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Nada disso do que estão a pensar suas mentes porcas. Recentemente, assisti a dois filmes de nuestros hermanos e a conclusão é só uma: eles estão com a corda toda. Ora, vamos lá então!
O Enigma de Fermat
La Habitación de Fermat
Um grupo de quatro matemáticos, que não se conhecem, são convidados por um misterioso anfitrião (o tal Fermat) e desafiados a resolver um grande enigma. Presos numa sala, tem de passar sucessivas provas matemáticas enquanto a sala encolhe. Pronto, já deu para ver que a história não é das mais originais, remetendo imediatamente para filmes como Cubo ou a (insuportável) saga Saw. Mesmo o desenvolvimento da trama não é algo nunca dantes visto: há uma relação entre eles todos; um deles é instruído líder; e, como não podia deixar de ser; a saída é uma coisa tão banal, daquelas "como é que eles não pensaram nisto antes?!?".
No entanto, o filme até tem os seus atractivos: é engraçado ver personagens à volta de enigmas matemáticos que requerem lógica e capacidade de interpretação para soluccioná-los e, neste aspecto, o filme não decepciona. As personagens não são muito desenvolvidas, mas ao menos poupam-nos dos clichés do rebelde que tem ideias contrárias à do líder ou aquele do interesse romântico que surje espontâneamente. Porém, houve duas coisas que me incomodaram bastante no avançar da narrativa e para abordá-las terei de revelar aspectos importantes do filme. Por isso, se não quiserem saber nada do filme ou ainda não o viram, é só passar o rato pelo parágrafo seguinte:
SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS!
O facto de Fermat, o anfitrião, ter de se ausentar do encontro logo no início e da narrativa fazer questão de o acompanhar, intercalando as suas cenas com as da sala, faz com que o espectador perceba, desde logo, que aquele não é o verdadeiro culpado da reunião dos matemáticos, o que retira tensão à história (porque já sabemos que o culpado só pode ser um dos quatro da sala). Já para não falar que esta solução quebra totalmente o ritmo da narrativa, tornando-a redundante, só se aproveitando para esticar a duração da película. Outro facto que me incomodou foi o de Pascal saber a idade da morte de Hilbert (estes nomes não querem dizer nada, já que eles adoptam identidades de famosos matemáticos) e ocultar essa informação dos restantes elementos, revelando-a no ponto mais conveniente da narrativa.
Apesar de tudo, é um razoável entretenimento, nada do outro mundo, mas que serve para passar o tempo e, porque não, desenvolver o nosso raciocínio lógico. O Ministério da Educação agradece.
Qualidade da banha: 11/20
O Orfanato
El Orfanato
Misturando elementos de vários filmes de terror, nomeadamente em exemplos dos últimos anos como O Sexto Sentido, Os Outros ou The Ring - O Aviso, esta produção de Guillermo del Toro consegue ganhar destaque pela sua ambientação e no investimento que faz em aprofundar as suas personagens. Laura e o seu marido adquirem o orfanato onde ela passou a sua infância com o objectivo de o restaurar para servir de casa de acolhimento para crianças doentes e o seu filho adoptivo, também ele doente, começa a tomar contacto com amigos imaginários. Porém, laura não liga muito até começarem a acontecer coisas estranhas e uma tragédia abater-se sobre o casal.
O filme começa bem devagar, deixando as coisas acontecerem naturalmente, até que a tensão crescente toma conta da história. Há duas cenas que se realçam, tal é a sua intensidade e angústia que provocam no espectador: quando a médium faz uma sessão espírita (acompanhada por nós através de monitores com visão nocturna) e quando Laura faz um pequeno jogo para atrair as entidades do casarão. Belén Rueda está impecável no papel de mãe extremosa e mergulhada em remorsos (reparem como ela parece perder anos de vida com o passar dos meses) e Roger Príncep cria uma criança inocente e verosímel (nada daqueles meninos prodígios que o Cinema é perito em mostrar).
Com uma direcção artística de louvar, um argumento envolvente (o final é óptimo, algo raro num filme de terror) e uma realização de Juan Antonio Bayona que potencia ao máximo os momentos mais tensos (recorrendo a sons e enquandramentos fechados), O Orfanato vem provar que não é preciso inovar no género de terror para se fazer uma boa obra. Basta saber jogar com as cartas que se tem na mão.
Qualidade da banha: 16/20