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Há dois anos, a Marvel Studios firmou-se como produtora independente com o lançamento deHomem de Ferro, um sucesso de público e crítica que permitiu que a Marvel Comics começasse a apostar nos nomes da casa para desenvolver obras com total controlo sobre elas (as franquias Homem-Aranha e X-Men são produzidas pela Sony e pela Twentieth Century Fox, respectivamente). Recrutando um realizador sem créditos firmados e um talentoso protagonista ainda a retomar o bom caminho da fama, a Marvel fez uma aposta de risco elevado que se revelou uma tremenda vitória e lança agora a sequela. As notícias são reconfortantes: apesar de não estar ao nível do primeiro filme, Homem de Ferro 2 é um entretenimento competente e uma digna continuação da história iniciada anteriormente.
Ao final de Homem de Ferro, Tony Stark revelava ao mundo que era o indivíduo por trás da armadura e, numa continuação directa dos eventos anteriores, o Governo norte-americano pretende apropriar-se da sua tecnologia por questões de segurança nacional, algo que Stark se opõe veemente, encontrando concorrência do industrial Justin Hammer. É neste contexto que surge Ivan Vanko, um inventor russo que desenvolveu uma arma que consiste num reactor central com extensões (chicotes) de energia eléctrica com base nos protótipos produzidos pelo seu pai e por Howard Stark. Ao mesmo tempo, Tony Stark tem de lidar com o aumento do nível de toxidade no seu sangue devido ao constante recurso ao reactor que o mantém vivo, enquanto tenta administrar a sua empresa ao lado de Pepper Potts e gerir a sua vida de figura pública numa mega-feira em honra do seu pai. Isto quando não discute com o seu amigo James Rhodey ou entra em cena a sua nova assistente, Natalie Rushman, e...
...já deu perceber que Homem de Ferro 2 conta com várias narrativas paralelas que se vão encontrando ao longo da projecção. No entanto, ao contrário do que acontecia em Homem-Aranha 3 (um filme que gosto cada vez menos com o passar do tempo), o facto de haver mais personagens e numerosas histórias para abordar não significa que a fluidez fique comprometida, embora, aqui e ali, o filme avance aos repelões (como na inconsistência da passagem do tempo - eventos que levariam meses parecem ocorrer em questão de dias - ou na solução de um enigma que recorre a uma mensagem pré-gravada, no melhor estilo O Código Da Vinci). Comprometida fica, isso sim, o desenvolvimento das personagens, principalmente as novas adições. Scarlett Johansson pouco pode fazer com o pouco tempo de antena que tem além de desfilar o seu corpo escultural, ao passo que Sam Rockwell compõe Hammer como um vilão caricato movido pelos interesses económicos e Mickey Rourke impõe todo o seu físico, as inúmeras tatuagens e um sotaque carregado em Ivan Vanko, sem conseguir distingui-los de outros tantos vilões sem expressão.
Enquanto isso, as personagens que já conhecemos são mais exploradas mediante as relações que vimos estabelecidas no filme anterior: Stark e Rhodey (agora interpretado pelo óptimo Don Cheadle), apesar de estarem em campos opostos, ampliam a sua camaradagem e respeito mútuo que, ainda assim, poderão não sobreviver à intransigência do primeiro em ceder a sua tecnologia, ao mesmo tempo que Pepper Potts surge mais confiante como posto de comando das empresas de Stark (e da sua vida pessoal) e sem se render ao feitio do milionário. Stark, por outro lado, mantém toda a aura de anti-herói: arrogante, boémio e deslumbrado com o seu génio e o seu império, ele tinha tudo para ser detestável, algo que não acontece devido ao talento e inteligência de Robert Downey Jr. que agarra (novamente) a personagem com unhas e dentes, destilando carisma e confiança e que, debaixo daquela capa de egoísmo, mora um ser bondoso. Neste aspecto, Homem de Ferro 2 repete a mesma receita que fez do anterior um sucesso, sem deixar de lado os excelentes efeitos especiais que, mais uma vez, não surgem gratuitamente na narrativa.
Por outro lado, há que afirmar que as sequências de acção não têm a frescura anterior: poucos intensas e relativamente curtas, a única que escapa é a batalha final na Stark Expo, apesar do combate com Whiplash no Mónaco e no desfecho do filme serem decepcionantes (o primeiro nem parece ser levado a sério; o segundo é curtíssimo e frustrante). Recheado do bom humor que já pontuava o original, Homem de Ferro 2 ainda conta com imensas referências a outros heróis da Marvel e prepara terreno para o vindouro filme dos Vingadores (há uma cena após os créditos que remete a um certo deus nórdico) e, ainda que não esteja à altura da surpresa que foi o anterior, tem motivos mais do que suficientes para uma desejada terceira parte. Desde que Tony Stark mantenha a boa disposição, não vejo como esta saga possa falhar.
Qualidade da banha: 13/20