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ALERTA DE SPOILER! Este post contém informações relevantes, pelo que é aconselhável que só leiam caso estejam a par da exibição norte-americana.
Game of Thrones - temporada 1
Game of Thrones, o épico da HBO baseado no primeiro dos livros de fantasia de George R. R. Martin, As Crónicas de Gelo e Fogo, é uma boa série, mas não é a grande série deste ano (cargo esse que pertence à minha amada Fringe). Com tanto alarde por parte dos fãs e críticas positivissimas de todos os lados, não há como evitar uma ponta de desilusão. Há personagens e histórias paralelas a mais para tão poucos episódios (apenas 10) e a tarefa não é facilitada para quem não está familiarizado: quando começamos a perceber as ligações entre eles, quem é o quê, quem fez o quê, quem matou quem, a temporada simplesmente acaba. Há todo um clima de preparação para a ocorrência de algo grandioso e nunca somos devidamente recompensados. Tomem como exemplo a morte de Ned Stark, um dos protagonistas da série (excelente Sean Bean): acontece no penúltimo episódio e é daquelas coisas que vai abalar todos os núcleos, nomeadamente os familiares. Chegamos ao último episódio e em vez de uma resolução épica que nos levará para a próxima temporada, temos apenas uma introdução do que acontecerá mais à frente. Isto ocorre praticamente em todos os episódios.
Houve capítulos que me chegaram a irritar: o filho mais velho da Casa Stark decide criar um exército. Chega a mãe que o questiona: "filho, tens a certeza que queres criar um exército?". Os colegas preparam-se: "o filho de Stark vai criar um exército!". Os inimigos acautelam-se: "cuidado, o filho de Stark vai criar um exército!". Irra! E fica-se pela criação, já que a execução vem no próximo ano. Os filhos mais velhos de Stark, diga-se de passagem, passam a maior parte da temporada em branco e os actores que lhes dão pele também não fazem muito para os tornar mais interessantes. As partes da Muralha, com Jon, o filho bastardo, são uma chatice à parte: tendo de mostrar o seu valor, o guião até lhe dá um companheiro gordinho e desprezado por todos para revelar a boa índole do rapaz – e, para mal da série, o tempo reservado a estas personagens é completamente desnecessário, já que a Muralha só ganha o devido destaque lá para o final quando, do nada, a Patrulha da Noite decide enfrentar os White Walkers que deram as caras no início do primeiro episódio e cuja história é resgatada apenas no último episódio. Simples assim.
A passagem do tempo é outro problema: as coisas acontecem com tanta rapidez que dá a impressão que tudo ocorre em poucas semanas. Aí a Daenerys engravida do marido brutamontes e leva a gestação quase até ao fim – e estes súbitos saltos no tempo apanham o espectador desprevenido. A duração dos treinos na Muralha (que, deduzo, deve ser muito) também não fica bem clara. E que dizer do tal "inverno" que toda a gente anuncia e nunca mais chega? O mais estranho é que eu percorro a Internet a ler críticas dos episódios e só leio comentários do género "nos livros isto, nos livros aquilo..." e eu, que não os li nem sequer os conhecia, acredito que lá seja melhor explorado e explicado, mas no pequeno ecrã fica corrido demais. E quando fica bom, acaba, adeus e até à próxima.
Deixando o azedume de lado, convém dizer que Game of Thrones impressiona nos aspectos técnicos, ainda para mais numa produção televisiva. Também gosto da violência explícita da série, perfeitamente de acordo com a brutalidade daquela era: ela não choca por chocar e tudo – desde decapitações, mortes com ouro fundido, incesto, violações e crianças de oito anos a mamar nos seios da mãe (a sério, que trauma!) – está devidamente contextualizado. Além disso, o argumento faz bem em relegar a fantasia para segundo plano e apostar nas relações entre as personagens, as intrigas políticas e questões como honra, traição e amizade – e os diálogos, na sua maioria, são escritos e debitados com imensa elegência e cinismo. Também é de realçar o destaque dado às figuras femininas e à exploração de mulheres fortes (ainda que condicionadas pela aquela sociedade extremamente masculinizada), desde a manipuladora Cersei Lannister à compreensiva e astuta Catelyn Stark, passando pela rebeldia de Arya e acabando na corajosa Daenerys, cuja trajectória emocional é um dos pilares da série. E não há como deixar de elogiar o talentoso Peter Dinklage como o anão Tyrion, um sujeito que compensa a sua falta de estatura com uma inteligência e perspicácia que o tornam num aliado valoroso ou um inimigo a temer (ainda que a sua personagem não tenha o devido destaque, algo que deverá ser corrigido no futuro).
Sem medo de apostar na morte das personagens principais, num seguimento do lema "ninguém está a salvo", e em personagens que antes eram meramente secundárias como seguimento lógico da narrativa, Game of Thrones promete muito para a segunda temporada e eu acredito que pode vir a cumprir. E aí poderá ser a série do ano. Do ano que vem.