Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Transformers: Dark of the Moon (2011)
Realização: Michael Bay
Argumento: Ehren Kruger
Elenco: Shia LaBeouf, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey, John Malkovich, Frances McDormand
Qualidade da banha:
Nem à terceira foi de vez. Depois do medonhoTransformers: Retaliação, Michael Bay volta à carga com mais um atentado ao bom gosto e à paciência do espectador num filme com tortuosos 155 minutos e que serve como mera desculpa para distrair o público enquanto os produtores contam os dólares ganhos com a exposição de marcas como a Mercedes, a Chevrolet, a Hummer ou a Ferrari. Os únicos pontos positivos referem-se aos aspectos técnicos (efeitos visuais e sonoros), mas, convenhamos, isso é o mínimo exigível a uma obra orçada em 200 milhões de dólares e, mesmo assim, com algumas ressalvas: a direcção de Bay é tão caótica (o costume...) que mal percebemos o que acontece no ecrã – o que, ironicamente, acaba por reflectir o filme em si, que poderia ser adjectivado numa única palavra: caos.
Escrito pelo irregular Ehren Kruger (O Suspeito da Rua Arlington e The Ring - O Aviso do lado bom; Jogo de Traições e o já citado segundo Transformers no extremo oposto), Transformers 3 recua até à década de 60 para nos mostrar a queda de uma nave de Cybertron (a Ark) em território lunar, facto este que despoletou a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética. Na actualidade, os Autobots continuam a aliança militar com os norte-americanos que tão bons resultados não deram anteriormente e tomam conhecimento da existência do que resta da Ark, uma vez que os russos e os ianques foram colectando vários componentes ao longo dos anos, e lançam-se numa missão para travar os cruéis Decepticons que pretendem usar o mecanismo para subjugar a raça humana. Enquanto isso, o nosso herói Sam Witwicky desespera por não encontrar trabalho apesar de ter ajudado a salvar o Mundo por duas vezes e ter sido condecorado pelo Governo (algo que ele não se cansa de repetir!) e embarca num novo emprego até ser arrastado (de maneira bem absurda) para o seio da guerra entre os poderosos robots.
Concebido única e exclusivamente com os efeitos visuais em mente, Transformers 3 até tem uma história menos elaborada e mais directa que o monte de bosta que o antecedeu, embora isso não signifique que ela seja necessariamente melhor: não há aqui piadas infames com os testículos de um robot e os pais de Sam têm menos tempo de antena (mas quando aparecem dá vontade que algum Decepticon os esmague), mas as tentativas de humor surgem sempre deslocadas e infantis, principalmente aquelas que estão a cargo da irritante dupla Brains e Wheelie. Da mesma forma, Bay tenta carregar pesadamente no drama e de forma desajeitada: em vez de explorar as baixas civis da destruição que toma conta do filme (que devem ascender aos milhares), ele prefere novamente fazer de Bumblebee o protagonista de cenas mais emocionantes e só me apraz dizer que se o esquema não funcionou nos dois filmes anteriores, talvez não seja conveniente recorrer ao mesmo outra vez.
Sempre disposto a mostrar o seu talento em explodir coisas, Bay encena tudo com uma grandiosidade que acaba por cansar o espectador, já que falha em criar um sentimento de urgência que nos leve a temer pelo destino das personagens que, como já é usual na filmografia do realizador, são unidimensionais e estupidamente desenvolvidas. De que adianta contar com as vozes poderosas de Peter Cullen, Hugo Weaving e Leonard Nimoy se tudo que lhes sai da boca são frases de efeito regadas a muita lamechice? Alías, os diálogos escritos por Kruger variam entre ordens ("disparem!", "segurem-se!", "sai daqui!", "fica aqui!", "vem comigo!") e pérolas como "não vou permitir armas de destruição maciça na nossa atmosfera!" dita pela Secretária da Defesa interpretada por uma Frances McDormand que só podia estar bêbada quando aceitou participar nisto.
Quem realmente faz má figura, porém, é Rosie Huntington-Whiteley, uma modelo promovida a actriz por um executivo que raciocina com o pénis, que serve como óptima substituta da péssima Megan Fox: pãozinho sem sal e com zero de presença em cena, a manequim empresta todos os atributos da desaparecida Micaela, desde a maquilhagem que não borra no meio do campo de batalha ao vestido curto (claro!) que não se suja, passando pela boca entreaberta e uma pose supostamente sedutora quando tudo à volta está em ruínas, sem contar que, como indivídua, a nova namorada de Sam (por que ele tem de ter uma namorada, ora essa!) tem um carácter materialista e coactivo para com as opções do amado. Obviamente que ela é linda e nós sabemos isso logo na sua primeira aparição, já que Bay foca primeiramente as pernas e o traseiro da moça, num rasgo machista tão característico dele. No entanto, o que pode fazer a pobre Whiteley quando o filme não tem qualquer problema em arrancar prestações embaraçosas de gente do calibre de John Turturro, Patrick Dempsey, Shia LaBeouf e John Malkovich?
Contando com todos os vícios conhecidos do realizador (os travellings circulares, os filtros amarelos, as câmaras lentas, os planos inclinados a demonstrar o heroísmo dos envolvidos, a exaltação das forças armadas), Transformers 3 avança aos trambolhões de sequência em sequência mesmo que tudo não faça muito sentido (porquê esperar tanto tempo para pôr o plano da Ark em acção?) e, pior do que isso, já não bastassem os exasperantes mil cortes por minuto (os únicos planos que duram mais que dois segundos são aqueles em slow motion), ainda temos de levar com rápidos fade ins e fade outs que tornam tudo ainda mais confuso. Mais confuso ainda é tentar perceber seja o que for dos duelos entre os robots: quem atinge quem ou a posição de uns em relação aos outros exige um esforço considerável – e, lamentavelmente, isto é o mais próximo de complexidade que o filme atinge. Por outro lado, sempre temos a oportunidade de assistir a uma perseguição pelos céus de Chicago entre máquinas voadoras e militares que planam (!) ou assistir aos laivos de patriotismo de Bay, com as bandeiras norte-americanas sempre presentes e a destruição do Lincoln Memorial por Megatron, o que, para o realizador, deve representar o ápice de humilhação e tragédia nos EUA.
Há que dizer, portanto, que eu descobri finalmente por que Michael Bay insiste num ritmo tão acelerado e praticamente incompreensível da sua narrativa: que outra forma haveria das personagens sobreviverem à longa e entediante destruição que assola Chicago? Elas estão num prédio que desaba e sobrevivem; Sam vai agarrado a um robot que se despenha violentamente e não sofre um arranhão; o sujeito também é pendurando e arrastado ferozmente por um Decepticon e sai ileso; há explosões das quais as personagens são protegidos por um pilar! Não dá para entender como tal acontece por que tal não é mostrado.
Um paradigma que aplicado a Michael Bay resume bem a sua carreira como realizador.