontramos agora. Não se deixem levar pelo nome. Alicia Florrick veio para ficar e causar estragos.

 

publicado às 01:22

The Hunger Games: A Revolta - Parte 1

por Antero, em 20.11.14

The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 (2014)

Realização: Francis Lawrence

Argumento: Peter Craig, Danny Strong

Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Donald Sutherland, Sam Claflin, Jena Malone

 

Qualidade da banha:

 

A decisão de dividir o último livro da trilogia The Hunger Games em dois filmes é questionável - e há momentos em que A Revolta - Parte 1 arrasta-se em esforço para atingir a duração pretendida de quase duas horas. Por outro lado, é bastante provável que vários espectadores reclamem da falta de ação e do ritmo lento da narrativa que opta por sacrificar os embates físicos em nome dos jogos políticos em que a protagonista se vê mergulhada. Uma decisão que, quanto a mim, não só é bem-vinda como também se mostra corajosa, ainda mais por vir de uma super-produção de Hollywood voltada ao público jovem.

 

Escrito a partir do terceiro livro da série criada por Suzanne Collins, A Revolta - Parte 1 traz Katniss Everdeen (Lawrence) escondida nos restos subterrâneos do Distrito 13 após ter sido resgatada pelos rebeldes no final de Em Chamas. Atormentada por tudo o que passou nos filmes anteriores, Katniss une-se à presidente Alma Coin (Moore), ao relações públicas Plutarch Heavensbee (Hoffman) e restantes aliados para organizarem a luta contra o presidente Snow (Sutherland) que mantém Peeta Mellark (Hutcherson) em cativeiro. Para tal, Katniss é incumbida de protagonizar vídeos de propaganda de forma a agregar mais distritos no apoio à rebelião enquanto o Capitólio recorre a estratégias de desacreditação dos rebeldes.

 

Mantendo o tom opressivo e desolador já caraterístico na série, esta Parte 1 retrata uma guerra de informação que, mesmo disputada entre paredes, não deixa de ser menos impiedosa. Com isto, The Hunger Games ganha contemporaneidade já que cada fação tem o seu símbolo mensageiro - e basta que Peeta implore na televisão por um cessar-fogo para ser automaticamente apelidado de "traidor" e "vendido" ao mesmo tempo que Katniss é noticiada como uma "criminosa" e "terrorista". Assim, o filme dedica grande parte do seu tempo a discutir a mediatização e o simbolismo do indivíduo em prol do coletivo, uma vez que os atos heróicos de Katniss não são o suficiente: mais importante é projetar nas massas a imagem de uma heroína.

 

Isto não impede que Katniss se sinta desconfortável na pele de símbolo revolucionário -  ainda que concorde com os ideais dos rebeldes. Mesmo a presidente Coin, sempre fria e calculista, tem os seus precisos discursos populistas ditados por Plutarch, o que, mais uma vez, distorce a fronteira entre realidade e propaganda. Enquanto isso, o presidente Snow, numa curta cena que adiciona mais lenha na discussão, prefere usar termos mais abstratos como "radicais" por ter noção que derivados de "crime" ou "rebeldia" poderiam levar a questionamentos por parte do povo. Desta forma, em vez de apostar no espetáculo gratuito de mostrar a revolução em marcha, A Revolta - Parte 1 mostra os bastidores que antecedem a mesma, visto que recolher apoios cada vez mais significativos é imperioso e controlar a informação é absolutamente essencial para atingir esse objetivo. Tanto é que, a certa altura, Katniss é constantemente seguida por uma equipa de filmagem sempre à espreita de um momento (fabricado ou não) em que a rapariga possa fazer ou declarar algo relevante para a causa.

 

Novamente no papel de Katniss, Jennifer Lawrence continuar a destilar o seu imenso talento ao injetar fúria e sensibilidade na sua interpretação: Katniss não é uma heroína por gosto, mas sim elevada a tal posto por força das circunstâncias e a sua dificuldade em abraçar essa responsabilidade, longe de ser um sinal de indiferença, remete ao seu maternalismo em proteger aqueles que lhe são mais chegados. Mesmo o triângulo amoroso é trabalhado apropriadamente para explorar a personalidade de Katniss, como no momento em que Gale (Hemsworth) consegue ser honesto o suficiente para lhe declarar que ela só repara nele quando este se mostra mais fraco.

 

Conduzindo a narrativa com segurança e fluidez, o realizador Francis Lawrence investe num clima desesperador e cria sequências que, aproveitando ao máximo o design de produção, parecem saídas de um  filme de guerra e o terceiro ato, que envolve uma missão ao Capitólio intercalada pelo discurso sentido de uma personagem, é tensa precisamente por não sabermos ao certo o que se passa e de onde poderá vir o perigo.

 

Contudo, A Revolta - Parte 1 peca (e muito) por ser aquilo que é: uma preparação para o tomo final e por não ter história que justifique as quase duas horas de duração. Há sequências que nada acrescentam, há demasiado falatório (e alguns diálogos doem de tão expositivos) e o Distrito 13 lembra por vezes a infame Zion da trilogia Matrix. É um filme incompleto, mas não deixa de ser um bom "meio-filme".

 

publicado às 19:33

Lost: 10 anos

por Antero, em 22.09.14

 

Há dez anos um avião desaparecia no Pacífico Sul e dava início ao maior fenómeno televisivo deste jovem século. Misto de drama profundo com aventura, história de sobrevivência, ficção científica, filosofia e muitos (muitos!) mistérios, Lost capturou a imaginação do público com a história dos sobreviventes do fatídico Oceanic 815 e daqueles que se cruzaram nos seus caminhos. Durou 6 excelentes temporadas (sim todas, sem exceção!) e marcou um virar de página na forma como se produz e se vende em Televisão.

 

Surgida numa fase de grande experimentalismo e de proliferação de diferentes propostas e abordagens na Televisão norte-americana (em que as emissoras abertas começaram a ter de correr atrás dos canais do cabo), Lost ousou em desafiar aquilo que era regra nas narrativas serializadas: assistir ao piloto após tantos anos e com outros olhos é ver cada uma dessas leis atiradas janelas fora. Não há exposição para situar eventos e personalidades: sabemos exatamente aquilo que as personagens sabem, como se nós próprios também tivéssemos caído naquela Ilha - e, com isso, a tensão aumenta ao estabelecer-se desde logo uma atmosfera de urgência e perigo. A maneira como os flashbacks são introduzidos e incorporados organicamente na narrativa é genial: da Ilha saltamos para os últimos minutos do voo e experimentamos o pânico e a confusão da queda do avião. Mais à frente, descobrimos que Charlie é um viciado em heroína e que Kate encontrava-se algemada. Como chegaram àquele ponto? O que fez Kate para ser procurada pelas autoridades? É inocente? Cometeu um crime? Qual? Como? Porquê? E por aí fora à medida que a teia de enigmas se vai adensando e em que uma resposta longamente ansiada pode despoletar outra mão cheia de questões.

 

Nem só de flashbacks vivia Lost. Entre o núcleo de sobreviventes da cauda do avião, os flashforwards, as viagens no tempo, realidades paralelas, mais o misticismo, esoterismo, pseudo-ciência, teologia, etc., a série encontrava sempre novas e interessantes formas de contar a sua história, mantendo o espectador às escuras em relação ao que iria acontecer e como iria acontecer. Nada disto, porém, serviria de muito caso os dramas daspersonagens não fossem envolventes e esse era o ponto onde a produção mais se esmerava: se Lost se tornou tão memorável deve-se em grande parte à sua fascinante e multifacetada galeria de personagens que tivemos a oportunidade maravilhosa de os ver crescer diante dos nossos olhos. E os mistérios? O Monstro. O urso polar. A francesa louca. Os Outros. A Iniciativa DHARMA. O eletromagnetismo. 4 8 15 16 23 42. A Ilha desaparecer. Os saltos temporais. Jacob. Aquele desfecho.

 

No entanto, isto é somente a ponta do icebergue na experiência que foi acompanhar Lost ao longo dos anos e o seu sucesso deve-se a um timing perfeito com a popularização dos downloads de séries aquando a sua exibição original. A ABC, atenta ao hype que se foi gerando, nunca interferiu nesta questão e procurava formas de manter o interesse sem alienar a audiência mundial. Daí que a janela de exibição entre os EUA e o resto do Mundo tenha diminuído cada vez mais. Cabia na cabeça de alguém que, há meros dez ou cinco anos, pudessemos ver o final de uma série em simultâneo com os norte-americanos ou assistir ao mais recente episódio de Game of Thrones um dia após a exibição original? O paradigma mudou com os downloads e com Lost no topo das preferências da "pirataria online".

 

Revisitar Lost é também reavaliar-me. É ler textos antigos aqui do estaminé e ver outra pessoa, outra escrita (por vezes, terrível e de corar) e outra energia. De alguém que descobrira que a Televisão podia ser mais do que os CSIs da vida e pílulas de boa disposição em formato de 30 minutos. De uma excitação digna de uma criança na véspera de Natal - todas as semanas. De ler artigos por essa Internet fora (e quantos blogues e sites não surgiram graças à série?) e formular mil e uma teorias. De desesperar meses a fio entre temporadas.

Há muitas e boas séries ainda no ar, mas Lost era única. O prazer de ver a série começava quando o episódio acabava. Breaking Bad ensaiou algo parecido na reta final quando o Mundo abriu os olhos para o seu valor, mas foi algo ainda longe do fenómeno de culto que foi a primeira. Nenhuma série me desperta o mesmo grau de fascínio e viciação. Game of Thrones parei no final da terceira temporada e nunca mais retomei, The Walking Dead estanquei na primeira, desisti de Homeland, House of Cards vi dois episódios e "nhé",vi uns três capítulos de Hannibal e não me cativou. Podia pegar em True Detective, Sons of Anarchy, Fargo ou Masters of Sex, mas a verdade é que nunca vi essas séries nem as mesmas me puxam muito. Ainda tive Fringe (gostei muito, mas...), House (errrr...) e Dexter (cruzes, credo!). Claro que ainda tenho Sherlock (quando temos direito) e a cada vez mais incrível The Good Wife (que eu amo), mas Lost era... Lost!

O certo é que, gostando do final ou não, dos caminhos fantasiosos pelos quais se meteu e um ou outro engonhar da história, Lost merece ser recordada e celebrada como um dos mais originais, criativos, bizarros e admiráveis esforços que a Televisão já ofereceu. Que muitas outras tentem até hoje replicar o seu efeito é só mais um atestado de toda a sua qualidade.

 

Tenho saudades daquela maldita Ilha.

 

publicado às 23:52

A estreia de Jardins Proibidos

por Antero, em 11.09.14

 

Ontem vi a estreia da sequela de Jardins Proibidos (o que não vale ter uma box para voltar atrás na emissão). A primeira versão foi a última novela que acompanhei de fio a pavio (tinha uns 14/15 anos), mas depois valores mais altos da juventude se levantaram. Alguns apontamentos, a maioria já partilhada no Twitter:

 

  • É bom saber que o meu apuro audiovisual evoluiu em 14 anos. Ao contrário das novelas da TVI.
  • São José Correia deve estar contratualmente obrigada a aparecer sempre com altos decotes. No mínimo.
  • A miúda que faz de filha do Granger e da Kolodzig é terrível. Torci para que a pirralha fosse mesmo atropelada.
  • Paciente ameaça cortar financiamento antes da cirurgia e, no meio da tensão, enfermeiro auxiliar sugere rezar uma Avé Maria.
  • A cena da praxe pode ser considerada exploitation?
  • Fiquei sem perceber se a personagem de Daniela Ruah morreu ou se foi embora. Para tipo, sei lá, Los Angeles?
  • Dois médicos que se envolveram no passado e trabalham no mesmo hospital ficam espantados por se reencontrarem. WTF?
  • Este reencontro dispara um flashback: uma cascata no meio dos Açores onde o casal dá largas à sua paixão. Ela aparece de costas toda nua (e aposto que usaram uma dupla); ele, claro, aparece todo nu dos ombros para cima.
  • Kolodzig engravida enquanto Granger está para o estrangeiro por 5 meses. Ficou incontactável? Como ninguém o avisou? Eu pensava que esta novela era moderna!
  • Grandes moradias, com governantas e uma cave do tamanho de 3 apartamentos. A namorada do primogénito é vista como "ralé".
  • O espanholito que só diz umas três frases em castelhano tem um meet cute com a gaja de Penacova. Claro que ele é amigalhaço do namorado dela e restante malta. Só ela não sabia. Que original!
  • A trama é insípida, os actores fraquinhos, os diálogos pavorosos e a realização básica. Veredicto: a novela merecia um live tweet.

publicado às 13:41

Transformers: Era da Extinção

por Antero, em 11.07.14


Transformers: Age of Extinction (2014)

Realização: Michael Bay

Argumento: Ehren Kruger

Elenco: Mark Whalberg, Stanley Tucci, Kelsey Grammer, Nicola Peltz, Jack Reynor, Sophia Myles, Li Bingbing, Titus Welliver, T. J. Miller

 

Qualidade da banha:

 

"Porque nos haveríamos de preocupar com estes humanos?" – pergunta a certa altura um Transformer ao seu líder, Optimus Prime, no mais recente instrumento de tortura filme de Michael Bay no que imediatamente me soou como uma mensagem subliminar do argumentista Ehren Kruger para o realizador sempre mais preocupado com explosões, barulho e efeitos especiais do que em desenvolver personagens apropriadamente. Kruger já havia sido o escritor do pavoroso terceiro capítulo que, por sua vez, sucedeu ao também pavoroso segundo filme (e estes juntos fazem do somente fraco original de 2007 um tratado filosófico) e, como tal, terá pensado em suavizar a ingrata tarefa de trabalhar novamente para Bay ao enviar-lhe pequenos recados na forma de diálogos e que este, como forma de manter a coerência da sua filmografia, tratou de ignorar.

 

Isto, pelo menos, foi o que pensou o meu lado mais inocente sempre crente na bondade humana personificada por Hollywood. Ou então eu já estava tão desesperado com o que via no ecrã que entrei em negação e desatei a conceder descontos a tudo o que me enfiavam goela abaixo. O resultado: Transformers: Era da Extinção é um objeto que contamina os olhos, os ouvidos, o cérebro e a alma do espectador. Não deixa de ser espantoso como ao final de cada Transformers eu penso sempre que foi pior que o anterior – provavelmente até nem é, mas não estou disposto a tirar isso a limpo – e há que dar no mínimo esse mérito à série: quando achamos que a mediocridade atingiu um novo limite, lá aparece Michael Bay para nos mostrar o quanto estamos errados.

 

Com um elenco renovado (o que na prática significa zero já que Michael Bay arrancaria uma prestação ruim até do melhor Marlon Brando), Era da Extinção conta a história de… bom, basicamente conta a mesma história: os Autobots são bons, os Decepticons são maus, o planeta está em perigo, muita destruição, muita lataria a voar, muito caos visual, muito ruído e muita piada sem graça. Há também, claro, umas personagens atiradas ali para o meio e mantidas durante a projeção por pura conveniência uma vez que limitam-se ao papel de qualquer ser humano num filme de Michael Bay: debitar diálogos atrozes, fugir de explosões que ocorrem mesmo ao lado deles e, no caso das femininas, serem sexualmente exploradas pelo olhar machista do realizador.

 

Que, como sempre, usa e abusa do seu indispensável arsenal para atingir um público que ele encara como se tivesse défice de atenção: para além das já citadas explosões (tudo explode ao mínimo contacto!), estão lá os mil cortes por segundo, o slow motion sem critério, as panorâmicas circulares, os planos contrapicados, as poses heróicas, os filtros amarelos, os orgasmos pelas forças armadas e muito frenesim. O filme só acalma para fazer descaradíssimos product placements. Estão também lá erros de palmatória inacreditáveis: uma cena ao pôr-do-sol (Michael Bay adora o pôr-do-sol!) é entrecortada por outra que se passa já de noite bem escura para, logo a seguir, voltarmos à cena anterior... onde ainda não escureceu! Mais à frente, os bondosos Autobots lançam-se numa perseguição louca onde desfazem veículos uns atrás dos outros para, minutos depois, defenderem o lema de que "não magoamos humanos".  Mais tarde, Optimus Prime pede aos inúteis humanos que o acompanham para se encarregarem de levar um objeto importante para um sítio qualquer – o que é uma estupidez, já que ele poderia pedir o mesmo aos seus amigos robots que até podem voar e proteger a tal peça com melhores recursos. Tudo isto leva-me a crer que Bay é um discípulo de Ed Wood a quem saiu a lotaria de poder trabalhar com orçamentos multimilionários.

 

A história é uma colcha de retalhos estruturada para esticar ao máximo a duração entre uma explosão e outra. Chega a uma altura lá pela marca dos 90 minutos na qual o filme ativa o modo turbo e simplesmente recusa-se a acabar. E nem minimamente original consegue ser, uma vez que Chicago é mais uma vez assolada pela destruição. Não deixa de ser deprimente como uma narrativa tão derivativa de outras obras superiores tenha que usar as próprias ideias em segunda mão. Contudo, Chicago é só um aperitivo para o grande destaque da película que é quando a ação salta para Hong Kong. Porquê Hong Kong? Porque a série Transformers é muito lucrativa para os lados da China. Considerem isto como uma pequena vingança do mundo ocidental: eles enviam para cá produtos de qualidade duvidosa e nós respondemos ao situar lá lixo cinematográfico. Não é uma maravilha?

 

E as atuações? Não existem. Mark Whalberg é tão credível como um inventor nas lonas e pai de uma adolescente como Denise Richards era como física nuclear. Essa adolescente é Nicola Peltz que obviamente é um colírio para os olhos e que deveria aparecer na ficha técnica como "substituta de serviço para Megan Fox". Stanley Tucci é o único que dá algum gozo ver em cena, talvez porque o ator demonstre estar ciente da imbecilidade que o rodeia e das coisas idiotas que é obrigado a dizer. Ele faz o papel de um empresário claramente moldado em Steve Jobs que conseguiu isolar um metal chamado "Transformium" que, duh!, é capaz de se transformar em qualquer coisa – exceto fazer de Era da Extinção algo prestável.

 

De resto, não há muito que se aproveite. Nem o mórbido prazer de acompanhar algo tão mau que tem de ser visto para crer. Com uma hora a menos, talvez passasse como curioso exercício trash de grande orçamento. Com quase três insuportáveis horas, Transformers: Era da Extinção é um crime. Deviam existir leis contra filmes assim.

 

publicado às 00:57

Portugal 2 Gana 1

por Antero, em 26.06.14

Vitória inglória e uma amarga despedida.

 

- Fizemos a nossa parte; se os alemães tivessem dado uma ajuda...;

- Se os convocados fossem outros...;

- Se a condição física fosse outra...;

- Se Ronaldo estivesse no seu melhor...;

- Se Paulo Bento não fosse o selecionador...;

- Se Raúl Meireles aparasse a barba e deixasse crescer o cabelo...;

- Se o Veloso fosse um jogador de jeito...;

- Se o Nani deixasse de se querer mostrar...;

- Se o meio-campo fosse este desde o início...;

- Se o Pepe não fosse expulso...;

- Se o Bruno Alves não tivesse paragens cerebrais...;

- Se a Alemanha não nos estivesse espetado quatro no lombo...;

- Se não fossemos em digressão pelos Estados Unidos antes do Mundial...;

- Se Hugo Almeida, Postiga e Éder não fossem tão fraquinhos...;

- Se o Varela jogasse de início...;

- Se...

 

Escolham a vossa desculpa. Quanto a mim, é um até já em França, daqui a dois anos. Com Paulo Bento (parece que lá terá de ser...) ou outro qualquer, será um escândalo se Portugal não marcar presença nos 24 participantes (por oposição dos 16 usuais até aqui).

 

publicado às 19:28

EUA 2 Portugal 2

por Antero, em 23.06.14

Ligados à máquina.

Ainda bem que renovámos com o Paulo Bento antes do Mundial, não vá ele receber uma proposta tentadora e deixar-nos na mão. Depois de um apuramento sofrido (o oposto é que seria estranho), convoca a malta do costume mesmo que tenham feito épocas abaixo do normal ou tenham passado a maior parte do tempo lesionados ou cheguem a esta fase todos arrebentados, insiste naquele meio-campo nojento que não cria nada nem desequilibra ou em nulidades atacantes como Postiga ou Hugo Almeida (e os dois nem em condições estavam já que tiveram de saltar fora ainda nas primeiras partes de cada jogo, desperdiçando assim uma substituição) e, claro, a triste dependência de Cristiano Ronaldo "O Melhor Jogador do Mundo" (tem de ser escrito assim segundo a comunicação social com o pito aos saltos) que é obrigado a ser o suporte quando deveria ser a alavanca. E já nem pego no planeamento do Mundial, com digressões pelos Estados Unidos e chegadas ao Brasil quatro dias antes da estreia na competição porque... bom, o historial da Federação Portuguesa de Futebol fala por si.

Primeira parte muito fraca de Portugal neste segundo jogo: foi o golo logo no início e uma bola no poste seguida de grande defesa de Tim Howard e só. Nervosos, sem segurar uma bola, meio-campo completamente ausente a atacar e permeável a defender, laterais que pareciam autoestradas, ataque desinspirado e sem garra. Chegou o intervalo com o resultado a nosso favor e eu só pensava que era bom começar a marcar mais uns quantos para anular a diferença de golos – afinal, mesmo com todas as contrariedades, estava na cara que a Seleção tinha mais do que equipa para os norte-americanos. Na segunda parte, os EUA puxaram dos galões, ameaçaram, marcaram um golão e geriram até disferir a estocada (quase) final (o tempo que Bruno Alves demora a levantar-se chega a ser cómico). Portugal entra em modo desespero, Ronaldo lá consegue fazer um cruzamento decente e Varela faz o golo milagroso já a bater nos 95 minutos que mantém as ténues esperanças da Seleção no apuramento.

Temos de golear o Gana e esperar que o outro jogo não dê empate – se possível com goleada da Alemanha sobre os EUA. Aposto que vão explodir teorias da conspiração sobre um potencial empate que nos atire borda fora. Aposto também que, chegada a hora da verdade, Portugal não consegue sequer fazer a sua parte – e quem viu o espetacular embate entre os ganeses e alemães sabe do que falo. A Seleção precisa de ser renovada, andamos em rota descendente desde o Mundial 2006 com uns fogachos ali em 2012, mas que no essencial não altera nada. Esta equipa é muito pobre.

Nem tudo é negativo: quem quiser, pode agora apreciar o Messi e torcer pela Argentina sem levar com o rótulo de "mau português".

 

publicado às 01:20

Alemanha 4 Portugal 0

por Antero, em 16.06.14

Ugh!

 

Acho que ainda estamos a pagar a afronta de, com uma equipa de suplentes e com um Sérgio Conceição on fire, termos espetado três secos nesta Alemanha. De lá para cá, só derrotas. Mas hoje foi mau demais.

 

Tudo bem que a Alemanha tem melhor equipa, seria sempre favorita e o mais certo seria ganhar, mas a ideia que ficou é que nem precisaram de carregar muito para lançar o pânico na defesa lusitana que, geralmente, é o setor mais estável e hoje fartou-se de meter água. 11 contra 11 já seria difícil, então com a burrice de Pepe tudo ficou irremediavelmente perdido. Não é tanto pela derrota em si já que nunca acreditei que Portugal pudesse vencer (com aquele meio-campo amorfo e a crónica ineficácia atacante, só mesmo um camelo), mas são os números que poderão fazer mossa num eventual desempate por diferença de golos, a forma física longe do ideal de pedras basilares (com Ronaldo à cabeça), a lesão de Coentrão e, claro, o castigo de Pepe.

Antes que atirem com a arbitragem, aqui vai o que penso: a grande penalidade a favor da Alemanha é forçadíssima; Pepe é bem expulso e não pode fazer aquilo ao adversário (ainda por cima com a estupidez alarmante de realmente ter havido falta na disputa de bola anterior e o árbitro ter deixado seguir); há um penálti sobre Éder que não é assinalado - mas que pouco mudaria o andamento da partida.

 

Como é que vai ser, Paulo Bento? Mundial 2002 ou Euro 2012?

 

publicado às 19:23

X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

por Antero, em 23.05.14


X-Men: Days of Future Past (2014)

Realização: Bryan Singer

Argumento: Simon Kinberg

Elenco: Hugh Jackman, Michael Fassbender, James McAvoy, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Peter Dinklage, Ellen Page, Shawn Ashmore, Omar Sy, Evan Peters, Josh Helman, Halle Berry, Patrick Stewart, Ian McKellen

 

Qualidade da banha:

 

Bryan Singer nasceu para filmar os X-Men. Não adianta ele andar perdido com objetos medíocres como Jack, o Caçador de Gigantes; esta é a sua praia. Foi ele que viu que os comics podiam não só ser uma fonte de (muita) receita para Hollywood, mas também o seu potencial dramático para criar obras sérias, adultas e instigantes que acabassem com o estigma da infantilidade com que a Nona Arte ainda é catalogada. Esta foi a conclusão a que cheguei após assistir ao mais recente e fabuloso capítulo dos X-Men no grande ecrã que, além de mostrar Singer de volta ao topo da forma, aproveita todos os acertos do igualmente fantástico X-Men: O Início.

 

Baseado num arco de duas partes publicado em 1981, Dias de Um Futuro Esquecido consegue a proeza de simultaneamente servir como prequela da trilogia original e continuação direta de X-Men: O Início: em 2023, os mutantes encontram-se praticamente exterminados devido à ação dos Sentinelas, máquinas letais que detetam o gene X e capazes de mimetizar poderes mutantes. Os poucos sobreviventes, encabeçados pelo professor Xavier (Stewart) e Magneto (McKellen), têm a ideia de usar os poderes de Kitty Pride (Page) para enviar a consciência de Wolverine (Jackman) de volta à década de 70 a fim de impedir que Mística (Lawrence) assassine o empresário Bolivar Trask (Dinklage) – um incidente que daria impulso à criação daquelas máquinas. Porém, para convencer Mística a abandonar os seus planos, Wolverine terá de procurar a ajuda das versões mais jovens de Xavier (McAvoy) e Magneto (Fassbender), que não são exatamente os melhores amigos.

 

Provando que o seu riquíssimo universo é um prato cheio para alegorias sobre preconceito e intolerância, Dias de Um Futuro Esquecido equilibra-se entre a leveza do seu bom humor e tópicos mais sérios como a promoção da cultura do medo no seio da população (via a comunicação social, claro) ao mesmo tempo que impede que aqueles seres se tornem caricaturas coloridas. Trask, por exemplo, até pode odiar e temer os mutantes, mas a sua mente científica permite-lhe fascinar-se com as potencialidades oferecidas por estes, enquanto Magneto, sempre imprevisível e instável, age consoante as suas convicções diante do ódio que é dirigido à sua raça. Por outro lado, Xavier percorre o arco emocional mais intenso da narrativa ao começar como alguém que abriu mão dos seus poderes (e, consequentemente, da sua missão de mentor) devido a falhanços sucessivos e que, aos poucos, redescobre a própria vocação na causa mutante e a intrigante Mística encontra-se dividida entre o dever de proteger os seus e o custo que as suas ações implicam.

 

Entretanto, o Wolverine de Hugh Jackman serve como fio condutor entre as duas linhas temporais e o ator mostra-se completamente à vontade no papel não só a demonstrar o seu timing cómico como a fornecer a Logan um olhar ora entristecido ora determinado pelo peso da missão que tem em mãos. O elenco do filme é tão certeiro que o argumento de Simon Kinberg não tem receio de pôr frente a frente James McAvoy e Patrick Stewart como as duas versões de Charles Xavier, numa das melhores sequências da projeção. Contudo, a melhor cena deste novo X-Men é uma que envolve o mutante Mercúrio (Peters, divertidíssimo) numa cozinha e que é um prodígio de efeitos especiais, inventividade e irreverência.

 

Beneficiado por usar novamente eventos históricos para ancorar aquela realidade fantasiosa (no anterior era a Crise dos Mísseis de Cuba; aqui é o rescaldo da Guerra do Vietname), Dias de Um Futuro Esquecido é hábil ao lidar com um elenco numeroso e vários focos de ação – e o mérito do trabalho de Singer pode ser atestado a partir do momento em que a história salta com precisão entre o passado e o futuro e os eventos de ambos convergem para um clímax trepidante. Além disso, Synger também brilha na condução das cenas de ação que nunca soam gratuitas e aproveitam ao máximo os poderes de cada mutante para conferir agilidade e clareza na forma como se complementam uns aos outros.

 

Recheado de referências a todos os filmes anteriores (incluindo as dececionantes aventuras a solo de Wolverine) embora seja facilmente acompanhado por aqueles alheios ao universo mutante nos cinemas, Dias de Um Futuro Esquecido fecha a maioria das pontas da velha trilogia e abre novas possibilidades para a franquia, mas vale, acima de tudo, por ser o bálsamo de qualquer blockbuster sazonal: ambicioso, envolvente, fascinante e divertido.

É, numa palavra, um filmaço.

 

PS: há uma cena adicional após os créditos.

 

publicado às 00:11


Alvará

Antero Eduardo Monteiro. 30 anos. Residente em Espinho, Aveiro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Via Láctea. De momento está desempregado, mas já trabalhou como Técnico de Multimédia (seja lá o que isso for...) fazendo uso do grau de licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Gosta de cinema, séries, comics, dormir, de chatear os outros e de ser pouco chateado. O presente estaminé serve para falar de tudo e de mais alguma coisa. Insultos positivos são bem-vindos. E, desde já, obrigado pela visita e volte sempre!

Pesquisar

  Pesquisar no Blog


Armazém

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2012
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2011
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2010
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2009
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2008
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D